João Anacoreta Correia recorre ao já estafado argumento contra o casamento homossexual e escreve "O que me parece errado é chamar casamento ao que não o é. Não por nenhuma razão especial, mas simplesmente porque são coisas diferentes. Passa-se o mesmo, aliás, com outras realidades: um morango é um morango, e está errado se lhe chamarmos ananás, ou fogão, ou sapato, ou bicicleta. Porquê? Porque é um morango, e isso não implica nenhum juízo negativo quanto ao ananás, ao fogão, ao sapato ou à bicicleta".
Pois, a mim parece-me que, se passarmos a chamar ananás ao morango, tal não estaria errado - afinal, se se passasse a usar a palavra "ananás" para designar a planta/fruto correntemente designada por "morango", isso significaria que essa planta passava a ser, efectivamente, um ananás. Da mesma forma, se começássemos a chamar "gato", não apenas ao "gato" (felis sylvestris) mas a todos os felinos, ou "doninha", não apenas à "doninha" (mustela nivalis) mas também aos furões e visons, isso quer dizer os leopardos passariam a ser, efectivamente, "gatos" e os visons "doninhas". Não, não estou a inventar - em inglês, a palavra "cat" pode ser aplicada a leões e leopardos, e a palavra "weasel", que em Inglaterra só se aplica à mustela nivalis, nos EUA também se pode aplicar a visons ou furões. Ou seja, as palavras significam aquilo que se convenciona que significam; da mesma forma, se a palavra "casamento" for usada para incluir também as "parcerias bilaterais entre homossexuais com direitos e deveres equivalentes aos previstos no casamento clássico", essas parcerias passarão a ser casamentos.
Aliás, eu suspeito que, se as tais "parcerias" fossem legalizadas com outro nome que não "casamento", teriam o mesmo destino que o bolo-república (a que toda a gente chama "bolo-rei") e toda a gente as chamaria "casamentos" (até porque um nome que fosse inventado pelo legislador seria com certeza tão "burocrático" - estilo "parceria civil solidária" ou coisa assim - que seria quase impronunciável numa conversa regular; provavelmente, as únicas pessoas que o iriam usar seriam casais heterossexuais que, quando fossem anunciar aos amigos que se iam casar, na brincadeira iriam dizer "vamos assinar uma parceria civil solidária").
1 comment:
Que belo exemplo de argumentação falaciosa a roçar a idiotice?
Já agora, se eu quiser comprar, um Ananás, peço o que na mercearia?
Não me incomoda que dê um o nome Ananás ao Morango, mas tem que arranjar um diferente para o Ananás... Ou seja como são de facto coisas diferentes, no outro exemplo, muito bem se quiser apelidar de casamento à sua "parceria civil solidária" (decerto consegue arranjar um nome melhor e só por má vontade não fez), que nome vai dar ao actual casamento? parceria civil solidária?
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