Há mais uns pontos no post de AA que aproveito para comentar (embora já tenha feito isso em parte nos comentários).
"Os salários crescem naturalmente com a produtividade, como consequência natural da concorrência das empresas pela mão-de-obra disponível no mercado"
Não é forçoso que o aumento da produtividade aumente os salários. Em teoria, até poderiamos supor uma situação em que o aumento da produtividade do trabalho levasse a uma redução dos salários: havendo menos necessidade de mão-de-obra, o seu preço até poderia descer.
Podemos fazer uma analogia com o petróleo: apesar da actual alta, o preço real do petróleo continua inferior ao que era nos anos 70. Porquê? Por um lado, porque é tecnicamente possível extrair mais patróleo do que há umas décadas. Mas também é porque a economia actual consome relativamente menos petróleo que nesse tempo (consome-se mais petróleo em termos globais, mas menos petróleo por unidade de produto, i.e., hoje em dia, uma fábrica, para produzir, digamos, 100 cadeiras, usa menos petróleo - ou energia - que usava). Ou seja, a "produtividade do petróleo" aumentou, e isso contribuiu para a descida do seu preço.
Aliás, nos comentários, AA escreve que "numa economia espontânea, os salários não têm que ter relação proporcional ou (coisa que se pareça) com os lucros". Ora, a tese que os salários crescem com a produtividade tem implicito o pressuposto que a repartição relativa do produto entre "trabalho" e "capital" se mantém mais ou menos constante no tempo (se assim não fosse, o crescimento dos salários poderia ser muito diferente do crescimento da produtividade) - mas tal implicaria que (pelo menos a médio/longo prazo) os salários e os lucros evoluissem de forma mais ou menos proporcional.
"Os sindicatos dependem da associação quase-compulsiva dos seus membros, a quem impõem mafiosamente acções concertadas"
Tirando os bancários (aonde os sindicatos controlam o sistema de assistência médica), não vejo aonde é que a associação nos sindicatos é quase-compulsiva: ninguém é obrigado a sindicalizar-se; mesmo sindicalizados, ninguém é obrigado a fazer greve; e, caso um sindicato consiga obter benefícios da entidade patronal, todos os empregados (sindicalizados ou não, grevistas ou fura-greves) usufruem desses beneficios. Para "associação quase-compulsiva" não está mal. Mantendo a analogia "mafiosa", isso seria o equivalente a um padrinho que fornecesse "protecção" a todos os habitantes do bairro, mesmo ao que não pagassem por ela.
"É um imperativo social acabar com todos os seus privilégios."
O principal privilégio dos sindicatos é serem os únicos que podem declarar greve (bem, não são os únicos - há outras maneiras, mas mais complicadas, de proclamar greve). Eu até não veria com maus olhos um sistema em que qualquer trabalhador podesse entrar em greve se assim bem entendesse, sem estar dependente de burocratas sindicais, mas suponho que não seja isso que o AA preconiza.
Imagino (até por este comentário) que as objecções do AA ao sistema actual residam no facto de a) as empresas não poderem contratar trabalhadores para substituir grevistas; e b) as empresas não poderem despedir os trabalhadores só por estes fazerem greve. Mas, se for assim, quer dizer que a sua objecção não é aos "privilégios" dos sindicatos, mas aos "privilégios" dos trabalhadores. Afinal, suponho que, se cada trabalhador tivesse o direito de entrar em greve independentemente de sindicatos, o AA oporia-se à mesma a que ele tivesse os direitos/privilégios acima referidos.
"Os salários crescem naturalmente com a produtividade, como consequência natural da concorrência das empresas pela mão-de-obra disponível no mercado"
Não é forçoso que o aumento da produtividade aumente os salários. Em teoria, até poderiamos supor uma situação em que o aumento da produtividade do trabalho levasse a uma redução dos salários: havendo menos necessidade de mão-de-obra, o seu preço até poderia descer.
Podemos fazer uma analogia com o petróleo: apesar da actual alta, o preço real do petróleo continua inferior ao que era nos anos 70. Porquê? Por um lado, porque é tecnicamente possível extrair mais patróleo do que há umas décadas. Mas também é porque a economia actual consome relativamente menos petróleo que nesse tempo (consome-se mais petróleo em termos globais, mas menos petróleo por unidade de produto, i.e., hoje em dia, uma fábrica, para produzir, digamos, 100 cadeiras, usa menos petróleo - ou energia - que usava). Ou seja, a "produtividade do petróleo" aumentou, e isso contribuiu para a descida do seu preço.
Aliás, nos comentários, AA escreve que "numa economia espontânea, os salários não têm que ter relação proporcional ou (coisa que se pareça) com os lucros". Ora, a tese que os salários crescem com a produtividade tem implicito o pressuposto que a repartição relativa do produto entre "trabalho" e "capital" se mantém mais ou menos constante no tempo (se assim não fosse, o crescimento dos salários poderia ser muito diferente do crescimento da produtividade) - mas tal implicaria que (pelo menos a médio/longo prazo) os salários e os lucros evoluissem de forma mais ou menos proporcional.
"Os sindicatos dependem da associação quase-compulsiva dos seus membros, a quem impõem mafiosamente acções concertadas"
Tirando os bancários (aonde os sindicatos controlam o sistema de assistência médica), não vejo aonde é que a associação nos sindicatos é quase-compulsiva: ninguém é obrigado a sindicalizar-se; mesmo sindicalizados, ninguém é obrigado a fazer greve; e, caso um sindicato consiga obter benefícios da entidade patronal, todos os empregados (sindicalizados ou não, grevistas ou fura-greves) usufruem desses beneficios. Para "associação quase-compulsiva" não está mal. Mantendo a analogia "mafiosa", isso seria o equivalente a um padrinho que fornecesse "protecção" a todos os habitantes do bairro, mesmo ao que não pagassem por ela.
"É um imperativo social acabar com todos os seus privilégios."
O principal privilégio dos sindicatos é serem os únicos que podem declarar greve (bem, não são os únicos - há outras maneiras, mas mais complicadas, de proclamar greve). Eu até não veria com maus olhos um sistema em que qualquer trabalhador podesse entrar em greve se assim bem entendesse, sem estar dependente de burocratas sindicais, mas suponho que não seja isso que o AA preconiza.
Imagino (até por este comentário) que as objecções do AA ao sistema actual residam no facto de a) as empresas não poderem contratar trabalhadores para substituir grevistas; e b) as empresas não poderem despedir os trabalhadores só por estes fazerem greve. Mas, se for assim, quer dizer que a sua objecção não é aos "privilégios" dos sindicatos, mas aos "privilégios" dos trabalhadores. Afinal, suponho que, se cada trabalhador tivesse o direito de entrar em greve independentemente de sindicatos, o AA oporia-se à mesma a que ele tivesse os direitos/privilégios acima referidos.
1 comment:
"É um imperativo social acabar com todos os seus privilégios."
ora nem mais... abaixo a propriedade!
é impressionante, como para ele, pessoas que ganham salarios miseros, sejam "privilegiados".
imperativo social é a economia ser uma ciencia social (lembram-se?) cujo objectivo é melhorar a produção e distribuição da riqueza.
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