Monday, May 07, 2007

A atitude da esquerda portuguesa face a Chavez

Em resposta a este texto de Rui Faustino (ou mais exactamente, a um comentário feito noutro blogue nas mesmas linhas-chave).

Qual deve ser a linha da esquerda portuguesa (nomeadamente do BE) face a Chavez (digo da esquerda portuguesa, não de grupos da esquerda venezuelana como o Partido Revolucion y Socialismo ou a CCURA)? Nós não temos grande possibilidade de influir directamente no processo venezuelano, logo esse processo terá para nós uma importância sobretudo pedagógica (no sentido de a experiência venezuelana servir de exemplo para outros povos, como nós).

Ora, como RF diz, o processo venezuelano tanto pode dar a "a mais trágica derrota ou a mais gloriosa das vitórias". Ora, se nós andarmos a cultivar a "chavofilia" entre os simpatizantes e activistas da esquerda portuguesa e se, depois, Chavez, na altura do "embate final", ceder à contra-revolução (como aconteceu, p.ex, com Sukarno, na Indónesia), isso representará uma desmoralização da esquerda mundial comparável à que a queda das ditaduras estalinistas representou.

Portanto, se algo é necessário, fora da Venezuela, não é andar a propangandear o chavismo (já há muito apoio não-crítico a Chavez por aí), mas sim alertar as massas (ou, pelo menos, as poucas massas que nos prestam atenção) para as contradições internas do chavismo, e para as possibilidades de correr para o bem ou para o mal, de forma a maximizar o seu potencial positivo em termos de desenvolvimento da consciência politica, no primeiro caso, ou a minimizar o seu papel negativo, no segundo caso.

[Ver também este meu post de há uns meses]

1 comment:

Esquerda Comunista said...

Não se trata de colocar o Chavez num andor e assinar em branco e de cruz tudo o que ele faz. Trata-se é de:

a) Compreender que na Venezuela decorre uma revolução na qual as massas trabalhadoras são o motor da mesma

b) Na ausência duma direcção revolucionária de massas, o vazio correspondente foi ocupado por Chavez

c) Um partido revolucionário que conduza o processo venezuelanao até aos socialismo far-se-á ou com as bases chavistas, os milhões de trabalhadores, camponeses e pobres que personificam o desejo de mudança em Hugo Chavez... Ou não se fará de todo. Não é preciso inventar revolucionários "puros até ao fim" - essa força revolucionária existe na Venezuela: são as massas "chavistas"

d) Na venzuela esse partido não se fará contra Chavez mas em luta contra a oligarquia local e o imperialismo.

d) O próprio Chavez se tem radicalizado durante o processo e tem sido não propriamente um freio mas um aliado das massas trabalhadoras nas quais se apoia para fustigar a ala direita do movimento bolivariano - foi ele o primeiro líder na Venezuela a introduzir o tema do rumo socialista já em 2005.

d) De apoiarmos a revolução venezuelana com tudo o que ela tem de positivo (vejam-se as ultimas nacionalizações) contra o imperialismo e a oligarquia local

f) no debate e momento actual em que se discute os caminhos futuros da revolução, apoiar aqueles sectores que defendem a via socialista da revolução bolivariana.

g) é fundamental não "emprenhar pelos ouvidos" com tudo o que a propaganda da imprensa vendida faz. Sobre a nossa revolução dos cravos também falavam muito sobre o "perigo de ditadura comunista" mas o que ardeu não foram igrejas mas sedes de sindicatos e partidos de esquerda em 1975.

g)Perceber que a situação na Venezuela é o centro da mará vermelha que percorre a américa latina e que muito do que vier a suceder no continente (até no mundo!) dependerá do resultado da confrontação de classes que ali se registar.

Saúde e Fraternidade,
Rui Faustino

8 de Maio de 2007 11:08