Tuesday, December 22, 2009

Ainda o 25 de Novembro

Luis Coimbra levantou alguns pontos interessantes em "A «esquerda revolucionária» e Jaime Neves":

"Na URSS o Partido Comunista procedeu ao fuzilamento de todos os "desvios esquerditas" que tinham participado na revolução.

Durante a guerra civil de Espanha, nos anos 30, o mesmo aconteceu em muitas zonas controladas pelo PCE, designadamente na Catalunha.

Em 1940 Trostsky - o fundador do Exército Vermelho -foi asssassinado no México a mando de Staline.

(...)

Sem a democracia que Ramalho Eanes, Jaime Neves e até mesmo Vasco Lourenço ou Melo Antunes ajudaram pela força a instaurar, obrigando o PCP a deixar-se de veleidades golpistas e a respeitar os resultados eleitorais, os Deputados do Bloco não estariam hoje na Assembleia da República, mas a adubar um qualquer cemitério."
Custa-me a reconhecer, mas provavelmente Luis Coimbra tem alguma razão. Se uma coligação gonçalvista/otelista tivesse tomado o poder em Portugal, imagino que a evolução dos acontecimentos seria algo do género:

A- Começam a surgir tensões nas fábricas, quarteis e escolas, com os plenários de soldados, as comissões de trabalhadores e as associações de estudantes a quererem continuar os hábitos do PREC, e os "oficiais revolucionários", os "gestores revolucionários" e parte dos "professores revolucionários" a defenderem a "disciplina revolucionária" (nesse aspecto penso que não seria muito diferente dos primeiros governos de Vasco Gonçalves)

B - Em principio, a ala comunista/gonçalvista acabaria por ser a dominante no novo "Conselho da Revolução", já que tenderiam a agir em bloco, enquanto os radicais de esquerda eram um grupo mais inorgânico; asim, sempre que alguma coisa fosse votada no CR, provavelmente a ala comunista/gonçalvista ganharia

C - Assim, sempre que os conflitos previstos em A tivessem que ser decididos pelo CR, a decisão seria favorável aos oficiais, gestores, etc. levando ao desencanto das bases (que para alguns levaria à apatia e outros à insoburdinação contra o novo governo)

D - aproveitando-se da perca de entusiasmo dos "otelistas", ao fim de algum tempo seria convocada uma Assembleia do MFA que escolheria um novo CR, agora com o PCP claramente maioritário e só um outro "otelista" (provavelmente o próprio) para compor o ramalhete

E - Agora, com o PCP claramente no comando, era só esperar por alguma "acto de indisciplina" num quartel, ou alguma protesto estudantil ilegal nalguma escola, ou coisa de género - o CR ordenaria a prisão dos "elementos contra-revolucionários"/"provocadores ao serviço da reacção" directamente envolvidos; após alguns dias, seria emitido uma nota oficiosa informando da descoberta de uma "rede clandestina empenhada em sabotar o processo revolucionário" enquanto algumas unidades militares fariam, de surpresa, centenas ou milhares de detenções.

[ver o que se passou pouco depois na Etiópia, um país também governado por "militares progressistas"]

Mas não poderia ser ao contrário? A "esquerda revolucionária" a triunfar [já agora, e já que fui buscar o exemplo etíope, foi em parte o que acabou por aconter lá, ao fim de quase 20 anos de guerra civil...]?

Bem, é sempre dificil fazer estas especulações "o que teria acontecido se não tivesse acontecido o que aconteceu" - afinal, o PCP e a extrema-esquerda só poderiam ter triunfado em 1975 se a relação de forças no país fosse diferente, mas nessa "história alternativa" a relação de forças entre o PC e a extrema-esquerda provavelmente também seria diferente.

Por outro lado, se tivesse sido Jaime Neves a ter a última palavra no 25 de Novembro em vez de Melo Antunes ou Vasco Lourenço, se calhar os deputados do BE também não estariam no parlamento...

1 comment:

Anonymous said...

A questão é simples, a esquerda anti-autoritária foi derrotada tanto pela direita (comuna paris) como pela esquerda autoritária (guerra civil espanha).
A teoria sim, é muito bonita, mas ainda está para vir a tal época de consciencialização global anti-capitalista e anti-autoritária. Aliás, nunca chegará, o sistema capitalista nunca ruirá porque será sempre salvo pelos impostos e pela crença no progresso aparente.

O resto da História já se sabe, são Carlos Vidais a pedir justiça popular, e com alguma razão. Mas livrem-se de nessa justiça popular virem envolvidos os anarquistas ou hippies, "desorganizados" e sem vontade de sangue, estarão na primeira fila para os novos gulags, com um carimbo de contra-revolucionários na testa.