João Miranda escreve:
"E também não foram os sindicatos que contribuíram para o aumento dos salários. Numa economia de mercado, os salários são determinados pela oferta e pela procura. O preço de equilíbrio entre a oferta e a procura não aumentou por causa da acção dos sindicatos mas sim por causa do aumento da produtividade dos trabalhadores e do aumento da procura de trabalhadores qualificados à medida que cada vez mais empresários passaram a ter acesso a métodos de produção cada vez mais sofisticados"
Essa ideia que os salários são determinados pela oferta e pela procura, formalmente, até é correcta, mas faz lembrar a anedota "Quantos economistas liberais são precisos para mudar uma lâmpada? Nenhum - se fosse necessário mudar a lâmpada, o mercado encarregar-se-ia disso"; ou seja, o mercado, ou "a oferta e a procura", não são entes abstractos - o mercado são os indivíduos (e associações) a interagir entre si, provocando determinados resultados; um exemplo: imagine-se que alguém dizia "é falso que, ao comprar em grandes quantidade, as grandes empresas consigam descontos de quantidade; os preços são fixados pela oferta e pela procura"; isto faz sentido? Claro que não. Os preços efectivamente, são fixados pela oferta e pela procura, e uma das componentes da procura é, exactamente, os grandes compradores aproveitarem para negociarem descontos de quantidade.
Agora vamos dissecar melhor a ideia de que os salários são determinados pela oferta e pela procura; a visão dominante, tanto entre a economia neo-clássica, como entre a "austríaca", é que os salários são determinados pela "produtividade marginal do trabalhador" (isto é, o acréscimo de produção que a empresa vai ter por contratar mais um trabalhador) - basicamente, a ideia é que, se os salários forem mais baixos que a produtividade marginal, a empresa vai contratar mais trabalhadores (já que vai pagar menos que o acréscimo de produção); se o salário for superior à produtividade marginal, irá reduzir o número de trabalhadores (já que o que vai deixar de pagar em salários será mais do que a produção perdida). Isso parece fazer sentido, e faz, dentro de certos pressupostos; mas, no mundo real (que é diferente dos pressupostos da teoria) não funciona assim.
Antes de expôr a minha critica, recomendo este post de Chris Dillow, também a criticar a teoria "convencional" dos salários.
Agora, vamos à minha critica: porque é que João Miranda escreve no Blasfémias em vez de no Liberdade de Expressão? E porque é que o Insurgente e o blogue da Atlantico crescem quase mês a mês?
Aparentemente, há "economias de escala" nos blogues; e, se há nos blogues, há também na economia em geral (já Proudhon dizia qualquer coisa como "duzentos homens levantaram o obelisco de Nantes em poucas horas; um homem em duzentos dias conseguiria tal coisa?"). Ora, parece-me que, com economias de escala, toda a teoria da produtividade marginal cai por terra - se, havendo economias de escala, o salário fosse igual à produtividade marginal, não havia dinheiro para isso (já que, com economias de escala, a produtividade marginal é maior que a produtividade média).
Assim, assumindo economias de escala, parece-me que a distribuição dos rendimentos dentro da empresa dependerá, não da "produtividade marginal", mas muito do equilíbrio de forças, "profecias auto-cumpridas", etc.
Um exemplo - imagine-se uma determinada actividade: 1 pessoa produz 5 (seja lá o que for); 2 produzem 12; e 3 produzem 21; como irá ser a distribuição do produto numa equipa de 3 pessoas? Sabemos que nenhum receberá menos que 5 (se assim fosse, iria trabalhar sozinho); provavelmente, também ninguém receberá mais que 9 (porque se assim fosse, os outros dois - que receberiam menos que 12 - iriam abandoná-lo e criar um grupo de 2); no entanto, entre 5 e 9 há muitas hipóteses de distribuição, e a capacidade para obter a posição mais vantajosa dependerá muito de factores como prestigio, capacidade de aguentar mais tempo na mesa de negociações, habilidade para o bluff (recordemo-nos da regra para as entrevistas de emprego - "o primeiro a falar em valores, perde"), poder dentro do grupo, etc.
E é exactamente aqui que entra o papel dos sindicatos - reforçarem o pode negocial de uma das partes na disputa por esses "excedentes".
"E também não foram os sindicatos que contribuíram para o aumento dos salários. Numa economia de mercado, os salários são determinados pela oferta e pela procura. O preço de equilíbrio entre a oferta e a procura não aumentou por causa da acção dos sindicatos mas sim por causa do aumento da produtividade dos trabalhadores e do aumento da procura de trabalhadores qualificados à medida que cada vez mais empresários passaram a ter acesso a métodos de produção cada vez mais sofisticados"
Essa ideia que os salários são determinados pela oferta e pela procura, formalmente, até é correcta, mas faz lembrar a anedota "Quantos economistas liberais são precisos para mudar uma lâmpada? Nenhum - se fosse necessário mudar a lâmpada, o mercado encarregar-se-ia disso"; ou seja, o mercado, ou "a oferta e a procura", não são entes abstractos - o mercado são os indivíduos (e associações) a interagir entre si, provocando determinados resultados; um exemplo: imagine-se que alguém dizia "é falso que, ao comprar em grandes quantidade, as grandes empresas consigam descontos de quantidade; os preços são fixados pela oferta e pela procura"; isto faz sentido? Claro que não. Os preços efectivamente, são fixados pela oferta e pela procura, e uma das componentes da procura é, exactamente, os grandes compradores aproveitarem para negociarem descontos de quantidade.
Agora vamos dissecar melhor a ideia de que os salários são determinados pela oferta e pela procura; a visão dominante, tanto entre a economia neo-clássica, como entre a "austríaca", é que os salários são determinados pela "produtividade marginal do trabalhador" (isto é, o acréscimo de produção que a empresa vai ter por contratar mais um trabalhador) - basicamente, a ideia é que, se os salários forem mais baixos que a produtividade marginal, a empresa vai contratar mais trabalhadores (já que vai pagar menos que o acréscimo de produção); se o salário for superior à produtividade marginal, irá reduzir o número de trabalhadores (já que o que vai deixar de pagar em salários será mais do que a produção perdida). Isso parece fazer sentido, e faz, dentro de certos pressupostos; mas, no mundo real (que é diferente dos pressupostos da teoria) não funciona assim.
Antes de expôr a minha critica, recomendo este post de Chris Dillow, também a criticar a teoria "convencional" dos salários.
Agora, vamos à minha critica: porque é que João Miranda escreve no Blasfémias em vez de no Liberdade de Expressão? E porque é que o Insurgente e o blogue da Atlantico crescem quase mês a mês?
Aparentemente, há "economias de escala" nos blogues; e, se há nos blogues, há também na economia em geral (já Proudhon dizia qualquer coisa como "duzentos homens levantaram o obelisco de Nantes em poucas horas; um homem em duzentos dias conseguiria tal coisa?"). Ora, parece-me que, com economias de escala, toda a teoria da produtividade marginal cai por terra - se, havendo economias de escala, o salário fosse igual à produtividade marginal, não havia dinheiro para isso (já que, com economias de escala, a produtividade marginal é maior que a produtividade média).
Assim, assumindo economias de escala, parece-me que a distribuição dos rendimentos dentro da empresa dependerá, não da "produtividade marginal", mas muito do equilíbrio de forças, "profecias auto-cumpridas", etc.
Um exemplo - imagine-se uma determinada actividade: 1 pessoa produz 5 (seja lá o que for); 2 produzem 12; e 3 produzem 21; como irá ser a distribuição do produto numa equipa de 3 pessoas? Sabemos que nenhum receberá menos que 5 (se assim fosse, iria trabalhar sozinho); provavelmente, também ninguém receberá mais que 9 (porque se assim fosse, os outros dois - que receberiam menos que 12 - iriam abandoná-lo e criar um grupo de 2); no entanto, entre 5 e 9 há muitas hipóteses de distribuição, e a capacidade para obter a posição mais vantajosa dependerá muito de factores como prestigio, capacidade de aguentar mais tempo na mesa de negociações, habilidade para o bluff (recordemo-nos da regra para as entrevistas de emprego - "o primeiro a falar em valores, perde"), poder dentro do grupo, etc.
E é exactamente aqui que entra o papel dos sindicatos - reforçarem o pode negocial de uma das partes na disputa por esses "excedentes".
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