O lado negro de Pigmalião, por Ricardo Alves:
«Pigmaleão» é uma peça de teatro de Bernard Shaw que passou a musical e a filme. Retrata um homem de classe alta que, por desfastio, pega numa rapariga jovem e pobre que vende flores na rua e a transforma, para todos os efeitos práticos, numa mulher «de alta sociedade». A transformação não é meramente de aparência: apesar das enormes diferenças de classe social e de idade, no final a rapariga discute de igual para igual com o seu mentor. E, no epílogo preferido do grande público, casam-se e são felizes para sempre.
Na vida real, as relações do tipo «Pigmaleão» nem sempre são tão felizes. Pela desigualdade em que se baseiam, são veladamente suspeitas de «interesse», de falta de sinceridade, de falsidade. O que será injusto em muitos casos. Mas, regra geral, arriscam-se a ser relações desequilibradas e, no extremo, negramente perversas. Das quais a violência doméstica, por exemplo, não estará ausente. E que nunca se tornam relações entre iguais. (...)
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