Thursday, March 09, 2006

Os gatos devem poder andar na rua?

No meu post sobre os gatos siameses, expressei a minha opinião que "a maneira «digna» de um gato levar a sua vida é dividi-la entre a casa dos seus «companheiros humanos» (...) e os telhados, quintais e jardins da vizinhança". No entanto, essa opinião é bastante contestável: por exemplo, a Prestwick-Beresford Old-Style Siamese Breed Preservation Society, no seu código de ética recomenda que os gatos castrados sejam mantidos estritamente dentro de casa; quando aos não-castrados, nem sequer "recomenda" - é mesmo uma imposição da associação que não andem na rua.

Há prós e contras para os gatos poderem andar na rua: o principal pró é que, se fecharmos um gato em casa, ele vai querer sair para a rua (em compensação, se o fecharmos na rua ele vai querer entrar em casa - o biólogo Desmond Morris captou bem essa atitude quando escreveu que a porta era o invento mais detestável para os gatos); de qualquer maneira, é sempre melhor ter um bairro ou quarteirão inteiro para passear, caçar, etc. do que apenas uma casa; e há muitos aspectos da "programação genética" do gato que funcionam melhor na vida ao ar livre (a sua habilidade para trepar e saltar, a proverbial curiosidade, etc.).

Quanto aos contras, temos os perigos associados: ele pode ferir-se (até gravemente) em lutas com outros gatos, ser atropelado, envenenado, etc. Além disso, um gato doente tem tendência a esconder-se, logo, se ele tiver acesso ao mundo exterior, pode ser quase impossível encontrá-lo para o levar ao veterinário. Finalmente, refira-se que enquanto durar a epidemia da gripe das aves faz todo o sentido manter os gatos fechados em casa.

Claro que hoje em dia esta questão é, em larga medida, apenas académica: os gatos domésticos só podem ter acesso ao mundo exterior se viverem numa casa com quintal ou varanda, o que é cada vez mais raro (aliás, nem sei se fora do Algarve há casas com varanda).

Para finalizar, um poema de Elizabeth Coatsworth, "Numa Noite de Neve", que ilustra bem este dilema:

Gata, se fores lá para fora caminharás sobre a neve,
Voltarás com pequenos sapatos brancos nas patas,
Pequenas pantufas brancas de neve com tacões de gelo.
Fica junto à lareira, minha gata. Deixa-te estar, não vás.
Vê como as chamas saltam e assobiam,
Ofercer-te-ei um prato de leite semelhante a uma margarida,
Tão branca e macia, tão esférica e doce -
Fica comigo, Gata. Lá fora o vento frio sopra.

Lá fora o vento frio sopra, Menina, e a noite está escura.
Há vozes estranhas gemendo nas árvores e cantando estranhas melodias,
E em vez de encontrares gatos furtivos, iluminados pela luz verde dos olhos
E com passos silenciosos onde a erva do prado permanece coberta de geada -
Menina, lá fora há presságios de magia e poder,
E de coisas ainda por acontecer. Abre a porta.

(tradução de Alberto Gomes, in Maravilhosos Gatos, compilado por Helen Exley)

2 comments:

Anonymous said...

boa questão...

o gato é um animal que ainda se mantem selvagem, apesar de todo o tempo que convive connosco.
penso que o melhor sitio para os gatos andarem em liberdade é numa aldeia.
por outro lado, temos pombos (ratazanas do ar) espalhados por toda a cidade, desde que se tenha uma politica de planeamento populacional não há muitos problemas com isso.

eu convivo com um exemplo, mas que se passa com gatos, embora não seja a melhor opção.
no bairro onde habito, aqui no porto, há imensos gatos.
agora vem a parte má, a forma de planeamento é o: envenenamento.

os gatos devem ter um dono ou uma associação que se responsabilize e tome precauções, caso contrario teremos problemas de saude publica.

o grande problema é que o gato não é facil de controlar, ele não senta quando lhe mandam, não é um animal de trela... e daí o outro tambem pôs uma trela numa galinha...

Miguel Madeira said...

Em certos sítios os gatos vadios são controlados de uma maneira melhor: são estrelizados e devolvidos à liberdade.

O grande problema com os gatos é mesmo a sua explosão demográfica: um casal de gatos, ao fim de 5 anos, em teoria, pode dar origem a... 65 mil gatos! Claro que isso nunca acontece, já que, no caso dos gatos vadios, quando a população começa a crescer muito, grande parte das crias acabam por morrer de fome.