N'O Cachimbo de Magritte, Carlos Botelho faz um interessante contra-factual sobre um mundo em que a II Guerra Mundial tivesse terminado com um compromisso entre as partes envolvidas. Eu tenho algumas dúvidas que fosse possível ao "Eixo" (e sobretudo à Alemanha) aceitar terminar a guerra com um acordo entre todas as partes (quando muito um acordo com uma das partes para combaterem a outra - como fez, mais ou menos, com a URSS em 39-41 e como Rudolf Hess terá tentado fazer com a Grã-Bretanha): as ideologias nazi e fascista (e o código samurai, já agora) estavam tão imbuídas de mitologia guerreira que não sei se esse regimes conseguiriam funcionar em "Paz".
Mas a minha objecção não é essa - é mesmo quando Botelho escreve "O Estado de Israel não existiria, mas o antisemitismo árabe não precisa de Israel para odiar os Judeus. Os ataques a Israel são o efeito, não a causa". De certeza que existe um anti-semitismo árabe independente de Israel (tal como também existe um anti-semitismo português, e de certeza que também haverá anti-semitas no México). Mas existirá um anti-semitismo árabe relevante independente de Israel? Não tenho nenhuma cronologia exacta das relações árabe-judaicas, mas parece-me que, na Palestina, só começou a haver conflitos significativos entre as duas comunidades após a proclamação da Declaração Balfour, anunciando o propósito de estabelecer um "lar nacional judeu" na Palestina (pelo menos, parece não ter havido problemas significativos antes de 1920, e esses tiveram directamente a ver com a questão do "lar nacional judeu"). No mundo árabe em geral, até penso que havia menos anti-semitismo que, p.ex., na Europa oriental (se não fosse assim, até duvido que, no século XIX, alguma vez os judeus perseguidos na Rússia tivessem começado a imigrar para os territórios da Palestina - iriam fugir do sal para a salmoura?). E a existência de enormes comunidades judias nos países árabes até meados do século XX parece indicativa que o ambiente lá era (ou tinha sido, nos séculos anteriores) menos hostil que na Europa.
Poder-se-á argumentar "Pronto, até 1920, os árabes talvez nem fossem particularmente anti-semitas; mas a partir daí tornaram-se, e esse anti-semitismo teria se mantido mesmo que o Estado de Israel não se tivesse concretizado"; talvez; mas, atendendo que sociedades multi-étnicas costumam funcionar na base das alianças flutuantes, acho que era provável que (caso o "projecto Israel" tivesse sido abandonado) as alianças e inimizades entre grupos étnicos e religiosos na zona em breve se tivessem recomposto com base noutro padrão qualquer. Veja-se o caso do Libano, em que, nos anos 80, druzos e maronitas enfrentaram-se em batalhas violentas nas montanhas do Shoufe, enquanto na "Revolução dos Cedros" participaram ambos entusiasticamente nas manifestações anti-sírias.
Mas a minha objecção não é essa - é mesmo quando Botelho escreve "O Estado de Israel não existiria, mas o antisemitismo árabe não precisa de Israel para odiar os Judeus. Os ataques a Israel são o efeito, não a causa". De certeza que existe um anti-semitismo árabe independente de Israel (tal como também existe um anti-semitismo português, e de certeza que também haverá anti-semitas no México). Mas existirá um anti-semitismo árabe relevante independente de Israel? Não tenho nenhuma cronologia exacta das relações árabe-judaicas, mas parece-me que, na Palestina, só começou a haver conflitos significativos entre as duas comunidades após a proclamação da Declaração Balfour, anunciando o propósito de estabelecer um "lar nacional judeu" na Palestina (pelo menos, parece não ter havido problemas significativos antes de 1920, e esses tiveram directamente a ver com a questão do "lar nacional judeu"). No mundo árabe em geral, até penso que havia menos anti-semitismo que, p.ex., na Europa oriental (se não fosse assim, até duvido que, no século XIX, alguma vez os judeus perseguidos na Rússia tivessem começado a imigrar para os territórios da Palestina - iriam fugir do sal para a salmoura?). E a existência de enormes comunidades judias nos países árabes até meados do século XX parece indicativa que o ambiente lá era (ou tinha sido, nos séculos anteriores) menos hostil que na Europa.
Poder-se-á argumentar "Pronto, até 1920, os árabes talvez nem fossem particularmente anti-semitas; mas a partir daí tornaram-se, e esse anti-semitismo teria se mantido mesmo que o Estado de Israel não se tivesse concretizado"; talvez; mas, atendendo que sociedades multi-étnicas costumam funcionar na base das alianças flutuantes, acho que era provável que (caso o "projecto Israel" tivesse sido abandonado) as alianças e inimizades entre grupos étnicos e religiosos na zona em breve se tivessem recomposto com base noutro padrão qualquer. Veja-se o caso do Libano, em que, nos anos 80, druzos e maronitas enfrentaram-se em batalhas violentas nas montanhas do Shoufe, enquanto na "Revolução dos Cedros" participaram ambos entusiasticamente nas manifestações anti-sírias.
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