Acho que o maior problema com a tentativa de explicar o que é um"betinho" é que é um exercicio inglório: a palavra significa coisas diferentes para pessoas diferentes.
Há quem use a palavra para designar os "alunos aplicados"; e há quem a use para designar o pessoal que gosta de andar na moda e ouve música e vai às discotecas que "estão a dar"; basicamente, parece-me que quem usa o 1º sentido da palavra são exactamente os "betinhos - 2º sentido", enquanto o 2º sentido é usado sobretudo por quem pinta o cabelo de verde e/ou ouve músicas "esquisitas".
Se fossêmos tentar fazer uma analogia com o calão usado nos filmes de adolescentes norte-americanos, creio que"betinho" tanto poderia significar "nerd"/"geek" como "cool"/"popular", conforme quem use a palavra.
8 comments:
Isto tem também muito que ver com a percepção de classe:
- em Portimão sempre ouvi "betinho" como sinónimo de um adolescente "menino da mãezinha", rico, sempre a fazer o que os pais querem, com pouca liberdade para sair e até escolher a roupa que vestia ...
- em Lisboa, a palavra mais próxima para designar o mesmo é "tótó" (às vezes parece-me que em LX não se tem vergonha de o ser). A palavra "betinho" não parece ter a mesma conotação negativa que tem cá em baixo. Designa um grupo de jovens com dinheiro e uma forma específica de vestir, gostos etc. (tipo "tribo urbana"). De notar que essa "tribo" não existe em Portimão. (em Lisboa concentram-se em cascais, e no Porto na Foz). Em Portimão nunca ninguém admitiria ser "betinho" enquanto em Lisboa há grupos de jovens que abraçam o epíteto.
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e a palavra "crómo" idem, tem sentidos diferentes:
"crómo" no Algarve utiliza-se muitas vezes como sinónimo de "bom a alguma coisa", tipo "crómo da bola" ou "crómo da música". O sentido vai ficando mais pejorativo conforme se vai para norte. Em lisboa já significa "um gajo que tem a mania que é bom", não o sendo necessariamente, e no porto é sinónimo de ... "betinho" (no sentido "geek").
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Em relação aos termos americanos, suponho que haja que distinguir os usados na "middle class america" dos filmes dos colégios privados da realidade das escolas públicas americanas.
Pelo menos nas portuguesas, o que vejo é que em termos de popularidade os "betinhos" seriam "Jocks" nos colégios privados de cascais , mas "Nerds" no Liceu ou na Teixeira em portimão. Na realidade eu acho que os "Jocks" são os membros das selecções de desporto escolar e por isso são equivalentes aos "crómos da bola" nas escolas públicas portuguesas, mas ao que parece ser "crómo da bola" por cá não chega para se ser popular.
Outra coisa em que já pensei é que o esterótipo de "sports jock" nos filmes americanos é um euro-americano alto, loiro e de olhos azuis num país em que penso que as delegações aos jogos olímpicos e outras competições internacionais são compostas maioritariamente por afro-americanos.
“Isto tem também muito que ver com a percepção de classe:”
Não sei se não será também uma questão de idade – talvez na pré-adolescencia “betinho” tenha o 1º sentido, nos jovens adultos o 2º e a mudança de significado seja algures na adolescência.
«De notar que essa "tribo" não existe em Portimão. (em Lisboa concentram-se em cascais, e no Porto na Foz). »
Talvez o pessoal que, por volta de 1990, na ESMTG parava naquele corredor central entre o pavilhão polivalente e penso que o pavilhão A (ou será o B?) pudesse ser considerado uma versão soft (embora sendo provavelmente apenas uma diferença de estilo, não de classe social de origem)
” e a palavra "crómo" idem, tem sentidos diferentes:
"crómo" no Algarve utiliza-se muitas vezes como sinónimo de "bom a alguma coisa", tipo "crómo da bola" ou "crómo da música". O sentido vai ficando mais pejorativo conforme se vai para norte. Em lisboa já significa "um gajo que tem a mania que é bom", não o sendo necessariamente, e no porto é sinónimo de ... "betinho" (no sentido "geek"). “
Nos anos 90, em Lisboa “cromo” era usado no sentido de “pessoa fora do vulgar”, independentemente do motivo (uma versão extrema seria dizer “aquele é um cromo díficil da sair”); já “cromo da bola” costumo ouvi-lo como sinónimo de “cromo”, sem qualquer ligação com jeito para o futebol (parece-me que no dicionário de calão nem tentaram definir “cromo”).
Uma questão paralela – quando uma rapariga da Cidade Nova – Santo António dos Cavaleiros nos diz “cromo como eras, dificilmente te safarias na banca”, será um elogio :)?
”Na realidade eu acho que os "Jocks" são os membros das selecções de desporto escolar e por isso são equivalentes aos "crómos da bola" nas escolas públicas portuguesas, mas ao que parece ser "crómo da bola" por cá não chega para se ser popular.”
Penso que em Portugal (pelo menos nas pequenas cidades) o nicho social que poderia ser ocupado pelos “desportistas escolares” é ocupado pela equipa de juniores do clube local (na minha adolescência, as raparigas andavam – quase - todas atrás dos jogadores do Torralta)
”Outra coisa em que já pensei é que o esterótipo de "sports jock" nos filmes americanos é um euro-americano alto, loiro e de olhos azuis num país em que penso que as delegações aos jogos olímpicos e outras competições internacionais são compostas maioritariamente por afro-americanos.”
Eu ia comentar “Normalmente, os “jocks” nos filmes americanos praticam uma coisa a que eles chamam futebol, não tanto o basquet”, mas depois dei uma olhada na lista de jogadores da NFL e os poucos com fotografia também são um bocado para o escuro.
Penso que em Portugal (pelo menos nas pequenas cidades) o nicho social que poderia ser ocupado pelos “desportistas escolares” é ocupado pela equipa de juniores do clube local (na minha adolescência, as raparigas andavam – quase - todas atrás dos jogadores do Torralta)
Na minha adolescência nos 90's na teixeira, as miúdas gostavam primeiro dos surfistas e mais tarde dos músicos (ter uma bandeca de grunge a imitar nirvana e pearl jam era a receita directa para o sucesso). Mas se calhar a percepção depende muito do grupo onde se anda metido.
“Normalmente, os “jocks” nos filmes americanos praticam uma coisa a que eles chamam futebol, não tanto o basquet”
Aí está , a ideia enganosa "de Hollywood" de que o futebol americano é um desporto de brancos ... quando já nem a NHL é tão branquinha assim ...
Já agora, Miguel, deste-me a lista da NFL, a liga racista de futebol americano. Na AFL, que nunca teve uma história tão grave de racismo, será de esperar que a proporção de jogadores negros seja ainda maior.
A NHL tem, no máximo, 1% de jogadores negros/latinos. Tão poucos que creio conhecê-los todos. Curiosamente (ou não?) dois dos negros (Laraque, Brashear) da NHL estão no top 20 dos mais penalizados (que fazem mais faltas). Acho que isto se deve mais a factores culturais do que genéticos. Mas de dizer que nas equipas onde actuam são verdadeiras vedetas, acarinhados pela generalidade dos adeptos.
No basebol, também há clubes mais racistas que outros (em Chicago, por exemplo, os Cubs têm uma tradição de racismo, contrariamente aos vizinhos White Sox). É contudo o desporto menos racista, no sentido em que tem uma boa dose de jogadores de cada "raça" (na NFL penso que não há asiáticos, nem na NHL os há praticamente). Apesar de se notar que a percentagem de negros no basebol é razoável, esta baixa para 3% quanto na posição do "pitcher" (lugar mais exigente mentalmente e que requer maior capacidade de "liderança").
http://sports.espn.go.com/mlb/columns/story?columnist=lapchick_richard&id=3348127
Filipe: não percebo nada de Hockey, mas a questão será o racismo ou o facto dos estados onde é jogado (midwest e pacific northwest) serem os mais brancos dos EUA (minesotta por exemplo é um estado "sueco-noruguês") ?
Qual é a proporção de "negros/latinos"/brancos no norte dos e.u.a?
uma vez li como piada que em Maine, no nordeste americano, toda a gente é tão branquinha que para eles um luterano é uma pessoa de côr.
Pois, tem razão, deve ser uma conjugação dos dois factores. No sul dos EUA ninguém joga hockey, excepto nas grandes cidades. No norte, todas as pequenas vilas têm o seu rink de gelo. Mas, vendo a coisa por outro lado, nos estados "brancos", as equipas de basebol, "futebol" e basket também têm muitos negros, enquanto as de hockey não têm.
Uma coisa que sempre me fascinou é a paixão dos americanos pelo basebol. Até conhecer melhor o jogo, achava inexplicável (em média 3h30 de jogo, podendo chegar às 5h; regras dificílimas; pouco ritmo; quase sem contacto físico). Hoje, que conheço melhor, percebo (dos jogos mais tácticos; muito mental; de suspense (quando as bases estão cheias, ou quando o lançador está prestes a vacilar, etc) e recomendo.
Também gosto da parte "multicultural" do basebol. Tem jovens, velhos (chega a ter jogadores no topo de forma com 42anos, e outros que acabam a carreira aos 48anos), baixos, altos, magros, gordos (ver Kirby Puckett, com 100kg enquanto jogava e hoje no Hall of Fame). Um jogo muito democrático.
Eu, quando tinha 9-10 anos, até gostava bastante de basebol... na versão do Videopac G7000.
Nunca joguei, já não é da minha geração. Aqui era mais AMIGA. Hoje na PS3 tem o MLB 08 The Show, que é espectacular.
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