No Expresso de 12 de Agosto, Patinha Antão escreveu um artigo ("Que fazer para crescer?") que dá que pensar:
"Proponho dois remédios"
"Aplicar a fundo o principio do custo de oportunidade e «contratualizar e alienar» (...) a transferencia de produção pública (e respectivos recursos humanos) para o sector privado, sempre que tal proporcione um ganho de eficiência"
"Isso obriga, porém, a um novo olhar sobre as funções do Estado. Infelizemente, o governo, por preconceito ideológico, tem-se recusado a tal"
(...)
"O 2º remédio que proponho visa libertar a «industrial policy» do chavão redutor de que ela se deve confinar à criação de um ambiente favorável à actividade empresarial em geral, abstendo-se de apoiar selectivamente «clusters» potencialmente sinérgicos e empreendedores potencialmente vencedores em mercados globais"
"Esta abstenção do governo é no mínimo ingénua, nesta economia europeia em que nos integramos; e tem-nos impedido de obter os fortes ganhos na produtividade que tais apoios selectivos têm proporcionado noutros estados-membros"
O interessante é que Patinha Antão acha que o Estado não tem capacidade para fornecer serviços públicos, defendendo a sua "contractualização" a privados, mas já acredita na sua capacidade para escolher as empresas e sectores a que iria dar apoios priviligiados na competição pelos "mercados globais" - quando, apesar de tudo, gerir uma escola ou um hospital é menos díficil do que analisar a estrutura de um mercado, conhecer as potenciais economias de escala e/ou externas das empresas que lá actuam, prever a evolução desse mercado a longo prazo, refazer este estudo para todos os sectores económicos e, depois, decidir que empresas e sectores apoiar.
"Acontece que em Portugal - onde o empreendedorismo é relativamente mais escasso e mais concentrado em PME - tais apoios selectivos poderão proporcionar ganhos ainda relativamente maiores"
Em primeiro lugar, ainda gostava que me explicassem o que quer dizer "empreendedorismo" - se tem a ver com criar empresas, Portugal até é um país com uma grande densidade de PME's, o que parece indicar que até há muito "empreendedorismo" (diga-se que, muitas vezes, ouve-se - ou lê-se - que "os portugueses são pouco empreendedores e preferem empregos «seguros» " e, na linha seguinte, que "a economia portuguesa é frágil e pouco dinâmica, sendo composta essencialmente por PMEs" - será que as pessoas que dizem estas coisas não percebem que se estão a contradizer?).
Agora, a tese de Patinha Antão de que os "apoios selectivos", em Portugal, "poderão proporcionar ganhos ainda relativamente maiores", por o "empreendedorismo" estar concentrado em PME parece-me, na melhor das hipoteses, um non sequitur, e na pior, um contra-senso - a ideia de que pode ser vantajoso o Estado dar apoio às empresas nacionais contra os seus competidores estrangeiros faz sentido sobretudo em sectores económicos em que a competição seja entre poucas grandes empresas, não entre muitas pequenas empresas (para uma compreensão mais detalhada das circunstâncias em que pode ser proveitoso um Estado apoiar empresas, leia-se alguns textos dos economistas James Brander e Barbara Spencer, como este[pdf])
"Proponho dois remédios"
"Aplicar a fundo o principio do custo de oportunidade e «contratualizar e alienar» (...) a transferencia de produção pública (e respectivos recursos humanos) para o sector privado, sempre que tal proporcione um ganho de eficiência"
"Isso obriga, porém, a um novo olhar sobre as funções do Estado. Infelizemente, o governo, por preconceito ideológico, tem-se recusado a tal"
(...)
"O 2º remédio que proponho visa libertar a «industrial policy» do chavão redutor de que ela se deve confinar à criação de um ambiente favorável à actividade empresarial em geral, abstendo-se de apoiar selectivamente «clusters» potencialmente sinérgicos e empreendedores potencialmente vencedores em mercados globais"
"Esta abstenção do governo é no mínimo ingénua, nesta economia europeia em que nos integramos; e tem-nos impedido de obter os fortes ganhos na produtividade que tais apoios selectivos têm proporcionado noutros estados-membros"
O interessante é que Patinha Antão acha que o Estado não tem capacidade para fornecer serviços públicos, defendendo a sua "contractualização" a privados, mas já acredita na sua capacidade para escolher as empresas e sectores a que iria dar apoios priviligiados na competição pelos "mercados globais" - quando, apesar de tudo, gerir uma escola ou um hospital é menos díficil do que analisar a estrutura de um mercado, conhecer as potenciais economias de escala e/ou externas das empresas que lá actuam, prever a evolução desse mercado a longo prazo, refazer este estudo para todos os sectores económicos e, depois, decidir que empresas e sectores apoiar.
"Acontece que em Portugal - onde o empreendedorismo é relativamente mais escasso e mais concentrado em PME - tais apoios selectivos poderão proporcionar ganhos ainda relativamente maiores"
Em primeiro lugar, ainda gostava que me explicassem o que quer dizer "empreendedorismo" - se tem a ver com criar empresas, Portugal até é um país com uma grande densidade de PME's, o que parece indicar que até há muito "empreendedorismo" (diga-se que, muitas vezes, ouve-se - ou lê-se - que "os portugueses são pouco empreendedores e preferem empregos «seguros» " e, na linha seguinte, que "a economia portuguesa é frágil e pouco dinâmica, sendo composta essencialmente por PMEs" - será que as pessoas que dizem estas coisas não percebem que se estão a contradizer?).
Agora, a tese de Patinha Antão de que os "apoios selectivos", em Portugal, "poderão proporcionar ganhos ainda relativamente maiores", por o "empreendedorismo" estar concentrado em PME parece-me, na melhor das hipoteses, um non sequitur, e na pior, um contra-senso - a ideia de que pode ser vantajoso o Estado dar apoio às empresas nacionais contra os seus competidores estrangeiros faz sentido sobretudo em sectores económicos em que a competição seja entre poucas grandes empresas, não entre muitas pequenas empresas (para uma compreensão mais detalhada das circunstâncias em que pode ser proveitoso um Estado apoiar empresas, leia-se alguns textos dos economistas James Brander e Barbara Spencer, como este[pdf])
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