Miguel Castelo Branco evoca o "7 de Setembro". Eu tinha 1 ano e 1 mês nessa data, logo não tenho grande autoridade para confirmar ou desmentir o que ele diz. No entanto, nalguns pontos a descrição de MCB difere do que sempre ouvi os meus pais contar:
"Divulgado o acordo para a transmissão de poderes, realizou-se nos arrabaldes de Lourenço Marques um ajuntamento da FRELIMO, no termo do qual se deram largas ao ódio anti-português. Pontificaram nas arruaças membros do grupo "Democratas de Moçambique", maioritariamente ligados ao advogado milionário Almeida Santos. A bandeira portuguesa arrastada pelas ruas perante a população gerou, de imediato, uma enérgica reacção de repúdio, sobretudo quando deram entrada no hospital central de LM feridos brancos...pintados de negro !"
Não é que isso, textualmente, seja diferente do que me contaram, mas o que sempre ouvi dizer é que quem andou a arrastar a bandeira portuguesa pelas ruas foram os adversários da independência, a fim de provocar uma reação adversa (como a que veio a ocorrer) - e bate certo com os autores terem sido "brancos pintados de negro".
"a revolta foi colectiva, cobrindo a quase totalidade das minorias branca e asiática, a quase totalidade dos miscigenados e vastos sectores da população negra"
O que eu posso dizer é que, da minoria branca, os meus pais não apoiaram essa revolta, e creio que grande parte dos seus amigos e conhecidos também não (claro que isso é capaz de não ser estatisticamente relevante). Quando ocorreram os massacres em Timor, nos dias a seguir ao referendo, o meu pai comentou "Eu estive para ver isto em África. Isto é o que queriam fazer aos negros, e aos brancos que eram a favor dos negros. A diferença é que lá a nossa tropa não deixou", o que destoa da visão tão positiva que MCB dá dos rebeldes.
A titulo um bocado bizarro, mas revelador do estado de espírito de alguns rebeldes, tenho uma vaga ideia que uma pocilga(!) na nossa rua foi atacada, mataram os porcos pretos e deixaram os porcos brancos. Como mensagem simbólica é revelador...
Refira-se que meu pai não é nenhum "esquerdista" - é um eleitor "típico" (umas vezes PS, outras PSD) e que até é bastante crítico da descolonização.
Finalmente, noto que, neste post, não estou a pôr em causa as críticas que MCB faz à Frelimo, apenas os elogios que faz aos rebeldes do "7 de Setembro".
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