"Não reconhecer que determinados adeptos da teoria da evolução só o são porque aderiram ao dualismo científico: reconhecem que o mundo biológico é uma ordem espontânea, mas não reconhecem outras ordens espontâneas como a mente humana, as línguas naturais ou determinadas instituições sociais (dinheiro, mercados, sistemas legais). Um dos leitores chega mesmo a defender que os seres humanos não estão sujeitos a leis que não as que eles próprios inventam."
Creio que nessa passagem JM está a confundir juizos de facto com juizos de valor: o evolucionismo é um juizo de facto - está-se a dizer que as espécies actualmente existentes resultaram da evolução, não que é "desejável" ou "bom" que tenham resultado da evolução. Ora, a respeito das outras instituições a que JM faz referência, penso que quase ninguêm contesta o facto que elas podem se desenvolver espontaneamente - o que é feito é uma critica valorativa, argumentando-se que algumas dessas "ordens espontaneas" podem não ser as mais desejáveis. P.ex., grande parte dos criticos do capitalismo liberal ou dos costumes tribais pashtuns não negam a existência de uma "ordem espontanea" a nível económico ou juridico, apenas contestam a "bondade" dessa ordem espontanea.
De passagem, diga-se que também é possível aceitar a "espontaneadade" da evolução a nivel dos juizos de facto sem a aceitar a nivel de juizos de valor - p.ex., é perfeitamente possível acreditar na teoria darwiniana e, ao mesmo tempo, ser a favor da engenharia genética como forma de "melhorar" a evolução "espontanea".
3 comments:
concordo.
penso que esta questão foi posta de forma simplista, para poder encaixar numa logica propria.
Pessoalmente já me cansa a prosa do JM por ser meramente discursiva, i.e., limita-se a um encadeamento argumentativo que nada tem a ver com a discussão cientifica. Verdade seja dita, o seu mestre Jonatas embrenha-se em dissertações carregadas de erudição e vernáculo , mas é manifestamente sonso.
Atenção, que quem isto escreve nem é da arte, nem tem qualquer autoridade. Porém, para quem aprecie o tema dá para reconhecer a verve doutrinal e a vontade de torcer os factos, tornando o debate impossível por não se saber do que estão a falar (o trecho citado neste post é um exemplo:"dualismo cientifico"? "ordem espontânea"?).
estive a ler o macroscopio, onde se afirma:
"É que até o mercado, longe de ser uma evolução natural, espontânea e auto-reguilada, foi uma invenção do Estado, foi uma criação do político sobre o económico, e até a moeda foi por ele criada de par com as polícias para, desse modo, garantir a formação e continuidade do Estado numa fase em que tudo ainda era instável."
tenho de aprofundar mais esta questão.
já estive a ler outras coisas neste blog. achei particularmente interessantes as criticas a chomsky, apesar de não concordar com elas.
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