Se bem percebo, a teoria "austriaca" sobre as recessões é mais ou menos assim:
Uma expansão monetária artificial (provocada pelos bancos centrais e/ou pelo mecanismo das reservas fraccionais) provoca, temporariamente, taxas de juro mais baixas do que deveriam ser. Assim, em função desses juros baixos, os empresários tendem a fazer investimentos em sectores/tecnologias cujo período de recuperação do capital é prolongado. Quando os juros sobem ao valor realmente consentâneo com a poupança real da economia, esses investimentos revelam-se inviáveis e a recessão é, basicamente, a liquidação desses investimentos mal-feitos num período de expansão artificial.
A teoria keynesiana será mais ou menos assim (note-se que eu estou a sintetizar o Keynes com os seus discípulos das décadas seguintes):
Por qualquer razão, os indivíduos e/ou empresas numa dada economia passam a querer ter mais dinheiro liquido do que têm; assim, procuram gastar menos (seja em consumo, seja em investimento) do que ganham. Mas como a despesa do Francisco é o rendimento do Manuel e vice-versa, isso origina uma quebra total dos rendimentos, com cada um a querer acumular dinheiro. Face à queda na procura, os vendedores vão, gradualmente (muito por tentativa-e-erro), baixando os preços. Ao fim de algum tempo, essa baixa dos preços vai fazer que o valor real da moeda detida pelos agentes suba, fazendo-os outra vez voltar a gastar dinheiro. Durante o tempo que demora até os preços descerem a um nível suficientemente baixo para reactivar a economia, temos uma recessão.
Diga-se que é possível concordar com o diagnóstico keynesiano sobre a causa das recessões sem concordar com a receita keynesiana para sair delas (deficit orçamental e/ou expansão monetária) - creio que era basicamente a posição de Milton Friedman nos anos 50/60, que achava que até ao governo saber que havia uma recessão, decidir que medidas tomar e pô-las em prática, já a recessão teria passado.
Agora, o meu ponto: ao que sei, os "austriacos" defendem que a teoria económica deve ser desenvolvida a partir do raciocinio lógico-dedutiva, e não por métodos empiricos. Mas, numa perspectiva estritamente lógica, a teoria keynesiana das recessões parece-me fazer tanto sentido como a "austriaca" (que falha lógica ela tem?). Até é possível que, no mundo real, as recessões surjam pelas razões "austriacas" e não pelas keynesianas, mas isso já é o tal método empírico.
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