Tuesday, January 31, 2012

Re: Os "CDS" de dívida soberana são para alguma vez serem pagos?

"Na verdade, é mais ou menos óbvio que os CDS sobre a dívida soberana de países como os EUA ou Alemanha nunca irão ser pagos"

Alguns motivos para o mercado de CDS sobre os EUA (ou Alemanha) ainda fazer sentido:

1- Os vendedores podem ser Bancos sem exposição significativa aos EUA
2- Os CDS podem ser pagos sem que o default seja total, basta uma reestruturação que salvaguarde que uma parte do sistema financeiro continue.
3- Os CDS podem ser pagos em nominal em USD desvalorizados quando o sistema monetário já está em parte noutra moeda ou arranjo alternativo (por causa do aproximar do default)
4- Quem vende CDS, tal como uma seguradora, vai acumulando reservas (pelos prémios recebidos) para eventos raros mas que acabam a dar-se.

Monday, January 30, 2012

Os "CDS" de dívida soberana são para alguma vez serem pagos?

Lendo este artigo na Business Insider, começo a desconfiar que não.

Na verdade, é mais ou menos óbvio que os CDS sobre a dívida soberana de países como os EUA ou Alemanha nunca irão ser pagos (se os EUA forem à falência, isso será no contexto de uma crise financeira global em que empresas que "garantem" os CDS provavelmente também irão à falência); mas se calhar isso é válido não apenas para as grandes economias mundiais, mas até para países como a Grécia.

Ainda sobre este assunto: Credit protection madness, um post de 2009 de Paul Krugman.

As pessoas que morrem sozinhas em casa

Nalgum sítio teriam que morrer, não?

[Da última vaga de pessoas que morreram em casa, creio que o único caso a merecer um lamento especial será a da senhora que morreu de fome porque a irmã que tratava dela morreu; todos os outros parecem-me casos de "morreu sozinho em casa como poderia ter morrido noutro sitio qualquer"]

Guerra, paz e armas nucleares

How do states act after they get nuclear weapons?, por James Fearon (The Monkey Cage):

All this talk about a possible US and/or Israeli preventive war against Iran got me wondering about the historical record concerning the conflict behavior of states after they acquired nuclear weapons. Does the rate at which states are involved in serious international disputes tend to go up, down, or see no change after they get the bomb?

Advocates of preventive war on Iran like Matthew Kroenig expect Iran to become much more aggressive if it gets nukes. “Proliferation optimists” like Ken Waltz, by contrast, argue that we have repeatedly expected terrible things from nuclear-armed adversaries but repeatedly found, if anything, the opposite to be the case. For example, both the Soviets and the US contemplated preventive strikes to prevent Mao from getting the bomb, as they considered him, not without some evidence, to be aggressive, dangerous, and fanatical. But the Chinese bomb was arguably followed by a more status quo oriented Chinese foreign policy. (...)

So I put it together myself, using Zeev Maoz’s version of the Correlates of War’s militarized interstate dispute data. The following graph shows, for each of the nine states that acquired nuclear capability at some time between 1945 and 2001, their yearly rate of militarized disputes in years when they didn’t have nukes, and the rate for years when they did. Note that for the US we have no data on dispute rate without nukes in this period since we got them in 1945; the rate for non-nuclear years for Russia/USSR is only for 1945-1948; the rate for South Africa (SAF) is for 1982-90; and the dispute data only goes to 2001.




China, France, India, Israel, Pakistan, and the UK all saw declines in their total militarized dispute involvement in the years after they got nuclear weapons. A number of these are big declines. USSR/Russia and South Africa have higher rates in their nuclear versus non-nuclear periods, though it should be kept in mind that for the USSR we only have four years in the sample with no nukes, just as the Cold War is starting.

Sunday, January 29, 2012

Sugestão de exercicio para os fins-de-semana

Contar quantas palavras (ou linhas, ou orações, etc.) tem a primeira frase do obituário que o José Cutileiro escreve todas as semanas no Expresso (a desta semana, dedicado a Thérèse Delpéche, parece-me ter 241 palavras).

Friday, January 27, 2012

"Mileuristas"?

Hoje, vi no supermercado um livro chamado "Eu Mileurista, Me Confesso", sobre a geração que ganha mil euros por mês, que tem que contar os tostões, tem que viver em casa dos pais, etc., etc. (era mais ou menos isso que falava na contracapa)

O trabalhador português típico ganha (antes de impostos) entre 700 e 800 euros por mês, o que torna um livro sobre os problemas de que vive com mil euros por mês algo um bocado deslocado (na verdade, mil euros é o valor em que, na minha classificação mental das classes socais, começa a classe média-alta).

Personal disclosure: depois de impostos, ganho para aí 1.100 euros por mês, sendo uma das 3 pessoas mais bem pagas das 12 (13 comigo) com quem trabalho directamente.

A verdade sobre o processo de Galileu Galilei [RAI - Legendado]

Thursday, January 26, 2012

Eleições presidenciais nos EUA - análise e previsões

Acerca das eleições primárias:

Se Gingrinch (contra as sondagens) ganhar na Florida, penso que as primárias estão arrumadas - se Romney não ganha na Florida, vai ganhar aonde? Se Romney ganhar a Florida, ficará em vantagem, mas nada estará decidido - a seguir vêm os caucuses do Nevada, onde Gingrich têm o apoio de um dos principais empresários dos casinos, e onde a última sondagem (já velha) dava Romney à frente de Gingrich por 4 pontos, mas ainda com Perry (que agora apoia Gingrinch), Hutsman (que apoia Romney) e Bachman incluídos (pelo que acho que ambos os lados têm a mesma hipótese de ganhar); se nos caucuses seguintes Romney é capaz de ter vantagem, a próxima ronda de primárias (a "Super-terça-feira") tem muitos estados sulistas em principio favoráveis a Gingrich. Portanto, acho que se Gingrich perder a Florida por poucos, aguentar-se nos caucuses e tiver um vitória retumbante na Super-terça.feira, é capaz de ganhar, até porque penso que muitos dos estados favoráveis a Romney só irão ter as suas primárias no fim  (de qualquer maneira, também vai influenciar o momento em que Satorum desistir).

Resumindo, se Gingrich ganhar a Florida, quase de certeza que ganha a nomeação; se Romney ganhar a Florida, é mais provável que seja o nomeado, mas Gingrich continua com hipóteses; no total, é mais provável que seja gingrich o candidato

É verdade que isto é um bocado paradoxal: eu acho mais provável que Romney ganhe a Florida; eu acho que se Romney ganhar a Florida, é mais provável ser ele o nomeado; mas, no global, acho mais provável ser Gingrich o nomeado (ou seja, eu acho o acontecimento "Romney ganha a Florida" mais provável que "Gingrich ganha a Florida" e o acontecimento "Romney ganha a Florida e nomeação" mais provável que "Romney ganha a Florida e Gingrich a nomeação" mas a conjugação {"Gingrich ganha a Florida e a nomeação" ou "Romney ganha a Florida e Gingrich a nomeação"} mais provável que {"Romney ganha a Florida e nomeação" ou "Gingrich ganha a Florida e Romney a nomeação"}).
[Esta minha teoria - de que se Gingrich ganhar a Florida a eleição está decidida e se for Romney está tudo em aberto - é um pouco ao contrário do que suspeito ser a opinião dominante, que se for Gingrich a ganhar a Florida é que ficará tudo indefinido; claro que se pode sempre questionar que capacidade tem um radical de esquerda que nunca foi mais a oeste que a Madeira para fazer previsões sobre as eleições internas de um partido de direita nos EUA]

De qualquer maneira, creio que Gingrich é o candidato que melhor representa o "fusionismo" - o equilibrio/sintese entre "libertários" (i.e., liberais"), conservadores sociais e "falcões" em politica externa que caracteriza o Partido Republicano e o conservadorismo norte-americano: Santorum está demasiado conotado com os conservadores sociais, Paul ainda mais conotado está com os libertários (e em politica externa/defesa está a uns 140º de distancia dos republicanos tradicionais), e Romney está demasiado longe de qualquer das sensibilidades - Gingrinch acaba por ser o candidato que melhor representa o "fusionismo".

Acerca das eleições propriamente ditas:

Por enquanto, as sondagens dão Obama a ganhar contra Gingrich e a perfer contra Romney, mas creio que depende da economia - se a crise se agravar nos EUA, Obama perde; se a economia dos EUA e do mundo (nomeadamente da Europa) melhorar significativamente, creio que Obama ganha; se a economia dos EUA melhor e a da Europa piorar, é um pau de dois bicos - por um lado, deveria beneficiar o presidente em funções, mas por outro levará a uma desconfiança perante ideias "europeias", o que até poderá beneficiar os republicanos, que poderão dizer "estão a ver o que a medicina socializada e as cinco semanas de férias fazem?".

Quanto ao "melhor" adversário para Obama, como disse, as sondagens dão a entender que é contra Gingrinch que ele terá mais hipoteses; mas, por outro lado, se Obama se decidir a fazer uma campanha "populista de esquerda" contra os "1%", não sei se Romney não será um candidato mais frágil perante uma campanha dessas (Bain Capital, 13,8% de impostos, etc,).

Por outro lado, a candidatura de Gingrinch poderá ter um bónus estratégico para os Democratas - a vitória de Gingrinch nas primárias significa que daqui a umas semanas/meses Romney desistirá, e que portanto as últimas primárias serão um duelo entre Paul e Gingrinch; e um confronto Paul/Gingrinch provavelmente contribuirá para fazer estalar as contradições internas da ideologia chamada "conservadorismo americano", já que teremos o conflito entre "conservadores" e "libertários" à flor da pele (ao contrário de um confronto Paul/Romney, que será apenas um conflito entre "republicanos liberais" e "libertários", sem por em questão os fundamentos da síntese fusionista).

[Um exemplo das minhas capacidade de previsão e análise aplicadas à política dos EUA]

Tuesday, January 24, 2012

Re: A crítica de Rui Albuquerque ao anarquismo

Para referenciar o assunto, o Miguem Madeira escreveu dois posts tendo começado assim: "Rui Albuquerque, no Ordem Livre, publicou (ou está publicando, foi só a primeira parte) mais um artigo sobre a relação entre o liberalismo clássico e o anarco-capitalismo - Só se ilude quem têm ilusões. "


Eu passado algum tempo coloquei a minha resposta no Ordem Livre e só agora me lembrei de aqui colocar:

Há muito a dizer e sobre muitas perspectivas. Uma delas é, a bem de não termos as tais ilusões, relativizar a esperança nesse “Estado de Direito” e o “Constitucionalismo”. É que fica-se com a impressão de que antes de tal coisa existir com o Estado Moderno não existia Direito e era a penumbra civilizacional. Ora há argumentos que se podem evocar para defender que o direito de propriedade e contratual (os direitos naturais por excelência) eram muito mais sagrados do que nestes Estados de Direito pondo em causa a afirmação:

“há pouco mais de duzentos anos a vida, a liberdade, a opinião e a propriedade privada eram permanentemente questionadas e postas em causa por poderes políticos discricionários e sem quaisquer limitações ou regras de exercício”

O absolutismo procurou destruir liberdades antigas, isso pode referir-se. Mas o absolutismo foi o primeiro passo na consolidação do estado moderno que reclama legitimidade absoluta e uniforme sobre o direito, a sua interpretação, a sua formação e a sua aplicação coerciva.

O direito natural precede a noção de estado, e seguramente precede um meio de decisão colectivo como a democracia. É o estado e a democracia que têm de se compatibilizar com o direito. Tudo o que um jusnaturalista deseja é que o direito na sua noção civil (natural?) regule a ordem social e não que seja a ordem política (em sentido restrito do funcionamento do aparelho político) – por natureza, estranho ao direito civil – a regular o direito.

Assim sendo, não pára numa barreira mental em nenhum ponto. Se lhe perguntam sobre o litígio, responderá que os tribunais arbitrais podem tomar conta do assunto e existem exemplos abundantes da formação espontânea de novos direitos (o direito mercantil). Se lhe perguntam sobre a segurança pública, responderá com a realidade da N agências de segurança privadas sem as quais nos dias de hoje, se fossem proibidas, a ordem pública, seria gravemente afectada.E assim por diante.

A pergunta que se faz é? existem liberais que não querem que o direito civil regule ao máximo a ordem social, ou é por acharem impossível?

Seja como for, tenho de insistir que essa visão da inevitabilidade e maior eficácia de uma autoridade única (com o monopólio territorial da violência) é posta em causa pela realidade da anarquia internacional (N direitos, N agências de violência, relações contratuais entre N ordens jurídicas).

A realidade de soberanias cruzadas (feudal, da cidade, canónico, mercantil,) e direitos que fez parte da história europeia e que incluiu a soberania autónoma da Igreja fecundou o civilização moderna, dizer que o fim da história é um enorme monopólio territorial, um direito civil, e um código penal, é deslocado.

Esta afirmação:

“Uma segunda, de natureza histórica, que é a inexistência de qualquer precedente societário onde não se tenha manifestado um poder político potencialmente aspirante ao monopólio, isto é, à soberania, o mesmo é dizer, um poder que aspira à exclusão de todos os outros.”

…pode ser posta em causa desta forma: claro que toda a forma de poder persegue o absolutismo – os homens não são anjos, e no poder procuram sempre estender esse poder em vez de tentar o método cooperativo e contratual – e os crimes em massa para o conseguir é o que forma grande parte da história.

Ou seja, o Rui A. dá o exemplo da história, o mesmo exemplo que prova que um poder formado fora da esfera do direito civil procura por todos os meios violentos (com crimes civis e penais em massa) tornar-se único. Isso é argumento?

Rothbard e Hoppe referem que a história,ao contrário do marxismo, não é a da luta de classes, mas a da oposição entre o poder e as relações de cooperação civis. Ambas caminham pela historia, com avanços e recuos, por vezes o poder consegue ser mais benigno outras vezes a coisa mais destrutiva da civilização através precisamente da violência para defender o seu monopólio territorial da violência – as guerras (por definição, a mais completa ausência de direito civil e penal, ou seja, anomia selvagem que obteve a sua sua expressão máxima no advento do estado moderno no século 20).

Aos nossos olhos estamos a presenciar o estado moderno a soçobrar, não que caia tão cedo (se bem, que não estou seguro disso, já começam a ser habituais mudanças repentinas). Está já economicamente e funcionalmente desadequado. É uma estrutura pesada e lenta, já o era, mas hoje, com o poder da comunicação e capacidade dos indivíduos formarem comunidades e relações, de inclusão e exclusão, da já visível decaída de identificação das pessoas com o nacionalismo estatal (o que não quer dizer que não queriam reter os seus valores e diferenciações étnico-culturais que formam as nações)…está a ser posto em causa pelo seu calcanhar de Aquiles – a (i)racionalidade económica, o facto de depender do monopólio da moeda, etc.

E era preciso provar que estado moderno não tem de inevitavelmente de ser progressista-social-democrata procurando crescentemente impor direitos positivos e destruindo todo e qualquer conservadorismo social (que para um liberal, deve poder conviver pelo exercício de direitos de ostracismo / inclusão). Mas é difícil, a partir do momento que se cria a ideia de um “texto sagrado” que legitima a sua acção, por muitas boas intenções que estejam na sua génese, esse “texto sagrado” passa a conceder um poder (“The Ring”) nas mãos da vontade geral.

E não há maior exemplo do que a Constituição Americana, essa grande experiência. Podemos passar pela “guerra para impedir a legítima secessão” e acabar no domínio interpretativo; o Estado Federal assenta boa parte da sua acção na Commerce Clause (The Congress shall have Power To regulate Commerce with foreign Nations, and among the several States, and with the Indian tribes;) que pretendia impedir os Estados de restringir o comércio entre si. Um exemplo conhecido e anedótico é o argumento usado pela administração de Roosevelt para regular (determinar, etc) a quantidade de auto-produção para consumo de batatas: na medida em que produz para auto-consumo afecta o comércio entre Estados e por isso cai no âmbito da Commerce Clause para regulação pelo Estado Federal.

«O que o homem escolhe está determinado pelas ideias que adopta»

E onde está escrito no universo a inevitabilidade de relações não civis (onde vive a ordem política)? Só as ideias o considerarem inevitáveis como já consideraram a escravatura, as castas, etc.

“Rothbard, por exemplo, ainda que consiga demonstrar logicamente a superioridade moral do anarquismo sobre o estatismo, é incapaz de nos explicar como conseguiremos eventualmente sair da soberania para um outro mundo onde o direito de propriedade fosse absoluto e a liberdade individual determinasse toda a complexidade das relações sociais e políticas.”

Porquê incapaz? a classificação da realidade como anárquica,para já,é uma afirmação objectiva. Não existem poderes absolutos no absoluto termo do termo. Não falo só do estado de anarquia internacional, falo da realidade social. Não existem comandos absolutos a não ser os de Deus, as pessoas escolhem e agem, podem obedecer a comandos do seu Estado por concordância ou por medo, como podem simplesmente deixar de lhe ligar (o grande exemplo da queda do muro).

Existe um poder que pode evocar ser como Deus e esmagar a tentativa do indivíduo/comunidade se afastar dele e formar o seu próprio? A razão do Estado, mesmo que fundada na suposta legitimidade constitucional, pode e pergunto – deve – esmagar quem se quer afastar dele?

É evidente que o anarquismo persegue uma noção universal de direito e que só pode realizar-se pelo direito natural descoberto pela filosofia (melhor palavra que a “razão”). Mais uma vez, corresponde à noção universalista que formava a Europa pulverizada da Idade Média (se a virmos no seu melhor), onde os nacionalismos não existiam na noção moderna, o latim era língua comum das elites, e o direito de propriedade era levado a sério (e sendo a relação feudal uma de protecção mútua contratual).

A história repete-se, e nessa diversidade e relações sociais complexas que se fala, o estado moderno na sua configuração grande-estado-constitucional deverá ser posto em causa. O direito natural assegura uma forma de governo e uma ética, uma estabilidade e previsibilidade do direito. O direito legislativo inerente a um monopólio do direito assegura imprevisibilidade e instabilidade. É por isso altamente ineficiente e põe em causa a própria noção de direito.

Existe aqui também uma questão de grau: podemos por hipótese chamar a uma cidade-estado governada por parâmetros similares a relações de condomínios (que regula taxas, partes comuns e partes individuais, etc) um Estado ou um “poder anárquico” (dado ser instituído por relações contratuais civis)? Faz sentido chamar-lhe anárquico?

Kika (2000-2012)


Num dia do Verão de 1983, tinha eu 9 anos quase a fazer 10, ouvi a minha mãe entrar em casa e logo a seguir a minha irmã a dizer, entusiasmada, "Que linda! Que linda!"; pensado "o que será que a minha mãe trouxe?", fui ver o que se tratava - era uma gata siamesa com cerca de um mês, que - inspirados por aqui - baptizamos "Duquesa" (creio que o nome original dela era "Bellkiss", ou coisa assim).

Desde então, pode-se dizer que a vida da minha família esteve ligada à dessa família de gatos, que se foi sucedendo por gerações (note-se que o Pantufa não pertence a esta linhagem - foi encontrado recém-nascido com os irmãos, aparentemente abandonados). Durante 12 anos viveram (e vivemos) numa casa com terraço, aqui, tendo os telhados e jardins do bairro à sua conta; depois, passaram a ser "gatos de apartamento" (o que, aliás, parece ter afectado os seus padrões reprodutivos - se antes as ninhadas de gatinhos nasciam por regra na Primavera, por altura do terceiro período das aulas, a partir do momento em que os gatos passaram a viver fechados, os nascimentos passaram a ocorrer a qualquer altura do ano).

Até ontem, quando a Kika, bisneta da Duquesa, morreu de uma espécie de cancro (há um ano atrás, depois de o veterinário lhe ter extraído uns tumores, ela corria e saltava cheia de energia e eu até pensei "esta ainda vai viver uma carrada de anos; foram 200 euros bem gastos", mas enganei-me...).

Eu já tinha tido gatos antes destes (para aí entre os 5 e os 7 anos tive uma gata preta  - a "Bolinhas" - que também teve filhos e netos, mas morreram cedo; para não falar dos dois gatos que os meus pais tinham em Moçambique quando eu nasci - eles dizem que a minha primeira palavra foi "gato", mas na carrada de "gu-gu-ga-ga" que os bebés dizem, é muito fácil a pais imaginarem que o filho está a dizer "gato") e continuo a ter um gato (o referido Pantufa, que neste momento saltou para o meu colo atrapalhando a redacção do post - estará com ciúmes?), mas pode-se dizer que a "família" atrás referida foram "os gatos mais importantes da minha vida" (afinal, foram quase 30 anos de "convívio", mais próximo ou mais distante conforme as alturas).

Monday, January 23, 2012

As divisões em Israel

The Blockbusters, por Uri Avnery, na Counterpunch:

Israel is now a kind of federation of several major demographic-cultural blocs which dominate our social and political life.

Who are they? There are (1) the old Ashkenazim (Jews of European origin); (2) the Oriental (or “Sephardi”) Jews; (3) the religious (partly Ashkenazi, partly Oriental); (4) the “Russians”, immigrants from all the countries of the former Soviet union; and (5) the Palestinian-Arab citizens, who did not come from anywhere.
This is, of course, a schematic presentation. None of the blocs is completely homogeneous. Each bloc has several sub blocs, some blocs overlap, there is some intermarriage, but on the whole, the picture is accurate. Gender plays no role in this division.

The political scene almost exactly mirrors these divisions. The Labor party was, in its heyday, the main instrument of Ashkenazi power. Its remnants, together with Kadima and Meretz, are still Ashkenazi. Avigdor Lieberman’s Israel Beytenu consists mainly of Russians. There are three or four religious parties. Then there are two exclusively Arab parties, and the Communist party, which is mainly Arab, too. The Likud represents the bulk of the Orientals, though almost all its leaders are Ashkenazim.

The relationship between the blocs is often strained. Just now, the whole country is in an uproar because in Kiryat Malakhi, a southern town with mainly Oriental inhabitants, house owners have signed a commitment not to sell apartments to Ethiopians, while the Rabbi of Safed, a northern town of mainly Orthodox Jews, has forbidden his flock to rent apartments to Arabs.

But apart from the rift between the Jews and the Arabs, the main problem is the resentment of the Orientals, the Russians and the religious against what they call “the Ashkenazi elite”. (...)

It may be said, quite rightly, that I generalize. I do, just to simplify matters. There are indeed a lot of Orientals, especially of the younger generation, who are repelled by the ultra-nationalism of the Likud, the more so as the neo-liberalism of Binyamin Netanyahu (which Shimon Peres once called “swinish capitalism”) is in direct contradiction to the basic interests of their community. There are also a lot of decent, liberal, peace-loving religious people. (Yeshayahu Leibovitz comes to mind.) Some Russians are gradually leaving their self-imposed ghetto. But these are small minorities in their communities.  The bulk of the three blocs – Oriental, Russian and religious – are united in their opposition to peace, and at best indifferent to democracy.
All these together constitute the right-wing, anti-peace coalition that is governing Israel now. The problem is not just a question of politics. It is much more profound – and much more daunting.

SOME PEOPLE blame us, the democratic peace movement, for not recognizing the problem early enough, and not doing enough to attract the members of the various blocs to the ideals of peace and democracy. Also, it is said, we did not show that social justice is inseparably connected with democracy and peace.
I must accept my share of the blame for this failure, though I might point out that I tried to make the connection right from the beginning.(...)

 I put my trust in the new generation. Last summer’s huge social protest movement, which erupted quite suddenly and swept [“along”?] hundreds of thousands, showed that yes, it can happen here. The movement united Ashkenazim and Orientals. Tent cities sprang up in Tel Aviv and Beer Sheva, all over the place.
Our first job is to break the barriers between the blocs, change reality, create a new Israeli society. We need blockbusters.

Yes, it is a daunting job. But I believe it can be done.

Sunday, January 22, 2012

Ainda a propriedade intelectual

Será que a razão porque, por vezes, as leis de defesa da propriedade intelectual têm apoio quase unânime no parlamento é porque, juntando os entusiastas do substantivo com os entusiastas do adjectivo, isso cobre as correntes políticas quase todas?

A propriedade intelectual, a SOPA/PIPA e a PL118

Quando escrevi este post, hesitei um pouco em pôr a etiqueta "Propriedade Intelectual?"; afinal, o protesto não era contra a propriedade intelectual, mas apenas contra alguns meios que estavam propostos para a defender.

Aliás, da mesma forma a ligação do Projecto de Lei 118 com a propriedade intelectual também é um bocado remota - afinal, nunca vi nenhum defensor da propriedade física defender algo do género "lançar um imposto sobre ferramentas que possam ser usadas em assaltos e consignar as receitas desse imposto a subsídios a uma mutualidade que forneça seguros contra furtos" (que é o mais parecido que eu consigo imaginar no mundo físico com algo parecido à PL 118). Por outras palavras, em teoria alguém até pode ser um defensor entusiasta da propriedade intelectual e contra coisas como a SOPA/PIPA ou a PL 118.

Mas a questão é que (sobretudo no mundo actual) a propriedade intelectual é tão díficil de fazer respeitar que se calhar qualquer tentativa de a defender a sério implica ir mais longe do que simplesmente fazer cumprir a propriedade intelectual - não basta simplesmente processar (civil ou criminalmente) as pessoas que façam partilhas de ficheiros ou cópias de filmes (dificilmente as apanham), sendo necessário fazer mais do que isso: lançar impostos especiais sobre pens, alargar a responsabilidade pelas violações da PI a entidades não directamente envolvidas (como na SOPA/PIPA, que talvez tornasse a Google Inc., - na sua condição de dona do Blogger - responsável caso eu tivesse violados os direitos de autor de alguém num post como este), dar aos fornecedores de Internet autoridade para quebrarem unilateralmente contratos com os seus clientes mesmo sem qualquer sentença judicial, etc.

Isso levanta um ponto mais amplo - as leis não são cumpridas só por existirem, tem que haver um qualquer mecanismo de repressão (desde os mais suaves aos mais repressivos) para elas serem cumpridas; e pode haver situações em que, independentemente das razões que haja, em abstracto, para dado acto ser ilegal, a implementação prática dessa ilegalização possa implicar meios tão intrusivos que faça com que seja melhor esquecer o assunto. E talvez a propriedade intelectual seja desses casos em que a legislação, para ser efectiva, tenha que ser intrusiva e sujeita a muitos "danos colaterais" (isto é, afectando pessoas que não estão a violar a propriedade intelectual de ninguém, como o escritor que compra uma pen para guardar as suas obrar por publicar).

[Regra geral - a repressão de crimes que não tenham uma vitima presente no momento e lugar do crime tenderá a implicar meios intrusivos e com grandes danos colaterais; sobre este assunto ver o meu post de há 5 anos e tal, "Ainda a rusga ao Bairro da Torre"]

Saturday, January 21, 2012

Quem são os "1%"?

Um estudo do New York Times sobre as famílias que ficam no percentil mais alto do rendimento nos EUA.

As suas profissões - as mais comuns são "gestor", "advogado", "médico" e "professor", embora os professores (suspeito que largamente professoras, embora a língua inglesa não permita concluir isso) normalmente pertençam ao grupo devido aos rendimentos dos conjugues; o estudo não parece claro sobre como classifica quem vive dos rendimentos (ou sequer se rendimentos do capital estão a ser contados)

Formações académicas - as mais comuns são Biologia, Economia, Ciências Políticas e Contabilidade; se formos ver as áreas académicas em que, em termos relativos,têm uma maior percentagem de gente nos "1%ers", serão Saúde, Economia e Ciências Bioquímicas

Friday, January 20, 2012

Quanto é que o Jacinto Bettancourt recebe para escrever posts?

"É óbvio que não existe criatividade e inovação se o resultado do esforço criativo ou inventor não for remunerado."

[Se ele tivesse escrito algo como "grande parte da criatividade e inovação não existiriam se o resultado do esforço criativo ou inventor não fosse remunerado" era uma coisa; mas a tese bettancourtiana é mesmo que, sem remuneração, "não existe criatividade e inovação", ponto final]

Hoje, às 01:35


Thursday, January 19, 2012

PL118

Wednesday, January 18, 2012

Qual é a real representatividade do Governo que se senta neste Conselho?

Helena Matos pergunta "qual a real representatividade das organizações patronais e sinidicais que se sentam" na Comissão Permanente de Concertação Social.

Podíamos ir um pouco mais longe e perguntar qual a representatividade dos membros do Governo que se sentam no conselho - afinal, se provavelmente a maior parte dos trabalhadores não são sindicalizados e dos empresários não são "associados", também a maior parte do povo português não escolheu este Governo (entre abstencionistas e votantes de outros partidos, apenas 27% do eleitorado escolheu este governo). Antes que alguém diga "quem se abstém aceita implicitamente o resultado das eleições", também se podia dizer "quem não se sindicaliza nem cria um sindicato alternativo aceita implicitamente o que os sindicatos estabelecidos acordarem"; em abono dos sindicatos e associações patronais, diga-se que quem não gostar da sua linha de actuação pode sempre criar um sindicato/associação patronal alternativo e tentar "roubar" filiados aos já existentes - quem não goste da política do governo não tem essa hipótese.

Monday, January 16, 2012

Os "erros da wikipedia"

A respeito dos 11 anos da wikipedia, o Diário de Notícias fez um artigo dedicado... aos erros na wikipedia. Para quando um artigo (talvez no próximo aniversário do DN) sobre os erros do Diário de Notícias (eventualmente com uma estatística comparando as respecitivas taxas de erro).

[Mesmo há uns dias houve um de palmatória - o DN publicou a tradução de um artigo inglês sobre "países desaparecidos", em que logo no principio se falava que, em dado momento, os ingleses tinham acabado de ganhar a II Guerra Mundial "com a ajuda dos ianques e do «tio Joe»"; depois, nas notas de rodapé, a tradutora explicou quem eram os "ianques" - nome atribuído aos habitantes do noroeste dos Estados Unidos mas que fora do país é aplicada a todos os habitantes dos EUA - e quem era o «tio Joe» - o general Joseph Warren Stilwell, que comandou as forças norte-americanas na Birmânia, China e Índia; ainda gostava de saber onde é que a tradutora foi descobrir esse general Stilwell... Ela não saberá que a expressão "Uncle Joe", ainda mais naquele contexto, se refere a Estaline??]

AnCap becoming mainstream

How much government do we really need? A former Federal Reserve economist gives a surprising answer: None!

A "Standard & Poors" explica-se

Credit FAQ: Factors Behind Our Rating Actions On Eurozone Sovereign Governments

WHAT HAS PROMPTED THE DOWNGRADES?

Today's rating actions are primarily driven by our assessment that the policy initiatives that have been taken by European policymakers in recent weeks may be insufficient to fully address ongoing systemic stresses in the eurozone. In our view, these stresses include: (1) tightening credit conditions, (2) an increase in risk premiums for a widening group of eurozone issuers, (3) a simultaneous attempt to delever by governments and households, (4) weakening economic growth prospects, and (5) an open and prolonged dispute among European policymakers over the proper approach to address challenges.

The outcomes from the EU summit on Dec. 9, 2011, and subsequent statements from policymakers lead us to believe that the agreement reached has not produced a breakthrough of sufficient size and scope to fully address the eurozone's financial problems. In our opinion, the political agreement does not supply sufficient additional resources or operational flexibility to bolster European rescue operations, or extend enough support for those eurozone sovereigns subjected to heightened market pressures.

We also believe that the agreement is predicated on only a partial recognition of the source of the crisis: that the current financial turmoil stems primarily from fiscal profligacy at the periphery of the eurozone. In our view, however, the financial problems facing the eurozone are as much a consequence of rising external imbalances and divergences in competitiveness between the EMU's core and the so-called "periphery". As such, we believe that a reform process based on a pillar of fiscal austerity alone risks becoming self-defeating, as domestic demand falls in line with consumers' rising concerns about job security and disposable incomes, eroding national tax revenues.
[Serão estas as "considerações do foro político" que indignaram Passos Coelho?]

Saturday, January 14, 2012

O arrendamento e o endividamento

De vez em quando surge a teoria de que a culpa do endividamento nacional é (pelo menos em parte) da dificuldade em arrendar casa (há uns dias, tanto o Daniel Oliveira como o Henrique Raposo vieram com essa teoria); se eu percebo, a teoria é que, como não há casas para arrendar, as pessoas têm que comprar casa, e como muitas não têm dinheiro para isso, tem que pedir emprestado.

Então, vamos lá ver - vamos supor que eu, em vez de ter pedir, digamos, 100.000 euros ao banco para comprar uma casa, ia viver para uma casa arrendada; teriamos menos endividamento, certo? Afinal, foram menos 100.000 euros que foram pedidos de empréstimo.

Mas, mesmo que eu arrendasse uma casa em vez de comprar, ela não ir surgir do ar; ou seja, mesmo que eu não compre a casa, alguém tem que a comprar (para depois a arrendar a mim); e, então, das duas uma:

1ª hipótese - essa pessoa (o meu hipotético senhorio) pediu ele dinheiro emprestado para comprar a casa; nesse caso, nada muda em termos de endividamento

2ª hipótese - essa pessoa comprou a casa com o dinheiro dele; realmente, nesse caso (e ao contrário dos anteriores), não foi concedido nenhum empréstimo de 100.000 euros; mas provavelmente foi levantado um depósito de 100.000 euros, logo a diferença entre "empréstimos concedidos" e "dinheiro disponível em Portugal para emprestar" aumentou à mesma 100.000 euros (por outras palavras, é a mesma necessário ir pedir mais 100.000 euros emprestados ao estrangeiro).

Ou seja, a diferença entre comprar ou arrendar casa pode afectar a quantidade de dinheiro que alguns portugueses devem a outros portugueses, mas não terá efeitos relevantes sobre a dívida total liquida do conjunto dos portugueses.

Pondo as coisas de outra maneira - ou há capital disponível em Portugal para financiar a construção e compra de casas, ou não há; se há, a compra de casas (seja para habitação própria, seja para arrendamento) não vai causar endividamento líquido do conjunto dos portugueses (alguns podem-se endividar, mas outros terão um saldo positivo); e se não há, haverá endividamento de qualquer maneira (a única diferença entre as várias modalidade é quem se irá endividar).

Bem, na verdade há uma situação em que a opção pelo arrendamento em vez de pela compra iria reduzir o endividamento externo - se fossem os investidores estrangeiros a investir directamente no mercado da habitação, ficando eles como senhorios; aí ninguém em Portugal se iria endividar para ter casa; mas haverá uma grande diferença entre o país estar fortemente endividado ao estrangeiro e ter que pagar juros, ou grande parte dos activos reais do país estarem nas mão de estrangeiros, que recebem rendas por isso? Pelo menos, acho que o argumento que fiz em 2010 sobre "o problema da dívida externa" aplicar-se-ia também nesse caso, com uma ou outra alteração de pormenor.

Thursday, January 12, 2012

O primeiro debate entre "minarquistas" e "anarco-capitalistas" (em 1849)?

Les Soirées de la Rue Saint-Lazare: Entretiens sur les lois économiques et défense de la propriété, por Gustave de Molinari, que defende o que hoje em dia seria chamado "anarco-capitalismo"


Question of the Limits of State Action and Individual Action Discussed at the Society of Political Economy, uma espécie de "acta" da reunião da Société d’économie politique em que a tese de Molinari foi discutida, e rejeitado pelos principais pensadores liberais da época (um resumo/apresentação por Roderick T. Long, que traduziu o texto)

Review of Gustave de Molinari’s Soirées, por Charles Coquelin (resumo/apresentação por Long)

Wednesday, January 11, 2012

O que é um ateu?

Há dias, João César das Neves escrevia que "o ateísmo é a crença que Deus não existe". De vez em quando também surgem discussões sobre se para ser ateu basta não ter motivos para acreditar que Deus exista ou se é necessário acreditar que Deus não existe (sendo a anterior posição "agnosticismo" e não "ateísmo").

Acho que isso é largamente o resultado de termos 3 nomes (crente, agnóstico e ateu) para designar o que são, pelo menos, quatro posições distintas:

a) "Eu estou convencido que Deus existe"

b) "Não tenho motivos suficientes, nem para achar que Deus existe, nem que não existe"

c) "Na ausência de razões que me levem a achar que Deus existe, parto do principio que não existe"

d) "Eu estou convencido que Deus não existe"

Ora, se a posição a) é inequivocamente "crente", a b) "agnóstica" e a d) "ateia", já não é muito claro em que gaveta por os que seguem a linha c) - são "agnósticos" ou "ateus"?

Poderá-se por em causa a razoabilidade de assumir que algo não existe só por não haver razão para supor que existe (afinal, como por vezes diz, "ausência de prova não é prova de ausência"); mas a verdade é que é o que fazemos na maior parte das situações da vida - quando chego a casa e me preparo para abrir a porta, não sou "agnóstico" face à hipótese de estar um gang de assassinos canibais à minha espera; se não notar nada de estranho, parto do principio que não está. Da mesma maneira, se perguntarmos a alguém se é multimilionário, a resposta mais provável é "não", em vez de "não sei", mesmo que o perguntado não olhe para o extracto de conta há horas ou dias (quem lhe garante que nenhum benfeitor anónimo lhe não depositou 3 milhões de euros há um minuto)?. Ou seja, há montes de possíveis situações ou eventos que, na ausência de razões para achar que existem ou ocorreram, simplesmente partimos do principio que não existem/não aconteceram (em vez de sermos "agnósticos" e dizermos "talvez tenha acontecido, talvez não").

Uma maneira alternativa de ver a questão - um individuo estima uma dada probabilidade para a existência de Deus; a partir de que probabilidade deixa de ser um agnóstico para passar a ser um ateu? Aos 0% (quem ache que a probabilidade de Deus existir é 0% e quem a estime como maior que 0% mas menor que 100% é agnóstico)? Aos 49,9999..% (isto é, ateus são todos aqueles que acham mais provável que Deus não exista do que exista)? Um valor intermédio?

Os "3/5 de pessoa"

No 5 Dias, Raquel Varela cita um artigo sobre o Haiti de Eduardo Galeano em que este afirma que, na primeira Constituição dos EUA, se estabelecia que um negro contava com 3/5 de uma pessoa.

Há uma (ou várias) grande confusão acerca dessa cláusula da Constituição dos EUA, frequentemente apresentado como simbolo do racismo dos fundadores dos EUA.

A primeira confusão é ser frequentemente referido (como Galeano faz) que um negro contava como 3/5 de pessoa. Errado - o que lá dizia era que um escravo contava como 3/5 de pessoa (um negro livre contava como uma pessoa inteira); mais exactamente, dizia que as "free Persons, including those bound to Service for a Term of Years" eram contados por inteiro, enquanto que "all other Persons" contavam como 3/5. Ou seja, um negro livre valia o mesmo como um branco livre.

Mas a questão mais importante até não é essa. Os "3/5" foi um compromisso entre duas facções - de um lado os que queriam que os escravos contassem tal e qual como um homem livre; do outro os que queriam que eles, pura e simplesmente, não contassem nada. Portanto, de um lado, tinhamos os progressistas humanitários que queriam contar os escravos como pessoas como outras quaisquer, e do outros os racistas esclavafistas que não queriam contar os escravos como pessoas, certo?

Errado - era ao contrário : eram os esclavagistas que queriam contar os escravos por inteiro, e eram os anti-esclavagistas que não os queriam contar. A explicação é simples: a questão dos 3/5 tinha a ver com o método usado para determinar quantos representantes cada Estado iria ter no Congresso federal. Como é evidente, os escravos não tinham direito a voto - contar os escravos para distribuição de deputados iria aumentar a representação dos brancos livres do Sul (nomeadamente os donos das plantações), já que só esses é que poderiam votar. Já o campo anti-escravatura defendia que os escravos não deveriam contar, exactamente para reduzir o peso do Sul no Congresso (e com o argumento que, se os escravos não contavam como pessoas para tudo o resto, não faria sentido contarem como pessoas para efeitos da representação política dos Estados esclavagistas). Os "3/5" foram o compromisso possivel.

A ironia disto é que uma posição (não contar os escravos como pessoas inteiras) que foi tomada por pressão dos adversários da escravatura tenha sido reciclada na cultura popular e frequentemente apresentado como um sinal de racismo (claro que os fundadores dos EUA eram racistas, isso nem é discutivel; mas a "cláusula dos 3/5" foi criada por pressão do que mais parecido havia na época com "anti-racistas").

Escócia independente?

Renewed Sparring Over Scottish Independence Movement (New York Times):

The smoldering issue of Scottish independence has ignited again, this time in a political context that appears to give Scottish nationalists at least an outside chance of gaining popular support for the end of Scotland’s constitutional ties with Britain in a referendum among Scottish voters within the next two or three years.

Monday, January 09, 2012

Os políticos são naturalmente a favor dos patrões?

Biased towards bosses, por Chris Dillow:

[P]oliticians are, by their very nature, too sympathetic to managers.


This is not simply because they come from the same social class. Nor is it because MPs are bought off by the rich. It’s also because of a selection effect.

The sort of people who want to enter politics - as MPs, advisors or even reporters - are generally those who think that society and the state can be managed for the better. They are, therefore, predisposed to believe that management is, or can be, a socially useful activity, which means they are biased to think that chief executives, on average, should earn a lot.

"Evangélicos"

Uma evolução curiosa dos comentários à politica dos EUA é que parece ser mais frequente chamar "evangélico" ao católico Rick Santorum do que aos baptistas Bill Clinton ou Al Gore.

[Por qualquer razão estranha, aquilo a que nos anos 80 se chamava "fundamentalistas" passou a ser chamado de "evangélicos", independentemente da denominação religiosa que efectivamente sigam]

Thursday, January 05, 2012

Os Iranianos são é muito sensíveis e nervosinhos

(carregar na imagem para a ver completa)


Cada estrela representa uma base militar americana (via Business Insider).

Ou será apenas pelos repetidos apelos a um ataque por políticos e opinion-makers americanos? Que sensíveis.

Game of the Century - Bobby Fischer [COM 13 ANOS] vs Donald Byrne



Tuesday, January 03, 2012

Monday, January 02, 2012

Imagine

Em vez do exemplo dado de uma ocupação pela China ou Rússia podemos pensar na Federação Democrática da Galáxia (aquela da Star Wars - so this how liberty dies ou a da Serenity) para acabar com a guerra civil permanente no planeta terra e ensinar-nos a ser civilizados e a gostar de tofu.