Friday, August 14, 2009

Re: Re: "Anarchy, Monopoly, and Predation [pdf]" ou como refutar o anarquismo é defender um Estado Mundial

De certa forma, a posição do Carlos Novais e a de Peter Leeson acabam por estar mais próximas do que parecem: o Carlos Novais considera (e eu tendo a concordar) que os diversos Estados do planeta relacionam-se entre eles de forma anárquica (não confundir com anómica); Peter Leeson considera que, numa sociedade anarco-capitalista, uma "comunidade proprietária" tenderá a transformar-se, internamente, num micro-estado (note-se que, ao que me parece, ele não diz isso de todas as variantes de anarco-capitalismo - apenas dessa variante especifica).

Ora, será que, no fundo, dizer "mesmo hoje em dia já há anarquia a funcionar - nas relações entre os Estados" ou dizer "mesmo numa anarquia continuará a haver Estados - cada comunidade irá funcionar como um mini-estado" não acaba por ser duas maneiras diferentes de dizer quase a mesma coisa (que a diferença entre uma anarquia e o mundo actual será mais de grau - numero e tamanho dos Estados/comunidades/condomínios/etc. - do que de substância profunda)? Um pouco como o copo meio-cheio e meio-vazio...

Mas reconheço que pode ser feita uma objecção a Leeson: no seu texto, ele refere várias vezes a possibilidade de o proprietário de uma "comunidade" impedir os habitantes de a abandonar (afinal, a única "agência de protecção" lá dentro é a dele) e apresenta isso como uma das semelhanças com um Estado.

No entanto, temos que nos lembrar de uma coisa: o perímetro de uma figura geométrica tende a ser proporcional à raiz quadrada da área da figura (p.ex. : [perímetro do quadrado] = 4 * raizq[área do quadrado]). Ou seja, o tamanho da fronteira de um espaço politico tende a crescer menos que proporcionalmente à dimensão desse espaço (p.ex. se dois países tiverem uma forma parecida e um for 9 vezes maior que o outro, a sua fronteira será 3 vezes maior). Isso significa que, quanto mais pequeno é um país, maior é a sua fronteira comparada com a dimensão do território, logo mais difícil de controlar, nomeadamente de impedir pessoas de sair (veja-se que, apesar de tudo, é mais fácil fugir de Cuba do que era da RDA).

Assim, será mais difícil as tais "comunidades proprietárias" (sendo de esperar que sejam geograficamente menores que os actuais estados) impedirem a saída dos seus habitantes, mesmo que o queiram.

1 comment:

Filipe Abrantes said...

"Isso significa que, quanto mais pequeno é um país, maior é a sua fronteira comparada com a dimensão do território, logo mais difícil de controlar, nomeadamente de impedir pessoas de sair (veja-se que, apesar de tudo, é mais fácil fugir de Cuba do que era da RDA)."

Nunca tinha pensado nisto.