Monday, June 25, 2007

As crianças pertencem a alguêm (II)?

Ainda a respeito deste assunto, venho frisar mais um ponto:

N'A Arte da Fuga, Adolfo Nunes escreve "[m]as se as crianças não são propriedade dos seus pais, também não são, muito mais seguramente, propriedade da sociedade, da comunidade cientifica, seja lá o que isso for, ou das comissões especializadas de cientistas e psicólogos".

Mas essa analogia entre os que defendem o "direito" dos pais não quererem que os filhos tenham educação sexual na escola e os que defendem o "direito" da "sociedade" obrigar a que as crianças/jovens tenham educação sexual na escola tem uma falha: é que o segundo sistema não impede os pais de, em casa, tentarem incutir os seus próprios valores aos filhos e tentar contrabalançar os efeitos da educação sexual escolar; pelo contrário, o primeiro sistema impede a escola de dar matérias contrárias aos valores ensinados pelos pais em casa.

Quanto ao argumento que "[o] socialismo cria uma classe de super-cidadãos: aqueles que têm o direito de administrar a vida dos demais", resolve-se facilmente - é só o "plano de estudos" da educação sexual ser decidido por referendo, ou por uma "assembleia coordenadora de delegados de plenários de escola" ou coisa do género (e não por peritos)...

1 comment:

AA said...

Caro Miguel,

(as minhas desculpas pela resposta tardia)

O meu post era mais... sistémico. Não estava directamente relacionado à questão da educação das crianças.

O facto é que não existe socialismo (pelo menos "democrático") sem uma filosofia de "direitos positivos", os quais conferem ao Estado e aos seus agente (e não à sociedade) o direito de os providenciar - num grau tal que se sobrepõem aos direitos negativos de alguns cidadãos.

Ou seja, o Estado define (por "direito" próprio) quais são os "direitos positivos" das pessoas, transfere-os para a legislação, e implementa planos para os "assegurar" - e portanto na prática administra a vida das pessoas que diz servir, assim como daquelas de quem se serve.