Estou aberto ao debate e à discussão. As FARC há uns bons anos têm cativado a minha atenção. Volta e meia tenho procurado saber mais sobre as FARC e a Colômbia. Mas haverá quem fale sem ter feito o TPC. Não é liquido que as FARC sejam narcotraficantes. É possível que o sejam. As armas custam dinheiro e não ponho de parte que tenham recorrido ao tráfico de droga para comprar armas. Já os sequestros de ricalhaços e de sustentáculos do poder e de pedidos de resgate são uma prática visível. Mas mesmo na imprensa ocidental e latino-americana são poucas as pistas concretas que associem as FARC ao narcotráfico (chavões não contam). Aliás o narcotráfico é geralmente associado aos grupos paramilitares anti-FARC, neo-fascistas, apoiantes do Presidente Uribe e do poder estabelecido, e mesmo cartéis da droga que se organizaram há uns bons anos em grupos paramilitares pró-governo para usufruírem de alguma complacência e estruturarem a defesa armada do seu negócio. Mas além dos paramilitares as pistas também apontam para a envolvência social e política dos governos colombianos.
Não sou advogado de defesa das FARC. Tenho discordâncias sobre o projecto final das FARC e os seus objectivos de tomada do poder através de uma revolução armada, especialmente sobre o pós tomada de poder. Mas é um facto que temos uma guerra civil na Colômbia. As FARC são mais do que uma guerrilha e reúnem quase um exército de regular de 20.000 combatentes que se movem quase sem entraves por 80% do território colombiano. Estes dados indiciam que as FARC são mais do que um bando de criminosos. Implica apoio da população. Mais do que medo que alguns podem invocar, implica apoio. A polarização da sociedade colombiana com a miséria de um lado e o poder instituído e o narcotráfico do outro lado são a base da guerra civil. A resistência, a luta contra o poder instituído e a polarização social foi ao longo dos tempos travada pela perseguição política e assassínio de opositores, incluindo pelas forças policiais e militares colombianas. Na década de 1980 foram assassinados milhares de sindicalistas, deputados e militantes de esquerda. Os paramilitares assassinaram milhares de camponeses. Já durante o ano de 2006 são reportados assassinatos de sindicalistas. Não é de estranhar que face à inviabilização de outros caminhos oposicionistas tudo isto tenha engrossado as FARC.
A guerra civil na Colômbia é uma realidade e é um dos conflitos mais importantes no mundo que importa resolver. Não existe no entanto grande vontade do Governo colombiano, que quer a paz mantendo todo o status quo actual. O status quo neo-fascista. Do outro lado da barricada estão as FARC. Mas há uma linha que importa reflectir. Tal como existe a condenável paranóia assassina da Al-Qaeda também existe a legitima resistência islâmica. O MPLA ou o ANC não era terroristas ou criminosos. Obviamente que é difícil traçar uma linha entre terrorismo/crime e a resistência. Mas essa linha existe e de um lado temos a resistência. Pelos dados que tenho e até provas substanciais em contrário as FARC são resistência. Mas repudio os “danos colaterais”, à linguagem ocidental. Se uma guerra civil ou a resistência pode implicar confrontos com as forças contrárias/ocupantes, já o envolvimento propositado de terceiros é condenável. O Hamas, a OLP, a Fatah capturarem um militar do exército ocupante e opositor é um factor natural numa resistência ou numa guerra civil. Já não é defensável irem para o Aeroporto de Londres por uma bomba para atingir uns militares israelitas de férias ou para “castigar” o apoio do Reino Unido a Israel e ao mesmo tempo mandarem-me pelos ares quando chegava ao mesmo aeroporto para visitar um familiar ou de férias. Quando esta vítima até é contra a ocupação israelita. Por isso uma coisa é a resistência colombiana e outras coisa é as FARC raptarem uma candidata presidencial dos Verdes, que ainda por cima deve ser contra o regime neo-fascista colombiano, é condenável.
Em última análise apoio a resistência colombiana ou a palestiniana mas não apoio o terrorismo que daí surja. E o povo colombiano ou o palestiniano são muito mais do que o terrorismo, são muito mais do que as brigadas suicidas. Não conheço em detalhe o caso de Ingrid Betancourt. Mas parece ser uma pessoa terceira ao conflito e deve ser libertada e deve-se manifestar isso às FARC. Parecendo-me que as FARC estão no campo da resistência devem actuar de forma não passar para o lado do terrorismo/crime. Sobre a UE considerar as FARC terroristas, também Portugal classificava o MPLA, a FRELIMO o PAIGCV de terroristas e eram resistentes. A classificação é muito linear e até previsível. Obviamente que do ponto de vista legal é delicado para o Governo se as FARC, classificadas para as forças de segurança como terroristas, estiveram em Portugal e isso passou ao lado das forças de segurança e do governo. Mas isto não é muito mais do que folclore e ressabiamentos anti-PCP senão teríamos de ir muito mais longe e discutir a presença em Portugal da delegação do governo palestiniano. Afinal são a representação de um governo do Hamas, classificado como terroristas pelo Ocidente.
2 comments:
Penso que seria uma ingerência na vida político-partidária de um país alheio...
Estou aberto ao debate e à discussão. As FARC há uns bons anos têm cativado a minha atenção. Volta e meia tenho procurado saber mais sobre as FARC e a Colômbia. Mas haverá quem fale sem ter feito o TPC. Não é liquido que as FARC sejam narcotraficantes. É possível que o sejam. As armas custam dinheiro e não ponho de parte que tenham recorrido ao tráfico de droga para comprar armas. Já os sequestros de ricalhaços e de sustentáculos do poder e de pedidos de resgate são uma prática visível. Mas mesmo na imprensa ocidental e latino-americana são poucas as pistas concretas que associem as FARC ao narcotráfico (chavões não contam). Aliás o narcotráfico é geralmente associado aos grupos paramilitares anti-FARC, neo-fascistas, apoiantes do Presidente Uribe e do poder estabelecido, e mesmo cartéis da droga que se organizaram há uns bons anos em grupos paramilitares pró-governo para usufruírem de alguma complacência e estruturarem a defesa armada do seu negócio. Mas além dos paramilitares as pistas também apontam para a envolvência social e política dos governos colombianos.
Não sou advogado de defesa das FARC. Tenho discordâncias sobre o projecto final das FARC e os seus objectivos de tomada do poder através de uma revolução armada, especialmente sobre o pós tomada de poder. Mas é um facto que temos uma guerra civil na Colômbia. As FARC são mais do que uma guerrilha e reúnem quase um exército de regular de 20.000 combatentes que se movem quase sem entraves por 80% do território colombiano. Estes dados indiciam que as FARC são mais do que um bando de criminosos. Implica apoio da população. Mais do que medo que alguns podem invocar, implica apoio. A polarização da sociedade colombiana com a miséria de um lado e o poder instituído e o narcotráfico do outro lado são a base da guerra civil. A resistência, a luta contra o poder instituído e a polarização social foi ao longo dos tempos travada pela perseguição política e assassínio de opositores, incluindo pelas forças policiais e militares colombianas. Na década de 1980 foram assassinados milhares de sindicalistas, deputados e militantes de esquerda. Os paramilitares assassinaram milhares de camponeses. Já durante o ano de 2006 são reportados assassinatos de sindicalistas. Não é de estranhar que face à inviabilização de outros caminhos oposicionistas tudo isto tenha engrossado as FARC.
A guerra civil na Colômbia é uma realidade e é um dos conflitos mais importantes no mundo que importa resolver. Não existe no entanto grande vontade do Governo colombiano, que quer a paz mantendo todo o status quo actual. O status quo neo-fascista. Do outro lado da barricada estão as FARC. Mas há uma linha que importa reflectir. Tal como existe a condenável paranóia assassina da Al-Qaeda também existe a legitima resistência islâmica. O MPLA ou o ANC não era terroristas ou criminosos. Obviamente que é difícil traçar uma linha entre terrorismo/crime e a resistência. Mas essa linha existe e de um lado temos a resistência. Pelos dados que tenho e até provas substanciais em contrário as FARC são resistência. Mas repudio os “danos colaterais”, à linguagem ocidental. Se uma guerra civil ou a resistência pode implicar confrontos com as forças contrárias/ocupantes, já o envolvimento propositado de terceiros é condenável. O Hamas, a OLP, a Fatah capturarem um militar do exército ocupante e opositor é um factor natural numa resistência ou numa guerra civil. Já não é defensável irem para o Aeroporto de Londres por uma bomba para atingir uns militares israelitas de férias ou para “castigar” o apoio do Reino Unido a Israel e ao mesmo tempo mandarem-me pelos ares quando chegava ao mesmo aeroporto para visitar um familiar ou de férias. Quando esta vítima até é contra a ocupação israelita. Por isso uma coisa é a resistência colombiana e outras coisa é as FARC raptarem uma candidata presidencial dos Verdes, que ainda por cima deve ser contra o regime neo-fascista colombiano, é condenável.
Em última análise apoio a resistência colombiana ou a palestiniana mas não apoio o terrorismo que daí surja. E o povo colombiano ou o palestiniano são muito mais do que o terrorismo, são muito mais do que as brigadas suicidas. Não conheço em detalhe o caso de Ingrid Betancourt. Mas parece ser uma pessoa terceira ao conflito e deve ser libertada e deve-se manifestar isso às FARC. Parecendo-me que as FARC estão no campo da resistência devem actuar de forma não passar para o lado do terrorismo/crime. Sobre a UE considerar as FARC terroristas, também Portugal classificava o MPLA, a FRELIMO o PAIGCV de terroristas e eram resistentes. A classificação é muito linear e até previsível. Obviamente que do ponto de vista legal é delicado para o Governo se as FARC, classificadas para as forças de segurança como terroristas, estiveram em Portugal e isso passou ao lado das forças de segurança e do governo. Mas isto não é muito mais do que folclore e ressabiamentos anti-PCP senão teríamos de ir muito mais longe e discutir a presença em Portugal da delegação do governo palestiniano. Afinal são a representação de um governo do Hamas, classificado como terroristas pelo Ocidente.
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