Saturday, August 31, 2019

Analogia para o Brexit

Toda a situação com o Brexit é mais ou menos isto

- No referendo ao aborto, em Portugal, ganhava o sim (como ganhou)

- Na sequência do referendo, o PS apresentava na Assembleia da República, uma proposta para legalizar o aborto, mas apenas em clínicas privadas e sem ser subsidiado pelo Serviço Nacional de Saúde; essa proposta era rejeitada com os votos contra o BE, do PCP, do CDS, da maioria dos deputados do PSD e até de alguns do PS (é neste ponto que esta alegoria se começa a distinguir da realidade)

- O BE e o PCP apresentam propostas para o aborto ser legalizado, e efetuado de forma gratuita no SNS; essas propostas eram rejeitadas com os votos contra do PSD, do CDS e da maioria dos do PS.

- Esta situação arrasta-se durante anos, com votações ocasionais de propostas (sempre rejeitadas) na AR, e o aborto mantêm-se ilegal

- Um novo primeiro-ministro, ligada à ala esquerda do PS, decide que é altura de legalizar mesmo o aborto e apresenta uma proposta similar às do BE e do PCP; mas como sabe que grande parte do grupo parlamentar do PS não vai votar nela, em vez de apresentar uma lei, faz um decreto-lei

- O PSD e o CDS anunciam que vão pedir a ratificação do decreto-lei na AR; "fontes próximas" da direção do grupo parlamentar do PS dizem que muitos deputados do PS vão-se juntar à direita para chumbar o decreto-lei

- Para impedir o parlamento de chumbar o decreto-lei, o governo lança mão de uma manobra tecnicamente legal mas politicamente pouco ortodoxa: a ASAE faz uma inspeção surpresa ao Palácio de São Bento e conclui que a parte em que funciona o parlamento não tem condições de funcionamento devido a uma praga da gafanhotos (a parte onde vive o primeiro-ministro estava boa), tendo o parlamento que suspender o seu funcionamento (de forma que se esgotam os prazos para o parlamento submeter a votação o decreto-lei, que assim entra em vigor)

Em nem sei se este cenário seria sequer possível pela lei portuguesa, mas dá-me a ideia que é o mais parecido com a situação britânica.

Ainda a suspensão da democracia parlamentar no Reino Unido

Johnson suspends parliament to force a crash out Brexit, por Simon Wren-Lewis:

On Brexit at least (and who knows what may be next) UK democracy has been suspended. Yesterday the Prime Minister drastically reduced the number of days parliament will sit until we automatically crash out of the EU. On the critical issue of Brexit, the Prime Minister has become an unelected dictator. He intends to use his dictatorial power to restrict the supply of medicines and food to the British people. (...)

Like so much in the UK’s unwritten constitution, the Queens right to decide when parliament sits is a hangover from our history that has been allowed to remain because it was understood that the Queen would follow the advice of the Prime Minister (the last monarch that didn’t had his head cut off) and the Prime Minister would respect the will of the parliament. In the UK parliament is sovereign, but only because there were unwritten norms that assumed no government would be undemocratic enough to disobey. (...)

Does this affront to democracy matter if it is restricted to the issue of Brexit, where a referendum voted to leave? It matters because in that referendum the Leave side only talked about leaving with a deal. That is the mandate that this advisory referendum provided - to leave with a deal. So leaving with no deal does not even respect the referendum.result.
Umas notas:

- como já escrevi, acho que o melhor era um referendo final a duas voltas com três opções - sair sem acordo, sair pelo acordo negociado pela May e a UE e não sair

- penso que o grande problema desta suspensão do parlamento talvez não seja tanto esta suspensão especifica, mas sobretudo, num país sem constituição escrita e que depende muito de "normas de boa educação", ter-se estabelecido o principio que é aceitável um governo suspender o parlamento por razões políticas, para evitar perder uma votação








Friday, August 30, 2019

Mundo da tecnologia

Queria ler um artigo sobre um empresa no Winscosin que tinha chipado os seus empregados, mas apareceu-me isto (isto é fácil de ultrapassar, mas toda esta situação é interessante como símbolo do nosso mundo de alta tecnologia e dos controlos a ela associados)

Sugestão de solução para o Brexit

- O Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte dava a independência à Inglaterra (que assim ficaria automaticamente fora da UE)

- O RU retirava o pedido de saída da UE

- Eventualmente o RU poderia alterar a sua bandeira (talvez incluindo também a mão vermelha do Ulster e o dragão de Gales, além da combinação da cruzes de São Jorge, São Patrício e Santo André), pelo que a bandeira anterior, ficando livre, poderia ser reclamada pelo Reino de Inglaterra, se esta assim o quisesse

- Os bens do Reino Unido (incluindo as forças armadas) seria divididos proporcionalmente, ficando a maior parte para o novo Reino de Inglaterra

Vantagens:

- A Inglaterra saia da UE, e penso que não há grandes dúvidas que a maioria dos ingleses quer sair da UE mesmo num caso de hard brexit (com barreiras alfandegárias e outras a limitarem as exportações inglesas para a UE)

- Grande parte dos brexiters já deram a entender que, para terem o Brexit, estão dispostos a aceitar o fim da RU (que era exatamente o que aconteceria aqui)

- A franja céltica votou remain e ia tê-lo

- Pelo menos no caso dos escoceses, há fortes indicios que, para não terem o Brexit, estão dispostos a aceitar o fim da RU (que, de novo, era exatamente o que aconteceria aqui)

- resolvia-se o problema da Irlanda do Norte e da fronteira hard ou soft (nota - uma variante seria alguns bastiões protestantes continuarem sobre soberania inglesa, e aí haveria um fronteira entre eles e o resto da Irlanda do Norte)

- Não havia o problema de a Escócia ter que ser aceite pela UE: o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte (com as suas três nações constituintes - Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) continuaria simplesmente com o seu lugar na UE

Desvantagens:

- Isto era capaz de dar uma enorme confusão sobre quem ficaria com o lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU

- As armas nucleares inglesas provavelmente ficariam ilegais de acordo com o Tratado de Não Proliferação Nuclear

- O que é que se fazia com os territórios ultramarinos (Gibraltar, Falklands, etc.) e com as dependências da Coroa (Jersey, Man, Guernsey, etc.)?

Thursday, August 29, 2019

O Financial Times sobre a suspensão do parlamento britânico

Boris Johnson’s suspension of parliament is an affront to democracy (Financial Times - artigo aberto a não-assinantes, pelos vistos):

Boris Johnson has detonated a bomb under the constitutional apparatus of the United Kingdom. The prime minister’s request to the Queen to suspend parliament for up to five weeks, ostensibly to prepare a new legislative programme, is without modern precedent. It is an intolerable attempt to silence parliament until it can no longer halt a disastrous crash-out by the UK from the EU on October 31. The seat of British democracy, long admired worldwide, is being denied a say on the most consequential decision facing the country in more than four decades. So, too, are the British people — in whose name Mr Johnson claims to be acting. It is time for parliamentarians to bring down his government in a no-confidence vote, paving the way for an election in which the people can express their will.
Mas suspeito que a parte de levar o parlamento a destituir o governo e realzarem-se novas eleições é o plano dos Conservadores desde o princípio.

Réplica perfeita do comportamento humano?

Sex robots with 'coding errors' prone to 'violence and could strangle humans' (Daily Star).

Causas da morte de Epstein


Wednesday, August 28, 2019

Democracia parlamentar suspensa no Reino Unido?

Brexit: Boris Johnson anuncia suspensão do Parlamento até 14 de outubro (Sapo 24):

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou hoje que o Parlamento vai ser suspenso durante a segunda semana de setembro e até 14 de outubro, duas semanas antes da data prevista para o ‘Brexit’, a 31 de outubro.

Trump pode obrigar as empresas norte-americanas a sair da China?

Trump Aides Say He Has Power to Force Companies From China, por Reade Pickert, Shawn Donnan e Mark Niquette (Bloomberg):

Two top White House officials said President Donald Trump has the authority to force American companies to leave China -- as he claims, and which trade experts question -- yet whether he invokes those powers is a another question.

Treasury Secretary Steven Mnuchin, speaking on “Fox News Sunday” from the Group of Seven meeting in Biarritz, France, said Trump would have the ability under the International Emergency Economic Powers Act, if he declared an emergency. White House economic director Larry Kudlow agreed, in an interview on CNN’s “State of the Union,” but said “there’s nothing right now in the cards” to do so.

Tuesday, August 27, 2019

EUA: auto-organização popular contra as deportações

When ICE Comes for Their Neighbors, These Community Defense Brigades Will Be Ready, por Elizabeth King (In These Times):

In the era of Trump, communities are organizing foot and bike patrols to protect their neighbors against immigration raids.

Monday, August 26, 2019

As "assembleias populares" em Porto Rico

Puerto Ricans Hold Town Assemblies To Figure Out Next Steps Following Rosselló's Exit, por Adrian Florido (NPR):

After Puerto Rico Gov. Ricardo Rosselló left office, the protesters who forced him out are trying figure out what's next. They're organizing "people's assemblies" on town squares across the island.

Sunday, August 25, 2019

Reino Unido : suspender a democracia parlamentar por 5 semanas

Boris Johnson seeks legal advice on five-week parliament closure ahead of Brexit (The Guardian / The Oberver):

Boris Johnson has asked the attorney general, Geoffrey Cox, whether parliament can be shut down for five weeks from 9 September in what appears to be a concerted plan to stop MPs forcing a further extension to Brexit, according to leaked government correspondence.

Saturday, August 24, 2019

Presidente sul-americano a incentivar queimadas na floresta

Evo justifica las quemas: 'Las pequeñas familias, si no chaquean, ¿de qué van a vivir?' (EL DEBER, Noticias de Bolivia y el Mundo):

Plataformas medioambientales piden la derogación de las normas que autorizan el desmonte y las quemas. El presidente Evo Morales dice que si bien hay "necesidad" de quemar la tierra, está dispuesto a debatir

Thursday, August 22, 2019

Raízes da "nova direita" brasileira

The New Brazilian Right, por Nick Burns (American Affairs*), uma análise aparentemente aprofundada das ideias e percursos de Olavo de Carvalho, Ernesto Araújo e de um Bruno Tolentino (de que eu nunca tinha ouvido falar).

O artigo apresenta Ernesto Araújo como uma espécie de William F. Buckley brasileiro, tentando unir liberais e conservadores, e isso fez-me lembrar algo que já me tinha passado pela cabeça: embora seja frequente (a começar pelos próprios) apresentar Bolsonaro como parte do mesmo fenómeno que Trump, Salvini ou Orbán, a mim parece-me que Bolsonaro em muito aspetos é mais uma variante, não do trumpismo, mas do conservadorismo norte-americano pré-Trump - o governo Bolsonaro parece uma versão extremada da combinação "fusionista" de liberalismo económico, conservadorismo social e militarismo, enquanto Trump e os seus congéneres europeus parecem (pelo menos na retórica) nem valorizar muito o liberalismo económico. Aliás, a sociologia dos fenómenos parece confirmar isso - enquanto Trump tem o seu maior apoio entre a classe operária branca, no Brasil parece ter sido a elite instruída que mais apoiou Bolsonaro (pelo menos em termos relativos).

*A American Affairs é uma revista mais ou menos nacional-conservadora

Wednesday, August 21, 2019

A questão da fronteira Irlanda do Norte / Irlanda

The Irish Border and Backstop Explained, por  Dmitry Grozoubinski.

Efeitos inesperados da co-gestão

Companies Might Be Smarter With Workers in the Boardroom, por Noah Smith (Bloomberg):

Referred to as co-determination, this policy -- which has been proposed in the U.S. by Senator Elizabeth Warren -- is often touted as a way to give workers more power to demand better wages and benefits. But its primary benefit might be improving corporate productivity.

A number of economic studies have found this surprising effect. For example, there’s evidence that the 1976 reform boosted total factor productivity at companies subject to the new law. Worker board representation also probably improved shareholder value -- an ironic outcome for a policy that reduces shareholder control. Economists generally cite greater worker input as the reason for these improvements.

Now, a new paper by economists Simon Jäger, Benjamin Schoefer and Jörg Heining sheds even morelight on the issue. Studying a 1994 German reform that abolished mandatory worker  representation for some new smaller companies but locked it in permanently for older ones, the authors found that the companies that were forced to keep workers on the board ended up investing more in fixed capital (buildings, machines, etc.), and becoming more capital-intensive. This added capital, they concluded, raised value added per worker.

Interestingly, Jäger et al. did not find that co-determination had much effect on wages. They were unable to detect any change in the difference between the compensation of lower-end workers and top management, or in the division of income between shareholders and labor. In other words, they found that the main effect of worker representation was not to redistribute the corporate pie, but simply to expand it.

Saturday, August 17, 2019

Manifesto Sindical: “Pela Liberdade e pelo Direito à Greve”

Publicado originalmente na edição do Expresso de 17-08-2019, aqui.
 
No preâmbulo da Constituição da República Portuguesa, onde é exaltado que no dia 25 de Abril de 1974 a resistência do povo português representou uma viragem histórica na sociedade portuguesa.
É ainda aí referido que só foi possível elaborar uma Constituição que correspondesse às aspirações do país devido à Revolução que restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais

A finalizar, menciona ainda o seguinte: “A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno”.

Desde o passado dia 12 de Agosto que temos vindo a observar a luta dos motoristas contra o poder da ANTRAM, a qual tem conseguido condicionar as decisões do Governo.

Por tudo o que se tem passado, não aceitamos que o Governo de Portugal restrinja a liberdade dos Trabalhadores quando estes lutam por melhores condições de trabalho, tal como não iremos ficar impávidos e serenos perante a tentativa do Executivo de restringir o direito à greve, protegendo quem tem mais apoios, inclusive estatais, (Entidades patronais) em detrimento daqueles que lutam dia a dia para o seu sustento e da sua família (Trabalhadores).

Acresce que estamos a falar de trabalhadores que ergueram um novo sindicato em 2018, sem experiência sindical ou politica, e que apenas exigem melhores condições de trabalho, para que sejam cumpridos os desígnios da Assembleia Constituinte que escreveu a Constituição da República Portuguesa, nomeadamente, entre outros direitos, que todos os portugueses sejam tratados por igual, que a lei também seja aplicada às entidades privadas, que o direito à resistência seja protegido quando são atacados os seus próprios direitos, que seja garantido o direito à inviolabilidade da integridade moral, física e do domicilio, e à liberdade e segurança individuais.

Por considerarmos que todos estes direitos foram colocados em causa por um Governo que no presente caso demonstrou várias vezes querer impor à força a manutenção dos lucros exorbitantes das entidades privadas, nomeadamente e em particular da empresa de transportes Paulo Duarte, da Galp e da Vinci, em detrimento de melhores condições de trabalho, estamos dispostos a lutar contra todas as forças que recusem os princípios basilares da nossa Constituição acima mencionados.

E tal como nela está previsto, nenhum trabalhador pode aceitar continuar a receber salários que não garantam uma existência condigna e o trabalho tem que ser prestado em condições socialmente dignificantes, por forma a facultar a realização pessoal e a permitir a conciliação da actividade profissional com a vida familiar.

Com certeza a grande maioria dos portugueses se reveem nestas palavras, pois actualmente vivemos numa sociedade onde ganhar o salário mínimo é o normal e caso alguém se revolte contra isso recebe uma resposta do tipo “se não queres, há mais quem queira”, onde não conseguimos ter tempo suficiente e de qualidade para os nossos filhos, para que estes possam receber os nossos valores e princípios, onde quem luta por melhores condições de trabalho é impedido de o fazer por governos totalitários ou por outros cidadãos que, por estarem tão oprimidos, têm medo de lutar pelos seus direitos e acabam por prejudicar quem tem a coragem de o fazer.

Por tudo o acima exposto, queremos  continuar a defender a garantia de liberdade dos trabalhadores e lutaremos contra quem queira restringir o direito à greve e consequentemente o direito de quem quer lutar por melhores condições de trabalho, sociais e familiares.

Vamos continuar a combater as desigualdades sociais que observamos a crescer dia após dia.
Portugal merece melhor e os portugueses não podem continuar adormecidos.

Será caso para dizer, citando Eduardo Galeano “na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre”.

António Mariano – Dirigente da SEAL; Aurora Lima – Dirigente do S.T.O.P.; Bruno Fialho – Dirigente do SNPVAC; Carlos Ordaz – Elemento da CT SPdH/Groundforce; Egídio Fernandes – Dirigente do SIEAP; João Reis – Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Automóvel – STASA; Manuel Afonso – Dirigente do Sindicato dos Trabalhadores de Call-center; João Pascoal – Movimento Mudar Bancários

[Copiado d'O Estivador]

Thursday, August 15, 2019

Há 50 anos, em Woodstock

Wednesday, August 14, 2019

Os filhos dos "Millenials", à beira de comçarem a entrar na adolescência

Meet Generation Alpha, the 9-year-olds shaping our future, por Ursula Perano:

They're tech heavy, extremely connected and the most senior among them is about 9 years old. Say hello to Generation Alpha. (...) According to McCrindle, a social research agency in Australia, Generation Alpha got its start in 2010, at a rate of 2.5 million births per week. They are primarily the children of Gen Y — Millennials born between 1980 and 1995.

Tuesday, August 13, 2019

O fim do direito à greve

A Lei Da Greve Até Pode Continuar A Existir Formalmente…, por Paulo Guinote:

mas na prática morreu. Como naqueles regimes em que existem formalmente eleições, mas em que os resultados calham sempre à casa, neste momento só existirão greves, no sector público ou privado, quando não perturbar quem manda nos cordelinhos dos serviços máximos e da requisição civil (ou dos militares)

Friday, August 09, 2019

O Reino Unido pode sair da UE a 31 de outubro se o parlamento não quiser?

Can Boris Johnson ignore parliament and force a no deal Brexit?, por Meg Russell e Robert Hazell
(Constitution Unit at the Department of Political Science at University College London).

Para uma visão mais cética, Nothing Compares 2 GNU, por "Phil" (A Very Public Sociologist).

Tuesday, August 06, 2019

A suspensão da democracia parlamentar no Reino Unido por uns tempos - post não-sei quantos sobre o assunto

Brexit: Legal bid to prevent Boris Johnson shutting down parliament (BBC):

A group of politicians has started a legal action aimed at preventing Boris Johnson shutting down parliament to force through a no-deal Brexit.
Sinceramente, pelo que tenho lido acerca do Boris Johnson, não parece nada o tipo de pessoa para fazer o que seria um quase-golpe de Estado (parece-me demasiado bonacheirão e inconstante para isso).

A Elsevier versus o Sci-Hub

Elsevier: "It's illegal to Sci-Hub." Also Elsevier: "We link to Sci-Hub all the time", por Cory Doctorow (Boing Boing):

Yesterday, I wrote about science publishing profiteer Elsevier's legal threats against Citationsy, in which the company claimed that the mere act of linking to Sci-Hub (an illegal open-access portal) was itself illegal.

You'll never guess what happens next.

Elsevier's own journals turn out to be full of links to Sci-Hub.

Monday, August 05, 2019

Voar de avião prejudica necessariamente o ambiente?

Greta, It’s OK to Fly, por Tyler Cowen (Bloomberg):

Greta Thunberg, the 16-year-old Swedish climate activist, recently announced that she will cross the Atlantic Ocean by boat to attend a United Nations global warming summit in New York. She does not believe in flying in airplanes, for the obvious reason that air travel is a contributor to the carbon emissions problem.

I am here with a simple message: Greta, it is OK to fly. Indeed, I encourage you to fly. (...)

But flying isn’t the worst offender when it comes to sources of carbon emissions. Some critics suggest flying accounts for 5% of the world’s carbon emissions, but most estimates put aviation’s share at closer to 2%. Whatever the exact number may be, it is hardly the major problem. (...)

If that isn’t enough for Thunberg, she could ask the airline to let her fly only if there are extra seats on the flight.  (...)

Or think more broadly about how to choose one’s symbolic commitments to combat climate change. Buying a carbon offset, verifiable by an independent third party, seems like a good practical step.
[Eu linkar um artigo não indica necessariamente concordância]

Saturday, August 03, 2019

Causa-efeito entre problemas económicos e estilos de vida desestruturados (II)

Stop Blaming America’s Poor for Their Poverty, por Noah Smith (Bloomberg):

In Japan, people work hard, few abuse drugs, crime is minimal and single mothers are rare. The country still has lots of poverty.
What Noah Smith Gets Wrong about Poverty, por Kevin Williamson (National Review):
Noah Smith has offered a stale slab of conventional wisdom under the hectoring headline: “Stop Blaming America’s Poor for Their Poverty.” The essay compounds sloppy thinking with tedious writing, but it reflects a common line of thinking, the defects of which are worth taking the time to understand.
Why Kevin Williamson is wrong about poverty and bad behavior, por Noah Smith (Noahpinion):
Kevin Williamson of the National Review took issue with my post. In a strongly worded rebuttal, he calls my piece "a stale slab of conventional wisdom", "sloppy thinking", "tedious writing", a "mishmash of tendentious platitudes and misunderstood truisms", and "sloppy analysis, if it counts as analysis at all." Yet despite this vitriol, Williamson fails to substantively rebut any of the points I made. In some cases, his arguments contain logical errors; in others, he simply misunderstands my argument.
Beyond victims and villains, por Scott Sumner (Econlog):
I would suggest replacing the victims and villains approach to poverty with a utilitarian approach. One implication might be to adopt low wage subsidies, which both encourage people to work and also boost the welfare of those who do work. This type of economic policy can make the economy more productive by encouraging employment, and also make it more equitable by boosting the incomes of the poor. I believe that both the US and Japan could benefit from this approach.

Friday, August 02, 2019

Re: Identidade: uma palavra incontornável e perigosa


N' A Destreza das Dúvidas, José Carlos Alexandre escreve sobre as chamadas "políticas da identidade"; alguns comentários meus (pegando nos que fiz no post e desenvolvendo nalguns pontos):

No ocidente,durante quase todo o século XX, os partidos situaram-se num espectro daesquerda à direita – comunistas, socialistas, social-democratas,democratas-cristão, liberais, conservadores. O desejado grau de intervenção do Estado e o empenho na igualdade ou na liberdade individual serviam para situar os partidos (e as pessoas) mais à esquerda ou mais à direita.

O próprio facto de os conservadores estarem à direita dos liberais [e mesmo os democratas-cristãos por vezes são considerados como estando à direita dos liberais – no PE o grupo Liberal e o grupo do PPE foram trocando de lugares ao longo dos anos], apesar dos primeiros serem mais estatistas e (sobretudo) menos individualistas de que os segundos parece demonstrar que não era o “desejado grau de intervenção do Estado e o empenho na igualdade ou na liberdade individual” que distinguia a direita da esquerda, mas sim outra coisa qualquer (se quisermos um critério em que consigamos pôr anarquistas, comunistas e socialistas de um lado e democratas-cristãos, conservadores e fascistas do outro, com liberais no meio, para mim o mais certeiro será mesmo “a culpa é da sociedade” versus “a vida - pelo menos nesta existência terrena - é dura”; Rousseau contra Hobbes; já essa tal conversa de “igualdade versus liberdade” , e sobretudo a parte da “liberdade” não faz grande sentido porque só é válida no sub-intervalo que vai de comunistas a liberais, mas não nem à esquerda desse intervalo – os anarquistas são mais libertários que os comunistas – nem à direita – democratas-cristãos, conservadores e fascistas são menos libertários que os liberais).

Poderá se dizer que a conversa da igualdade versus liberdade é uma "simplificação", mas a mim parece-me uma "simplificação" que complica mais do que simplifica: numa cultura anglo-saxónica, talvez passe como simplificação (e dá-me a ideia que há realmente uma fração desproporcionada de pessoas com uma formação anglo-saxónica entre quem vem com essa ideia), mas numa cultura latina só gera uma enorme confusão, porque na tradição política dos países latinos (e/ou de dominação cultural francesa) a palavra "direita" evoca sobretudo Salazar, Franco (e o "campo nacional" da Guerra de Espanha), os "absolutistas" do século XIX, a Action Française, o catolicismo ultramontano, os fascismos e autoritarismos do período entre guerras, as juntas militares da América Latina do tempo da Guerra Fria, a defesa da "Argélia Francesa" ou do "Portugal do Minho a Timor", etc. ou na melhor das hipóteses alguns políticos democráticos que apresentavam como principal cartão de visita serem "líderes fortes acima de partidos e ideologias" e que eram frequentemente acusados pela oposição de serem "autoritários" (como De Gaulle ou mesmo o nosso Cavaco Silva). Basicamente, se formos pegar na tipologia que divide a direita entre "legitimista" (tradicionalista, monárquica, católica...), "bonapartista" (populista, culto do líder carismático...) e "orleanista" (liberal), eu diria que as tradições dominantes no mundo latino são (ou pelo menos eram até há muito pouco tempo) a "legitimista" e a "bonapartista", enquanto a "orleanista" era secundária; logo, uma definição de "direita" que usa como referência a menos relevante das direitas (a liberal) acaba por gerar é confusão (definir direita de uma certa maneira e depois dizer que quase todas as direitas que existiram são exceções é tudo menos simplificar).

A credibilidade do socialismo marxista caiu nas ruas da amargura quando deixou de ser possívelignorar ou disfarçar o que se passava em regimes grotescos como a UniãoSoviética. Há muito que a própria social-democracia começou a ser questionada. (…)A esquerda começou então a voltar-se para as reivindicações identitárias.”

Se alguma coisa, acho que foi ao contrário – quanto questões como os direitos das mulheres, dos jovens ou das minorias étnicas ou sexuais começaram a entrar na moda foi naquele período que vai basicamente do assassinato de Kennedy à queda de Saígão (e que é muitas vezes chamado de “anos 60”, embora seja mais 63-75) , um período em que o “estado social” parecia estar de pedra e cal e mesmo o comunismo soviético, apesar de Praga, estava a ganhar terreno pelo mundo inteiro, com os “dominós” a caírem sucessivamente, e mesmo os esquerdistas dissidentes andavam embeiçados por Cuba, China ou Vietname em vez de rejeitarem mesmo o “socialismo realmente existente”; suspeito que até foi a força (e não a crise) do estado social nessa altura que levou a esquerda mais radical a se virar para as “políticas identitárias”/”causas fraturantes”: como a classe operária* estava aparentemente contente, e de qualquer maneira até De Gaulle e Nixon eram uma espécie de “social-democratas”, tiveram que ir à procura de outros nichos de mercado.

A identidade é um conceito moderno.

As dúvidas sobre a identidade serão um conceito moderno; mas “identidade” no sentido de pertença a grupos específicos (que é o sentido usado em “políticas de identidade”) até me parece do mais pré-moderno que há, em que as pessoas viam-se largamente em função de coisas como a aldeia, a família alargada, o clã, a tribo, a profissão, etc; em larga medida, as revoluções industrial e francesa o que fizeram foi quebrar essas micro-comunidades para deixar só o individuo (ou quando muito a família nuclear) e a humanidade (ou quando muito o Estado-Nação).

Martin Luther King lutava por uma sociedade que tratasse os negros exactamente da mesma forma que tratava os brancos, em que a cor da pele não contasse. Não foi essa a corrente que prevaleceu.

Não sei se nessa suposta diferença entre correntes não haverá uma certa confusão entre juízos de valor e juízos de facto. Basicamente, há quatro opiniões possíveis sobre esses assuntos relacionados com discriminação de grupos:

a) As pessoas X [mulheres, negros, LGBT, neurodiversos, etc] não são tratadas como as outras e deviam ser

b) As pessoas X não são tratadas como as outras nem devem ser

c) As pessoas X são tratadas como as outras e devem ser

d) As pessoas X são tratadas como as outras e não deviam ser

(a + b) e (c + d) concordam nos juízos de facto e (a + c) e (b + d) concordam nos juízos de valor.

Um problema aqui é que os “c” tendem a achar que os “a” são “d” disfarçados (“Só eles é que ligam alguma coisa a raças; dizem que são anti-racistas mas eles é que estão a querer dividir as pessoas em raças”) e os “a” acharão que os “c” são “b” disfarçados (“Vêm com essa conversa que são colorblind para terem uma desculpa para fingir que não vêm o racismo que domina a nossa sociedade”). Ora, muita dessa conversa de que o MLK queria uma coisa e os atuais anti-racistas, feministas, etc. querem outra não será uma ilusão? Isto é, se forem todos “a” mas um observador externo achar que havia muito racismo há umas décadas mas não tanto hoje em dia (ou seja, esse observador se se considerar “a” em respeito a 1965 mas “c” no mundo atual), ele achará que os anti-racistas de 1965 eram “a” e os atuais são “d”, vendo uma diferença ideológica onde ela não existe realmente.

E parece-me que grande parte dos movimentos anti-racistas, feministas, atuais, mesmo os mais radicais, não apresentam as diferenças entre raças, sexos, etc. como algo normativamente desejável (veja-se a popularidade recente nesses meios da expressão “pessoas racializadas”, que me parece ter implícito reforçar a ideia que a raça é algo que é imposto pela sociedade e não algo de natural), mas sim como algo que existe, e que para ser combatido implica mobilizar o lado oprimido contra o opressor (tal e qual como no marxismo tradicional se defende a “consciência de classe”, apela-se à mobilização dos trabalhadores e se criam organizações com “Operário/Proletário/dos Trabalhadores” no nome, não porque se queira perpetuar a divisão da sociedade em classes, mas como um meio para acabar com ela*).

a esquerda deixou de pensar em políticas sociais ambiciosas que pudessem ajudar os pobres, pobres que incluem milhões de “homens brancos”, a antiga “classe trabalhadora”, gente considerada agora “deplorável” e que, muitas vezes em desespero, vota em Trump e quejandos. O Affordable Care Act de Obama – susceptível de muitas críticas, é certo - foi uma excepção neste cenário.”

E (ficando nos EUA) o Medicare 4 All, o aumento do salário mínimo, a universidade gratuita, as propostas de co-gestão e de reforço dos sindicatos, a job gurantee, etc, etc, etc, mesmo o Green New Deal, pelo que tenho lido, é mais um programa de “subornos” destinado a obter clientela eleitoral para as políticas ambientais do que um programa ambiental em sentido estrito. Indo para a Europa, quais são as principais bandeiras da esquerda? A principal é o “combate à austeridade”, e outra quem tem vindo a ganhar tração é o Rendimento Básico Incondicional.

Eu até diria que hoje em dia a esquerda internacional quase que só fala de duas coisas: economia e ambiente (nem que seja porque nas chamadas “políticas da identidade” se calhar já foi atingido quase tudo o que era para se atingir); já a direita é que vive obcecada pelas guerras culturais; eu vejo isso na internet – os sites de esquerda que eu costumo ler falam principalmente de economia ou da luta de classes tradicional; os de direita vivem quase completamente obcecados por assuntos como “revista académica feminista publicou artigo sobre a masculinidade dos icebergs”, casas de banho, “boas festas” vs. “feliz natal”, “ideologia do género”, etc. (claro que isso racionalmente faz sentido: o programa económico da esquerda é popular, o cultural nem tanto – logo é natural que a esquerda tenda a enfatizar a economia e a direita a cultura).

Mas admito que pode haver aqui um problema cronológico – talvez o Fukuyama tenha escrito o seu livro largamente antes da projeção atual de Bernie Sanders, Corbyin, Elizabeth Warren, Alejandra Ocasio-Cortez, e já agora da “geringonça” em Portugal (e, mesmo que na prática tenha sido só por 9 meses, da vitória do Syriza na Grécia), que, cada qual à sua maneira, representaram um regresso de uma esquerda socialista ou quase na economia e não apenas progressista nos costumes (mas de qualquer maneira dá-me a ideia que desde a crise de 2008 que houve um regresso à infra-estrutura na esquerda, ou até antes disso)

E também pode ser idiossincrasia da minha parte - como as minhas leituras de esquerda na internet são largamente uma combinação de economistas de centro-esquerda (Krugman, Chris Dillow, Noah Smith, Simon Wren-Lewis, etc.) e de organizações ou sites de extrema-esquerda (International Viewpoint / IV Internacional, Libcom, Corrente Comunista Internacional, etc.) que (por mais importância que dêem às "causas fraturantes") acham que em última instância será sempre a luta do proletariado que vai derrubar o capitalismo, é natural que tanto uns como os outros (ainda que por razões completamente diferentes) falem bastante de economia e/ou de luta de classes. Se eu costumasse ler regularmente o Everyday Feminism ou o Bully Bloggers se calhar poderia ter uma opinião diferente (nota - de qualquer maneira, dando uma volta pelo Everyday Feminism, encontro logo um artigo dizendo "Because race shouldn’t matter, but it does matter", que era exatamente o que disse ali atrás sobre o que me parece ser a posição dominante nos meios anti-racistas, feministas, etc. mais radicais).

[Um aparte acerca dos “deploráveis” – achar que não se deve considerar machistas, racistas e homofóbicos como “deploráveis” porque alguns podem pertencer à classe trabalhadora parece-me não fazer grande sentido; por essa ordem de ideias não se podia qualificar negativamente nada, porque corríamos sempre o risco de apanhar alguém da classe trabalhadora nessa qualificação negativa; p.ex., aposto que na Europa os pais que mandam mutilar genitalmente as filhas também pertencem largamente à classe trabalhadora]

* Um dia alguém há de me explicar porque é que o “obreirismo” da esquerda tradicional também não conta como “política de identidade”

Thursday, August 01, 2019

A praga dos podcasts

Have We Hit Peak Podcast?, por Jennifer Miller (New York Times):

It’s no wonder that the phrase “everyone has a podcast” has become a Twitter punch line. Like the blogs of yore, podcasts — with their combination of sleek high tech and cozy, retro low — are today’s de rigueur medium, seemingly adopted by every entrepreneur, freelancer, self-proclaimed marketing guru and even corporation. (Who doesn’t want branded content by Home Depot and Goldman Sachs piped into their ears on the morning commute?) There are now upward of 700,000 podcasts, according to the podcast production and hosting service Blubrry, with between 2,000 and 3,000 new shows launching each month. In August William Morrow will publish a book by Kristen Meinzer, a co-host of the popular “By the Book” podcast. Its title: “So You Want to Start a Podcast.”
E para uma visão (que me parece) oposta, Peak Podcast and the Purpose of Online Publishing, por Robert Sharp.