Sunday, July 08, 2007

A abertura das grandes superfícies no domingo à tarde

Acerca da questão da abertura das grandes superfícies no domingo à tarde, em primeiro lugar, vou repetir o que ouvi uma empregada do Continente Portimão dizer a outra pessoa:"Agora querem abrir isto no domingo à tarde; isto já é uma prisão, uma pessoa não tem tempo para passear com a família. Espero que não consigam".

Um dos argumentos pela abertura das grandes superfícies no domingo à tarde (não haverá maneira mais simples de eu dizer isto?) é de que vai criar postos de trabalho (não é o argumento mais usado, mas é o argumento que eu me apetece abordar). Talvez crie, mas o comentário da tal empregada demonstra que há pessoas que desejam ter, não apenas um posto-de-trabalho, mas um posto-de-trabalho-com-a-tarde-de-domingo-livre. Ora, mesmo que a abertura no domingo à tarde crie postos-de-trabalho, uma coisa é inegável: vai destruir centenas ou milhares de postos-de-trabalho-com-a-tarde-de-domingo-livre (já que vão deixar de ter essa tarde sempre livre).

Mesmo a criação de postos de trabalho não me parece algo tão liquido assim: se as pessoas vão ao Continente fazer compras no domingo à tarde gastam dinheiro aí; a menos que isso se traduza numa redução da poupança (pouco provável, a meu ver), isso quer dizer que vão deixar de gastar dinheiro noutro sitio e/ou dia. Uma hipótese era que, simplesmente, gastassem ao domingo o dinheiro que gastariam, também no Continente, à segunda-feira; se assim fosse, o resultado seria que as grandes superfícies manteriam a mesma receita, mas com despesas operacionais aumentadas. Ora, goste-se ou não do Belmiro de Azevedo ou do Soares dos Santos, eles não são parvos, e se querem abrir as lojas no domingo à tarde, é porque chegaram à conclusão que grande parte do dinheiro que iria ser gasto nessa tarde é dinheiro que, de outro modo, seria gasto no pequeno e médio comércio.

Assim, se o público passa a gastar mais dinheiro no Continente e menos no pequeno comércio, não se pode dizer que se irão criar postos de trabalho - irão-se criar postos de trabalho num sector e perder-se noutro, com um resultado liquido incerto. Até é bastante provável que o saldo final seja negativo: não tenho nenhuma estatística, mas suspeito que o rácio [volume de negócios]/[trabalhadores] seja mais elevado nas grandes superfícies que nas pequenas e médias (ou seja, num dia de trabalho, passará uma maior facturação por um empregado do Continente do que por um da Alisuper). Ora, se assim for, isso quer dizer que 100.000 euros que deixem de ser gastos em pequenas e médias superfícies para passarem a ser gastos em grandes representarão mais perda de postos de trabalho nas primeiras do que criação nas segundas.

Não que isto implique forçosamente ser contra a abertura no domingo à tarde: em primeiro lugar, é possível que, ao contrário da referida empregada, haverá outros que até prefiram trabalhar do domingo à tarde e folgarem num dia útil (se estivesse nessa situação, eu acho que até preferiria - mas eu não tenho mulher nem filhos); e talvez se possa arranjar um sistema em que, em troca da abertura no domingo à tarde, os trabalhadores passem a ter mais dias de folga (a disponibilidade de tempo para "passear com a família" depende de dois factores: quantidade de folgas; e coincidência dessas folgas com o horário "normal" dos familiares - assim, uma redução no segundo factor talvez possa ser compensada por um aumento do primeiro).

2 comments:

Anonymous said...

Fiquei sem perceber se o Miguel é a favor ou contra a proíbição.

Miguel Madeira said...

Talvez eu próprio ainda não tenha percebido.