Sunday, October 31, 2010

Re: Re: Acumulação de moeda e reservas fraccionárias

Nos comentários ao seu post Re: Acumulação de moeda e reservas fraccionárias, o CN escreve "Na verdade, o sistema funciona com coeficiente zero, porque os bancos expandem os depósitos e quanto é necessário o banco central injecta mais reservas ou vice-versa, existindo confusão entre moeda adicional para suportar as trocas e moeda adicional para dar crédito adicional."

Curiosamente, isso acaba por ser mais ou menos (em termos de juízos de facto, não de juízos de valor) a posição que Paul Krugman, no século passado, defendeu em "Vulgar Keynesians", em que critica a facção dos keynesianos que defendia que a poupança era má, que redistribuir dinheiro a favor dos grupos sociais que mais consomem era bom, etc. (isto é, mais ou menos as posições que Krugman tem defendido nos últimos 2 ou 3 anos):
Consider, for example, the "paradox of thrift." Suppose that for some reason the savings rate--the fraction of income not spent--goes up. According to the early Keynesian models, this will actually lead to a decline in total savings and investment. Why? Because higher desired savings will lead to an economic slump, which will reduce income and also reduce investment demand; since in the end savings and investment are always equal, the total volume of savings must actually fall!
      
Or consider the "widow's cruse" theory of wages and employment (named after an old folk tale). You might think that raising wages would reduce the demand for labor; but some early Keynesians argued that redistributing income from profits to wages would raise consumption demand, because workers save less than capitalists (actually they don't, but that's another story), and therefore increase output and employment.

Such paradoxes are still fun to contemplate; they still appear in some freshman textbooks. Nonetheless, few economists take them seriously these days. There are a number of reasons, but the most important can be stated in two words: Alan Greenspan.
      
After all, the simple Keynesian story is one in which interest rates are independent of the level of employment and output. But in reality the Federal Reserve Board actively manages interest rates, pushing them down when it thinks employment is too low and raising them when it thinks the economy is overheating. (…)

But putting Greenspan (or his successor) into the picture restores much of the classical vision of the macroeconomy. Instead of an invisible hand pushing the economy toward full employment in some unspecified long run, we have the visible hand of the Fed pushing us toward its estimate of the noninflationary unemployment rate over the course of two or three years. To accomplish this, the board must raise or lower interest rates to bring savings and investment at that target unemployment rate in line with each other (…).

To me, at least, the idea that changes in demand will normally be offset by Fed policy--so that they will, on average, have no effect on employment--seems both simple and entirely reasonable.

Agora isso depende muito da ideia que se tenho sobre a forma como a procura de moeda interage com a taxa de juro:


O modelo "A" é basicamente o que penso ser a visão de Milton Friedman, em que (para um dado volume de rendimento e de preços), a procura de moeda seria constante (ou, na liguagem dele, a "velocidade de circulação da moeda" seria fixa.

O modelo "B" é a visão keynesiana usual, em que quanto maior a taxa de juro, menos riqueza as pessoas preferem ter sob a forma de moeda e mais sob a forma de activos financeiros.

O modelo "C" é uma variante do modelo "B", mas com a peculiaridade que, a certa altura, a "procura de moeda" tende para o infinito (a chamada "armadilha de liquidez").

E quais são as consequências de uma expansão da "oferta de moeda" pelo banco central em cada caso (imaginem um linha vertical "oferta de moeda" nesses gráficos, e agora imagem-na deslocando-se para a direita)?

Nos casos A e B (muito mais forte no caso A), o resultado será uma redução da taxa de juro, o que por sua vez irá aumentar o investimento e "estimular" a economia (depois as opiniões dividem-se sobre se esse estimulo vai originar crescimento económico sustentado, inflação ou um boom artificial que terá que ser corrigido com uma recessão mais tarde).

No caso C, o resultado de aumentar a moeda em circulação é, simplesmente, as pessoas acumularem mais moeda, sem isso em nada afectar os juros e a economia real.

Ou seja, se o caso C exisitir na realidade (e é discutível que o exista), o banco central poderá fartar-se de expandir a moeda que o "estimulo" sobre a economia será nenhum ou quase.

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