Saturday, June 03, 2006

Re: Anarco-comunismo

Na Causa Liberal, Carlos Novais cita Murray Rothbard, no Libertarian Forum:

"Economically, anarcho-communism is an absurdity. The anarcho-communist seeks to abolish money, prices, and employment, and proposes to conduct a modern economy purely by the automatic registry of "needs" in some central data bank. No one who has the slightest understanding of economics can trifle with this theory for a single second.(...)

The fact that the abandonment of rationality and economics in behalf of "freedom" and whim will lead to the scrapping of modern production and civilization and return us to barbarism does not faze our anarcho-communists and other exponents of the new "counter-culture."

[Anarcho-Communism, Libertarian Forum, Janeiro 1970]

Em primeiro lugar, é preciso definir exactamente o que se quer dizer com "anarco-comunismo": literalmente, Rothbard está correcto quando diz que o anarco-comunismo pretende abolir o dinheiro e os preços. No entanto, não devemos confundir "anarco-comunismo" com "anarco-socialismo" (i.e., aquilo a que quase toda a gente chama, simplesmente, "anarquismo"): o socialismo anarquista tem várias correntes e, ao contrário dos anarco-comunistas, há outras (colectivistas, mutualistas, etc.) que defendem uma sociedade com dinheiro e preços.

Mas, falando especificamente do anarco-comunismo, como é suposto esse sistema funcionar? Provavelmente, cada autor anarquista dará uma descrição diferente de como a sociedade anarquista funcionaria (ou que não há um modelo pronto-a-vestir de como ela seria), mas a ideia geral do anarco-comunismo parece-me ser esta: temos vários grupos de produtores, que se associam ente si; os bens produzidos (ou parte deles) por cada grupo são postos à disposição da "federação", podendo ser utilizados/consumidos pelos "sócios" (os bens abundantes serão distribuidos pelo sistema do "sirvam-se à vontade"; os bens escassos - talvez todos - serão racionados entre e pelos interessados).

Se a opinião dominante na "federação" for que um grupo de produtores está a contribuir menos para a federação do que a receber, podem cortar os laços com esse grupo; inversamente, se um grupo achar que está a ser "explorado" pelos outros, pode sempre tornar-se independente (no fundo, é mais ou menos o que descrevi aqui)

Claro que a ausência de dinheiro e preços levanta (pelo menos) dois problemas:

a) Como verificar se um grupo está a contribuir de menos ou de mais para a "comunidade"? Como se compara as sardinhas e carapaus pescadas pelo "Colectivo dos trabalhadores da traineira Estrela do Mar" com os bens de produção consumidos pela traineira e mais os bem de consumo consumidos pelos pescadores sem ter um "equivalente universal", como o dinheiro?

b) Como é que os pescadores podem decidir, por exemplo, qual o melhor combustivel para utilizar se os diversos combustiveis não tiverem um "preço"? Como é que é possível ver qual a combinação mais eficiente de factores de produção sem preços?

No entanto, há uma solução para esse problema - é as federações estabelecerem uma espécie de "preços" (dentro de aspas, já que os produtos são distribuidos gratuitamente) para os vários produtos (tomando em atenção o seu custo de produção, eventuais externalidades negativas ou positivas, etc.) - o que aqui se chama "sistema de pontos". Se relembrarmos as clássicas "funções da moeda" (meio de pagamento, reserva de valor, unidade de valor), trata-se de criar uma espécie de substituto para a função "unidade de valor".

Poder-se-á perguntar como as federações conseguem estabelecer esses "pseudo-preços", mas devemos lembrar-nos que essas federações são organizações democráticas e voluntárias, logo, se alguêm ou um conjunto de alguêns (p.ex., o tal colectivo de pescadores) não concordar com o "pseudo-preço" atribuido ao quilo de cavala, tem duas opções: pode apresentar uma proposta na assembleia geral da federação para alterar esse "preço"; ou pode abandonar a federação (passando a funcionar isoladamente, juntando-se a outra federação, etc.).

Não sei é se o anarco-colectivismo, em que há mesmo preços (estabelecidos pelo mesmo sistema) e dinheiro a circular não será mais prático...

1 comment:

Anonymous said...

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