Monday, June 16, 2008

As consequências da não-acção

Já tenho visto o contra-argumento sobre como não agir pode levar a consequências, como resposta à acusação de "unintended consequences" no intervencionismo militar.


Mas a não-acção é neutra em relação à realidade. A acção modifica a história do presente. 

Pegando numa imagem, um dos enredos típicos das histórias de máquinas que permitem ir para o passado é a forma como caminhos alternativos se criam com efeitos imprevisíveis no presente.

O pacifismo compreende o valor da não-acção e é precisa uma grande dose de coragem para o pacifismo absoluto (digamos assim).

Eu não vou tão longe (Ayn Rand disse qualquer coisa como "Não sou pacifista. Não tenho coragem para isso"). 

Mas a não-acção deve ser o caminho prioritário até ao limite do possível. Aliás, creio mesmo que a melhor defesa de soberania no longo prazo passa por evitar os conflitos fora do território, prometer uma boa defesa de primeira linha e em especial que o custo de uma eventual ocupação será muito alto. E para isso é preciso uma população educada e mentalizada, e de forma voluntária, motivada, para ser capaz de prometer um pequeno inferno a qualquer ocupante.

Quem escolhe antecipar combates antes do tempo e meter-se em outros duvidosos está a comprar problemas de defesa da sua própria soberania.

Os argumentos de intervencionismo por outro baseiam-se quase só em jogos de geo-estratégia que tentam disfarçar o impulso de se meter na vida dos outros e o fascínio pelo militarismo, seja o puro e duro, seja o ideológico (democracia and that crap).

O intervencionismo terá sempre a seu favor o histerismo, o medo, a ideologia, os interesses, a demagogia, etc. Uns quantos a servir-se de todos.

Quem disse que as democracias não fazem guerras vive na mesma ilusão de quem acha que o Ocidente venceu as duas guerras mundiais. E chamo a isso o estado de negação dos Churchillianos. Não é por acaso que os Neo-Cons utilizam o culto a seu favor.

Churchill deve quanto muito ser apreciado como um homem do seu tempo, um militarista com o gosto pela velha geo-estratégia, em favor de um Império com muitas virtudes. Mas foi precisamente o coveiro dessa velha civilização que desapareceu no meio de um século 20 que faz realçar todos os séculos anteriores como a parte boa da História. 

Churchill gostava da acção e isso fez esquecer a tradicional prudência britânica, para o mal de todos.

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