Thursday, May 21, 2009

Piada Económica via e-mail

Recebida há uns dias:

Numa pequena vila e estância de veraneio na costa sul da França chove e nada de especial acontece.

A crise sente-se.

Toda a gente deve a toda a gente, carregada de dívidas.

Subitamente, um rico turista russo entra no foyer do pequeno hotel local.
Pede um quarto e coloca uma nota de 100 € sobre o balcão, pede uma chave de
quarto e sobe ao 3º andar para inspeccionar o quarto que lhe indicaram, na
condição de desistir se lhe não agradar.

O dono do hotel pega na nota de 100€ e corre ao fornecedor de carne a quem
deve 100€, o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a
pagar 100€ que devia há algum tempo, este por sua vez corre ao criador de
gado que lhe vendera a carne e este por sua vez corre a entregar os 100€ a
uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito.

Esta recebe os 100€ e corre ao hotel a quem devia 100€ pela utilização
casual de quartos à hora para atender clientes. Neste momento o russo rico
desce à recepção e informa o dono do hotel que o quarto proposto não lhe
agrada, pretende desistir e pede a devolução dos 100€. Recebe
o dinheiro e sai.

Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescido.

Contudo, todos liquidaram as suas dívidas e estes elementos da pequena vila
costeira encaram agora com optimismo o futuro.
Como analisar economicamente esta história? Poderemos considerar que a aldeia tinha um problema de falta de liquidez que foi resolvido com a injecção temporária de capital por parte do russo rico (qual banco central)?

Ou será que os problemas já poderiam ter sido antes resolvidos se o hoteleiro, o talhante, os criadores de animais e a prostituta tivessem criado uma associação que visse os créditos e débitos de cada um e anulasse as dívidas cruzadas?

Outra forma de ver a coisa (será a dos anti-keynesianos?) é de que só por milagre isto não deu uma grande barraca: afinal, tendo na mão o que poderia ser considerado um "empréstimo" de curtíssimo prazo, o hoteleiro pôs-se a pagar dívidas. E se, quando o russo pediu o dinheiro de volta, ele ainda não regressado ao cofre do hoteleiro? Seria uma situação em que um aumento temporário da massa monetária teria levado os agentes a tomarem decisões insustentáveis a longo prazo, abrindo caminho para uma crise futura ainda maior?

3 comments:

CN said...

Se aceitarem receber titulos de divida do outro em vez do dinheiro, conseguem cancelar mutuamente todas as dívidas.


Quanto ao aumento da mssa monetária, não foi o caso, ele recebu 100 por prestar um serviço.

Miguel Madeira said...

"Se aceitarem receber titulos de divida do outro em vez do dinheiro, conseguem cancelar mutuamente todas as dívidas."

Isso é um pouco a ideia base o penultimo parágrafo

"Quanto ao aumento da mssa monetária, não foi o caso, ele recebu 100 por prestar um serviço."

Não exactamente - sim, ele recebeu esse dinheiro pelo serviço, mas sabendo perfeitamente que poderia ter que repor o dinheiro (como sucedeu).

Em larga medida, isso funcionou mais como um "empréstimo" do que verdadeiramente como uma venda.

CN said...

O papel do dinheiro nessa caso é apenas o de facilitar o processo de anulação conjunta de todas as dívidas.

Cada um deles deve aquilo a que lhe devem a ele, sendo subentendido que só pagará quando lhe pagarem a ele (Não existe uma maturidade, é mais honra digamos).


Os ciclos aparecem quando o crédito tem lugar sem que ninguém tenha abdicado de consumo e poupado para dar esse crédito, mas sim por fabricação pura de mais dinheiro.