João Miranda expõe algumas opções para Portugal (via O Insurgente):
Intervenção do BCE para salvar o euro emitindo moeda: Inflação. Perda colossal do poder de compra. Portugal entra em austeridade por via inflacionista (salários reais da função pública caem mais 10% ou 20%)Pelo menos, ambíguo - há várias décadas que os economistas polemizam entre si sobre se uma expansão monetário origina sempre uma subida de preço ou se isso só acontece quando a economia está em pleno emprego (o caso recente dos EUA, em que uma expansão monetária brutal provocou apenas um pequeno aumento da inflação, parece dar razão à segunda teoria). Assim, se a primeira teoria estiver certa, João Miranda está certo; se a segunda estiver certa, seria possivel ao BCE emitir moeda sem causar inflação, já que a economia da zona euro está provavelmente longe do pleno emprego.
Portugal sai da zona euro: Queda abrupta do PIB português. Financiamento congela. Política de austeridade. Portugal tem que cortar na despesa para atingir défice zero de imediato.Em ambos os casos, falta uma coisa - "Desvalorização do novo escudo aumenta a competitividade da indústria e da agricultura nacionais, que passam a vender mais. O empobrecimento geral criado pela austeridade é parcialmente contrabalançado pelo enriquecimento de sectores da burguesia rural e industrial, pelo que, no conjunto, o país fica um pouco menos mal do que nas opções Cenário actual e Grécia sai do euro"
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Zona euro implode: Queda abrupta do PIB da zona euro. Financiamento congela. Política de austeridade. Portugal tem que cortar na despesa para atingir défice zero de imediato.
2 comments:
Acho que a própria segunda teoria pode ser subdividida em duas:
a) A inflação não varia na mesma proporção que a moeda, porque uma parte do crescimento da moeda estimula o crescimento do PIB real. [Acho que é o que está detrás de toda a política de estabilização via banco central].
b) A inflação não anda nem desanda porque a moeda colocada pelo Banco Central no sistema financeiro acaba por não entrar na economia real [seja por falta de procura, seja por receio dos bancos que emprestam].
Se por "emissão de moeda" do BCE se entender a compra de obrigações da Zona Euro, a opção b) não se coloca - basicamente, está-se a "contornar" o congelamento do mercado financeiro e intervir directamente na economia real.
No caso a), é importante referir que há heterogeneidade na zona de circulação da moeda. A periferia pode não estar em pleno emprego, mas Alemanha, Áustria e outros estarão nessa situação (ou perto), pelo que haverá alguma inflação importada.
Mas parece-me que o maior problema é sobretudo de médio prazo. Se o BCE anunciar a intervenção de forma credível, em princípio os títulos estabilizam e o BCE nem tem de chegar a mostrar o dinheiro.
Se, por outro lado, o anúncio não "colar", o BCE fica numa situação muito complicada: vai ter de actuar permanentemente nos mercados de dívida, durante um tempo indefinido, para assegurar a estabilização do preço dos títulos portugueses, gregos, italianos, etc., etc. Quando a inflação inevitavelmente regressar, o que é que o BCE faz? Uma coisa é reabsorver moeda sob a forma de empréstimos a 1 semana [como acontece nos leilões da banca], outra coisa é mexer com títulos a 10 anos. Parece-me um bicho bem grandinho.Compreende-se que o BCE não queira meter-se neste jogo.
Gostei muito do blog. Considero os blogs de Portugal muito superiores aos nossos, brasileiros, principalmente quanto à profundidade dos textos. Infelizmente, fomos inundados pelos imediatismos de facebooks e twitters da vida (@fulano: almocei, @fulano: escovei os dentes...). Suas considerações são corretíssimas. Se quiser, pode utilizar a própria evolução da economia brasileira pós-1964. Tivemos hiperinflação e moratória na década de 1980. Foi difícil. Os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres porém...a desvalorização da moeda ajudou as exportações e na redução do custo da mão de obra. Pode ocorrer o mesmo com Portugal? Talvez...
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