Há 50 anos atrás, Albert Camus fazia o seu discurso "Le sang des Hongrois", a propósito da revolução húngara do ano anterior:
Eu não sou daqueles que desejam ver o povo da Hungria pegar de novo em armas num levantamento que seria de certeza esmagado, debaixo dos olhos das nações do mundo, que não poupariam nem aplausos nem lágrimas piedosas, mas que regressariam às suas pantufas como espectadores de futebol numa tarde de Domingo após o final da Taça.
Já há demasiados mortos no campo, e não podemos ser generosos com sangue que não o nosso. O sangue da Hungria revelou-se demasiado precioso para a Europa e para a liberdade para que não sejamos avaros dele até à ultima gota.
Mas eu não sou daqueles que pensam que pode haver compromisso, mesmo que resignado, mesmo que provisório, com um regime de terror que tem tanto direito a dizer-se socialista como os carrascos da Inquisição tinham de dizer-se cristãos.
E neste aniversário da liberdade, eu espero com todo o meu coração que a resistência silenciosa do povo da Hungria irá prevalecer, irá tornar-se mais forte e, reforçada por todas as vozes que podemos erguer em seu apoio, obtendo da opinião internacional unânime o boicote aos seus opressores.
E se a opinião mundial for demasiada fraca ou egoísta para fazer justiça a um povo martirizado, e se as nossas vozes forem também demasiado fracas, eu espero que a resistência húngara se mantenha até que o Estado contra-revolucionário desabe por todo o Leste sob o peso das suas mentiras e contradições.
A Hungria conquistada e acorrentada fez mais pela liberdade e justiça que qualquer outro povo nestes 20 anos. Mas para que esta lição perdurar e persuadir aqueles no Ocidente que fecham os olhos e ouvidos foi necessário, e não podemos estar confortáveis com isso, para o povo da Hungria derramar muito sangue que já está secando nas nossas memórias.
Na solidão que se sente na Europa de hoje, temos apenas uma maneira se sermos verdadeiros para com a Hungria, que é nunca trair, entre nós e em todo o lado, o que os heróis húngaros fizeram e nunca perdoar, entre nós e em todo o lado, mesmo que indirectamente, aqueles que os mataram.
Será difícil para nós sermos merecedores de tais sacrifícios, mas podemos tentá-lo, numa Europa em fim unida, esquecendo as nossas querelas, corrigindo os nossos erros, aumentando a nossa criatividade e a nossa solidariedade. Temos fé que está em marcha no mundo, paralela às forças de opressão e morte que escurecem a nossa história, um força de convicção e vida, um imenso movimento de emancipação que é a cultura e que se faz ao mesmo tempo pela criação livre e pelo trabalho livre.
Aqueles operários e intelectuais húngaros, perante os quais nós estamos hoje com um lamento impotente, compreenderem isso e fizeram-nos a nós compreender isso. É por isso que, se o seu sofrimento é nosso, a sua esperança também é nossa. Apesar da sua miséria, dos seus grilhões, do seu exílio, deixaram-nos uma herança gloriosa que devemos merecer: liberdade, que eles não ganharam, mas que num único dia nos deram a nós.
Poder-se-á perguntar qual o interesse de postar um texto escrito há 50 anos, num contexto geopolítico completamente diferente do actual - se calhar nenhum, mas enfim...
Eu não sou daqueles que desejam ver o povo da Hungria pegar de novo em armas num levantamento que seria de certeza esmagado, debaixo dos olhos das nações do mundo, que não poupariam nem aplausos nem lágrimas piedosas, mas que regressariam às suas pantufas como espectadores de futebol numa tarde de Domingo após o final da Taça.
Já há demasiados mortos no campo, e não podemos ser generosos com sangue que não o nosso. O sangue da Hungria revelou-se demasiado precioso para a Europa e para a liberdade para que não sejamos avaros dele até à ultima gota.
Mas eu não sou daqueles que pensam que pode haver compromisso, mesmo que resignado, mesmo que provisório, com um regime de terror que tem tanto direito a dizer-se socialista como os carrascos da Inquisição tinham de dizer-se cristãos.
E neste aniversário da liberdade, eu espero com todo o meu coração que a resistência silenciosa do povo da Hungria irá prevalecer, irá tornar-se mais forte e, reforçada por todas as vozes que podemos erguer em seu apoio, obtendo da opinião internacional unânime o boicote aos seus opressores.
E se a opinião mundial for demasiada fraca ou egoísta para fazer justiça a um povo martirizado, e se as nossas vozes forem também demasiado fracas, eu espero que a resistência húngara se mantenha até que o Estado contra-revolucionário desabe por todo o Leste sob o peso das suas mentiras e contradições.
A Hungria conquistada e acorrentada fez mais pela liberdade e justiça que qualquer outro povo nestes 20 anos. Mas para que esta lição perdurar e persuadir aqueles no Ocidente que fecham os olhos e ouvidos foi necessário, e não podemos estar confortáveis com isso, para o povo da Hungria derramar muito sangue que já está secando nas nossas memórias.
Na solidão que se sente na Europa de hoje, temos apenas uma maneira se sermos verdadeiros para com a Hungria, que é nunca trair, entre nós e em todo o lado, o que os heróis húngaros fizeram e nunca perdoar, entre nós e em todo o lado, mesmo que indirectamente, aqueles que os mataram.
Será difícil para nós sermos merecedores de tais sacrifícios, mas podemos tentá-lo, numa Europa em fim unida, esquecendo as nossas querelas, corrigindo os nossos erros, aumentando a nossa criatividade e a nossa solidariedade. Temos fé que está em marcha no mundo, paralela às forças de opressão e morte que escurecem a nossa história, um força de convicção e vida, um imenso movimento de emancipação que é a cultura e que se faz ao mesmo tempo pela criação livre e pelo trabalho livre.
Aqueles operários e intelectuais húngaros, perante os quais nós estamos hoje com um lamento impotente, compreenderem isso e fizeram-nos a nós compreender isso. É por isso que, se o seu sofrimento é nosso, a sua esperança também é nossa. Apesar da sua miséria, dos seus grilhões, do seu exílio, deixaram-nos uma herança gloriosa que devemos merecer: liberdade, que eles não ganharam, mas que num único dia nos deram a nós.
Poder-se-á perguntar qual o interesse de postar um texto escrito há 50 anos, num contexto geopolítico completamente diferente do actual - se calhar nenhum, mas enfim...
1 comment:
Faz todo o sentido, a 51 anos da "Magyar Forradalom" de 1956.
(artigo publicado no blogue "Szerinting", continuação de um comentário publicado há uns meses atrás no "vento sueste")
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