Monday, June 19, 2006

Afinal ainda vou escrever mais qualquer coisa

Apesar de ter falado em "aparte final", ainda vou fazer mais um comentário à tese de Dos Santos sobre o anarquismo.

O seu ponto era que o anarco-socialismo era "absurdo", que para funcionar "necessita de um Estado para impor a sua visão (...) de como deve ser a sociedade". Ou seja, ele não se limitou a dizer que o anarco-socialismo era "ineficiente", "imoral" ou "indesejável" - argumentou que era impossível.

Há uns dias, a Causa Liberal divulgou um paper de um economista da Universidade de West Virginia, "Efficiente Anarchy"[pdf], sobre as situações em que uma "sociedade sem estado" poderia ser mais "eficiente" que uma "sociedade com estado" - ele argumenta que há duas instancias de "sociedade sem estado": muitas "sociedades primitivas", por um lado, e a "comunidade internacional", por outro .

Não é pelas as conclusões que ele tira que eu refiro este estudo, é apenas por um detalhe: ao explicar as razões porque, para as "sociedades primitivas" pode não ser "eficiente" ter um "Estado", o autor escreve (pag.14): "[i]ndividuals in primitive societies often have very similar endowments. Because they are frequently egalitarian and do not often recognize private ownership beyond the level of direct consumables..." (para se perceber o contexto em que ele escreve isto, convém ler o texto todo).

Aonde é que eu quero chegar com isto? É que, pelo texto, parece-me implicito que há "sociedades sem estado" que "não reconhecem propriedade privada além dos bens de consumo imediatos", o que creio cortar pela raiz a tese que o anarco-socialismo é "impossivel" e "absurdo" (note-se que, neste post, estou apenas a questão da "possibilidade" do anarco-socialismo, não a questão da sua "eficiência", "justiça" ou "desejabilidade", já que me pareceu ser o ponto central do argumento de Dos Santos).

2 comments:

Anonymous said...

claro que para dops santos não é desejavel, pois vai contra a sua doutrina.

a não ser que ele ache que a questão propriedade não tem nada de ideologico, o que não é verdade.

Pedro Viana said...

A diferença entre Esquerda e Direita reside no essencial na questão da distribuição do Poder. A primeira quer distribuí-lo enquanto que a segunda quer concentrá-lo. É extremamente simples, e só acho estranho que a Esquerda não queira colocar esta questão no centro do combate à Direita. Já não é nada estranho que a Direita não queira que se saiba que é esta questão que separa na essência a Esquerda da Direita. Os métodos para atingir tal objectivo variam, e à Esquerda há quem ache que é necessário concentrar o poder político para mais eficientemente distribuir o poder económico e social ("Ditadura da elite socialista esclarecida"), e à Direita há quem ache que distribuir o mais possível o poder político permitirá de modo mais natural e eficiente concentrar o poder económico e social nas mãos dos que "merecem" (anarco-capitalismo).

Este antagonismo Esquerda-Direita à volta de onde deve residir o Poder é tão antigo como a espécie humana. E se de início a "Esquerda" teve vantagem, devido à necessidade de entreajuda típica das sociedades primitivas, com a invenção da agricultura e o aparecimento dos primeiros excedentes agrícolas a "Direita" iniciou a sua ascensão até hoje, sofrendo metamorfoses (ex. substituição da nobreza pela burguesia como motor dessa ascensão) e revezes (principalmente com a criação dos Estados Democráticos de Direito, hoje sob ataque cerrado, durante o séc. XX).

Há alguém de Direita que não apoie o Capitalismo (i.e. possibilidade de acumulação de poder) nas suas várias formas possíveis?...