Para quem ainda não leu a primeira parte, é melhor ler antes e só depois a continuação.
A segunda parte:
CONSPIRAÇÃO NO ISCEF
Por MIGUEL MADEIRA
Já na esquadra da PSP, Ernestino era interrogado pelos agentes:
- Se não contares a verdade é pior! - gritava-lhe um deles, enquanto o agredia com um cabo de mangueira.
- Mas eu não fiz nada! - respondia - Há aqui uma confusão!
- Não, foi o meu periquito! - respondeu-lhe com desdém o policia.
- Então, já despacharam isto? - pergunta o comandante do posto, que havia acabado de entrar na cela.
- Não. O gajo é teimoso.
- Mas o que é que tu ganhas com isso? - perguntou o chefe a Ernestino - Se confessares, o juiz de certeza que te dá a pena mínima, estás à vontade para expor os teus atenuantes... Enquanto se te continuas a armar em carapau-de-corrida, olha que 'tás lixado...
-Mas estou a falar verdade! Eu nem lhe toquei!
O comandante abandonou a sala, enquanto os seus subordinados continuavam o "interrogatório".
Uma hora depois, os policias levaram-no à cela:
- Descansa aí, que vais falar com o gajo do Ministério Publico daqui a pouco
- E pára de te atirar ás grades que já 'tás todo ensanguentado - acrescentou outro policia - O homem ainda fica a pensar que te batemos.
Ernestino, com o corpo dolorido, deitou-se, enquanto esperava pela audiência. Pouco depois adormeceu.
- Vá, levanta-te! - acordaram-no secamente.
Após se ter levantado, arrastaram-no até a um gabinete, aonde se encontrava um senhor vestido à civil.
- É então este? - perguntou aos policias.
- Sim, senhor delegado - Ernestino percebeu tratar-se do delegado do MP- Tentou muitas vezes matar-se, atirando-se contra as grades da cela.
- Sim, entendo. Realmente está com um ar bastante lastimável. Bem, Sr. Ernestino Teixeira, o que tem para nos dizer?
-Sou inocente, Sr. Juiz...
- Delegado - corrigiu este.
- Bem, como eu dizia, Sr.delegado, sou inocente. Eu apenas fui discutir uma nota com o professor Ácaro, sai do gabinete dele, o meu colega Aparício entrou, e logo depois saiu dizendo que tinha encontrado o professor morto.
- E tinha, de facto...- interrompe o delegado - Ou pretende dizer que ele não se limitou a encontrá-lo morto?
- Não, não me interprete mal, não estou a dizer que tenha sido ele. Só estou a dizer que não fui eu.
- Mas, se não foi você, só pode ter sido o seu colega, não? Ou entrou mais alguém no gabinete, entretanto?
- Não, há uma rapariga, a Januária, que pode dizer-vos quem entrou naquele gabinete. Fomos só nos os dois.
- Sim, já temos o seu depoimento. Ela confirma o que você disse, mas é mais explicita no tempo em que Aparício esteve no gabinete. Mal chegou a um segundo, tempo incapaz para chegar à secretária e matar o professor.
- Mas quantas vezes tenho que dizer que não digo que tenha sido ele?! Só sei que eu não fui!
- Tenha "tento na língua", Sr. Teixeira. Bem, tendo a atenção a suas declarações, as dos seus colegas e do funcionário do ISCEF Bonifácio Mota, considero existirem indícios suficientes para o manter em prisão preventiva, sem caução. - após pronunciar estas palavras, o magistrado começou a arrumar os seus papeis, enquanto os policias levavam Ernestino de volta aos seus "aposentos".
De novo na sua cela, meditava sobre o que realmente se teria passado: por um lado só havia outro suspeito plausível, o Aparício; por outro, ele mal tinha entrado quando chamou a atenção para o cadáver do professor. No entanto... De repente, uma ideia germinou no seu cérebro: e se o Aparício só tivesse morto o professor depois de ter saído a perguntar "Ernestino, o que é..."; realmente ele, podia ter entrado no gabinete, ter, com um spray, submetido o professor a um gás anestesiante, saído, gritado, e, durante a agitação inicial, voltado a entrar e suprimido definitivamente o docente... Todavia, Ernestino não se conseguia recordar se Aparício tinha voltado a entrar no gabinete antes dele próprio ter voltado lá dentro.
Na manha seguinte, acordou e decidiu passar à acção. Tinha pensado muito durante a noite e já sabia o que fazer. Chamou o carcereiro:
- Posso fazer um telefonema?
- Pode. Tem direito a uma chamada diária.
Saiu da cela e deslocou-se ao PBX. Ligou para Aparício e aguardou. Em breve a voz deste surgia no outro lado da linha:
-Está?
-É o Ernestino. É o Aparício quem fala, não é?
- Sim. O que é que queres?
- Preciso que venhas aqui à prisão.
- Não basta meteres-te em sarilhos, queres também meter os outros?
- Não é isso. Descobri a VERDADE!
- Entraste para uma seita?
- Não. Descobri a verdade acerca do assassínio.
- Está bem. Eu vou ai.
Após desligar o telefone, Ernestino pôs-se a pensar sobre se o detidos teriam direito a papel e esferográfica. No entanto acho melhor não perguntar e servir-se de um guardanapo que lhe havia sido entregue à refeição e de um pedaço de carvão que encontrou no corredor para escrever a mensagem que iria entregar a Aparício. Finalmente, a meio da tarde, este chegou.
- Preciso de falar contigo. Nos dois somos as únicas testemunhas imediatas dos acontecimentos e tenho 99% de certeza que sei o que se passou.
- Claro que sabes. Foste tu que o mataste.
- Não. Estás enganado. Toda a gente julga que fui eu, mas não fui. E sei quem foi!
- Então quem foi?
- Toma - entregou-lhe o guardanapo - Aqui está escrito quem foi o responsável e também algumas instruções para ti. - Aparício ia ler a mensagem mas Ernestino interrompeu-o :- Aqui não. Lê em casa.
Aparício retirou-se e Ernestino ficou a pensar que tudo iria correr bem: o responsável pela sua prisão de certeza que cairia na armadilha!
P.S.: Os eventos descritos neste texto são pura ficção. Qualquer semelhança com factos ou pessoas, vivas ou mortas, reais é pura coincidência.
6 comments:
Miguel,
muito me lembrou o primeiro conto d' "O Muro" do J.P. Sartre.
Boas lembranças...
Caro Madeira... deixe-se de treatas e publique já o resto da história!
A história foi originalmente publicada em capitulos mensais. Vocês já estão a ter o beneficio de capitulos semanais.
capítulos diários, miguel sff!
Bem escrito! Aguarda-se a publicação do próximo "fascículo".
Caro madeira, faça o que "al diz!
Ameaço desistir...
Tome atenção que nestas coisas de blogues... o tempo perdido pode significar perda de validade do tema.
Gostou deste argumento?
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