Há uns tempos, o economista Robin Hanson declarava-se surpreendido com algumas coisas:
- I exist at all; the vast majority of possible things do not exist.
- I am alive; the vast majority of real things are dead.
- I have a brain; the vast majority of living things have none.
- I am a mammal; the vast majority of brains aren’t.
- I am a human; the vast majority of mammals aren’t.
- I am richer than the vast majority who have ever lived.
- I am alive earlier than the vast majority of human-like folks who will ever live.
- I am richer and smarter than most humans alive today.
- I write a popular blog, and unusually interesting articles.
De qualquer forma, grande parte das as interrogações de Hanson poderiam ser subscritas pela maior parte dos leitores, que são esmagadoramente humanos, vivos (a menos que contemos os circuitos dos computadores e da internet como "leitores"), ricos (à escala da humanidade actual, e ainda mais se comparados com todos os humanos que há existiram) e vários até têm blogs. Com tantas coisas que poderíamos ser, porque é que fomos calhar mesmo neste grupo ultra-minoritário (e priviligiado)?
Mas acho que grande parte do mistério se explica se pensarmos em "atómos" em vez de em "indivíduos". Ou seja, sem em vez de nos perguntarmos "porque é que Robin Hanson é um ser vivo, com cérebro, mamífero e ainda por cima um humano?", perguntarmos "porque é que os átomos que compôem Robin Hanson estão integrados num ser vivo, com cérebro, mamífero e ainda por cima um humano?"; e aí a resposta é clara - os tais átomos passam a maior parte do tempo em seres inanimados, e só muito ocasionalmente integram um organismo humano; ou seja, não há nenhuma anormalidade estatística no facto de, neste momento, os átomos de Hanson integrarem o organismo de Hanson - cada átomo passa um fracção ínfima da sua existência integrado no "complexo cristalino conhecido como Robin Hanson", provavelmente não mais do que seria de esperar pelas leis das probabilidades.
O que se passa é que só nos breves instantes em que integram seres humanos é que esses átomos têm (ou dão origem a) algo a que podemos chamar "auto-reflexão sobre si"*, pelo que, nesses momentos (se lhes der para pensar nisso), ficam surpreendidos por serem uma pessoa em vez de, por exemplo, feldspato. No fundo é como alguém estar 99% do tempo inconsciente e, no pouco tempo em que está consciente, pensar "é curioso; eu sei que estou o tempo quase sempre inconsciente - mas quase todas as minhas recordações são de quando estou consciente; como explicar este fenómeno?").
Pelo menos as "surpresas" 1-5 podem ser explicadas assim; as 6 e 8 podem ser explicadas pelas pessoas ricas e inteligentes terem mais tempo e propensão a gastar tempo pensando nisso (ou seja, quando os átomos aterram numa pessoa inteligente e razoavelmente abastada podem se pôr a pensar "com tanta pobreza que há por aí, com sorte eu tive em ser eu"; se aterrarem numa pessoa pobre ou pouco inteligente, têm mais que fazer do que esse género de estatísticas mentais); a 9 pela sua expectável correlação com 6 e 8.
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