Recentemente foi divulgado um estudo dizendo que "Os filhos dos licenciados têm melhores resultados nos exames do secundário do que os descendentes de famílias só com o ensino básico [e que os ]bons resultados dependem da idade dos estudantes (...) mas [que] esses dois factores têm um peso de apenas 30 por cento. Os restantes 70 por cento dependem exclusivamente do trabalho feito pelas escolas".
Sem conhecer os detalhes do estudo é difícil avaliar (mais ou menos como Luis Aguiar-Conraria diz aqui), mas há logo uma coisa que me levanta dúvidas - o background do aluno explica 30% das notas e o trabalho das escolas 70%? O estudo foi assim tão perfeito que não ficou nenhuma variância por explicar? Se os cálculos tiverem sido feitos por uma regressão, quer dizer que o R2 foi de 1? As idiossincrasias pessoais de cada aluno (ou mesmos factores ambientais que não tenha sido introduzidos no modelo) não têm mesmo nenhuma importância?
Já agora, a fórmula que as autoras calcularam foi com o objectivo de estimar o resultado médio dos alunos de cada escola, ou com o objectivo de estimar o resultado de cada aluno (a inexistência de variância não explicada é mais compreensivel no primeiro caso do que no segundo)?
Adenda: a fórmula pretende prever a média dos alunos da escola
Monday, January 10, 2011
As escolas e o sucesso dos alunos
Publicada por Miguel Madeira em 15:24
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1 comment:
Ainda bem que o MM se debruçou sobre este assunto.
Sem me pronunciar sobre o estudo, que também não conheço, pareceu-me descabido o título da peça jornalística «sucesso dos alunos depende pouco de quem são os pais», baseado nele. Isto porque, como tentei explicar em dois comentários no post linkado na adenda, o conjunto de alunos que terminam o 12º ano nos ramos cientifico-humanisticos sofreu um processo de selecção que poderá condicionar as comparações. Por exemplo, vamos imaginar que a influência dos pais era tão nefasta que fazia com que 98% dos alunos dos extractos mais baixos abandonassem o ensino antes do 12º ano- este efeito não seria sinalizado no modelo, que analisaria apenas o desempenho 2% de alunos deste estrato que contornaram este efeito (se compreendi correctamente). Provavelmente, neste cenário, e tratando-se de alunos capazes de ultrapassar um processo de selecção tão agressivo, os resultados destes estudantes aproximar-se-iam dos resultados dos colegas mais abastados, levando até a uma redução dos impactos das variáveis associadas aos pais. Perguntei á jornalista como é que isto tinha sido salvaguardado mas não obtive resposta.
De certa forma, a interpretação publicada no jornal parece-me vitima de um erro semelhante ao descrito neste , post : http://blog.luispedro.org/posts/nao-chega#more-1357 - comparar dois grupos utilizando amostras obtidas com grau de selectividade diferente.
Mas espero estar enganado, seria uma óptima notícia!
Já agora, não sei se um r=1 seria assim tão lisonjeiro para o modelo: http://www.stat.columbia.edu/~cook/movabletype/archives/2010/10/he_doesnt_trust.html#more
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