Thursday, December 27, 2007

BCP: público ou privado?

João Miranda a 27/12/2007:

Tiago Barbosa Ribeiro está convencido que Carlos Santos Ferreira e Armando Vara foram escolhidos pelo mercado. Mas isso só seria possível se existisse liberdade no sector bancário português. A verdade é que as escolhas dos accionistas foram condicionadas ao que o Estado lhes impôs. Para perceber isso é necessário ter em conta os seguintes dados:

1. Para se fazer negócios em grande escala em Portugal é necessário ter a benção do Estado. Grande parte dos accionistas do BCP têm outros negócios e estão condicionados por essa via.


(...)

4. Os accionistas não escolhem Carlos Santos Ferreira e Armando Vara pelas suas capacidades de gestão numa economia de mercado. Escolhem-nos (se os escolherem) pelas suas ligações políticas pelo simples facto que num mercado condicionado as ligações políticas são mais importantes que as qualidades de gestão.

É por isso uma ilusão pensar que foi o mercado que escolheu Carlos Santos Ferreira e Armando Vara. A escolha destes senhores resulta da eliminação das restantes opções e das suas qualidades políticas.

João Miranda a 12/04/2006:

Lembro ao António Dornelas que numa economia de mercado os salários dependem de 3 factores:

1. Da oferta e da procura de profissionais com um determinado perfil;

2. Da capacidade de um determinado profissional produzir valor para os accionistas;

3. Do gosto dos accionistas para perder dinheiro.

Ora, se os administradores do BCP ganham uma média de 3,5 milhões de euros por ano é porque:


- esse é o seu preço de mercado

- cada administrador consegue produzir um valor que é superior a 3,5 milhões de euros por ano.

Conclusão: quando os accionistas do BCP escolhem dois gestores do PS para dirigir o banco, isso não é o mercado a funcionar, já que o sector é bastante regulamentado e, de qualquer maneira, os accionistas privados do BCP têm outros negócios que dependem de uma boa relação com o Estado. Mas os salários dos administradores do BCP já eram a "economia de mercado".

Note-se que eu não estou a dizer que os altos ordenados dos administradores bancários tenham alguma coisa a ver com o grau de regulação a que o sector está sujeito (ou com os negócios que os accionistas têm com o Estado) - na verdade, pode-se tão facilmente imaginar mecanismos pelos quais a regulamentação possa fazer subir os ordenados dos administradores como outros pelos quais possa fazer descê-los. Mas é interessante que, para os liberais, um sector económico (neste caso, a banca) seja um mercado livre para umas coisas e não o seja para outras.

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