Para começar, vamos ver quais são as alternativas teóricas à TVT: por um lado, temos as outras "teorias do valor-custo de produção", segundo o qual o preço é determinado pelo conjunto dos custos de produção, e não apenas pelo trabalho utilizado; por outro, temos a teoria subjectiva do valor, que parece-me dizer que o preço tende a ser determinado pela utilidade que os consumidores dão ao produto em questão.
Indo por partes: no caso da teoria do "custo de produção", até é capaz de ser uma determinante mais relevante que o trabalho propriamente dito; mas como, directa ou indirectamente, o trabalho deve ser o principal custo de produção, não altera muito os dados do problema.
A alternativa mais relevante à TVT é mesmo a "teoria subjectiva do valor". Ora, na minha opinião, ambas estão em parte correctas: os preços são determinados pela intersecção da oferta e da procura; a curva da oferta tende a ser determinada pelos custos de produção; a da procura, pela utilidade subjectiva do consumidor.
Agora, podemos imaginar vários "casos notáveis".
Vamos supor um produto cuja oferta seja rigida (p.ex., o tal original de Picasso que falei no post anterior).
Neste caso, efectivamente a teoria subjectiva do valor (se eu a estou a perceber bem) faz sentido - o que afecta o preço é a curva da procura, que é determinada pelas preferencias dos consumidores.
Agora, vamos imaginar o caso oposto: um produto cuja produção tenha rendimentos constantes à escala, o que leva a que (pelo menos a longo prazo), a curva da oferta seja horizontal:
Neste cenário, a "teoria subjectiva da valor" perde toda a relevancia - alterações na procura (ou seja, na preferencia dos consumidores) em nada afectam o preço (ou, pelo menos, o preço a longo prazo) que é determinado apenas pela estrutura dos custos de produção (ou seja, com economias constantes à escala, a "teoria do valor - custo de produção" é a mais correcta).
Vamos ainda imaginar outro cenário (para este não vou fazer gráfico), em que haja rendimentos crescentes à escala. Aí teremos que, quanto maior a procura de um bem, provavelmente mais baixo será o seu preço. Nesse caso, quase poderiamos dizer que o correcto seria uma espécie de anti-teoria subjectiva do valor, em que, quanto maior a utilidade que os consumidores dessem a um certo produto, mais barato esse produto será.
Resumindo:
- com oferta rigida, a teoria subjectiva do valor aplica-se na perfeição
- com uma curva da oferta crescente com o preço (isto é, o cenário que custuma aparecer nas primeiras páginas dos livros de economia), tanto a teoria subjectiva como a teoria do custo de produção aplicam-se parcialmente
- com rendimentos constantes à escala, temos uma oferta perfeitamente elástica a longo prazo, em que o que determina o preço é o custo de produção
- finalmente, se tivermos rendimentos crescentes à escala, teremos um coisa esquisita, mas em que acho que poderemos dizer que os preços serão determinados pelos custos de produção (nesse cenário, realmente a procura faz baixar os preços, mas tal acontece por intermédio do seu efeito sobre os custos de produção)
Então, quais destes cenários será mais frequente no mundo real? Arrisco-me a dizer que o terceiro e o quarto serão mais usuais que o primeiro, o que torna a "teoria do custo de produção" mais relevante do que a "teoria subjectiva do valor".
Agora, é verdade que o titulo do post é "teoria do valor trabalho", não "teoria do valor - custo de produção" (confesso que não sei como se traduz cost-of-production theory of value), mas penso que a TVT pode ser considerado uma versão aproximada da "TVCP", por isso acaba por não andar muito longe do funcionamente real da economia (mesmo que os seus fundamentos teóricos não sejam muito sólidos).
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