Saturday, January 30, 2010

A raça é uma construção social

O general Omar al-Beshir, líder do regime militar sudanês que reprime violentamente as populações negras do Darfur:


Ainda as burkas

Um argumento usado para defender a proibição da burka é que grande parte das mulheres usam-nas porque os maridos as obrigam.

É uma hipotese - mas é uma hipótese que implica admitir que a comunidade imigrante muçulmana está cheia de homens bastante apegados às suas tradições de origem (e que por isso obrigam a mulher a usar a burka) e de mulheres culturalmente ocidentalizadas (e que por isso adorariam sair à rua sem burka) e que foram acabar casadas com esses homens tradicionalistas; como digo, é uma hipótese, mas acho muito mais provável que o grau de tradicionalismo entre homens e mulheres muçulmanas no Ocidente seja mais ou menos o mesmo e que a quantidade de homens que querem que a mulher use burka seja mais ou menos o mesmo que a quantidade de mulheres que querem usar burka.

Já agora, há quem diga que as mulheres tendem a ser, em qualquer cultura, mais religiosas que os homens - se for assim, é até é possível que nalguns casos até seja o Ahmed que em casa diz para a Jamila "Só me fazes passar vergonhas com essa burka; até já ouvi dizer na fábrica que por causa disso é que não me promoveram a encarregado, porque acham que somos uma família esquisita!".

[Isto que escrevi aplica-se não apenas a burkas e niqabs, mas também a hijabs, chadores e afins]

Thursday, January 28, 2010

Será que nós sabemos que morremos?

Este post de Pedro Vieira lembrou-me de uma importante questão existencial - será que quem morre sabe que morre?

Bem, penso que há uma teoria que diz que somos imortais, já que, como a nossa consciência só sobrevive nas realidades paralelas (sim, esta teoria implica aceitar realidades paralelas...) em que não morremos, na nossa perspectiva subjectiva nunca iremos morrer (as outras pessoas vêem-nos morrer, nas realidades paralelas em que morremos, mas nós não).

HOWARD ZINN (RIP): “Holy Wars”

Anthony Gregory: The great leftist revisionist historian has passed away at 87. Zinn taught a couple generations of young people to question their history teachers and the civic religion of US governmental supremacy. While he was a bit of a pinko on labor issues, he was courageous and consistent in his condemnation of the worst thing the state does: murder innocent people in large numbers.

(Howard Zinn was an American historian, social critic, and activist. He is best known as author of the best-seller A People’s History of the United States. He spoke at Boston University on November 11, on the subject of American “Holy Wars.”)

http://www.democracynow.org/blog/2010/1/8/howard_zinn_three_holy_wars

A pandemia da gripe A

Anda agora muita gente a dizer que afinal não houve nenhuma pandemia de gripe A.

Recordo que "pandemia" quer apenas dizer "doença que contagia muita gente à escala mundial", não significa que a doença seja muito grave.

Ora, penso que é inegável que houve uma pandemia de gripe A este ano (eu conheço várias pessoas que a tiveram), tal como todos os anos há uma pandemia de gripe (no fundo, a diferença é que este ano, as pessoas, em vez da apenharem a gripe sazonal, apanharam a gripe A).

A proibição da burka

A França prepara-se para proibir o vêu integral, não sendo ainda claro se tal medida se vai aplicar apenas a edificios públicos ou também a quem ande na rua. Noutros países europeus discute-se o mesmo.

A minha opinião sobre a burka é a mesma que sobre o consumo de heroína - acho que não tem jeito nenhum, mas se alguém a quer usar/consumir, o que é que eu tenho a ver com isso?

A respeito de alguns argumentos usados para justificar a proibição:

1 - "A burka é um simbolo da discriminação e submissão da mulher"

Como é dito aqui, exactamente, é "um simbolo". Não se devem proibir "simbolos" (apenas actos reais).

2 - "Algumas mulheres usam a burka porque são obrigadas pela família"

E outras não. E assim, vamos passar de uma situação em que há uma hipotética imposição para outra em que há uma imposição clara e explicita. Além disso, não é muito claro o que "obrigadas" quer dizer neste caso. Se estamos a falar de mulheres que sejam agredidas ou mesmo mortas pelos maridos ou familiares por não usarem a burka, isso já são crimes previstos por lei, e o que deve ser feito é fazer cumprir essas leis. Mas e os casos de mulheres que usam a burka porque senão "são marginalizadas pelos familias e pela comunidade, abandonadas pelos maridos, etc."? Será que isso deve contar como "obrigadas"? Sinceramente, acho que não, ainda mais tratando-se de mulheres vivendo num país ocidental, que não teriam dificuldade em arranjarem um circulo social alternativo caso fossem excluidas pela comunidade de origem. A única situação em que o argumento do "obrigadas" faz algum sentido será no caso de menores.

3 - "A comunicação não-verbal é um aspecto importante da comunicação, e a burka impede isso"

Nesse aspecto, eu sou um bocado suspeito - como bom "INTP", eu prefiro falar sobre ideias e teorias do que sobre emoções e sentimentos; como a comunicação não-verbal é mais relevante para as segundas do que para as primeiras, é possível que eu lhe dê pouca importância.

Mas acho que isso é irrelevante - mesmo que a comunicação não-verbal seja um aspecto importante da comunicação, se alguém não quer "comunicar não-verbalmente" comnosco, está no seu direito.

4 - "Andarem pessoas não identificadas na rua representa um problema de segurança"

Este parece-me ser o ponto mais sólido dos anti-burkistas

Agora, vamos pensar na implementação da lei - se a polícia francesa encontrar uma mulher usando burka, o que vai fazer (sobretudo se se entender que o uso vai também ser proibido na rua)? Obrigá-la a tirar a burka? Multá-la? Levá-la para a esquadra? Fazer de conta que não é nada? Algumas dessas opções parecem-me muito susceptíveis de criar choques de sensibilidades (já a última iria fazer o Estado francês cair no rídiculo) - imagine-se que a policia encontra uma mulher velada na rua e ordena-lhe que retire o véu; para perceber o impacte disso, temos que nos lembrar que, para um(a) muçulmano(a) tradicionalista, isso era o equivalente, a, para um português, a policia barrar uma mulher na rua e ordenar-lhe que levantasse um pouco mais a saia. Se já há muita hostilidade à polícia nos subúrbios de Paris, imagine-se agora...

E com uma agravante: até agora, os confrontos entre jovens magrebinos e a policia em França tem sido essencialmente arreligiosos: os adolescentes que queimam carros e atiram pedras à polícia não são muito diferentes dos blouson noirs dos anos 50 ou dos jovens brancos da "underclass" britânica actual, apenas são mais escuros e com nomes esquisitos. Mas se a essa semi-deliquência juvenil "clássica" se juntar uma hostilidade religiosa ao Estado francês, poderemos estar a transformar os "rebeldes sem causa" em "rebeldes com uma causa" - a jihad, e em vez de simples desordeiros de bairro, passarmos a ter um viveiro de recrutamento de terroristas.

Estação de televisão silenciada na América Latina

Wednesday, January 27, 2010

Obama - o "liquidador" da economia dos EUA?

Obama Liquidates Himself, por Paul Krugman:

A spending freeze? That’s the brilliant response of the Obama team to their first serious political setback?

It’s appalling on every level.

It’s bad economics, depressing demand when the economy is still suffering from mass unemployment.

Now, I still cling to a fantasy: maybe, just possibly, Obama is going to tie his spending freeze to something that would actually help the economy(...). There has, however, been no hint of anything like that in the reports so far. Right now, this looks like pure disaster.

Tuesday, January 26, 2010

Casting


1961 - Casting para o filme "A maldita, o gato preto e a morte" (suponho que para a segunda parte do filme)

Caos no Haiti?

Those tales of mass violence in Haiti are looking increasingly dubious by the day. Here's Sasha Kramer, director of the Haitian nonprofit SOIL, describing the conditions she's seen after the quake:
Since we arrived in Port au Prince, everyone has told us that you cannot go into the area around the palace because of violence and insecurity. I was in awe as we walked into downtown, among the flattened buildings, in the shadow of the fallen palace, among the swarms of displaced people there was calm and solidarity.

We wound our way through the camp asking for injured people who needed to get to the hospital. Despite everyone telling us that as soon as we did this we would be mobbed by people, I was amazed as we approached each tent people gently pointed us towards their neighbors, guiding us to those who were suffering the most. We picked up five badly injured people and drove towards an area where Ellie and Berto had passed a woman earlier. When they saw her she was lying on the side of the road with a broken leg screaming for help. They were on foot and could not help her at the time, so we went back to try to find her. Incredibly, we found her relatively quickly at the top of a hill of shattered houses. The sun was setting and the community helped to carry her down the hill on a refrigerator door, tough looking guys smiled in our direction calling out, "Bonswa, Cherie,” (Good evening, Dear) and “Kouraj” (Courage)....
Such reports have been echoed by other people on the ground, such as The Guardian's Inigo Gilmore. It also matches the usual behavior witnessed after natural and technological disasters, in which mutual aid flowers while violence and theft are almost unheard-of. Even on those rare occasions that rioting does break out, there's much more spontaneous order than disorder.

Unfortunately, in Haiti as in New Orleans, the fear of crazed crowds has fed a centralized, militarized response to the crisis, erecting barriers between the needy and outside assistance. With U.S. troops in control of the Port-au-Prince airport, for example, the Red Cross and Doctors Without Borders have had flights redirected to the Dominican Republic.

To be clear: I'm not claiming there's no grassroots violence in Haiti. Just that, in another parallel with Katrina, those rumors of unruliness seem to have been grossly exaggerated. That may be because so much of the media report what they expect to see even when a completely different story is unfolding under their nose. Watch this bizarre report on CNN, in which Ivan Watson describes "chaotic crowds" while the camera shows crowds that are calm and patient. At one point Watson announces that we're watching a "chaotic scramble" onto a rescue ship. This is illustrated by a group of people carefully, methodically passing a baby onto the boat. Then, while more refugees peacefully load their luggage in the background, the reporter asks the shipowner his burning question: "Has anybody offered you any help with crowd control of these thousands of desperate people?"

Monday, January 25, 2010

O Diabo nega acordo com o Haiti

Satan Writes to Pat Robertson

When you say that Haiti has made a pact with me, it is totally humiliating. I may be evil incarnate, but I'm no welcher. The way you put it, making a deal with me leaves folks desperate and impoverished. Sure, in the afterlife, but when I strike bargains with people, they first get something here on earth -- glamour, beauty, talent, wealth, fame, glory, a golden fiddle. Those Haitians have nothing, and I mean nothing. And that was before the earthquake. Haven't you seen "Crossroads"? Or "Damn Yankees"? If I had a thing going with Haiti, there'd be lots of banks, skyscrapers, SUVs, exclusive night clubs, Botox -- that kind of thing. An 80 percent poverty rate is so not my style. Nothing against it -- I'm just saying: Not how I roll.

Saturday, January 23, 2010

Jon Stewart e os Democratas e Massachusetts II

The Daily Show With Jon StewartMon - Thurs 11p / 10c
Mass Backwards
www.thedailyshow.com
Daily Show
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Political HumorHealth Care Crisis

Jon Stewart e os Democratas e Massachusetts

The Daily Show With Jon StewartMon - Thurs 11p / 10c
Special Comment - Keith Olbermann's Name-Calling
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Political HumorHealth Care Crisis

Fim da responsabilidade limitada nos bancos?

É o que é (mais ou menos) proposto aqui:

What has been received little attention so far is the structuring of liability in banking (Sin 2008). In the early days of fractional reserve banking, bank owners were subject to unlimited liability. In the US, double liability for bank shareholders was common up to the Great Depression. All American investment banks were partnerships into the 1970’s and the last one, Goldman Sachs, only converted itself into a limited liability corporation about a decade ago. Back in the 70s, US financial sector liabilities were less than 20% of GDP. Today the figure is close to 120%. Leverage has increased enormously. Back then, stringent liability rules inhibited risk taking. In the days when such liability provisions applied to banks, “conservative” was the adjective habitually attached to “banker.” It does not fit the high-stakes gambling “quants” of recent years.

If bank stockholders were subject to double liability today, it would hardly be possible to attract enough capital into banking for the needs of a modern economy. Most stockholders have little or no ability to control the risks that bank managements assume. Liability provisions, however, could be applied directly to managers rather than to stockholders so as to change the incentives to assume risk that bank executives face.

Thursday, January 21, 2010

As "politicas socialistas" de Zapatero

Algumas pessoas dizem que a crise espanhola é (pelo menos em parte) consequência das "políticas socialistas" de Zapatero. Será que Zapatero tem tido politicas (económicas) socialistas?


Year Overall Score Business Freedom Trade Freedom Fiscal Freedom Government Spending Monetary Freedom Investment Freedom Financial Freedom Property Rights Freedom From Corruption Labor Freedom
2010 69.6 75.8 87.5 58.1 54.8 77.7 80.0 80.0 70.0 65.0 47.3
2009 70.1 76.8 85.8 58.6 55.3 78.9 80.0 80.0 70.0 67.0 48.3
2008 69.1 77.9 86.0 54.5 56.2 78.2 70.0 80.0 70.0 68.0 50.2
2007 69.2 78.0 86.6 55.2 54.8 78.5 70.0 80.0 70.0 70.0 49.3
2006 68.2 78.7 82.4 55.3 50.5 83.9 70.0 70.0 70.0 71.0 50.0
2005 67.0 70.0 80.2 55.4 53.0 83.9 70.0 70.0 70.0 69.0 48.8
2004 68.9 70.0 79.8 52.9 52.7 83.6 70.0 70.0 70.0 71.0 -
2003 68.8 70.0 81.4 52.6 52.2 83.3 70.0 70.0 70.0 70.0 -
2002 68.8 70.0 79.6 53.1 52.0 84.1 70.0 70.0 70.0 70.0 -
2001 68.1 70.0 78.0 53.8 54.4 80.7 70.0 70.0 70.0 66.0 -
2000 65.9 70.0 77.8 45.8 47.1 81.0 70.0 70.0 70.0 61.0 -

[Suponho que o índice da cada ano se refira ao ano anterior]

Zapatero foi eleito em 2004, e realmente o "índice de liberdade económica" (o "Overall Score") baixou em 2005; no entanto, em breve voltou a subir e durante a maior parte do governo Zapatero foi mais elevado do que em qualquer dos anos anteriores; assim, concluo que as políticas de Zapatero podem ter sido muito "progressistas" (nomeadamente nas "questões fracturantes", onde em Espanha podemos incluir as autonomias), mas não foram particularmente "socialistas".

As únicas rubricas onde o índice parece ter diminuído é na "liberdade monetária"(na prática, esse sub-indíce é o inverso da taxa de inflação) e na "liberdade da corrupção" (isto é, quando mais corrupto um país, menor este indíce), e este último até não depende directamente (pelo menos a curto prazo) das políticas do governo (sim, pode-se argumentar que um governo mais intervencionista favorece a corrupção, mas se fosse esse o caso, esse intervencionismo do governo deveria aparecer directamente nos outros indíces, em vez de apenas se evidenciar indirectamente).

Adenda: os leitores que não consigam ver a tabela toda têm duas opções - ir directamente ao link da Heritage e fazerem lá a pesquisa para Espanha de 2000 a 2010; ou então copiarem a tabela (de preferência a começar no "...não me parece" e acabando no "[Suponho que...") e "colarem" numa folha de cálculo, que se vê os dados todos

Anarquia no Haiti?

Wednesday, January 20, 2010

Os casamentos de Santo António

Das duas uma: ou se considera os casamentos de Santo António como uma actividade da Camara Municipal de Lisboa, e nesse caso a legitimidade da ICAR para recusar a participação de casais homossexuais na cerimónia é nula (isto é, têm legitimidade, como qualquer grupo de cidadãos, para contestar a lei e tentar revogá-la, mas não para se oporem à sua aplicação pela CML), ou então considera-se os casamentos de Santo António como uma actividade da Igreja Católica e nesse caso a CML não deveria participar nisso, à luz da separação entre a Igreja e o Estado.

De qualquer forma, não sei se os casamentos de Santo António deverão ser vistos como um ritual católico:

1 - Na sua encarnação actual, existem porque a CML decidiu reactivá-los (penso que no mandato de João Soares), não são uma criação da Igreja nem da "sociedade civil"

2 - Posso estar totalmente enganado no que vou escrever, mas penso que a associação do Santo António aos casamentos é apenas uma tradição popular lisboeta, não algo intrisecamente ligado à Igreja Católica enquanto religião organizada (pelo menos, fazendo umas pesquisas na net fora do contexto português, não vejo referência ao "Santo António casamenteiro" - o padroeiro dos casamentos felizes é o S. Valentim e os infelizes têm uma carrada deles, incluindo uma rainha portuguesa e um rei noruguês, mas o S. António não parece estar incluido)

Tuesday, January 19, 2010

Sobre o Haiti

Robertson’s Right: Haiti has a Pact with the Devil, por Thomas Knapp, no Center for a Stateless Society:

Robertson’s version of Haiti’s “pact with the devil” alludes to the 1791 slave rebellion, which was allegedly launched with religious ceremony by Vodou priest Dutty Boukman.

The real pact with the real devil — government — came later, as Haiti labored under the “governorship-for-life” of Toussaint-Louverture, the “emperorship-for-life” of Jean-Jacques Dessalines, the “kingship” of Henri I and “presidency-for-life” of Alexandre Pétion, the indemnity regime of Boyer, 32 coups, 20 years of US occupation, the Duvalier dictatorship …

With the usual suspects screaming hysterically about Haiti’s potential post-earthquake “descent into anarchy,” the obvious question is whether Haitians wouldn’t have been better off with 200 years of it!

Haiti's real deal with the devil, por Maggie Koerth-Baker:

Back in May, the Times Online provided some slightly better insight into Haiti's past.

Summary: Haiti was forced to pay France for its freedom. When they couldn't afford the ransom, France (and other countries, including the United States) helpfully offered high-interest loans. By 1900, 80% of Haiti's annual budget went to paying off its "reparation" debt. They didn't make the last payment until 1947. Just 10 years later, dictator François Duvalier took over the country and promptly bankrupted it, taking out more high-interest loans to pay for his corrupt lifestyle. The Duvalier family, with the blind-eye financial assistance of Western countries, killed 10s of thousands of Haitians, until the Haitian people overthrew them in 1986. Today, Haiti is still paying off the debt of an oppressive dictator

Monday, January 18, 2010

A adopção de crianças por casais homossexuais (II)


No entanto, suponho que a "amostra" para se chegar a essa conclusão seja composta maioritariamente, não por crianças adoptadas por casais homossexuais, mas sobretudo crianças que vivem com o pai(mãe) biológico e o seu companheiro (companheira). Essa situação é bastante diferente, porque, como já escrevi, em larga medida não são os pais que educam os filhos, são os filhos que se educam a si mesmos: ora, mesmo que dois pais adoptivos (ou duas mães adoptivas) proporcionem ao seu filho exactamente o mesmo ambiente que um pai biológico e o seu companheiro (ou uma mãe biológica e a sua companheira), a forma como o filho irá reagir já poderá ser diferente; p.ex., o primeiro ponto que apresento aqui - 6º parágrafo - só se aplica no caso específico de adopções. Ou se uma criança adoptada por dois homens a dada altura (talvez ao ver um DVD do "Marco"...) mete na cabeça que queria ter uma mãe? Ou uma criança adoptada por duas mulheres mete na cabeça que queria ter um pai? Note-se que estas situações normalmente não se colocam no caso da criança que vive com o pai e com o companheiro, já que aí ela continua a ter uma mãe (ou, mesmo que a mãe tenha morrido, a figura simbólica da mãe), mesmo que não viva com ela.

Friday, January 15, 2010

A América permissiva dos anos... 50?

Pôr os desempregados a limpar matas/varrer as ruas?

Há muita gente que diz que os beneficiários do subsidio de desemprego deveriam ser postos a "limpar matas", "varrer ruas", "reparar estradas", etc.

Vamos lá ver - imagine-se que eu tenho um seguro para a minha casa, pelo qual pago prémios regulares, e esta é destruída por um incêndio. Alguém iria exigir que eu trabalhasse para a seguradora para compensar o dinheiro que iria receber? Imagino que ninguém iria defender tal coisa - afinal, eu já paguei os prémios à seguradora e são esses pagamentos que me dão direito a receber o valor do seguro.

A filosofia do subsídio de desemprego é a mesma que dum seguro (penso que nalguns países a expressão é mesmo "seguro de desemprego") - eu contribuo todos os meses e, se perder o emprego, recebo o valor do subsídio. Sim, é verdade que é possível que muitas pessoas recebam, durante a sua vida, mais de subsídio do que o que contribuem, mas o mesmo acontece com todos os sistemas de seguro - uma pessoa que veja a sua casa destruida por alguma catastrofe, ou que tenha um acidente, ou coisa assim, provavelmente irá receber mais da companhia de seguros do que o que descontou de prémios.

De qualquer forma, se esses trabalhos que se sugere que os desempregados deveriam fazer são mesmo necessários, faria mais sentido, pura e simplesmente, o Estado contratar pessoas para os fazer, não?

Já agora, esta questão demonstra como a forma como as ideias são colocadas afecta a reacção do público a elas (o chamado "framing"): se alguém sugerir "deviam por as pessoas que estão no subsídio de desemprego a limpar as matas, em vez de lhes estarmos a pagar para não fazerem nada" vai suscitar reacções positivas de alguns sectores e negativas de outros; mas se sugerir "para combater o desemprego devemos lançar um programa de empregos públicos temporários - p.ex., para a limpeza das matas; nem se vai gastar muito dinheiro, já que o custo dos salários dessas pessoas vai ser compensado por menores despesas em subsídios de desemprego", os sectores que irão reagir negativa e positivamente já serão outros (nalguns casos, talvez até sejam opostos), embora o conteúdo real das duas propostas pouco ou nada mude.

Wednesday, January 13, 2010

O casamento pms sem adopção é inconstitucional?

Não faço ideia. No entanto, se o Tribunal Constiticional considerou que a situação anterior (em que duas pessoas do mesmo sexo não se podiam casar) não era inconstitucional, será um bocado ilógico que venha agora considerar que poderem casar mas não poderem adoptar já é inconstitucional.

Ainda mais ilógica me parece a posição de sectores da área do PSD, que acham que a actual situação é inconstitucional, mas que defendiam uma situação basicamente igual, em termos de direitos, a lei agora aprovada, com a única diferença que as uniões homossexuais chamariam-se "uniões civis registadas" em vez de "casamentos". Ora, não estou a ver como se pode achar que as uniões-entre-pessoas-de-sexos-diferentes-poderem-adoptar-e-as-entre-do-mesmo-sexo-não é inconstitucional se essas uniões tiverem o mesmo nome mas já é constitucional se tiverem nomes diferentes, quando o conteúdo real é o mesmo.

Uma analogia: faria sentido considerar que um restaurante ter uma mesa em que só os clientes brancos se podem sentar era ilegal, mas já era legal um restaurante em que só pudessem entrar brancos?

Debate na Economist - férias ou dinheiro?

European holidays, um debate na Economist sobre se "Europeans would be better off with fewer holidays and higher incomes".

Um comentário - o "defensor da moção", Robert Gordon, parece-me misturar um pouco alhos com bugalhos, já que o essencial do artigo dele acaba por ser, não sobre os europeus gozarem muitas ou poucas férias, mas sim sobre gozarem férias concentradas em Agosto em vez de repartidas pelo ano inteiro.

Glenn Gould plays Bach

Tuesday, January 12, 2010

A separação do casamento do Estado

Em complemento à minha opinião aqui expressa - O futuro do “casamento” civil transcrevo um comentário no MisesBlog ao post Is Gay Marriage a Constitutional Right?:


Jeffrey Tucker:

The idea of a marriage license in England was unknown before 1753, and it only gradually took hold in the U.S. in the 19th century. Traditionally, throughout the whole of human history, very few societies have seen marriage as a civil action; it was regard as a religious rite contracted by the affected parties and the disputes arising from it were adjudicated by ecclesiastical courts. It is a measure of the statism of our times that nearly everyone who speaks out on this issue believes that the state itself must either approve or deny gay marriage, so, as in all things, the involvement of the state here has created insoluble divisions and arguments. The only libertarian way forward is the completely privatization and decentralization of marriage.

As vantagens esquecidas das falências (rápidas)

Uma empresa vai à falência. A empresa é liquidada, os activos vendidos e o produto da venda é rateada pelos credores. Se este processo for rápido, em parte o emprego perdido é logo aproveitado pelos compradores dos activos, constituídos em nova empresa (durante esse tempo o subsídio de desemprego minora os males deste período de reafectação de bens de capital). A dívida que sobrecarregava um dado processo produtivo ... desaparece. A actual gestão e accionistas castigada.

Os benefícios deviam ser evidentes, quantas vezes ouvimos que uma dada empresa é rentável mas o peso do serviço da dívida é que impede a sua sobrevivência? Ou que o mal é a corrente gestão?

As tentativas de salvar empresas por meios políticos a maior das vezes trata apenas de adiar um cadáver moribundo prejudicando todos para benefício dos agentes políticos.

Re: Uma visão inglesa da situação na Islândia (II)

Os Islandeses não têm obrigação nenhuma de cumprir com obrigações falhadas (por empresas privadas) com depositantes ainda por cima não islandeses. Os bancos islandeses deviam entrar em processo de liquidação rateando o activo pelos seus credores. A Islândia é um caso extremo do processo de expansão de crédito numa bolha imobiliária. Quando uma bolha rebenta os Bancos (de reservas parciais) menos integrados numa dada moeda são os primeiros a sofrer, no caso, filiais a actuarem em Inglaterra cm contas em libras e talvez euros. Os Islandeses podem e devem argumentar que a sua actividade era regulada pelas autoridades britânicas (com toda a probabilidade sempre felizes em argumentar sobre as vantagens da capacidade de um sistema bancário em criar moeda e crédito do nada) e que se estas não actuaram preventivamente … azar. O endividamento público extremo para cobrir o risco de depositantes não islandeses é absurdo.

That is capitalism for you

The man who sips his morning coffee does not say, "Capitalism has brought this beverage to my breakfast table." But when he reads in the papers that the government of Brazil has ordered part of the coffee crop destroyed, he does not say, "That is government for you"; he exclaims, "That is capitalism for you." Mises

PS: A destruição de produção agrícola ou similar é um velho hábito de governos a tentar artificialmente impedir que os preços nominais baixem. Roosevelt recorreu massivamente a tal brilhante ideia no meio da fome da Grande Depressão porque achava que era preciso impedir a descida nominal de preços (a que atribuía a crise, um caso de misticismo a culpar as consequências e sintomas de cura em vez de procurar as causas). A União Europeia (e outros blocos) não fazem melhor, não só subsidiam a produção dos agricultores (que podemos classificar comparativamente como de "ricos") tornando os produtos mais caros a todos, como impede as importações de países mais pobres, como depois ainda despeja nos mercados internacionais a preços artificialmente baixos, arruinado a produção local dos países sub-desenvolvidos.

Monday, January 11, 2010

"Império, Nação, Revolução"

Tenho andando a ler "Império, Nação, Revolução - as Direitas Radicais Portuguesas no fim do Estado Novo", de um investigador italiano, Riccardo Marchi, sobre os grupos à direita de Salazar e (sobretudo) de Caetano - a revista "Tempo Presente", o Movimento Jovem Portugal, a Frente Nacional Revolucionária, a Cooperativa Cidadela, etc.

Duas coisas que me ocorrem:

Uma é que,se chamamos "fascistas" ao Salazar e ao Caetano, então estes grupos eram o quê? Ou significará isso, exactamente, que "fascista" não é o termo mais apropriado para chamar ao "Estado Novo"?

Outra coisa: é muito frequente o "meme" dos ex-maoístas que se tornaram politcos e/ou comentadores do sistema (a começar pelo Presidente da Comissão Europeia); mas parece que os ex-"nacionais-revolucionários" também não são assim tão poucos.

Uma coisa que já me tenha ocorrido durante as eleições para o Parlamento Europeu - algures num blog, ou nos comentários, ou coisa assim, alguém escrevia "Lucas Pires, ao menos, sempre defendeu a liberdade" (imagino que em contraponto ao passado comunista do Vital Moreira). Mas esta gente não sabe o passado do Lucas Pires??

Note-se que eu não estou criticar o passado politico dessas pessoas (afinal, eu também tenho um passado e, ainda por cima, um presente extremista, embora de sinal contrário), estou apenas a constatar um facto.

Ou será que a maior visibilidade do passado maoísta de uns em comparação com o passado "nacional-revolucionário" de outros é apenas a consequência de ser ex-maoísta ser mais socialmente aceitável do que ser ex-"nacional-revolucionário"?

Uma visão inglesa da situação na Islândia (II)

Iceland says ‘Can’t pay, won’t pay’ — and it is right, no Times (provavelmente um jornal mais "de referência" do que o City A.M.):

Iceland is right. Britain (and the Netherlands) should give way on the demand that it should pay them back in full for losses in the collapsed Icesave online bank. They will probably have to do so — but before they give way their stubbornness may drive Iceland, now within sight of joining the European Union, to the level of international basket case.

President Grímsson’s decision to block a Bill that would repay Britain and the Netherlands the £3.6 billion their savers lost has triggered a storm of abuse. But the tiny nation of 320,000 people has a good case for saying it won’t pay back all the debt on the dates set out. It has an even better case for saying it can’t.

When Landsbankii, the parent of Icesave, collapsed in 2008, Iceland questioned whether it was obliged to compensate foreign savers. To cool the panic and demonstrate leadership, the British and Dutch governments decided to pay the savers right away, and try to get the money back from Iceland.

Under EU law it’s very debatable whether Iceland is obliged to pay them. It signed up to “passporting” rules that allow banks to operate across national borders if they take part in their home country’s system of guaranteeing deposits. But crucially, these guarantees vary between countries, in their level, and in who runs them. In Britain, the guarantee comes from the Government, and shortly before Landsbankii collapsed, was raised to £50,000. In Iceland, insurance was offered through the Depositors’ and Investors’ Guarantee Fund, set up by private banks, and in value equal to only 1 per cent of deposits. That was within EU rules, which did not foresee the simultaneous collapse of the country’s entire banking system.

In asserting that Iceland must repay in full, Britain is making two contestable assertions. The first is that if Iceland’s private fund can’t pay, the responsibility passes to the Government and taxpayers. EU rules do not say this, if only because they fail to provide for such dramatic circumstances. The second is that Iceland must pay not the amount set by its own guarantee rules nor even the British £50,000, but the full amount of British savers’ losses, even though the Government chose to pay out more than UK rules obliged.

It is hypocritical of Britain, with the Netherlands, to insist on the full £3.6 billion. Britain describes this as a loan to Iceland, but the “deal” in June that purported to set out the terms has never been agreed by Iceland’s parliament and President — hence this week’s drama.

Britain claims that responsibility for foreign activities of a bank falls on the taxpayers of a country in which its headquarters happen to sit. But while Britain has courted foreign banks assiduously, it is unthinkable that if it faced paying £720 billion to foreign savers (as, scaled up for the UK population, a comparable bill would be) it would pay without murmur. UK regulators also approved Icesave, and bear responsibility too.

(...).

Iceland is hardly blameless. Its bankers and politicians are entirely at fault for the greed, ignorance, vanity and cronyism which led to the implosion. National fury at Gordon Brown’s misappropriation of anti-terror laws to freeze Landsbankii’s UK activities was understandable, but has become a self-indulgent evasion. It is very hard to get Icelanders to look beyond this insult to acknowledge the real injury to British savers. (...)

After all the legal rows, Iceland’s best card is that it can’t pay. A fall in the currency would make debt insupportable; a fall in population (and many graduates are now leaving) would make full payment impossible.

Comentário no Icenews (um dos poucos sites noticiosos islandeses numa língua legível):

The only inaccurate thing about The Times’ in-depth Icesave analysis is the headline.

One of Britain’s most respected newspapers, The Times this weekend published a column by Bronwen Maddox explaining the underlying arguments behind the Icesave issue and why Iceland may have a strong case for its reluctance to reimburse the UK and Dutch governments for their Icesave bailouts; although the article is careful not to absolve the Icelandic government and bankers of blame.

The headline, “Iceland says ‘Can’t pay won’t pay’ – and it is right”, is the only major factual inaccuracy, as the country has in fact said neither

Saturday, January 09, 2010

O que é o casamento?

No campo liberal-conservador, tem sido frequente dizer-se que o casamento é uma instituição espontânea, que evoluiu independentemente do Estado, etc.

Será realmente o caso? É dificil dizer, até porque não é muito fácil, olhando para outra sociedade e outra época histórica, dizer se dado tipo de relacionamento é um "casamento", uma "união de facto" ou outra coisa qualquer.

Um exemplo: há um antrópologo qualquer que define "casamento" como "a relationship between one or more men (male or female) in severalty to one or more women that provides those men with a demand-right of sexual access within a domestic group and identifies women who bear the obligation of yielding to the demands of those specific men." - se interpretarmos isto de forma restrita, não existe "casamento" no mundo ocidental actual: as mulheres não são obrigadas a ter sexo com os maridos; se fizermos um interpretação mais lata, do género "não é obrigada a ter sexo com o marido sempre que ele quer, mas é esperado que aceite com alguma regularidade, e se essa regularidade for muito irregular, é considerado uma razão válida para acabar o relacionamento", então isso abrange não apenas o casamento, mas também uniões de facto e (sobretudo a partir de certa idade) mesmo namoros.

Se considerarmos que a diferença entre um "casamento" e uma "união de facto" é o primeiro ser reconhecido pelo Estado, então, por definição, o casamento foi criado pelo Estado; se (o que é mais realista) considerarmos que o "casamento" distingue-se da "união de facto" por ser suportado por alguma forma de poder coercivo, então o casamento precede o Estado (embora muita gente poderá perguntar-se se a interferência do Estado na vida familiar será muito pior do que a interferência dos clãs dos conjugues na vida familiar - e não estou a falar de sogras a insinuarem que a loiça foi mal lavada).

Por outro lado, se não existir qualquer força coerciva por detrás do "casamento"? Se a única punição por alguém não cumprir os deveres implicitos no casamento for apenas uma reprovação social (que pode ser bastante extrema, com toda a tribo a recusar-se a falar com a pessoa em questão), mas sem facadas, apedrejamentos até à morte e afins? Bem, mas aí é das tais situações em que não se começa a ver bem qual é a diferença qualitativa entre um casamento vs. uma união de facto ou até um namoro de escola EB23 (em todos esses casos é socialmente esperado que os envolvidos respeitem certos compromisso mútuos e é socialmente mal-visto que não o façam).

A adopção de crianças por casais homossexuais

Confesso que sou um bocado agnóstico nesta questão (já agora, diga-se que não tenho a certeza que um referendo ao conjuntos dos militantes do Bloco de Esquerda sobre isso desse um "sim") - a minha inclinação seria mais para um sistema em que os casais homossexuais pudessem adoptar (ou, pelo menos, que cada um dos membros de um casal homossexual pudesse adoptar), mas que, em igualdade de circunstâncias, um casal heterossexual tivesse prioridade (tal como, na prática, os casais acabam por ter prioridade sobre os solteiros).

Em primeiro lugar, porque é que acho que esta questão deve ser separada da questão do casamento? Porque o casamento é uma relação voluntária, entre pessoas que decidem casar-se; a adopção (pelo menos da parte do adoptado) é uma relação involuntária. Assim, enquanto o casamento homossexual é um assunto que eu aceito sem sequer pensar nisso (tal como defendo a legalização da heroína independentemente de que efeitos possa ter sobre quem a consome), acha que a adopção por casais homossexuais é um assunto que deve ser pensado e os prós e contras ponderados.

Quanto a eventualmente ser inconstitucional essa discriminação entre diferentes casamento, como é alegado tanto à esquerda como à direita, é uma questão que para mim não me interessa nada (é triste quando as propostas politicas deixam de ser defendidas de acordo com os seus méritos intrínsecos e abstractos, para passarem a ser discutidas com base se são constitucionais ou não; se vivêssemos no Irão iríamos defender a teocracia islâmica, por ser constitucional?).

Agora, porque é que eu acho que os casais heterossexuais devem ter prioridade na adopção? Acharei eu que um casal heterossexual é melhor a educar os filhos do que um casal homossexual? Não, não acho. Mas é verdade que eu também acho que, em larga medida, não são os pais que educam os filhos, são os filhos que se educam a si mesmos, embora condicionados pelo meio exterior.

As razões porque acho melhor uma criança ser adoptada por um casal heterossexual:

- Não é raro, quando têm aquelas crises de adolescência que quase todos os adolescentes têm, que os filhos adoptados tenham uma fase de rejeição dos pais adoptivos, (nalguns casos passando a tratá-los por "Sr. Fernando" e "D. Felisberta" e coisas do género); no caso dos filhos adoptivos de casais homossexuais, se essa fase de rejeição ocorrer, suspeito que pode ser mais grave: o jovem, alêm de se auto-convencer (provavelmente sem razão) de que seria muito mais feliz se não tivesse sido adoptado ou se tivesse sido adoptado por outras pessoas, se calhar vai-se também auto-convencer (provavelmente sem razão) de que seria muito mais feliz se tivesse sido adoptado por um casal heterossexual.

- Posso estar completamente enganado, mas tenho a ideia de que muitas raparigas adolescentes falam com as mães sobre assuntos íntimos (já os rapazes praticamente não têm esse tipo de conversas com os pais). Se eu estiver correcto, não será complicado para uma adolescente ter dois "pais"? (as leitoras do blogue acham que isto faz algum sentido, ou acham que estou a delirar?)

- Finalmente, duvido que já haja estudos suficientes sobre os efeitos comparados de ser adoptado por um casal homossexual vs. por um casal heterossexual para se poder dizer que uma hipótese é melhor, pior ou igual que a outra; e, na dúvida, quando se trata de decisões que afectam terceiros (neste caso, o adoptado) é melhor errar pelo lado da prudência (por outro lado, é verdade que isso poder dar origem a um ciclo vicioso - poucas crianças adoptadas por casais homossexuais » amostra demasiado pequena para se tirar conclusões » na duvida, prioridade aos hetero » poucas crianças adoptadas por casais homossexuais).

Só consigo imaginar uma situação em que, para uma criança, seja melhor ser adoptada (mantendo tudo o resto igual) por uma casal homossexual do que por um heterossexual - se ele, ao chegar a uma certa idade, descobrir que é também homossexual, sentir-se-á muito mais à vontade para contar aos pais do que se tivesse pais heterossexuais (mas mesmo isso não é certo - em certos casos, um homossexual filho adoptivo de homossexuais pode se sentir mais constrangido em revelar-se em público, com medo que as outras pessoas digam que foram os pais adoptivos que o "converteram").

Friday, January 08, 2010

"Tem cuidado com o que desejas, pode ser que se realize"

Penso que é um ditado norte-americano - lembro-me dele quando leio alguns posts por .

Thursday, January 07, 2010

O valor simbólico do casamento


Talvez JM até tenha razão; mas, se for esse o caso, não são apenas os "progressistas" que estão enganados - também o estão os "conservadores" que acham que o reconhecimento legal do casamento homossexual é um ataque à "familia".

De qualquer forma, tenho dúvidas que o valor simbólico do casamento não tenha sido, pelo menos em parte, "criado por decreto" - afinal, durante muito tempo ser "casado" era um estatuto mais respeitável do que "viver junto"; atendendo que a única diferença entre os dois estatutos era um ser reconhecido pelo Estado - independentemente de ser este a organizar a cerimónia ou de delegar essa tarefa nalguma religião organizada - e o outro não, parece que as leis e decretos influenciam realmente o valor simbólico das instituições.

Que tipo de imigrantes?

What sort of immigrants?, por Chris Dillow:


[I]s there a trade-off between the immigrants you want on economic grounds, and the immigrants that would promote social cohesion?

Here’s what I mean. From the point of view of the labour market, we want immigrants who are as unlike us as possible. We want people with different skills and tastes from us, who’ll do jobs that we can’t or won’t do. These sort of people don’t compete with us in the labour market and so don’t threaten “our” jobs and wages.

However, from the point of view of social cohesion, we want people just like us, those who share our values.

Isn’t there a contradiction here?

You might think not. It’s quite possible that people can differ from us in labour market aspects and yet share our values in other respects.

Possible, but not certain. Indeed, some research has found that, among Muslims, labour market success is associated with stronger religious views.(...)

I fear (...) that it has another implication. It implies that opposition to immigration will always be with us. If immigrants were just like us, Carey and his like would moan about how they are depressing the job prospects of indigenous workers. And if immigrants were so different as to not jeopardise indigenous wages or employment, they’d moan about them being different, not sharing our values, or creating uncertainty amongst native people.

Hostility to foreigners will always exist. All that changes is the shabby nature of the justification for it.

Wednesday, January 06, 2010

Uma visão inglesa da situação na Islândia

SOMEONE should give Gordon Brown a copy of John Maynard Keynes’ The Economic Consequences of the Peace. Published in 1919, it addressed post-war Germany – but the book is uncannily relevant to the situation in today’s Iceland, explaining how crippling reparations enforced by powerful foreign nations on an unwilling population are counter-productive. Iceland – unlike Weimar Germany – won’t turn to extremism, though an eventual descent into national bankruptcy and hyperinflation is a real possibility, with Fitch yesterday downgrading the country’s debt to junk.

The UK and Dutch governments have been too harsh towards Iceland, to deflect the attention from their own stupidity – and now its people, who fear being pushed into poverty, are revolting. It is the first successful grass-roots anti-tax, anti-bailout revolt since the onset of the credit crunch.

The row boils down to Landsbanki’s Icesave unit, which like the rest of the Icelandic banking system collapsed in 2008. A small group of Icelandic entrepreneurs pushed the crazed Northern Rock banking model to its extreme, borrowing vast amounts to build financial giants with massive European property assets. These were often operated out of London and given the seal of approval by the FSA, academics and “experts”. But when the credit markets imploded, the banks collapsed.

British and Dutch depositors in Icesave were bailed out by their governments; Iceland had said it would cover the first €20,887 in accounts but didn’t have the foreign currency to meet its obligations. It was a worthless promise which should have been seen as such by the UK authorities: tiny nations are physically unable to guarantee all the foreign liabilities of any giant bank that they happen to host. Either they shouldn’t host the banks; or they should explicitly state that they are unprotected and in a real free market; or their banks should take part in pre-funded insurance schemes.

The bankers were incompetent, as were the Icelandic authorities, the UK authorities, the EU and the depositors who didn’t do their research. Egged on by price comparison websites and personal finance pages, the public assumed regulators would ensure every newfangled online bank was safe and forgot that high returns often mean high risk. Instead of acknowledging this, Brown is pursuing a vendetta against Iceland, trying to recoup all of the cash from its government.

Bailouts have been unpopular all over the world. Until now, however, voters were never consulted – but after a fifth of Iceland’s entire population signed a petition against the terms of a proposed £3.6bn reimbursement (at a 5.5 per cent rate of interest and a 14-year schedule) the proposal will now be put to a referendum and crushed. The sums involved are huge: 40-60 per cent of Iceland’s national income, taking the national debt to 200 per cent of GDP. Each of Iceland’s 304,000 citizen would have to pay £11,700 without getting shares or any assets in return. The money would be gone for good. Imagine if UK taxpayers were asked to pay £700bn to overseas governments because one of our banks had messed up. We too would be up in arms.

Iceland will hopefully hand over some money, albeit on more sensible terms. But the last thing we need is for Britain, the IMF and the EU to push Reykjavik into total bankruptcy or nobody will get anything. Shame that Brown, a self-professed Keynesian, has actually failed to heed his master’s warnings.

Islândia - referendo ao plano de pagamento aos investidores estrangeiros (II)

Icesave: Misunderstanding in the foreign media


“Icelanders are not going to pay their debts generated at the time of the fall of the banks in 2008.” This is a common misunderstanding of the facts being played in the foreign media after the president of Iceland decided to send Icesave to a public vote.

News of the president’s ‘veto’ on the Icesave Bill travelled quickly over the globe, and it seems that many journalists are under the wrong impression that Iceland does not intend to pay the Icesave bill. Sky News was the first to come out with this misunderstanding that Icelanders did not want to pay the British and Dutch.

Beside Dutch and British media, German media have been quite active and there this misunderstanding lingers, as many German news channels continue to state that Icelanders have rejected paying back the Icesave debts. Among the strongest headlines seen in German news media was in the Financial Times Deutschland, where the headline stated that the President of Iceland has called new a crisis down upon Iceland.

The Guardian is closest to the Icelandic government’s stated truth, saying that an argument has been ignited between the President and the heads of the Icelandic Government. By his action the president had put Iceland in further uncertainty, but the Prime Minister has promised that the debt will still be paid.

Most media agreed that this action will have unforeseen long-term implications, both politically and economically.


[o meu post anterior foi um bocado escrito na base de que a Islândia iria referendar o principio de pagar os valores em dívida aos britânicos e holandeses; mas afinal o que está em causa não é o pagamento, mas as condições de pagamento - juros, prazos, etc]

Tuesday, January 05, 2010

Sugestões de leitura

The American Land Question, por Joseph Stromberg, em The Freeman, sob (entre outras coisas) a problemática na posse da terra nos EUA no século XIX.

What are the odds that the best chess player in the world has never played chess?, por Tyler Cowen. O tema: qual a probabilidade da pessoa com potencial (a nivel de inclinações e capacidades inatas, presumo) para ser o melhor jogador mundial de xadrez ser alguém que nunca tenha jogado xadrez na vida?

Fahrenheit 451… Book burning as done by lawyers, no Public Domain, e What Could Have Been Entering the Public Domain on January 1, 2010?, no Center for the Study of the Public Domain, sobre os resultados do alargamento do prazo dos direitos de autor.

Islândia - referendo ao plano de pagamento aos investidores estrangeiros

O presidente islandês vetou a lei que punha o Estado a garantir os depositos de investidores ingleses e holandeses no banco Icesave, e que estava a ser alvo de grande contestação.

Assim, a lei (que havia sido aprovada à tangente pelo parlamento) irá ser sujeita a referendo (qual teriam sido os resultados em Portugal de um referendo à nacionalização do BPN?).

A tradução oficial [pdf] do veto presidencial.

Monday, January 04, 2010

Governo iemenita acusa islamitas de ligação a Israel


(...)

Mr Saleh did not say what evidence had been found to show the group's links with Israel, a regional enemy of Yemen.

The arrests were connected with an attack on the US embassy in Sanaa last month which killed at least 18 people, official sources were quoted saying.

Israel's foreign ministry has rejected the accusation as "totally ridiculous".

A vacina contra a gripe A


É o que acontece com a vacinas que são cuidadosamente desenvolvidas e testadas - quando saem cá para fora, nem se sabe bem quantas doses são necessárias.

Sunday, January 03, 2010

Os engenheiros da Jihad

Um paper de 2007 [pdf] sobre a sobre- representação de engenheiros no terrorismo islâmico (comparada, quer com a população total desses países, quer apenas com o universos de homens com formação superior).

Os autores, entre outras coisas, fizeram uma comparação com outros tipos de terrorismo. No terrorismo de extrema-esquerda os engenheiros são praticamente inexistentes - grupos como o Baader-Meinhoff ou as Brigadas Vermelhas eram compostos por sociólogos, licenciados em História e afins. Os únicos grupos armados de esquerda com uma participação assinalável de engenheiros que os autores detectaram foram a OLP (a começar por Arafat), os Mujaheden do Povo do Irão e um grupo turco, o Exército Popular de Libertação (imagino que seja este) - aliás, todos eles no mundo muçulmano.

Já no terrorismo de extrema-direita encontra-se alguma participação de engenheiros, mas nada de especial.

Diga-se também que, se nos movimentos políticos islamitas parece haver uma grande representação de engenheiros, médicos e cientistas, só os primeiros parecem ter uma tendência significativa para passarem da luta puramente politica para os grupos terroristas (ocorre-me uma possível explicação: para um cientista fundamentalista islâmico, o principal será a ideia teórico-abstrata da califado universal e da sharia; já um engenheiro fundamentalista quererá fazer algo de prático para implementar as suas ideias na realidade concreta).

[Este artigo tem recebido estado na berra depois de mais um engenheiro ter tentado explodir um avião]

O que é que os engenheiros que lêem este blog acham?

Saturday, January 02, 2010