Tuesday, December 27, 2011

"Não tenho que subsidiar médicos..."

Numa entrevista ao Diário Económico, a gestora da Espírito Santo Saúde, Isabel Vaz, confrontada com os elevados salários pagos num hospital concessionado ao ESS, respondeu:

Primeiro ponto: o hospital de Loures é público. Todos os médicos que vêm trabalhar para Loures vêm fazer serviço público. Segundo, nós comprometemo-nos com o Estado a fazer mais barato do que aquilo que o Estado consegue fazer. Não consigo perceber o que as pessoas querem dizer com propostas irrecusáveis. Estamos a pagar aquilo que no nosso país, com o contracto que temos, nos é permitido. Temos uma grande vantagem em relação aos nossos colegas, é que Loures é um hospital de raiz e como tal estamos a escolher as equipas. Ou seja, não tenho que subsidiar médicos, enfermeiros, auxiliares, que não querem trabalhar, e que não contribuem para o sucesso das organizações.
Nos comentários, as opiniões dividiram-se, com uns a dizer "finalmente alguém que tem a coragem de dizer que os médicos são uns privilegiados" e outros "mas quem é esta menina para vir insultar milhares de profissionais"; curiosamente, parece-me que ninguém aborda o ponto principal - é que a resposta dela é completamente contraditório com a questão colocada: na verdade, a existência de hospitais privados (ou pior, de hospitais públicos com gestão privada) a pagar valores astronómicos é uma das razões que permite que no serviço público haja funcionários com uma baixa relação produção/remuneração, já que se forem "apertados" podem sempre ameaçar ir trabalhar para o privado.

Aprofundando a questão, talvez possamos considerar que a pior coisa que aconteceu às finanças do SNS foi os hospitais públicos (incluindo os hospitais públicos de gestão privada) terem passado a ter autonomia negocial, o que permite aos médicos dizer "se não me dão tanto, vou trabalhar para o outro hospital" (enquanto antes, quanto se recebia pela tabela da função pública, não havia esse problema - os hospitais do SNS eram obrigados a funcionar como um "cartel" e os profissionais tinham que se sujeitar a esse salário).

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