Friday, May 30, 2008

O preço da gasolina

Por um lado, a actual subida do preço da gasolina é uma coisa boa - afinal, se andamos anos a falar em reduzir o consumo de combustíveis fósseis, em "descarbonizar" a economia, etc., uma das melhores maneiras de atingir isso é, exactamente, subindo o preço da gasolina. Na verdade, arrisco-me a dizer que, provavelmente, a gasolina ainda está demasiado baixa: se as emissões de CO2 continuam, ao que tudo indica, a ser mais elevadas do que os limites aceitáveis para combater o aquecimento global, isso significa que o preço da gasolina ainda não reflecte verdadeiramente os custos para a sociedade representados pela poluição; ou seja, o ISP ainda devia ser aumentado (se, em vez de estar a escrever num blogue, estivesse a falar num local público, será que poderia dizer o que escrevi sem recear pela minha integridade física?)

Mas, por outro lado, a subida da gasolina (e, de maneira geral, as politicas de combate às externalidades negativas com impostos pigouvianos) tem um problema: embora possivelmente as pessoas com maiores rendimentos gastem, em termos absolutos, mais gasolina do que as mais desfavorecidas, quase que aposto que a relação não é proporcional - de certeza que alguém que ganhe 4.500 euros por mês não gasta 6 vezes mais gasolina do que alguém que ganhe 750 euros/mês. Assim, o aumento dos preços acaba por, proporcionalmente, pesar mais sobre a classe média-baixa do que sobre a média-alta ou a alta.

A meu ver, a melhor solução para isso era deixar a gasolina subir e alterar os escalões do IRS, baixando os impostos para quem ganhe menos e subindo para os que ganham mais, a fim de que, no saldo final, as classes média-baixa e baixa não fiquem prejudicadas.

Mas isso, claro, era a "melhor solução". No momento presente, penso que o second best é deixar subir a gasolina no geral, mas subsidiá-la no caso da pesca, até porque nesse caso não estamos subsidiando apenas os pescadores, mas indirectamente toda a gente que compra peixe (e uma subida do preço do peixe teria, e ainda mais do que a da gasolina, outra vez o tal efeito de afectar desproporcionalmente os indivíduos de menores rendimentos).

3 comments:

Luís Bonifácio said...

Seria muito mais justo acabar com a vergonhosa dupla tributação.

Porque é que ninguém fala disto?

Anonymous said...

Baixar, ou não baixar, é uma falsa questão. Directa, ou indirectamente, todos acabamos por pagar. E justiça nos impostos nunca haverá. Mesmo que houvesse, o que se pode baixar hoje já não se poderá baixar amanhã.
Quanto à "melhor solução", neste momento, é impossível. Agora, trata-se de sobreviver. E é aqui que tudo continua preocupante.
Ainda ontem, com pompa e circunstância, Sócrates anunciava a construção de uma nova auto-estrada. Também eu sou contra o isolamento de Trás-os-Montes. Isolada, mas belíssima. O Tua, por exemplo.
E não será mesmo uma ironia?
Por um lado, adivinha-se a morte de uma linha de comboio. Por outro, inicia-se a vida de uma auto-estrada. Que viverá de petróleo.
Será mesmo o fim do isolamento? Ainda haverá petróleo para lá chegar? E dinheiro para o pagar?
E gente?

Anonymous said...

o mais importante sao medidas estruturais radicais.
há muito que se pode fazer para diminuir o consumo de produtos petroliferos em portugal.
portanto este problema até pode servir para abrir os olhos a muita gente. e vamos ser sinceros é altura de pensarmos de uma maneira diferente e darmos determinadas coisas como garantido.
por fim, acho que tudo que estivesse relacionado com bens de primeira necessidade nao deviam sofrer com este problema.

agora assola nos outra questao como resolver este berbicacho?

é simples e é uma coisa que eu defendo desde há muito tempo. os bens de primeira necessidade nao deviam ser sujeitos sequer a iva.

e pronto resolvido.