Uma ideia que tem sido proposta (e que já referi há uns tempos aqui) é a de os bancos centrais porem o dinheiro em circulação, não através dos métodos que fazem agora (emprestando dinheiro aos bancos e/ou comprando títulos - nomeadamente títulos de divida pública), mas simplesmente distribuindo dinheiro diretamente pelas pessoas (o chamado "quantitative easing para as pessoas"/"dinheiro de helicóptero"; e acho que também poderíamos incluir o "crédito social", que defendia algo muit parecido há quase 100 anos atrás) - ou então emprestando esse dinheiro aos estados que por sua vez o distribuiriam pelos cidadãos (o que no final é quase exatamente - só com a nuance que vou referir no próximo parágrafo - a mesma coisa, ainda que contabilisticamente diferente).
Diga-se que este sistema de pôr dinheiro em circulação tem um potencial problema - no sistema tradicional, é fácil o banco central, se for necessário, reduzir a massa monetária em circulação: é só vender parte dos títulos acumulados, ou então conceder novos empréstimos a um ritmo inferior ao que os empréstimos anteriores vão sendo pagos; já num sistema em que o banco central emita dinheiro dando-o (em vez de emprestando-o ou comprando alguma coisa com ele) não é muito claro como se poderia reduzir a quantidade de dinheiro (diga-se que, na variante em que formalmente o banco central empresta ao estado, e que depois este distribui o dinheiro pelas pessoas, é mais fácil a redução - o banco central simplesmente empresta menos ao estado do que este devolve dos empréstimos passados, e nesse ano o estado lança um imposto em vez de distribuir o subsídio; a grande diferença aqui é que um estado tem autoridade para cobrar impostos e um banco central não).
Mas agora a questão é quanto isso representaria, esse dinheiro distribuído por cada pessoa?
Indo ao site do Banco Centra Europeu, temos as estatísticas, tanto da moeda em circulação (isto é, notas + moedas), como do chamado M1 (isto é, notas+moedas+depósitos à ordem). Estes são os valores em dezembro de cada ano (em billions de euros, o que eu presumo queira dizer milhares de milhões de euros):
| moeda em circulação | M1 = moeda em circulação + depósitos à ordem | | dif | dif M1 |
2016 | 1073 | 7189 | | 38 | 591 |
2015 | 1035 | 6598 | | 68 | 690 |
2014 | 967 | 5908 | | 57 | 512 |
2013 | 910 | 5396 | | 46 | 310 |
2012 | 864 | 5086 | | 22 | 304 |
2011 | 842 | 4782 | | 46 | 98 |
2010 | 796 | 4684 | | | |
De dezembro de 2015 a dezembro de 2016, a quantidade de notas e moedas em circulação terá aumentado em 38 mil milhões de euros; se esse aumento fosse feito distribuindo esse dinheiro pelos 340 milhões de habitantes da zona euro, seria o equivalente a pagar a cada europeu um subsidio mensal de 9 euros (hum, não é lá muito impressivo...). De 2010 a 2016, o subsidio oscilaria entre cerca de 5 euros/mês (em 2012) e 16 euros/mês (em 2015).
No entanto, estes valores seriam muito maiores se o "QE para as pessoas" fosse conjugado com outra medida (que ultimamente tem sido defendida por muitos economistas, talvez até mais na direita do que na esquerda) - proibir os bancos de concederem empréstimos a partir dos depósitos à ordem; tal iria fazer com que o M1 fosse idêntico à moeda em circulação (já que seria exatamente igual ter o dinheiro na carteira ou num depósito à ordem), o que levaria a que o BCE tivesse que emitir muito mais dinheiro para compensar o facto de os bancos já não poderem eles criar moeda pelo método de emprestar dinheiro depositado à ordem. Isto é capaz de ser um pouco mais complicado, mas numa versão simplificada poderemos assumir que assim o BCE iria imprimir (e distribuir) dinheiro equivalente ao aumento do M1 - nesse caso, em 2016 equivaleria a um subsidio por pessoa de 144 euros/mês (oscilando entre 24 euros em 2011 e 169 euros em 2015).
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