Tuesday, September 30, 2014

Quem deve contratar os nadadores-salvadores?

Helena Matos critica a ideia da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores de estes deixarem de ser contratados pelos concessionários dos zonas concessionadas e passarem a ser contratados pelas autarquias, sendo criada uma taxa paga pelos comerciantes para isso.

Não é muita claro se a proposta da FPNS é todos os comerciantes pagarem essa taxa, ou só os das zonas abrangidas pela proteção dos nadadores; no entanto, as pessoas que eu conheço que exploram apoios de praia têm maioritariamente a opinião de que faziam mais sentido eles pagarem (mais) alguma coisa à Câmara ou à Capitania para estas contratarem os nadadores-salvadores, em vez de terem que ser eles a fazer isso (a vocação deles é servir refeições e alugar cadeiras de praia, não contratar nadadores-salvadores, e ainda por cima cada qual ter os seus nadadores levanta problemas adicionais, como cada concessionário ter que contratar dois nadadores, para quando um deles está ausente, enquanto que se os nadadores fossem contratados em bloco para a praia toda possivelmente não seria necessário ter que os contratar em dobro).



Monday, September 29, 2014

Marés


Sunday, September 28, 2014

Propaganda subliminar?

Hoje a "Vida Selvagem" da SIC falava dos animais selvagens (como os peneireiros) de Lisboa e do empenho da Câmara Municipal em os proteger.

Friday, September 26, 2014

"Intuição" e "intuitivo"

Uma coisa que me ocorreu há dias (mais exatamente, vendo a edição do domingo passado do "Ponto e Contraponto" do Pacheco Pereira) é como o substantivo "intuição" e o adjetivo "intuitivo" são usados de forma diferente na linguagem do dia-a-dia. Um é suposto referir-se ao outro, e ambos têm um significado associado a "algo que se acredita quase automaticamente, sem precisar de pensar para chegar a essa conclusão". No entanto, quando se diz que algo é "intuitivo" o significado é "algo que parece tão evidente e óbvio que nem é preciso pensar"; já "intuição" costuma ser usado como se fosse algo quase místico, em que dizer que alguém "usa a sua intuição" quer dizer que esse alguém está a seguir ideias "estranhas" sem grande fundamentação (é quase um sinónimo de "imaginação"). Pondo de outra maneira - o adjectivo "intuitivo" costuma referir-se a "ideias normais em que se acredita automaticamente sem precisar de pensar", e o substantivo "intuição" costuma referir-se a "ideias estranhas em que se acredita automaticamente sem pensar" (de certa forma, pelo menos em português, "intuitivo" acaba por estar mais associado a "senso comum" do que a "intuição").

Cooperação voluntária e a ideia de "nação"

Carlos Guimarães Pinto escreve que «O Liechtenstein, um dos mais pequenos países do Mundo, atribuiu o direito constitucional de secessão a cada uma das suas 11 regiões. Uma verdadeira nação só pode ser construida nesta base. A força pode juntar um grupo de territórios, mas só a cooperação voluntária torna esse agregado territorial numa nação. O Reino Unido é hoje muito mais uma nação do que ontem.»; a tal Samuel da Paiva Pires responde que «o autor do post não operacionaliza conceptualmente o que entende por "nação", o que, todavia, não o inibe de avançar para a utilização do qualificativo "verdadeira"» e que «decreta o autor que só (e sublinho a utilização da palavra "só") a cooperação voluntária torna um agregado territorial numa nação. Não é sequer necessário pensar muito para encontrar bastos e diversos exemplos que permitem perceber quão errada é esta proposição. A não ser, claro, que o autor parta de uma definição de "nação" que exclua as conceptualizações teóricas mais comuns».

Mas a visão de Carlos Guimarães Pinto sobre o que é uma nação será assim tão exótica? O próprio Samuel de Paiva Pires remete para um texto dele sobre o conceito de nação [pdf], onde a dada altura apresenta duas tradições distintas:

Estes dois entendimentos correspondem, grosso modo, à distinção entre nação entendida de forma subjectiva e de forma objectiva. A concepção objectiva é tributária de diversos autores alemães, franceses e britânicos, não apenas da concepção racial germânica, como sejam Gobineau, Otto Amon, Vacher de Lapouge, Augustin Thierry e H. Stewart Chamberlain. A componente germânica não deixa de ganhar particular relevo, definindo-se nação “por um conjunto de características objectivas, exteriores e hereditárias que se impõem aos indivíduos”, nomeadamente, “a raça ou etnia, a língua, depois o território, os costumes e a religião”, que se constituem como critérios definidores de uma nação, “facto que alheia o nível de consciencialização e qualquer atitude voluntária por parte das populações em questão”. (...)

Por outro lado, a concepção subjectiva, tem como grande precursor o já referido
Ernest Renan, autor que desde logo aponta factos que obstam à concretização da nação
assente em noções de raça, território, língua ou religião. Nem a Alemanha escapa à
mistura de sangue, até porque a história humana difere da zoologia; os Estados Unidos e a Inglaterra, a América espanhola e Espanha, Portugal e o Brasil, são apenas exemplos de diferentes nações que falam a mesma língua, ao passo que a nação suíça alberga várias línguas; a religião tornou-se, em grande parte, um assunto do foro individual, em que cada um crê e pratica o que quer; e, por último, em relação ao território, acreditar que os limites de uma nação advêm da geografia, é apenas uma arbitrária justificação para a violência. Definindo-a primeiramente de forma negativa, i.e., em relação ao que não é, Renan conceptualiza positivamente a nação como “uma alma, um princípio espiritual. Duas coisas que, a bem dizer, são apenas uma, este princípio espiritual. Uma está no passado, outra no presente. Uma é a posse em comum de um rico legado de recordações; a outra é o consentimento actual de, o desejo de viver em conjunto, a vontade de continuar a fazer valer a herança que se recebeu indivisa.

[Essas duas definições de nação fazem-me lembrar do que escrevi aqui, de que tanto principio da soberania dos estados como o principio do direito dos povos à auto-determinação são frequentemente englobados na designação "soberania nacional"]

Ora, se pegarmos na definição "subjectiva" de nação (que requer o tal "desejo de viver em conjunto"), efetivamente faz sentido assumir que uma "nação" é tanto mais "nação" quanto a sua existência for o resultado do consentimento voluntário dos individuos (ou, no mínimo, das localidades/municipios/provincias/regiões/etc.) que a compoêm (já que se as partes constituintes de uma nação estiverem lá a contragosto, quer dizer que não há "desejo de viver em conjunto").

Ainda vagamente a respeito deste assunto (só nos últimos parágrafos), também o meu post O neo-nasserismo de Helena Matos

Thursday, September 25, 2014

Estratégia de optimização temporal?

Informações que, a serem verdadeiras, serão altamente comprometedoras para o primeiro-ministro, e que deveriam há muito ser conhecidas (já que é um assunto antigo, do século passado) no meio do jornalismo político lisboeta, começam a ser divulgados poucos dias antes de...

"Assédio sexual" e "piropos"

O Bloco de Esquerda apresentou uma proposta de lei criminalizando o "assédio sexual", nos seguintes termos:

“Artigo 163.º-A

Assédio sexual

1. Quem, reiteradamente, propuser ou solicitar favores de natureza sexual, para si ou para terceiros, ou adotar comportamento de teor sexual indesejado, verbal ou não verbal, atentando contra a dignidade da pessoa humana, quer em razão do seu caráter degradante ou humilhante, quer da situação intimidante ou hostil dele resultante, é punido com pena de prisão até 3 anos, se pena mais grave não lhe couber por outra disposição legal.

2. São puníveis, nos termos do número anterior, os comportamentos de conotação sexual, verbal ou não verbal, que, ainda que não reiterados, constituam uma grave forma de pressão com o fim real ou aparente de obter, para si ou para terceiros, ato de natureza sexual.

3. Consideram-se circunstâncias agravantes, cujas penas são agravadas de um terço, nos seus limites mínimo e máximo, os atos praticados:

a) por alguém que abusa de autoridade, derivada das funções exercidas;

b) contra menor de 16 anos;

c) contra pessoa, cuja particular vulnerabilidade é do conhecimento do autor, em razão de deficiência, idade, doença, gravidez, vulnerabilidade económica ou social;

d) em coautoria.”

Esta proposta está a ser referida na comunicação social como "proibição do piropo"...

Admito que sem o "reiteradamente" no ponto 1 ou o "grave forma de pressão" no ponto 2 talvez pudesse ser interpretado dessa maneira, mas creio que esses qualificativos mudam tudo.

Thursday, September 18, 2014

Bens supérfluos, essenciais e indivisibilidade

Imaginemos dois produtos - o produto A é considerado um produto essencial e custa 200 euros; o produto B é considerado um produto supérfluo e custa 50 euros; ambos os produtos são indivisiveis (isto, não é possível comprar 0,2 unidades de um deles).

Se alguém tiver 300 euros para gastar (e assumindo que não os vai gastar noutros produtos), qual será a melhor forma de os gastar (vamos admitir que a utilidade para o consumidor do produto essencial é maior que a do supérfluo; vamos também admitir que a utilidade - pelo menos de uma unidade - do bem é maior que a utilidade atribuida ao dinheiro que ele custa)? Comprar uma unidade de A e outra de B (e ainda sobra dinheiro).

E se tiver só 220? Comprar uma unidade de A.

E se tiver só 100? Comprar pelo menos uma unidade de B (eventualmente duas, se a utilidade marginal de B não for muito decrescente).

Ou seja, o consumo de B varia de forma não regular com o dinheiro disponível - tanto o consumidor que tem 100 euros como o que tem 300 compram mais B do que o que tem 220 euros.

Assuntos relacionados:

- A tendência para os modelos micro-económicos mais tradicionais serem construídos assumindo a premissa de bens perfeitamente divisíveis

- A clássica conversa de café "Pois, vivem numa casa da camâra e os filhos têm todos escalão A na escola, mas o que é certo é que tem um smartphone ultimo modelo"

Monday, September 15, 2014

Ainda os ciclos económicos

Quem ache interessante este assunto, pode também dar uma olhada nesta discussão no blogue Desvio Colossal, do Pedro Romano

Wednesday, September 10, 2014

O que está realmente a acontecer com as mulheres yazidis?

Segundo o Washington Post (via Razib Khan), as mulheres e raparigas yazidis capturadas pelo "Estado Islâmico" estão presas à espera que se convertam ao islamismo, mas até se converterem os jihadistas não lhes tocam (não, claro, por qualquer respeito por elas, mas porque a corrente do islamismo que professam acham que os muçulmanos não se podem misturar com "pagãs", só com muçulmanas, cristãs ou judias).

segundo o Observador e o La Reppublica, as raparigas yazidis capturadas estarão a ser violadas várias vezes por dia.

As noticias não são necessariamente contraditórias - as regras em diferentes campos de prisioneiros podem ser diferentes, e uma noticia é quase um mês posterior a outra (e, no meio de uma guerra, num mês muita coisa pode mudar). À partida, acredito mais na noticia do Observador (está mais de acordo com o que normalmente acontece em guerras civis, e de qualquer maneira creio que o que a lei islâmica proíbe é só casamentos com "pagãs", não qualquer tipo de contacto sexual com "pagãs"; só aquela parte dos telemóveis - os jihadistas terem devolvido os telemóveis às raparigas para estas puderem ligar aos pais contando-lhes que são violadas todos os dias - é que me parece mais esquisita, mas é capaz de fazer sentido numa lógica de aterrorizar o inimigo), mas onde quero chegar é que parece boa ideia  filtrar cuidadosamente todas as "noticias" que chegam da guerra civil sírio-iraquiana, já que pelos vistos várias serão falsas.

Wednesday, September 03, 2014

Leituras: Anarchy in Kurdistan?, Jesse Walker

"The Kurdistan Workers' Party, or PKK, has been active in the Kurdish parts of Turkey since the '70s. It has a sometimes sordid history: Its politics were Marxist-Leninist, and its willingness to kill prisoners and civilians earned a rebukefrom Amnesty International. Its leader, Abdullah Öcalan, has been under arrest since 1999, but its armed struggle with the Turkish state continued until a ceasefire was reached last year.
I was vaguely aware of all that, and I may even have read at some point that Öcalan had recently rejected his old Leninist outlook and terrorist tactics, proclaiming a newfound devotion to democracy. What I did not realize was what brand of democracy had attracted Öcalan's interest. Somehow, he became smitten with the American left-anarchist Murray Bookchin. He appears to be particularly interested in Bookchin's idea of devolving power to cities governed by neighborhood assemblies.
I just called Bookchin an anarchist, but by the time he died Bookchin had rejected that label, calling himself a "Communalist" instead. But I'm not writing this post to discuss Bookchin's ideas—the curious reader can check out my obit for him here and Reason's interview with him here—so much as just to express my astonishment to see Bookchinism bubbling up in the PKK, of all places.
ROAR has more on Öcalan's evolution here. Bookchin's partner Janet Biehl discusses these developments here. Some left-anarchists greet the PKK's conversion with a mixture of interest and skepticism here. Kevin Carson is enthusiastic here. The most blistering critique of Bookchin ever written is here. A latebreaking correction to my Bookchin obit is here." 
http://reason.com/blog/2014/09/03/anarchy-in-kurdistan