Friday, January 28, 2011

FINAL REPORT OF THE NATIONAL COMMISSION ON THE CAUSES OF THE FINANCIAL AND ECONOMIC CRISIS IN THE UNITED STATE


Um excelente documento, pese embora discordâncias. Contém muita informação e interpretação e análise de forma simples e directa, útil para concordar e discordar. Contém também declarações de "dissent".

Uma delas diz:

"Conclusions:

• The credit bubble was an essential cause of the financial crisis.
• Global capital lows lowered the price of capital in the United States and much
of Europe.
• Over time, investors lowered the return they required for risky investments.
Their preferences may have changed, they may have adopted an irrational bubble mentality, or they may have mistakenly assumed that the world had become
safer. This inlated prices for risky assets.
• U.S. monetary policy may have contributed to the credit bubble but did not
cause it."

Parece existir uma obsessão em desculpar a política monetária, eu diria que o sistema se protege. De certa forma o problema não é a política monetária mas sim o sistema monetário.

Sempre fica uma pergunta para quem atribui inflação de preços (e bolhas de activos) a outros factores:

Se a quantidade de moeda fosse fixa, também existiriam bolhas e/ou inflação de preços no consumidor? Quando os keynesianos atribuem a inflação dos anos 70 a factores não monetários, será que acreditam que o nível geral de preços (e/ou activos) pode subir com a quantidade de moeda fixa?

10 comments:

João Vasco said...

Carlos Novais,

Não sendo propriamente um especialista na matéria - a minha formação não é em economia - parece-me que muitos apresentam os choques petrolíferos como causa para a inflacção desses anos, e esses choques estiveram relacionados com situações (tais como a cartelização) que condicionariam os preços mesmo que a quantidade de moeda total não apresentasse qualquer variação.

Pelo contrário, um aumento de moeda até poderia mitigar temporariamente os efeitos da cartelização.

CN said...

Essa é outra questão parece-me.

O que está em causa na minha pergunta é: mesmo aceitando uma aumento de preço unilateral por cartelização (interessantemente, por Estados, não empresas privadas), com quantidade de moeda fixa, podem os preços na generalidade subir?

João Vasco said...

Com a quantidade de moeda fixa um aumento generalizado dos preços corresponde a uma diminuição do rendimento. Alguém que recebe um determinado salário, e podia antes comprar um determinado número de bens de acordo com as suas preferências, se receber o mesmo salário tem agora acesso a menos bens.

Mas são exactamente essas as consequências que se esperam de uma cartelização externa. Como existe uma transferência de riqueza, em resultado da cartelização, de quem compra o produto para quem o vende, é de esperar que quem compra o produto perca riqueza. Essa perda de rendimento não acontece, pelo menos no curto prazo, através da diminuição dos salários, mas sim através da diminuição do seu poder de compra em resultado do aumento dos preços. Tudo isto pode acontecer com a massa monetária constante.

Note-se que não estou a defender nenhuma posição contrária à ideia das reservas de 100%, que me parece ter mérito. Apenas a (tentar) responder à pergunta em concreto.

Miguel Madeira said...

"mesmo aceitando uma aumento de preço unilateral por cartelização (interessantemente, por Estados, não empresas privadas), com quantidade de moeda fixa, podem os preços na generalidade subir?"

Sim, porque essa cartelização age reuzindo a quantidade de matérias primas disponíveis (neste caso, petróleo). Isso faz reduzir a capacidade de produção real da economia; logo, se a produção real se reduz mantendo-se a quantidade de moeda em circulação, faz sentido que a generalidade dos preços subam.

CN said...

Estão ambos a colocar a questão aí contrário. Com moeda fixa o crescimento económico traduz-se em baixa de preços (de resto observada no final séc. 19 um ou o período de maior crescimento, com quedas preço acentuado). Agora, a subida de um factor produção, em principio fará diminuir o preço de outros, cerreis paribus, e concluir regressão economia é por de lado capacidade de substituição e mudança comportamentos. Na estagflação o que esta em causa é que capacidade produtiva está por usar e os preços sobem, e ainda hoje relacionam inflação com crescimento económico.

João Vasco said...

«Com moeda fixa o crescimento económico traduz-se em baixa de preços»

Precisamente.

Mas nesse caso, um "decrescimento" económico traduz-se no oposto.

Ora se uma matéria prima muito importante fica mais escassa, e tudo o resto fica igual, podemos esperar um "decrescimento" económico em resultado dessa alteração.

CN said...

Sim, se existir decrescimento económico sim, mas para crescimento zero, outros preços desceriam. Mas implítico ao keynesianismo é que preços sobem com crescimento (e nao sobem enquanto há capacidade produtiva por utilizar) e se preços sobem é porque certas matérias-primas sobem. E esta´também implítico que se existe deflação isso sim é causa e consequência (não se percebe bem) de contracção económica.

João Vasco said...

CN:

O efeito do aumento da escassez de uma matéria prima importante sobre a economia é o de diminuir o crescimento económico.
E o efeito da diminuição do crescimento numa economia em que a moeda em circulação é constante é o de aumentar os preços. Assim, o efeito da cartelização seria o aumento global dos preços, se bem que até pudessem existir preços que baixassem em resultado desta diminuição.

Claro que isto não implicaria que, tudo considerado, os preços aumentassem. Se a economia ia crescer 5%, a cartelização do petroleo fizesse com que só crescesse 1%, então os preços diminuiriam. Mas o efeito da cartelização seria um aumento dos preços face à alternativa - que seria uma diminuição ainda maior.


Ora, tanto quanto sei, o efeito desse "choque" foi um efeito muito significativo, que imagino maior do que o do "crescimento real", pelo que os preços deveriam aumentar, no global.


Quanto ao Keynesianismo, penso que toda a teoria não parte do pressuposto de que a moeda é constante, pelo que nada disto se aplica.
O medo da deflacção é o medo de que os investidores não aproveitem oportunidades de investimento, porque o seu capital vale mais com o tempo, mesmo que nem arrisquem emprestá-lo, e que isso cause um ciclo vicioso de maior desemprego, menor procura, e menos motivação para investir (desta feita pela diminuição da procura agregada), que por sua vez resulta em mais desemprego, etc.. Num contexto em que a moeda pode variar, os problemas identificados e soluções propostas podem fazer sentido em muitas circunstâncias.

CN said...

João Vasco, os Keynesianos não dizem que nos anos 70 os preços cresceram por causa da contracção económica. Mas sim que cresceram simplesmnete porque exsitiram preços de matérias que subiram. É uma espécie de explicação que não explica, típico de resto.

A questão da economia crescer ou não com subida de preços relativos está ultrapassada, A economia nunca deixou de crescer porque os preços relativos de umas matérias sobe em relação a outras.

Assim, se assumirmos apenas que não cresce nem decresce, e com moeda constante, o facto de uma matéria prima subir faz com que outros preços desçam.

Ter em conta que o crescimento ou não crescimento ou decrescimento, tem em primeira ordem que ver com a acumulação de capital que aumenta a produtividade.

O consumo de capital é que traz decrescimento económico em primeira ordem (que é precisamente o que acontece com as bolhas seguidas de crises).

João Vasco said...

Carlos Novais:

Numa situação em que a moeda é constante, não há dúvida que o aumento da escassez de uma matéria prima corresponde a um aumento do preço dela e dos produtos derivados (que no caso do petróleo são muitos) e dos produtos substitutos e substitutos dos derivados, mas a uma diminuição dos restantes. Aí concordamos todos, parece-me.

A grande questão é o balanço global entre este aumento de uns preços e diminuição de outros - o agregado geral.
E aí, temos essa forma de olhar para o problema: se a moeda é constante e a economia cresce, os preços no seu global descem, e vice versa.

Mas sabemos que o aumento da escassez de uma matéria prima tem, em princípio, um impacto negativo no crescimento da economia. Logo, os preços no seu global devem aumentar em consequência desta escassez acrescida.


Os Keynesianos não explicam as coisas desta forma, pois eles não assumem moeda constante, assumem que a massa monetária pode variar, e até falam em políticas para condicionar esta variação.

Note-se que eu não digo que a escassez de uma matéria prima tem um impacto negativo na economia por causa da questão dos "relativos". Essa alteração é na verdade um ajuste que minimiza os impactos negativos da escassez. Creio que o impacto negativo do aumento da escassez de uma matéria prima importante é directo.