Tuesday, August 22, 2006

A esquerda "moderada" e "radical" na blogosfera

Segundo CMC e A.A.Alves, nos blogues a esquerda "radical" suplanta a "moderada". Claro que o conceito deles de esquerdas "moderada" e "radical" será diferente do meu. No entanto, se nos guiássemos pela classificação do Esquerda Republicana e a cruzarmos com os dados do Technorati, o resultado é um pouco diferente:

É verdade que o Aspirina B encabeça a lista, mas daí para baixo os "moderados" dominam os lugares cimeiros. Claro que, provavelmente AAA e CMC incluem o Causa Nossa e o Bicho Carpinteiro na "esquerda radical", já que me parece que o essencial da sua análise tem a ver com a politica externa (ou seja, o "radicalismo" e a "moderação" medem-se pelo grau de oposição ou apoio à politica dos EUA e de Israel) - no entanto, é curioso que AAA separe a "má" e a "boa" (ou "menos má") esquerda com base nas opções de politica externa, ao mesmo tempo que, à direita, até parece ter alguma admiração pelo senador Chuck Hagel, que também é bastante crítico da politica externa de Bush (imagino que a partir de pressupostos de base completamente diferentes dos da esquerda). Ou seja, se há uma "direita-contra-a-guerra-do-Iraque", porque não há de haver uma "esquerda-moderada-contra-a-guerra-do-Iraque"?

Já agora, ainda a respeito da "moderação" e do "radicalismo", repare-se que, mesmo entre os "radicais", quem domina parecem ser "os mais moderados dos radicais". Olhe-se, p.ex., para os principais bloggers da área do Bloco de Esquerda e arredores: Joana Amaral Dias, Daniel Oliveira, Ivan Nunes (oriundos da Politica XXI, considerada por alguns como a "ala direita" do BE), Rui Curado Silva (que dá-me a impressão que é bastante crítico da ala mais radical do Bloco), etc. O que não se diria se os principais blogues de esquerda fossem próximos do Ruptura...

4 comments:

André Azevedo Alves said...

Creio que o CMC também terá uma posição bastante crítica relativamente à condução da política externa pela administração Bush.

O que está em causa não é uma dicotomia pró-Bush ou anti-Bush mas o conjunto de posições sobre o papel dos EUA e outras matérias na agenda internacional (Venezuela, Bolívia, Cuba, Bielorrússia, Irão, NATO, etc).

André Azevedo Alves said...

Outra coisa: mesmo aceitando essa classificação (e eu não a aceito, por várias razões), a extrema-esquerda continuaria a estar fortemente sobre-representada, já que teria uma quota de cerca de 50% entre os principais blogs de esquerda.

Em todo o caso, nada a objectar a esse peso. É mérito de quem escreve e organiza os blogs.

Já quanto ao peso nos media, o caso é diferente.

André Azevedo Alves said...

Nõa costumo usar o technorati e reparei agora que contabiliza 2151 (!) links para o Insurgente. A avaliar por outros indicadores, não esperava que fossem tantos...

Miguel Madeira said...

"O que está em causa não é uma dicotomia pró-Bush ou anti-Bush mas o conjunto de posições sobre o papel dos EUA e outras matérias na agenda internacional (Venezuela, Bolívia, Cuba, Bielorrússia, Irão, NATO, etc)."

Creio que o unico ponto da agenda internacional em que parece haver um dominio de posições "radicais" é no Médio Oriente. De resto, não vejo que nos principais blogues de esquerda (nomeadamente os dinamizados por pessoas da área do PS) haja grande apoio a Chávez, Fidel ou Lukashenko (aliás, eu nunca vi um texto português a defender Lukashenko - mas também não fui à procura...).

Aliás, mesmo em blogues mais "radicais" (como o Aspirina B ou o Arrastão) não se costuma ver grande apoio a esses personagens - o Fidel e o Chavez costuma levar com "uma no cravo e outra na ferradura" e o Lukashenko costuma ser ignorado ou criticado (só o Morales costuma ter uma recepção positiva).

"É mérito de quem escreve e organiza os blogs."

"Já quanto ao peso nos media, o caso é diferente."

Será? Poderia-se, realmente, argumentar que o suposto peso da esquerda nos media é produto de uma conspiração dos grupos económicos que os controlam.

Mas, como tal hipotese parece-me inverosimil (e, seja como for, a "esquerda jornalistica" parece-me ter mais peso entre os jornalistas de base do que entre os directores dos jornais), só me ocorre duas explicações:

a) Ou os jornalistas/opinadores de "esquerda radical" são mesmo mais competentes/interessantes do que os "moderados" ou "direitistas"

ou

b) A "esquerda radical" está sobrerepresentada nas pessoas que escolhem profissões nessa área, logo, mesmo se os jornalistas forem contratados "aleatoriamente", os "radicais" acabam por predominar.

Numa forma ou de outro, esse suposto "radical bias" dos média será, ou mérito dos radicais (hipotese a), ou demérito dos "moderados" (hipotese b - afinal, quem os manda não irem para os cursos de jornalismo?)