Thursday, April 07, 2011

Re: Porque silenciam a ISLÂNDIA?

Nos últimos dias, tenho recebido um mail-corrente intitulado "Porque silenciam a ISLÂNDIA?", texto que o leitor skepticos também recomendou num comentário.

 
Esse texto tem algumas incorrecções, algumas de pouca monta, outras mais relevantes.

 
Nas incorrecções de pouca monta, o autor confunde o "Partido Progressista" com o "Partido da Independência" - quem tem estado quase sem interrupções no poder nas últimas décadas e nomeadamente quando a crise eclodiu foi o "Partido da Independência"; o "Partido Progressista" é um pequeno partido, representante dos interesses dos agricultores, e que tem estado na oposição.

 
Mas agora vamos à incorrecção relevante:

 
Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos despojados dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos.

O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do FMI.

 
Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a realização de novas eleições.

 
Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria. Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder (...) perdeu em toda a linha.
Cada um desses factos é verdadeiro, mas a cronologia é incorrecta - as eleições que deram a vitória aos partidos de esquerda não ocorreram na sequência da mobilização cívica contra os acordos com os credores internacionais e do referendo; foram antes. Foi o governo da coligação de esquerda que negociou esse acordo que teria sido ruinoso para o povo islandês (numa traição do Movimento Verde de Esquerda a todo o seu passado e promessas eleitorais), e foi contra esse governo que os movimentos de cidadões se mobilizaram e conseguiram o referendo.

Finalmente, todo este entusiasmo pela Islândia, que prolifera por blogues e mails, talvez venha em má hora - o governo islândes fez um novo acordo para assumir as dividas dos seus bancos (menos gravoso que o anterior), e que vai ser referendado no próximo sábado.

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1 comment:

Anonymous said...

se o governo islandes conseguiu para já, um novo acordo, "menos gravoso que o anterior", então o entusiasmo é justificadíssimo.