Sunday, May 14, 2006

Porque não gosto da palavra "excluido"

Nos útimos 10 anos (mais coisa menos coisa) deixou-se de falar em "pobres" e "pobreza": passaram a haver é "excluidos" e "exclusão social. Eu não gosto nada deste nova terminologia, por várias razões.

Talvez a mais importante é que um "pobre" não é necessariamente um "excluido": se, em paises como a França ou a Alemanha a pobreza está fortemente associada ao desemprego, noutros, como Portugal ou os EUA, a pobreza é composta principalmente por trabalhadores com baixos salários - ou seja, não é um problema de "exclusão": os pobres estão incluidos no sistema (mais exactamente, incluidos na categoria de trabalhadores pobres).

O uso da palavra "exclusão" acaba por ter fortes implicações reformistas e paternalistas: ao falar-se em "excluidos" está-se implicitamente a dizer que o nosso sistema social é bom, o único problema é deixar algumas pessoas de fora; além disso, a palavra parece-me ter implicita a ideia dos pobres, sobretudo, como "desgraçados", "pobres diabos" ou coisa do género, que precisam de ajuda dos beneméritos, assistentes sociais, etc. (em suma, das "almas caridosas"), em detrimento de soluções baseadas na sua auto-organização (através de sindicatos, organizações de bairro, etc.).

Em suma, o conceito de "exclusão" leva atrás a ideia de que não há problemas em os pobres serem "pobres" (isto é, terem baixos rendimentos e/ou muito tempo de trabalho) desde que estejam "incluidos": isto é, empregados, bons trabalhadores, limpinhos e bem-vestidos, respeitadores da lei, bem comportados na escola, com vidas sexuais e familiares de acordo com os padrões da classe-média, etc.

1 comment:

Anonymous said...

concordo,

a expressão working poor, é um oximoro. no entanto uma realidade.