Saturday, June 10, 2006

"O professor sabe, o aluno não"

Continuando a tradição de comentar textos com atraso de uma semana, vou agora abordar a entrevista de Maria Filomena Mónica ao Expresso da semana passada

"Os alunos têm que perceber que os professores sabem mais do que eles (...)"

"[A escola] não pode ser [democrática]. Há na escola uma hierarquia de poder: o professor sabe, o aluno não".

Exemplos desses professores que sabem (enquanto os alunos não):

A minha professora de Biologia do 7º ano, que não sabia que as joaninhas comiam pulgões, e ainda ficou toda ofendida quando um aluno lhe tentou explicar que as joaninhas comem pulgões.

A minha professora de Português do 10º que, ao ensinar as crónicas de Fernão Lopes, disse que, durante a crise 1383-85, o Mestre de Aviz fugiu para Inglaterra - por sorte, essa matéria já tinha sido dada em História, pelo que a turma pode corrigi-la.

Mas, mesmo que "os professores saibam e os alunos não", como diz MFM, isso não é uma "hierarquia de poder" - será, quando muito, uma "hierarquia de conhecimento": o facto de A saber mais do que B não implica que B tenha que estar submetido à autoridade de A.

Uma analogia: é perfeitamente normal que, num escritório, um empregado saiba mexer melhor, digamos, no Excel do que outro, e que esse , quando há alguma coisa que não sabe fazer, peça ao primeiro para lhe explicar como é. Mas isso não implica que o segundo esteja sobre a autoridade hieráquica do primeiro (aliás, o segundo até pode ser chefe do primeiro).

4 comments:

sabine said...

O professor deve ter o minimo de autoridade, sim. E áchp que é possivel criar uma escola democratica assim. Não quero isto:
"[A escola] não pode ser [democrática]". Mas estamos num ponto em que os alunos tem demasiado poder e os professores menos do que deveriam ter!

Miguel Madeira said...

Leituras recomendadas:

http://www.summerhillschool.co.uk
http://www.eb1-ponte-n1.rcts.pt

Anonymous said...

olha a famosa monica...

essa senhora tirou um curso qualquer e agora anda a vomitar parvoices destas.

faz-me lembrar os taxistas, ou pelo menos alguns, que dizem: "o que é preciso é mão de ferro".

educar pela submissão...nunca vi nada tão salazarento. pensava que esta corrente de pensamento já tinha acabado.

Woman Once a Bird said...

Já acabou, efectivamente. Nos dias que correm, a mão de ferro não é propriamente a dos professores.