[via 19 meses depois]
No Diário Económico, João Marques de Almeida escreve:"É o capitalismo que permite o pluralismo de opiniões, a liberdade individual e, naturalmente, a democracia pluralista (...). Todos os regimes totalitários do século XX, desde a Alemanha nazi à União Soviética, foram impostos por movimentos profundamente “anti-capitalistas”. Ou seja, a democracia é o resultado do capitalismo, e não o contrário. "
Se se limitasse à primeira parte, JMA até poderia estar empiricamente correcto - é um facto que, não sendo a inversa verdadeira, todos os regimes (mais ou menos) democráticos da era moderna também foram (mais ou menos) capitalistas e que os movimentos que pretendem/pretendiam conjugar o colectivismo económico com a liberdade politica (autogestionários, eurocomunistas, trotskistas, comunistas de conselhos, anarquistas, etc.) nunca tiveram sucesso por aí além. Eu acho que isso não é uma fatalidade, mas não é assunto que me apeteça discutir neste momento.
Mas JMA não resistiu a ficar por aí e a Lei de Godwin (ou melhor, um equivalente para textos em papel) entrou em acção, indo chamar o exemplo da Alemanha nazi.
Ora, se o nazismo era "anti-capitalista", então também, por maioria de razão, o seriam a generalidade dos partidos socialistas e social-democratas da Europa à época, que até teriam programas ainda mais "anti-capitalistas" que os nazis; mas, se vamos considerar o socialismo europeu como "anti-capitalista", todo o raciocínio de JMA cairia por terra - afinal, assim teriamos um exemplo duradouro de coexistência entre "anti-capitalismo" e democracia. Claro que se pode argumentar que esses partidos socialistas, quando chegaram ao poder, não adoptaram todo o seu programa, mas o mesmo se pode dizer do Partido Nazi.
Falando de uma forma mais geral, os defensores da ligação entre capitalismo e democracia caiem facilmente nesse duplo critério: quando se limitam a dizer que não há democracias não-capitalistas, é verdade que estão factualmente certos; no entanto, muitas vezes não ficam por aí e tentam demonstrar que não há (ou que há poucas) ditaduras capitalistas, argumentando que muitas "ditaduras capitalistas" não são verdadeiramente "capitalistas", já que terão muita intervenção do Estado na economia; só que assim, pelo mesmo critério, poderemos facilmente apresentar "democracias não-capitalistas", desde a Índia ao "modelo social europeu" (já agora, ver os comentários a este post no Economist's View).
Se se limitasse à primeira parte, JMA até poderia estar empiricamente correcto - é um facto que, não sendo a inversa verdadeira, todos os regimes (mais ou menos) democráticos da era moderna também foram (mais ou menos) capitalistas e que os movimentos que pretendem/pretendiam conjugar o colectivismo económico com a liberdade politica (autogestionários, eurocomunistas, trotskistas, comunistas de conselhos, anarquistas, etc.) nunca tiveram sucesso por aí além. Eu acho que isso não é uma fatalidade, mas não é assunto que me apeteça discutir neste momento.
Mas JMA não resistiu a ficar por aí e a Lei de Godwin (ou melhor, um equivalente para textos em papel) entrou em acção, indo chamar o exemplo da Alemanha nazi.
Ora, se o nazismo era "anti-capitalista", então também, por maioria de razão, o seriam a generalidade dos partidos socialistas e social-democratas da Europa à época, que até teriam programas ainda mais "anti-capitalistas" que os nazis; mas, se vamos considerar o socialismo europeu como "anti-capitalista", todo o raciocínio de JMA cairia por terra - afinal, assim teriamos um exemplo duradouro de coexistência entre "anti-capitalismo" e democracia. Claro que se pode argumentar que esses partidos socialistas, quando chegaram ao poder, não adoptaram todo o seu programa, mas o mesmo se pode dizer do Partido Nazi.
Falando de uma forma mais geral, os defensores da ligação entre capitalismo e democracia caiem facilmente nesse duplo critério: quando se limitam a dizer que não há democracias não-capitalistas, é verdade que estão factualmente certos; no entanto, muitas vezes não ficam por aí e tentam demonstrar que não há (ou que há poucas) ditaduras capitalistas, argumentando que muitas "ditaduras capitalistas" não são verdadeiramente "capitalistas", já que terão muita intervenção do Estado na economia; só que assim, pelo mesmo critério, poderemos facilmente apresentar "democracias não-capitalistas", desde a Índia ao "modelo social europeu" (já agora, ver os comentários a este post no Economist's View).
No comments:
Post a Comment