Thursday, May 08, 2008

Retenções na escola

Eu, à partida, sou a favor das retenções: se um aluno chega ao fim do ano sem saber o fundamental da matéria, tem que a aprender outra vez até ficar a saber (efectivamente, consta que alguns países com sucesso educativo, como a Finlandia, não têm retenções, mas será que têm esse sucesso por não terem retenções?).

Mas já não concordo com Paulo Pinto Mascarenhas, que defende as retenções com o argumento de que não aceitável "desprezar o esforço e o trabalho de uns ou o castigo para a ausência de participação e aproveitamento de outros". Ora, se vamos defender as retenções, não por uma questão de "não aprendeu, tem que ser ensinado outra vez até aprender", mas por uma questão de premiar "o esforço e o trabalho" e castigar " a ausência de participação e aproveitamento" isso teria conclusões que eu acho disparatadas:

Em primeiro lugar, tal significa que um aluno com pouco aproveitamento mas que "se esforce", "seja interessado", mas, coitado, "não consegue", deveria passar de ano (afinal, se a questão é premiar o esforço...). Efectivamente, há muita gente que defende algo desse gênero, mas eu não acho jeito nenhum nisso: qual é a lógica de passar um aluno que não sabe a matéria (e, assim, nunca irá ficar a saber) só porque ele se "esforça"? Pense-se na seguinte analogia: teria alguma lógica um médico dar alta a um doente que ainda não está curado só porque o dente se esforça para curar-se, faz os tratamentos todos, etc.?

Em segundo lugar, tal também implicaria que um aluno que sabe a matéria toda sem fazer esforço nenhum deveria ser retido (embora isso talvez fosse díficil de aplicar na prática, já que não é tão simples distinguir os bons alunos que se esforçam dos que não se esforçam - a principal pista talvez seja o lugar em que se sentam na sala de aula).

Provavelmente, PPM e os outros defensores da ideia de "premiar o esforço" não concordarão com estas ideias (sobretudo com a segunda), mas são a conclusão lógica do pressuposto de partida.

6 comments:

Anonymous said...

Bom post. De facto, a conversa do "esforço" e do "mérito" não pega. No fundo é como a questão do "valor", bem sabemos como tudo isso é relativo. Era como dar a vitória à equipa que perde por 1-0 mas que teve mais posse de bola e mais remates à baliza.

Anonymous said...

O que falta em Portugal relativamente aos países nórdicos é tratar os rapazes e raparigas de dos 10 aos 18 anos como adultos.

castigar os alunos por não estudarem? castigar!?!? ... epá ... "liberais" como o PPM gostam muito de impôr castigos ...

Anonymous said...

Existem claramente duas situações:
Os alunos da escolaridade obrigatória (até ao 9º ano)e os das vias ensino e outras.
No primeiro caso o que é verdadeiramente importante é a escolaridade. O estarem todos no ensino. Bons, menos bons, mediocres, excelentes... é a escola de todos para todos. Não haver excluídos.
Ninguém deve ser posto fora só porque não tem as mesmas capacidades da média; não vir dos extractos sociais mais favorecidos; não ter dinheiro para "explicações"...
O verdadeiramente importante para essas crianças é estarem com os seus colegas os seus amigos, os seus professores e aprenderem o que podem aprender: Será suficiente, será muito pouco? Que fiquem na escola já é muito bom.
Na primária, deficientes mentais ligeiros estão com os restantes meninos. Não aprendem a matéria mas estão lá e é bom que estejam. Adoram estar na escola e os ditos "normais" também beneficiam deste contacto.
E considero que levar esta experiência alguns anos mais além não faria mal a ninguém.
Estar na escola não é um privilégio, mas sim um direito.
Ao menos para que nunca nos venham dizer, anos mais tarde, que foram marginalizados e que não lhes deram as mesmas chances.
Já nos basta ter de lidar com os abandonos derivados de condições extremas e que se revelam inultrapassáveis na sua danosidade social.
Qual o interesse de reter, na comparação dos bons e maus, se esses jovem jamais conseguirão os instrumentos e capacidades para prosseguirem os estudos além 9º ano?
Serão estes jovens concorrentes dos bons alunos? Não me parece.
De que temos medo?

Agora, do 9º em diante, tá bem: Concorram, lutem por um lugar ao sol, "quem tem unhas que toque guitarra", que dos outros, desgraçados, já só irão ter vagas recordações...

Abraços

Anonymous said...

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Qual o interesse de reter, na comparação dos bons e maus, se esses jovem jamais conseguirão os instrumentos e capacidades para prosseguirem os estudos além 9º ano?
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O problema da retenção não afecta apenas os alunos "maus", mas também os "intermédios".

Para os alunos "bons" (que estão integrados num bom ambiente que incentiva o esforço e dá meios para conseguir bons resultados), a retenção é irrelevante.
Para os alunos "intermédios", a inexistência da retenção leva inevitavelmente ao relaxamento: para quê estudar, se se passa na mesma? Vamos antes brincar! A consequência desta atitude, que é perfeitamente natural, é a não aquisição de hábitos de trabalho indispensáveis a partir do 10º ano!
As provas e a capacidade de retenção são condições essenciais (embora não únicas) para que os alunos "intermédios" possam atingir os patamares necessários para prosseguir os estudos para além do 9º ano!!

Infelizmente os "eduquezes" ainda não conseguiram perceber as consequências das suas ideias! O problema da frequência no ensino básico está grandemente resolvido (embora haja problemas, nomeadamente na melhoria das condições de alguns estabelecimentos - que as autarquias não se preocupam). Falta dar o salto na qualidade-que implica exigência: mas o Burgo prefere falar ao lado, por exemplo no Football :-(

Anonymous said...

Meu amigo Crespo isso não muda com o espectro da "retenção". Isso muda com emprego para os pais (emprego pago decentemente, claro); com escolas onde todos trabalhem no mesmo sentido; com equipas multidisciplinares na sinalização atempada dos problemas...
Enfim

Anonymous said...

> Isso muda com emprego para os pais (emprego pago decentemente, claro);
Sou a favor de uma diminuição da diferença salarial por razões sociais e de justiça, mas ela é obtida a partir da subida do nível escolar não o contrário!
Não acredito que o rendimento escolar subisse se os salários fossem duplicados (não aumentando o desemprego, nem os preços).
A razão é a baixa expectativa da maioria das famílias e dos jovens. A maior parte dos adolescentes não quer pura e simplesmente esforçar-se no estudo! As frases que mais oiço deles são "não precido de estudar muito porque j'a emprego no talho do tio", "salário mínimo é melhor que nada", ou ... "vou ser futebolista como o Ronaldo"!

Países com níveis de vida muitíssimo mais baixos conseguiram ter progressos notáveis na educação (e por isso enriqueceram). Como exemplo tem-se a Noruega (a região mais atrasada da Europa nos finais do sec XIX) e a Coreia do Sul (depois da guerra estava muitíssimo pior que o Gana).

> com escolas onde todos trabalhem no mesmo sentido;
E porque razão o não têm feito?

> com equipas multidisciplinares na sinalização atempada dos problemas...
Sou muito céptico em relação a equipas multidisciplinares porque
- normalmente são usadas para empregar os "amigos".
- a diluição das responsabilidades leva que nenhum membro trabalhe efectivamente na resolução dos problemas
- o tempo que os jovens estão em contacto com essas equipas é mínimo! É a família, os amigos e as escolas que influenciam a atitude cultural perante o estudo.

> Enfim
Encolher os ombros apenas mantém o nível de vida intermédio, a vulgar "vidinha" :-(