Tuesday, January 31, 2017

MacGyver (2016) - análise

Há uma grande diferença entre o "novo" MacGyver e o dos anos 80, que acho que muda muito o espírito da série: mais exatamente, falta aquela componente de herói humanitário, defensor dos fracos e oprimidos - mesmo quando estava em missões oficiais, o episódio acabava por girar menos em torno da missão, e mais a proteger os camponeses de uma aldeia próxima de um traficante de droga que os queria escravizar ou uma coisa do género (para não falar de todos os episódios em que ele não estava de serviço, mas a ajudar algum amigo ou ex-namorada ou a fazer alguma espécie de voluntariado social).

Já na série de 2016, ele limita-se a ser um agente dos serviços de espionagem, a combater os inimigos do estado norte-americano (o que até pode provocar nalguns espetadores uma reação "who cares? uns ou outros, o que é que interessa?") - em muitos aspetos, o enredo faz lembrar mais os episódios da Missão Impossível do que do MacGyver original (eu ia escrever que a única grande diferença face à Missão Impossível é o nesta os heróis frequentemente usarem máscaras, mas atendendo a que o amigo dele agora vai fazer máscaras para a Phoenix, nem sei se também não começarão a agir muitas vezes disfarçados); já que estou fazendo analogias com outras séries de ação, diria que série dos anos 80 seria menos "Missão Impossível" e mais "Soldados da Fortuna "/"A-Team", no que diz respeito às tarefas e inimigos que os heróis enfrentavam (esses também faziam a maior parte das vezes de protetores de pessoas comuns contra algum vilão de quem elas não se conseguiam defender sem ajuda).

Friday, January 27, 2017

Beneficios e custos da NAFTA para os EUA

What did NAFTA really do?, por Dani Rodrik (via Tyler Cowen):

Remember first that many advocates of NAFTA made at the outset some wildly optimistic claims about what NAFTA was going to achieve. The most extravagant of the studies, and the one that probably was the most widely circulated, was one produced at the Peterson Institute for International Economics (then just the Institute for International Economics). This study argued that NAFTA would be a net job creator for the U.S., thanks to a projected improvement in the U.S. balance of trade.(...)

This argument was always a red herring: trade agreements are not supposed to create net employment; they simply reshuffle employment. NAFTA neither subtracted, nor added substantial number of jobs to the U.S. economy. At best, it made the U.S. economy more efficient by reallocating workers to jobs that are more productive.

And certainly this happened. But the overall efficiency gains are quite small, much smaller than what the trade volume effects would lead you to believe. A recently published academic study by Lorenzo Caliendo and Fernando Parro uses all the bells-and-whistles of modern trade theory to produce the estimate that these overall gains amount to a “welfare” gain of 0.08% for the U.S. That is, eight-hundredth of 1 percent! (...)

A gain, no matter how small, is still a gain. What about the distributional impacts?

The most detailed empirical analysis of the labor-market effects of NAFTA is contained in a paper by John McLaren and Shushanik Hakobyan. They find that the aggregate effects were rather small (in line with other work), but that impacts on directly affected communities were quite severe. (...)

In other words, those high school dropouts who worked in industries protected by tariffs prior to NAFTA experienced reductions in wage growth by as much as 17 percentage points relative to wage growth in unaffected industries. I don’t think anyone can argue that a 17 percentage drop is small. As McLaren and Hakobyan emphasize, these losses were then propagated throughout the localities in which these workers lived.

So here is the overall picture that these academic studies paint for the U.S.: NAFTA produced large changes in trade volumes, tiny efficiency gains overall, and some very significant impacts on adversely affected communities.(...)

So is Trump deluded on NAFTA’s overall impact on manufacturing jobs? Absolutely, yes.

Was he able to capitalize on the very real losses that this and other trade agreements produced in certain parts of the country in a way that Democrats were unable to? Again, yes. 

Wednesday, January 25, 2017

Proteccionismo e liberalismo

A respeito da politica económica de Trump, Vital Moreira escreve que esta é "um mix de política económica pouco comum. Tradicionalmente, o nacionalismo económico externo é o reflexo de políticas intervencionista na ordem económica interna, enquanto o liberalismo económico interno coabita tendencialmente com uma política comercial externa igualmente liberal. Trump baralha as coisas e inaugura uma nova receita: ultraliberalismo interno e nacionalismo externo, ou seja, um ultraliberalismo nacionalista."

Mas essa combinação, entre liberalismo interno e protecionismo externo será assim estranha? Não me parece - também é, p.ex., a doutrina da Frente Nacional francesa (contra a globalização, mas a favor de baixos impostos). E até para aí 1945-50, também era mais ou menos a doutrina do Partido Conservador britânico e do Partido Republicano dos EUA, internamente contra as reformas sociais estilo New Deal e ao mesmo tempo protecionistas (ou, no caso britânico, defensores da "comércio livre imperial" - comércio livre com as colónias, protecionismo para com o resto do mundo); veja-se como, mesmo em 1950, a jovem conservadora Margaret Roberts se apresentava como candidata a candidata a deputada, defendendo ao mesmo tempo os baixos impostos e, aparentemente, a "preferência imperial":

What Margaret said that evening was already distinctive, at least in tone. She began with an attack on the failure of three and a half years of socialism to deliver material rewards. She urged the Government to do what 'any good housewife will do' by examining their accounts. She put her faith in tax cuts to boost production and (more dubiously) to lower prices. She spoke of the need to renew link with the Empire 'to fight the economic war' (a reference to the doomed Imperial Preference tariff system).
Da mesma forma, mesmo já no pós-guerra, nos EUA a ala economicamente mais liberal (no sentido internacional da palavra) e anti-New Deal do Partido Republicano, à volta do senador Robert Taft, era a que mais defendia o protecionismo, enquanto era Eisenhower, mais "centrista", que defendia o comércio livre; mesmo Barry Goldwater, o candidato republicano de 1964, com a reputação de ser um radical pelo "small government" (ou um extremista "em defesa da liberdade"), creio que era a favor do protecionismo (pelo menos o seu candidato a vice era-o de certeza).

Um aparte - há um assunto em que todos os "liberais económicos" atrás referidos até eram bastante estatistas: greves e sindicatos; mas haver defensores do liberalismo económico a defenderem que o Estado deve intervir para restringir a ação dos sindicatos é tão comum que acho que não afeta a sua qualificação como "liberais internos".

Mesmo nos tempos mais modernos, continuando a falar dos EUA, a combinação protecionismo+desregulação interna também era mais ou menos o programa de Pat Buchanan nas eleições de 1992, 1996 e 2000, ou de "financiadores de campanhas" como o industrial do têxtil Roger Miliken.

Vendo as coisas pelo lado contrário, os 30 anos a seguir à II Guerra Mundial foram um período de crescimento da intervenção económica do estado em geral, por um lado, e de redução das barreiras ao comércio internacional (dentro, claro, do "bloco ocidental") - tal até era designado por "Keynes at home, Smith abroad".

Fazendo uma análise talvez um bocado marxista, explicando as ideias pelos interesses económicos, até pode fazer sentido que por vezes a defesa do liberalismo económico interno venha junto com a defesa do protecionismo - basicamente, sectores produtores de bens transacionáveis com baixo valor acrescentado são os que são mais ameaçados, tanto pela concorrência estrangeira, como pela regulamentação laboral e ambiental (e se calhar também são os que têm menos a ganhar com o aumento da procura, pelo que também têm menos razão para apoiar politicas keynesianas); em compensação, os sectores de alta tecnologia provavelmente conseguem mais facilmente suportar os custos das regulamentações e também são os que mais beneficiam da globalização; quanto ao sector dos serviços está por natureza protegido da concorrência externa (não tendo assim necessidade de proteções adicionais), e é o que mais tem a ganhar com o aumento da procura interna (logo, com politicas keynesianas), e, já agora, também é pouco afetado pela regulação ambiental.

Outra possível razão é que, no mundo real, a defesa do liberalismo económico vem muitas vezes misturado com a "ética do trabalho" - "cobrar impostos a quem trabalha para dar a vadiagem" ou "regras ambientais que não deixam trabalhar quem quer produzir"; como o protecionismo até vem normalmente com a mensagem "temos que produzir mais" (e muitas vezes destinado exatamente aqueles setores com mais conotação de trabalho pesado - agricultura, indústria tradicional - em detrimento de setores com a conotação de "pipis que querem é estar atrás do balcão ou sentados à secretária" - como muitos dos serviços) acaba por até ser atrativo para pessoas que noutros assuntos até são bastante liberais (provavelmente também é a razão porque muitas pessoas são mais contra o RSI do que contra os subsídios à agricultura - e, nos subsídios agrícolas, criticam sobretudo os subsídios para reduzir a produção - ou porque preferem subsídios às empresas que contratam em vez de subsídios de desemprego: economicamente todos são distorcedores e causadores de ineficiências, e também são todos resultado de coação - sendo financiados por impostos cobrados à força - mas muitas pessoas - a maioria? - acham que é moralmente diferente "subsidiar para trabalhar/produzir" e "subsidiar quem não trabalha/produz").

Friday, January 20, 2017

O Prémio Nobel da Paz a Obama foi justificado

Agora que o mandato de Obama acabou, é popular dizer-se que o Prémio Nobel da Paz que ele recebeu não teve grande fundamento, que ele fez montes de intervenções no estrangeiros e mandou matar muita gente (essa crítica parece-me implícita, p.ex., neste post n'O Insurgente).

Mas o que toda a gente se esquece é, não dos mortos que acontecerem, mas dos muitos mais que se evitaram:


[Via Greg Mankiw; o original deveria estar neste site, mas deve ter desaparecido]

Finalmente Trump toma posse

E pode-se começar a discutir mesmo as políticas dele em vez de especulações sobre o que ele vai ou não fazer ou sobre as suas supostas associações com A ou B (a alt-right, Putin, etc.).

Wednesday, January 18, 2017

A redução da TSU

Pelo que percebo lendo o decreto-lei[pdf]:

a) as empresas que tivessem trabalhadores a ganhar menos que 557 euros, e agora os aumentem para 557 euros vão pagar apenas 22,5% (em vez de 23,75%)

b) o mesmo para as empresas que aumentem o ordenado desses trabalhadores para... seja que valor for (600 euros, 1000 euros, 5000...)

c) já as empresas que contratem, agora, um novo trabalhador, e lhe paguem 557 euros, vão descontar 23,75%

Pode ser visto como um medida de apoio às empresas já existentes em detrimento de novas empresas, e também uma medida que favorece mais a preservação dos empregos já existentes do que a criação de novos empregos. [Creio que o Luís Aguiar-Conraria já tinha algures escrito qualquer coisa nesse sentido]

Por outro lado, é verdade que se fosse ao contrário (a TSU reduzida aplicada a todos os empregos a ganhar 557 euros, e a não ser aplicada aos empregos com salários superior), poderia ser vista como um incentivo a pagar salários baixos - ambas as hipóteses são problemáticas.

Wednesday, January 11, 2017

Quem paga o imposto sobre...

Esta questão voltou agora a colocar-se acerca do imposto de selo sobre as comissões que os bancos cobram sobre os pagamentos com cartão de débito. Mas é uma discussão recorrente - também ocorre por vezes acerca das Taxas Municipais sobre Direitos de Passagem.

Nesses casos há sempre grandes polémicas, pareceres jurídicos para aqui e para ali, pedidos para o governo esclarecer quem é que tem que pagar o imposto (os bancos ou os comerciantes? as empresas ou os clientes?); mas a verdade é que não interessa para nada quem é que a lei diz quem é que tem que pagar o imposto (antigamente eu diria "como qualquer aluno do 3º ano de Economia sabe"; mas como agora as licenciaturas são de três anos, provavelmente até aprendem isso antes).

Explicando melhor  - imagine-se que o Estado lançava um imposto de 1 euro sobre, digamos, os cortes de cabelo.

Há partida temos duas hipóteses - ou a lei diz que é o cliente a pagar, ou diz que é o cabeleiro/barbeiro a pagar.

Se a lei disser que é o cliente a pagar, o cabeleireiro/barbeiro tem 3 hipóteses:

A1 - não faz mais nada além de aplicar a lei - cobra o preço que cobrava antes (p.ex., 9 euros), e cobra um euro adicional de imposto

A2 - faz umas contas, e conclui que o que perde com a redução da clientela (devido ao aumento do preço que o cliente tem que pagar) é maior do que perderia se mantivesse o mesmo número de clientes e baixasse o preço que recebe por clientes, e assim decide baixar o preço de 9 para 8 euros (continuando o cliente a pagar os 9 euros que pagava antes - 8 euros e mais 1 de imposto)

A3 - de novo, faz umas contas, e chega à conclusão que o melhor é mesmo uma situação intermédia - baixar o preço, mas menos que um euro (o que quer dizer que o preço a pagar pelo cliente aumenta alguma coisa, mas menos que um euro); neste cenário, nem a redução da clientela é tanta como no cenário A1, nem a redução do lucro por corte de cabelo é tanta como no cenário A2

Se a lei disser que é o cabeleireiro/barbeiro a pagar, ele tem também três hipóteses:

B1 - não faz mais nada além de aplicar a lei - cobra o preço que cobrava antes (os tais 9 euros), e depois desses 9 euros tira um para o imposto (ou seja, vai passar a ganhar menos 1 euros por corte de cabelo)

B2 - faz umas contas, e conclui que o que perde com a redução do lucro por corte de cabelo é maior do que perderia se subisse o preço, mesmo passando a ter menos clientes, e assim decide subir o preço para 10 euros (mantendo o lucro unitário que tinha antes)

B3 - de novo, faz umas contas, e chega à conclusão que o melhor é mesmo uma situação intermédia - subir o preço, mas menos que um euro (o que quer dizer que o lucro por corte de cabelo diminui alguma coisa, mas menos que um euro); neste cenário, nem a redução da clientela é tanta como no cenário B2, nem a redução do lucro por corte de cabelo é tanta como no cenário B1

Mas, agora, vamos pensar - em termos, tendo do que o barbeiro/cabeleireiro recebe, como do que o cliente paga, o caso A1 é exatamente igual ao B2 (o cliente paga 10 euros e o cabeleireiro/barbeiro recebe 9); o caso A2 também é exatamente igual ao caso B1 (o cliente paga 9 euros e o cabeleireiro/barbeiro recebe 8); e as várias variantes de A3 também correspondem a variantes de B3. Desta forma, podemos assumir que a clientela e os lucros do barbeiro/cabeleireiro serão as mesmas em A1 e B2, e também serão iguais em A2 e B1 (ou em A3 e B3).

Mas isso quer dizer que, se no cenário que diz que é o cliente que paga o imposto, A1 for mais lucrativo (para o barbeiro/cabeleireiro) que A2, então no cenário em que é o barbeiro/cabeleireio a pagar o imposto, B2 também é mais lucrativo que B1, e vice-versa - ou seja, se no primeiro cenário for mais lucrativo cobrar mesmo o imposto ao cliente, então no segundo cenário também é mais lucrativo repassar o imposto ao cliente via aumento de preços; e, inversamente, se no primeiro cenário for mais lucrativo o barbeiro/cabeleireiro suportar ele o imposto que era para ser pago pelo cliente, também é mais lucrativo no segundo cenário não aumentar o preço final e suportar ele efetivamente o pagamento do imposto. Da mesma maneira, se no primeiro caso a hipótese intermédia (baixar o preço menos que um euro) for a mais lucrativa, no segundo caso essa hipótese (agora, subir o preço menos que um euro) também o será

Em suma, é indiferente quem a lei diz que vai pagar o tal euro - pode ser o cliente, o barbeiro/cabeleireiro ou ser dividido entre os dois, mas essa divisão é independente do que for estabelecido por lei.

Um detalhe - neste meu exemplo o imposto é um valor absoluto (1 euro); se fosse uma percentagem a coisa alterava-se ligeiramente, já que o vendedor pagar, p.ex., 10% de impostos não é a mesma coisa que o cliente pagar 10% de imposto, já que no primeiro caso os 10% incidem sobre o preço final e no segundo sobre o preço antes de impostos - os seja, 10% pagos pelo vendedor é a mesma coisa que 11,111% pagos pelo comprador (ou, no geral, uma taxa "t" paga pelo vendedor é equivalente a uma taxa "t/(1-t)" paga pelo comprador); mas a ideia fundamental mantêm-se: a lei dizer se é o vendedor ou o comprador a pagar o imposto não têm influência sobre quem o vai efetivamente pagar (no máximo, poderá ter alguma influência no montante a ser pago).

Nas conversas do dia-a-dia é frequentemente expressa uma opinião vagamente parecida com o que escrevo acima: "é sempre o consumidor final a pagar"; mas isso também é um erro (ainda que provavelmente não seja um erro tão grande como assumir que quem vai pagar é quem a lei diz que vai pagar) - não é obrigatório que seja o consumidor final que vai pagar: se acharem que um aumento de preços vai originar uma grande redução da procura, os vendedores podem optar por baixar o preço nominal e suportarem eles o aumento do impostos (como nos exemplos A2 e B1 acima); o meu ponto é que, se o fizerem, vão fazê-lo de qualquer maneira (independentemente do que a lei diga). Numa regra geral, podemos dizer que o imposto vai recair sobretudo sobre quem tiver um comportamento mais rígido - se os consumidores comprarem quase a mesma quantidade do bem/serviço em questão, independentemente das subidas ou descidas de preços, os vendedores vão fazer recair o imposto sobretudo sobre os clientes; se, pelo contrário, uma pequena subida/redução de preço originar grandes reduções/aumentos da procura, os vendedores tenderão a assumir eles o imposto.

[Um exemplo de uma situação em que, ao que tudo indica, o imposto era mesmo pago pelo vendedor - com o descida do IVA sobre a restauração, a sandes de fiambre que eu costumo comer todos os dias subiu de 0,81 cêntimos - 1 euro de preço final - para 0,89 cêntimos - 1 euro de preço final; isso quer dizer que quem estava a suportar a diferença entre o IVA de 23% e o de 13% era mesmo o vendedor, que estava a deixar de ganhar 8 cêntimos por sandes]

Por vezes, nestas discussões sobre quem realmente ganha ou perde com alterações de impostos surge o inevitável (sobretudo da parte dos autores da alteração) "Claro, tem que haver fiscalização" (lembro-se desta conversa quando um governo anterior baixou o IVA sobre os ginásios); mas fiscalizar o quê? O estabelecimento comercial que reage a uma descida do IVA subindo o preço nominal e deixando o preço de venda ao público na mesma não está a cometer nenhum crime (está simplesmente praticando um ato de gestão), logo o que é que se vai fiscalizar?

Uma nota final - neste momento, os leitores já estarão a pensar "Mas então, todas aquelas manifestações contra as alterações à TSU? Quer dizer que foram uma perca de tempo? Afinal, se é indiferente quem a lei diz que paga a taxa..."

Não exatamente - subir 7 pontos percentuais na TSU do trabalhador e baixar 7 pontos na TSU do empregador seria de facto irrelevante para os contratos de trabalho que fossem assinados a partir daí para a frente (já que empregadores e trabalhadores iriam estabelecer o valor nominal do salário tendo já em atenção as contribuições respetivas) - mas não o seria para os contratos de trabalho já estabelecidos (que imagino fossem a maioria esmagadora dos assalariados nesse momento), em que os trabalhadores que tinham assinado um contrato dizendo que iam ter um ordenado de 600 euros (esperado descontar 66 euros para a Segurança Social) iam ver-se, de repente, a descontarem mais 42 euros por mês (além de outros pontos, como a redução da contribuição patronal não ser de 7 pontos mas apenas de 5,75 - representando portanto um aumento total das contribuições em 1,25 pontos - e também a redução implícita do salário mínimo líquido que iria ocorrer).

Leitura adicional - Tax incidence (Wikipedia)

Monday, January 09, 2017

O relatório dos serviços secretos dos EUA sobre a "ingerência" russa

Is That All There Is? Intel Community Releases Its Russia 'Hacking' Report, por Daniel McAdams (Ron Paul Institute for Peace and Prosperity):

The much-anticipated Intelligence Community report backing up its claims that the Russians hacked the US elections in November has just been released. Titled "Declassified Intelligence Community Assessment of Russian Activities and Intentions in Recent US Elections," the report is long on speculation and short on any evidence for the claims it was supposed to prove. It even came with a warning label stating that though the conclusions are reached with "high confidence," that "does not imply that the assessment is a fact or a certainty; such judgements may be wrong." We who lived through the 2002 "high confidence" in Iraqi WMDs remember this possibility well. (...)

Perhaps most surprising about the report -- and perhaps as a result of the paucity of evidence for the claims of "hacking -- is that a full third of its length is dedicated to quite unsophisticated criticism of the Russian television station RT.

What's the $80-plus billion dollar per year US Intelligence Community's big beef with RT? One of its big complaints is that RT undermined US democracy when it "broadcast, hosted, and advertised third-party candidate debates..." We are to believe that Russia undermined our political system by giving voice to official yet minor US political parties? Democracy is undermined when the democratic process is highlighted? (...)

he Kremlin funds RT to the tune of $190 million per year, states the report, and its audience keeps growing. The report does not mention that the US government spends vastly more -- $780 million for 2017 -- on its worldwide propaganda effort through the government-funded Broadcasting Board of Governors. Do what we say but not what we do. But then again, as National Intelligence Director James Clapper told the Senate yesterday, pointing out US government hypocrisy is itself indicative of a Russian influence operation in action.

Another problem the US spy agencies have with RT is that it reports on the surveillance state created by those same spy agencies. The Report states, "RT's reports often characterize the United States as a 'surveillance state' and allege widespread infringements of civil liberties." So RT is guilty of being a Kremlin plot to undermine our freedom because it points out that the US government has already undermined our freedom?
[Via Antiwar.com]

Wednesday, January 04, 2017

Grécia limita o uso de dinheiro (versão "notas e moedas")

Greece bans cash: Tax-allowance possible only through payments via plastic money (Keep Talking Greece):

Greece is banning the use of cash the soft way. As of 1.1. 2017, taxpayers will be granted tax-allowance and tax deduction only when they have made payments via credit or debit cards. The new guidelines refer to employees, pensioners, farmers but also unemployed.
A intenção provavelmente não é essa (possivelmente é para combater a evasão fiscal), mas suspeito que uma maior generalização do uso de "dinheiro de plástico" tornará mais fácil a Grécia resistir a uma repetição dos acontecimentos do verão de 2015.

Relembrando o que aconteceu:

- A Grécia suspendeu os pagamentos da dívida ao FMI
- O BCE limitou a linha de crédito aos bancos gregos
- Esperando que em breve os bancos ficasse sem dinheiro e/ou só com "novos dracmas", foi tudo levantar o dinheiro
- Com uma corrida aos bancos, e estes com os cofres mais vazios a cada minuto, o governo limitou os levantamentos bancários
- Após uma semanas com os levantamentos limitados (e com rumores que mesmo assim os bancos se estavam a esvaziar), o governo grego acabou por ceder

Agora imaginemos como seria se o uso do "dinheiro de plástico" estivesse mais generalizado na Grécia - seria possível limitar ou até suspender mesmo os levantamentos bancários sem isso  criar problemas de maior (já que as pessoas poderiam fazer os seus pagamentos com cartão); assim, a Grécia poderia (ou poderá?) resistir melhor a um corte de liquidez por parte do BCE.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]