Luciano Amaral (via O Insurgente):
Mas esta não é uma guerra humanitária. É, tal como no Iraque, uma guerra para mudar o regime, com a diferença de que os ocidentais não o reconhecem, o que torna tudo muito perigoso. Uma guerra para mudar o regime obrigaria a um compromisso, como no Iraque, em permanecer até se criarem novas instituições. Mas existiria então o custo de enviar soldados e burocratas para o terreno. Em vez disso, temos uma guerra em que o heroísmo ocidental se mede até ao último rebelde líbio morto. Porque se não é para mudar o regime, a alternativa é a mera participação numa guerra civil e a destruição da Líbia enquanto país. Pode alguém dizer que se trata de ajudar o lado anti-governamental e deixá-lo, depois, reconstruir. Mas alguém sabe quem são realmente os rebeldes, para além daqueles beduínos de que os fotógrafos tanto gostam cavalgando o deserto nas suas carrinhas pick-up? E se os bombardeamentos à distância não funcionarem, o que fazem os ocidentais? Vão-se embora, com um país a arder às costas?A ideia que uma guerra aérea não basta, que é preciso uma intervenção terrestre começa a ganhar terreno entre os saudosos de Bush (aqui ou nos EUA). No entanto, é preciso ter patente que, por enquanto, a opinião dos rebeldes é "só queremos apoio aéreo, não tropas no terreno" (provavelmente porque não querem os "burocratas" - i.e., governantes - que LA sugere que se mande junto com os militares); na minha opinião, não é certo que os rebeldes mantenham essa posição (não me admirava que, se a sua série de vitórias militares se interromper, viessem mudar de opinião e pedir tropas ocidentais), mas mandar tropas para o meio de uma guerra civil em que, pelo menos por enquanto, todas as partes rejeitam tropas estrangeiras parece-me a receita certa para um desastre, além de ser bastante questionável no plano dos principios (um pouco como ajudar uma velhinha a atravessar a rua quando ela apenas nos pediu as horas).
De qualquer forma, quer se concorde quer não, há algumas posições sobre a Líbia que me parecem logicamente correctas, estilo:
a) A Libia não está preparada para a democracia, não nos metamos nisso
b) A Libia está mais que preparada para a democracia, não precisam de nós para nada
c) A Libia está preparada para a democracia, só precisa de uma pequena ajuda (como uma ZEA)
Já a posição "A Libia não está preparada para a democracia, e por isso o Ocidente tem que ir para lá democratizá-los" (o que me parece ser, mais ou menos, a posição de LA, se estou a perceber bem) não me parece fazer grande sentido.
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