O "atlântico" Tiago Mendes pergunta-se porque "é que pessoas como Carrapatoso e outros gestores/empresários com algum traquejo político não se chegam mais à frente na política".
Há várias razões para os empresários/gestores não terem jeito para a politica (algumas são expostas aqui por Chris Dillow). No caso especifico dos gestores (os empresários são outra história), tenho uma teoria porque é que eles raramente dão bons políticos:
Numa hierarquia empresarial, um gestor precisa: a) de garantia de apoio seguro dos seus superiores (ninguém vai respeitar um gestor que se arrisque a ser desautorizado pelos seus superiores); e b) ser "duro" com os seus subordinados quando necessário - por melhor que se dê com eles, é nos momentos em que tem que se dar mal que as suas capacidades como gestor são mais postas à prova.
Por seu lado, um bom politico precisa de: a) um grupo de apoiantes quase incondicionais nas bases; e b) de vez em quando, de entrar em luta aberta com os seus "superiores" (no partido e/ou no Estado) - os políticos que vão subindo porque alguém "em cima" os puxa costumam ser umas nulidades (p.ex., Fernando Nogueira): é na luta para conquistar o poder a quem o detêm (seja numa concelhia de partido ou no governo da nação) que as capacidades de um politico são mais postas à prova.
Ou seja, o mundo da politica e dos organogramas empresariais é quase oposto - o segundo é um mundo aonde o poder se recebe "de cima"; o primeiro é um mundo aonde o poder se conquista, apelando aos "de baixo" (eleitores, militantes de base) contra os que (de momento) estão "por cima". Em suma, a politica é um mundo de heroísmo individual, pouco confortável para quem esteja habituado ao mundo das hierarquias organizacionais.
Há uns tempos, quando tinha uma coluna no DN, Vasco Pulido Valente escreveu, a respeito dos "técnicos independentes" na política (e dos ministros independentes não fazerem nada de jeito), algo como "para um médico ou mesmo um gestor, o poder é um dado (...) Só a guerra civil permanente que se vive dentro dos partidos políticos é que dá a preparação necessária para ser um bom ministro" (isto é de memória, mas a ideia era esta).
Um exemplo - porque é que aquele vendedor, ou gestor de clientes, ou lá o que é, da Goldmann-Sachs passa a vida a fazer-se a altos cargos no PSD e depois, nos congressos, nunca avança? Há quem diga que é por arrogância, por estar à espera que o vão buscar; provavelmente também será, mas não será, sobretudo, por reflexo do "modo de vida" nas organizações empresariais, aonde não fica bem dizer abertamente "Quero o lugar de fulano!" (tirando os casos de conflitos entre gestores de topo, estilo BCP)?
[Recordo que tudo o que escrevi acima se refere apenas aos gestores, não aos empresários]
Além disso, se formos ver bem, porque razão os gestores (e agora também os empresários) haveriam de dar bons políticos? Afinal, alguém ganhar um campeonato de surf não o torna necessariamente um bom apanhador de figos. No fundo, quais são as competências da actividade empresarial que são "transferíveis" para a politica? Vamos admitir que os empresários e gestores se caracterizam por saber identificar bons negócios e entrar neles antes dos outros; bem, e o que é que isso interessa para um politico? Ter ministros com jeito para os negócios pode interessar para um Estado que pratique uma politica industrial dirigista (para identificar os sectores a que o Ministério da Economia vai incentivar as empresas a investir), mas, tanto para o "Estado mínimo" dos liberais, como para o "Estado social" dos socialistas (moderados), não vejo grande utilidade em ter gestores/empresários "de sucesso" em cargos políticos de topo.
Há várias razões para os empresários/gestores não terem jeito para a politica (algumas são expostas aqui por Chris Dillow). No caso especifico dos gestores (os empresários são outra história), tenho uma teoria porque é que eles raramente dão bons políticos:
Numa hierarquia empresarial, um gestor precisa: a) de garantia de apoio seguro dos seus superiores (ninguém vai respeitar um gestor que se arrisque a ser desautorizado pelos seus superiores); e b) ser "duro" com os seus subordinados quando necessário - por melhor que se dê com eles, é nos momentos em que tem que se dar mal que as suas capacidades como gestor são mais postas à prova.
Por seu lado, um bom politico precisa de: a) um grupo de apoiantes quase incondicionais nas bases; e b) de vez em quando, de entrar em luta aberta com os seus "superiores" (no partido e/ou no Estado) - os políticos que vão subindo porque alguém "em cima" os puxa costumam ser umas nulidades (p.ex., Fernando Nogueira): é na luta para conquistar o poder a quem o detêm (seja numa concelhia de partido ou no governo da nação) que as capacidades de um politico são mais postas à prova.
Ou seja, o mundo da politica e dos organogramas empresariais é quase oposto - o segundo é um mundo aonde o poder se recebe "de cima"; o primeiro é um mundo aonde o poder se conquista, apelando aos "de baixo" (eleitores, militantes de base) contra os que (de momento) estão "por cima". Em suma, a politica é um mundo de heroísmo individual, pouco confortável para quem esteja habituado ao mundo das hierarquias organizacionais.
Há uns tempos, quando tinha uma coluna no DN, Vasco Pulido Valente escreveu, a respeito dos "técnicos independentes" na política (e dos ministros independentes não fazerem nada de jeito), algo como "para um médico ou mesmo um gestor, o poder é um dado (...) Só a guerra civil permanente que se vive dentro dos partidos políticos é que dá a preparação necessária para ser um bom ministro" (isto é de memória, mas a ideia era esta).
Um exemplo - porque é que aquele vendedor, ou gestor de clientes, ou lá o que é, da Goldmann-Sachs passa a vida a fazer-se a altos cargos no PSD e depois, nos congressos, nunca avança? Há quem diga que é por arrogância, por estar à espera que o vão buscar; provavelmente também será, mas não será, sobretudo, por reflexo do "modo de vida" nas organizações empresariais, aonde não fica bem dizer abertamente "Quero o lugar de fulano!" (tirando os casos de conflitos entre gestores de topo, estilo BCP)?
[Recordo que tudo o que escrevi acima se refere apenas aos gestores, não aos empresários]
Além disso, se formos ver bem, porque razão os gestores (e agora também os empresários) haveriam de dar bons políticos? Afinal, alguém ganhar um campeonato de surf não o torna necessariamente um bom apanhador de figos. No fundo, quais são as competências da actividade empresarial que são "transferíveis" para a politica? Vamos admitir que os empresários e gestores se caracterizam por saber identificar bons negócios e entrar neles antes dos outros; bem, e o que é que isso interessa para um politico? Ter ministros com jeito para os negócios pode interessar para um Estado que pratique uma politica industrial dirigista (para identificar os sectores a que o Ministério da Economia vai incentivar as empresas a investir), mas, tanto para o "Estado mínimo" dos liberais, como para o "Estado social" dos socialistas (moderados), não vejo grande utilidade em ter gestores/empresários "de sucesso" em cargos políticos de topo.
1 comment:
Com a expressao "com traquelo politico" eu pretendia referir-me ao subgrupo de gestores/empresarios que tem qualidades para ser politicos. O caso de Borges, por exemplo, parece-me um caso claro de alguem competente mas a quem falta essa costela politica. Nao foi feito para aquilo.
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