O Carlos Novais escreve "E eu que pensava (assim como o Galbraith) que era necessário sermos menos consumistas e libertar as pessoas do hipnotismo provocado pela publicidade e marketing. Pois logo logo no primeiro momento de alguma vitória real do anti-consumismo e.... zás... é preciso pôr o pessoal outra vez...a consumir alegremente e nada deprimido."
Isto lembrou-me um bocado uma conversa que tive há dias com um amigo meu (penso que em transito entre o trotskismo-morenismo e o autonomismo-operarismo) acerca da crise da indústria automóvel, em que concluímos que era um bocado contraditório nuns dias criticar-se a civilização do automóvel, e noutros defender o apoio do Estado aos fabricantes de automóveis em crise para salvar empregos.
Da mesma forma, reconheço que há aqui uma tensão latente entre a "esquerda económica" keynesiana, defensora do estimulo ao consumo como forma de animar economia, e a "esquerda cultural" anti-consumista (tal como, de certa forma, a "direita cultural").
No entanto, convém distinguir dois formas de anti-consumismo (que até podem coexistir na mesma pessoa) - uma que defende "consumir menos e poupar mais", e outra "consumir menos e trabalhar menos" (que poderemos associar às tais "direita" e "esquerda culturais"", respectivamente*) .
Agora, se aceitarmos a tese keynesiana que a redução do consumo deprime a economia (é um "se" grande, admito, mas para já vamos assumir que sim), estas duas formas de anti-consumismo terão diferentes consequências:
- o anti-consumismo "de direita" (trabalhar e poupar mais) originará os problemas clássicos das recessões económicas: teremos a economia em queda e gente à procura de trabalho sem o arranjar
- já o anti-consumismo "de esquerda" (trabalhar menos e gastar menos) talvez seja inofensivo: realmente a redução do consumo irá deprimir a economia; mas se essa redução do consumo for acompanhada por uma redução da oferta de trabalho (por exemplo, tirando anos sabáticos de vez em quando, ou passando a trabalhar em horário reduzido), em principio já não teremos o tal problema do desemprego, já que a redução da procura de trabalho é capaz de ser compensada pela redução da oferta de trabalho**
*isto não é uma regra rígida - tenho a ideia que os comunistas ortodoxos costumam estar mais próximos da mentalidade de trabalhar e poupar do que da de trabalhar menos e gastar menos (mas talvez os comunistas ortodoxos não contem como "esquerda cultural"); por outro lado, uma certa direita "aristocrática-camponesa" (praticamente extinta hoje em dia) às vezes também criticava a mentalidade "de classe média" de fartar-se de trabalhar para subir na vida (ver, por exemplo, The Menace of the Herd [pdf], de Erik von Kuehnelt-Leddihn)
**recordo que as expressões "oferta de trabalho" e "procura de trabalho" significam o contrário daquilo que parece: "oferta de trabalho" são os trabalhadores que se disponibilizam para trabalhar, e "procura de trabalho" são as empresas que procuram trabalhadores
No entanto, convém distinguir dois formas de anti-consumismo (que até podem coexistir na mesma pessoa) - uma que defende "consumir menos e poupar mais", e outra "consumir menos e trabalhar menos" (que poderemos associar às tais "direita" e "esquerda culturais"", respectivamente*) .
Agora, se aceitarmos a tese keynesiana que a redução do consumo deprime a economia (é um "se" grande, admito, mas para já vamos assumir que sim), estas duas formas de anti-consumismo terão diferentes consequências:
- o anti-consumismo "de direita" (trabalhar e poupar mais) originará os problemas clássicos das recessões económicas: teremos a economia em queda e gente à procura de trabalho sem o arranjar
- já o anti-consumismo "de esquerda" (trabalhar menos e gastar menos) talvez seja inofensivo: realmente a redução do consumo irá deprimir a economia; mas se essa redução do consumo for acompanhada por uma redução da oferta de trabalho (por exemplo, tirando anos sabáticos de vez em quando, ou passando a trabalhar em horário reduzido), em principio já não teremos o tal problema do desemprego, já que a redução da procura de trabalho é capaz de ser compensada pela redução da oferta de trabalho**
*isto não é uma regra rígida - tenho a ideia que os comunistas ortodoxos costumam estar mais próximos da mentalidade de trabalhar e poupar do que da de trabalhar menos e gastar menos (mas talvez os comunistas ortodoxos não contem como "esquerda cultural"); por outro lado, uma certa direita "aristocrática-camponesa" (praticamente extinta hoje em dia) às vezes também criticava a mentalidade "de classe média" de fartar-se de trabalhar para subir na vida (ver, por exemplo, The Menace of the Herd [pdf], de Erik von Kuehnelt-Leddihn)
**recordo que as expressões "oferta de trabalho" e "procura de trabalho" significam o contrário daquilo que parece: "oferta de trabalho" são os trabalhadores que se disponibilizam para trabalhar, e "procura de trabalho" são as empresas que procuram trabalhadores
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