Friday, July 31, 2009

Natalidade e "familia tradicional"

Funcionários públicos e policias



"Descubra as diferenças"

Se alguêm quiser ouvir a minha voz, pode fazê-lo hoje às 18 horas na Radio Europa (90,4 FM - Lisboa), em conversa com o André Abrantes Amaral e o Afonso Azevedo Neves sobre a China, o Durão Barroso, a relação entre blogs e politica e as autárquicas em Lisboa.

Os ricos pagam a crise?

Anda um grande bruá por aí acerca das familias de altos rendimentos que pagam a maior parte do IRS.

Bem, em primeiro lugar elas pagam a maior parte do IRS porque também recebem a maior parte dos rendimentos (sim, a sua proporção no IRS é maior que no rendimento, mas isso faz parte da ordem natural das coisas num sistema de imposto progressivo - só num imposto em que toda a gente pagasse a mesma taxa é que a proporção de um grupo social no IRS seria igual à sua proporção no rendimento).

Mas, mais importante, é ver a distribuição total dos impostos na receita do Estado:


[fonte: Orçamento de Estado para 2009]

No caso do IRC, é de esperar que uma proporção ainda maior seja paga pela classe alta; em compensação, o IVA (o imposto que mais alimenta os cofres públicos) é distribuido muito mais igualitariamente pelas várias classes sociais (imagino que um rico e um pobre gastem em IVA mais ou menos a mesma proporção do seu rendimento).

Quanto ao imposto sobre a gasolina e aos sobre o alcool e o tabaco, suponho que sejam na realidade regressivos (pelo menos, da classe média-baixa para cima): claro que uma pessoa que ganhe 5.000 euros por mês gasta mais gasolina do que uma que ganha 1.000 euros, mas duvido que gaste 5 vezes mais gasolina, logo acabará por gastar uma menor proporção do seu rendimento em imposto.

Wednesday, July 29, 2009

Re: Saldos

Pedro Sales, acerca do leilão de armas ilegais apreendidas, escreve:

A direcção da polícia garante que a licitação anual decorre de uma imposição da lei das armas, o que é verdade, e que as mesmas só são vendidas a quem as “pode” ter. Certo. Mas a questão não se deveria resumir apenas à legalidade da posse, mas sim ao direito de todo e qualquer marmanjo ter uma arma em casa. E é esse o sinal que o Governo dá com esta contraditória operação. Quantas das 13 mulheres assassinadas o ano passado com uma arma de fogo não morreram às mãos de legítimos proprietários de uma arma, ou quantas caçadeiras não viram os seus canos serrados e transformadas para ameaçar o próximo? A profusão de armas ilegais é preocupante, mas a naturalidade com que o Governo aprova uma lei que atira para as ruas uma parte significativa das armas ilegais apreendidas pela polícia, está para lá de qualquer lógica.
Em primeiro lugar, penso que este leilão não aumentará a quantidade de armas (ou de armas legais) existentes em circulação - se eles só podem ser adquiridas por pessoas que tiraram uma licença de porte de armas, é de supor que essas pessoas fossem comprar uma arma de qualquer maneira; logo estas 217 armas vendidas significarão para aí umas 200 (pronto, não digo que sejam as 217) que deixam de ser vendidas nos armeiros privados.

Em segundo, acerca do argumento das mulheres assassinadas com armas de fogo - um dos comentadores já referiu que "Se a violência doméstica fosse o problema, proíbia-se as facas e a musculação, porque até o seu próprio punho serve de arma. Basta ver quantos mulheres morrem agredidas a soco e pontapé pelos seus respectivos companheiros"; na verdade, também poderíamos fazer o raciocínio oposto - uma mulher que tenha, ela, acesso a uma arma até está mais protegida da violência (já agora, ver este post meu de há 2 anos). E, atendendo a que, normalmente, as mulheres são fisicamente mais fracas que os homens, as armas até podem funcionar como um equalizador (como alguém disse referindo-se às pistolas, "desde que inventaram estas coisinhas, já não há homens fortes").

Leave her alone, and send her the money

No blog de campanha do CDS, Maria Carvalhosa pede que a "deixem em paz" a respeito daquela proposta do PS do Estado "dar" 200 euros a cada recém-nascido.

Primeiro pensei que ela fosse escrever algo do género "não me venham com incentivos à natalidade; eu tenho filhos se e quando e quantos quiser!". Mas não - o que ela acha é que o Estado deve entregar o dinheiro directamente aos pais em vez de abrir uma conta para os filhos.

"Então se o incentivo é para a natalidade não deveria ser entregue aos pais? E mesmo aceitando o ‘porreirismo’ da medida, se fosse dos filhos, não deveriam ser os pais a decidir como geriam esse activo financeiro?"

A respeito do primeiro ponto, eu até concordo - tal como está desenhada, esta medida não é de "incentivo à natalidade". No entanto, a respeito do segundo, penso que não há nada de peculiar em donativos a menores serem feitos sob a forma de uma conta (ou uma aplicação semelhante) para ficar intocada até ele atingir a maioridade; mesmo entre familiares, acho que não é muito raro doações dessas.

Os 200 euros para cada recém-nascido

Esta medida faria mais sentido se não fosse apresentada como uma medida "de apoio à natalidade" (duvido que algum casal decida ter filhos por saber que o futuro filho vai receber umas centenas de euros daqui a 18 anos).

Ainda sobre o golpe e o referendo nas Honduras


Na página 124 é apresentada uma cópia de um documento a defender o referendo que Zelaya queria convocar para eleger uma assembleia constituinte; nesse documento são apresentadas as razões invocadas pelo campo "zelayista" para criar uma nova constituição:



Bem, qual destas razões viola o famoso artº 239 (invocado, p.ex., pelo João Miranda)? E, se Zelaya ou os seus apoiantes tivessem dito/publicado alguma coisa que violasse esse artigo, de certeza que as FA hondurenhas iriam referi-lo.

Tuesday, July 28, 2009

O IRS (ou "Fiscalidade 101")


Ou Carlos Martins explicou mal o que pretendia representar, ou então fez mal as contas.



(estou usando um intervalo de rendimentos similar ao usado por Carlos Martins - claro que o gráfico poderia ser prolongado até ao infinito, o que corresponderia a uma taxa de 42%).

Efectivamente, a curva é mais inclinada nos rendimentos até 20.000 euros (mais ou menos), mas não me parece uma coisa muito significativa.

Agora, eu imagino que Carlos Martins tenha feito o seu gráfico a pensar, não na taxa global de imposto, mas na taxa marginal. P.ex., uma pessoa que ganhe 65.000 euros anuais não paga 42% de imposto: paga 42% sobre 2.453 euros (65.000 - 62.547); o resto é pago de acordo com os escalões inferiores (é por isso que só quem tenha um rendimento infinito pagará 42% de taxa total de IRS).

Mas se Carlos Martins fez um gráfico com as taxas marginais, seria conveniente que o dissesse explicitamente; e, mais importante ainda, se o gráfico é sobre as taxas marginais, toda aquela conversa de "aceleração das taxas fiscais" é absurda: se a taxa marginal já é a derivada da carga fiscal em relação ao rendimento, qual é o significado da aceleração da taxa marginal - ou seja, da derivada da derivada?

Leituras

Markets in public services, por Chris Dillow, sobre sistemas estilo vouchers escolares.

Power elites after fifty years, por Daniel Little, sobre o livro "The Power Elite" de Wright Mills (1956) e a sociedade norte-americana actual [via economist's View].

The Democrats: Fake Party of Compassion e Republicans: The Fake Party of Small Government, por Kevin Carson, sobre os partidos governantes norte-americanos.

Three scenarios for post Peak-Oil societies, sobre as formas que a sociedade poderá assumir após o "peak oil" (o autor usa outros nomes, mas as hipoteses que ele apresenta são, basicamente: 1 - ditadura de direita; 2 - social-democracia "ambientalista"; ou 3 - anarquismo). Claro que isto só fará sentido se aceitarmos que vai haver um "peak oil"...

A brief history of workplace occupations, por David Osler.

Re: Analfabetismo e Iliteriacias

No Jamais, Rodrigo Adão Fonseca escreve:

"O governo optou por colocar centenas de milhares de computadores nas mãos das crianças, sem saber qual o impacto que este tipo de solução pode ter no normal desenvolvimento das suas capacidades e do seu crescimento. "

Bem, uma coisa eu posso dizer: o meu sobrinho de 9 anos tem acesso ao computador da minha irmã e ao dos meus pais e já percebe razoavelmente (para a idade, claro) como mexer neles (nalgumas coisas até já percebe mais que eu); assim, podemos concluir que mexer desde cedo com computadores contribui para aprender a mexer neles. Portanto, porque é que as crianças que não têm (ou não tinham) computadores em casa hão-de ser privados da experiência de aprendizagem a que o meu sobrinho tem acesso?

Saindo do caso concreto da minha família, já há vários estudos relatando como o uso de computadores na infância (e não só, mas é da infância que estamos falando) contribui para o desenvolvimento das capacidades cognitivas. No livro "Tudo o que é mau faz bem" de Steven Johnson até há um exemplo de como, durante um jogo de Simcity, uma criança de 7 anos (acho eu) se volta para o autor dizendo "temos que baixar os impostos para abrirem mais fábricas" - ou seja, ao jogar computador, o miúdo aprendeu intuitivamente o funcionamento da economia do jogo (suponho que o RAF até apreciasse a conclusão dele).

Quanto aos EUA, Suécia, etc. não terem nenhum programa de uso de computadores na escola primária - nesses países a percentagem de familias que não têm computador em casa deve ser muito menor do que em Portugal, logo há menos necessidade de um programa desses.

No entanto, há uma coisa que concordo nos críticos do "Magalhães" - a ideia de usá-lo no contexto escolar é capaz de ser um bocado artificial; faria muito mais sentido apresentar abertamente o "Magalhães" como um computador para as crianças usarem nos seus tempos livres.

Outro post que escrevi há tempos sobre o assunto.

[Vamos lá ver se é agora que o Sócrates me oferece a presidência do C.A. do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio; tenho que manter a bateria do telemóvel carregada]

Sunday, July 26, 2009

Betelguese vai explodir?

Parece que a estrela Betelguese pode estar à beira de "explodir" (este "à beira" é qualquer coisa como "pode explodir no próximo milhar de anos" e "pode ter explodido há menos de 600 anos e a luz ainda não chegou cá").

De qualquer forma, segundo o físico John Baez (primo da cantora), aqui na terra esse fenómeno deverá ter um brilho algures entre um terço e 3 luas cheias.

Talvez o Tárique (ou alguém do ramo) possa dar uma explicação mais pormenorizada sobre o assunto?

Saturday, July 25, 2009

A visita de Zelaya às Honduras

Honduras and the Three-Ring Circus, por Al Giordano, sobre o saltinho que Zelaya deu ontem às Honduras:

In ring one, we had Coup “president” Roberto Micheletti, who blinked when his troops did not arrest President Manuel Zelaya, who set foot on his country’s soil today at the border crossing – Los Manos – where we suggested he would yesterday.

In ring two, we had Zelaya, who himself blinked – inexplicably, from this community organizer’s lens, objectively viewed, a setback for his cause and his people – by not continuing his walk toward Tegucigalpa after the coup regime blinked. A few more steps forward and he would have either called the regime’s bluff, and continued marching, or he would have ended up in prison, inspiring the people to go the extra yardage necessary to topple the coup.

And in ring three, we had US Secretary of State Hillary Clinton, who claimed that Zelaya’s actions today were “reckless.” Today Clinton proved, once and for all, that she is not competent to do the job of foreign minister. What an asshole. It is Clinton who demonstrated that she is reckless about democracy. The actions she called “reckless” were those of a Honduran citizen and elected president doing no more than trying to rejoin his own feet with his own land. What makes her behavior today so obviously inept and deserving of eternal contempt is that she used such strong words to criticize a guy who, when push came to shove, did exactly what she had recommended, when Zelaya backed down. The only reckless thing he did was shrink from putting the next foot in front of the other.

Impasse na fronteira Nicarágua-Honduras

Zelaya entra e sai das Honduras.

Thursday, July 23, 2009

Honduras - Zelaya regressa amanhã?

Segundo Al Giordano, Zelaya terá anunciado que 24 de Julho vai atravessar a fronteira Honduras-Nicarágua e seguir até a capital.

Entretanto, parece que a policia hondurenha entrou em greve...

Sobre as sanções ao regime hondurenho

TEGUCIGALPA, Honduras — Supporters of ousted President Manuel Zelaya are advocating targeted economic sanctions to pressure the interim government to allow his return rather than broader measures that might harm the Central American country's poorest citizens.

U.S. officials are considering sanctions on one of the hemisphere's poorest countries if mediation efforts by Costa Rican President Oscar Arias fail to resolve the crisis. The European Union has already frozen euro65 million ($92 million) in development aid and warned of further steps.

But with Honduras' defiant leaders vowing to tough it out, Zelaya is rethinking his support for measures that might only hurt the poorest.

From Managua, Nicaragua, Zelaya said late Tuesday that he sent a letter to President Barack Obama naming the army officials and lawmakers who allegedly planned his ouster and asking for economic sanctions specifically targeting "those who conspired directly to execute the coup."

(...)

"When I hear them saying that they can last for months, I realize that they can get through it, "said Xiomara Castro, Zelaya's wife, who remains in Honduras and supports seizing bank accounts or freezing assets of coup leaders. "What they aren't thinking is what a strong blow this would be for the average people."

(...)

[T]argeted sanctions are tough to impose, because government officials and their assets have to be identified and investigated, "and you may be assured that as you are investigating, they'll be trying to move their assets around,"

Claro que se pode argumentar que outras tentativas de derrubar regimes da América Central através de sanções não parecem encorajadoras.

Wednesday, July 22, 2009

Efeitos do cap-and-trade

Evidenciar o papel do Estado como criador da (ou de alguma) propriedade privada e do mercado.

Sugestões de leitura

Macroeconomics & the black box, de Chris Dillow, sobre a tendência da macro-economia dominante para ignorar as consequências do funcionamento interno das empresas (o autor faz o contraste com as escolas "austríaca" e marxista, que não terão esse defeito).

Democra-Phobia: Fear of Citizen Power in Honduras, por Al Giordano, sobre a situação nas Honduras.

Polish ZSP Against the 'Works' Councils, por Pat Murtagh, sobre as divisões no movimento anarco-sindicalista acerda da participação nas "Comissões de Trabalhadores"

Term limits, parliamentary government, and Latin America, por Greg Weeks, sobre as vantagens do parlamentarismo sobre o presidencialismo.

Women’s Coop Occupies Factory, Starts Production, no SolidarityEconomy.net, sobre um grupo de operárias cuja fábrica onde trabalhavam fechou e retomaram o trabalho como uma cooperativa.

Independent Central Banks and Inflation, por Alex Tabarrow, sobre (adivinhem) a independencia dos bancos centrais

Tuesday, July 21, 2009

Glenn Beck Explains The Federal Connection

Sim, é na FOXNews, não sei quanto tempo a Alternative Right (juntar o Judge Napolitano) continuará a ter tempo de antena na FOX, por outro lado, como tem estado a crescer...


"Terroristas"?


Exactamente, o que torna o Al-Shabab "terrorista"?

Serem um grupo combatente? Todas as facções na guerra civil somali o são (é isso que se faz numa guerra - combater).

Terem atacado as Nações Unidas e pilhado as suas intalações? Talvez, mas parece-me um bocado hiperbólico chamar a isso "terrorismo" (na verdade, parece-me o género de coisa corriqueira no contexto de um regime de "senhores da guerra").

Imporem nos territórios que controlam uma versão radical do islamismo? Também o estado saudita o faz; será "terrorista" por isso?

Claro que podemos passar a chamar as facções involvidas em guerras civis de "terroristas", mas isso acaba por esvaziar a palavra "terrorista" de sentido.

Monday, July 20, 2009

Los Angeles Times plagia o "nosso" Diário de Notícias

Quem tenha comprado o Diário de Noticias de hoje (20 de Julho), recomendo que leia o artigo sobre a Nicarágua (penso que não está on-line). E depois compare com este do Los Angeles Times.

Os robots combatentes do Pentágono


Leitura complementar: Dark Skies.

Ainda acerca da proibição de fascistas e assuntos afins

Este texto, Mao Zedong: Should Reactionaries Have Free Speech? [via Renegade Eye]

[Eu tenho fortes suspeitas que Mao nunca deve ter dito o que aqui se diz e que este texto deve ter sido redigido para "consumo ocidental"...]

Sunday, July 19, 2009

Os rituais do povo nacirema

Body Ritual among the Nacirema [pdf], um texto com mais de meio século, mas que continua a ser um estudo bastante interessante sobre o povo nacirema (os nacirema são um povo da América do Norte, que habita no território entre os cree do Canadá, os yaqui do México e os arauque das Caraíbas). Recomendo vivamente a leitura, mesmo às pessoas que há primeira vista possam achar um tem árido.

O que não sei é se haverá algum estudo comparando os hábitos dos nacirema com os dos naeporeu (um povo geograficamente bastante distante; no entanto, penso que hoje em dia há um consenso cientifico de que grande parte do povo nacirema descente de migrantes naeporeu) - suponho que no essencial não seja muito diferente (sobretudo no que se refere aos rituais corporais descritos no paper).

Thursday, July 16, 2009

Proibir os fascistas?

A actual constituição proíbe organizações de ideologia fascista (no entanto, não me parece que - ao contrário do que dizia a Odete Santos - proíba a "apologia do fascismo"). Será que isso tem razão de ser?

Eu acho que essa proibição deveria desaparecer; defendo isso sobretudo por razões de principio, mas também há um forte argumento prático contra a proibição do "fascismo": não existe uma definição mais ou menos consensual do que seja "fascismo"; veja-se que os historiadores e politólogos (?) nem conseguem chegar a acordo sobre se carradas de regimes foram "fascistas" (Salazar foi fascista? Franco? Dollfuss? Perón? Nasser?...); e no discurso político "vulgar" o termo é usado a respeito de tudo e de nada. Até o PCP é "(social-)fascista" para os maoístas, p.ex. (tal como nos anos 20 os social-democratas eram também "social-fascistas" para o Komintern).

Assim, uma proibição de organizações de ideologia fascista será quase impossivel de aplicar se tentar congir a uma definição estrita de "fascismo"; e se usar uma definição lata de "fascismo" pode dar origem a proibições completamente arbitrárias, de acordo com o que os juízes de serviço entenderem por "fascismo".

Honduras - a (actual) oposição conseguirá derrubar o governo?

Nas ultimas 24 horas, os apoiantes de Zelaya e os sindicatos cortaram 3 das 4 estradas que ligam Tegucigalpa ao resto do país. A ideia parece ser paralizar o país e forçar as novas autoridades a abandonar o poder.

Isso será viável? Atendendo a que a população hondurenha está bastante dividida (as pessoas que são a favor do golpe são quase tantas como as que são contra, e mesmo entre estas grande parte não defendem a manutenção de Zelaya no poder), suspeito que não haja "massa critica" para um "contra-golpe popular" (à maneira da Venezuela em 2002, Espanha em 1936 ou Alemanha em 1920). Mas quem sabe?

O que o povo das honduras pensa afinal (cont.)

Mais pormenores sobre a sondagem da Gallup nas Honduras:

The nationwide survey — which was done after Zelaya was sent into forced exile in a military coup — shows Zelaya with 46 percent favorable and 44 unfavorable, compared to 30 favorable and 49 unfavorable for Micheletti.

Earlier findings from the same poll were released to The Associated Press by Gallup after La Prensa, a leading Honduran newspaper, published some of the results on Thursday. They showed that 46 percent of Hondurans opposed Zelaya's removal, 41 percent approved of it and 13 percent were unsure or declined to answer.

The face-to-face survey of 1,204 adults in all but two states showed Hondurans evenly divided on Zelaya himself, close to findings of a similar poll four months ago in which positive views outpaced negative by 4 percentage points.

The survey also asked Hondurans whether they felt Zelaya's removal was justified because he had pushed to add a question on a national ballot about whether to have a constitutional assembly, which the nation's highest court had ruled to be unconstitutional. Forty-one percent of respondents said this did justify his removal, while 28 percent said it didn't and 31 percent were unsure or declined to answer.

The survey was done from June 30 to July 4 and had an error margin of 2.8 percentage points, according to CID-Gallup, which is based in Costa Rica.

A esse respeito, parece que Zelaya é mais popular agora do que quando estava efectivamente no poder.

Entretanto, o recolher obrigatório foi re-imposto.

Os méritos democrátios do comunismo

Mesmo se limitarmos o conceito de "comunismo" ao comunismo pró-URSS, há um mérito democrático no comunismo: os comunistas, quando estão na oposição, tendem a ser fortes defensores dos direitos democráticos e das liberdades civis - p.ex., se nalgum parlamento do Europa ocidental for apresentada uma proposta no sentido de facilitar escutas telefónicas, ou aumentar os prazos de prisão preventiva, quase de certeza que os comunistas vão votar contra; pelo contrário, os partidos de extrema-direita tendem a defender o "Estado forte" mesmo quando estão na oposição (é verdade podem haver excepções pontuais a esta regra em casos especificos - no caso das leis penalisando a negação do Holocausto é a extrema-direita que defende a posição "libertária").

Um caso paradigmático disso é a diferente atitude de comunistas e "fascistas"* face às ditaduras da outra facção: sob as ditaduras "fascistas", os comunistas tendem a ser dos opositores mais activos (e a serem aliados objectivos dos defensores da "democracia parlamentar"); pelo contrário, não é raro sob regimes comunistas (e sobretudo pós-comunistas) ver movimentos de tipo "fascista" quase a defenderem esses regimes como o "mal menor" face ao "liberalismo apátrida" (ver - Pamyat, Aleksander Dugin, Partido Radical Sérvio, etc.).

*aqui, não estou a distinguir entre o fascismo propriemente dito e tipos de conservadorismo autoritário mais ou menos nacionalista (são fenómenos diferentes, mas não tão diferentes)

A esquerda, a direita e o Estado

The Left, the Pseudoleft, and the State, por Alderson Warm-Fork:

[U]nder normal (i.e. non-revolutionary conditions), people who notice that society is grossly unfair and a lot of people are being made very unhappy, naturally gravitate around the state. They write letters, they present petitions, they announce initiatives. They struggle and then eventually a politician of their camp gets into the position to deliver a rousing speech about how they will mend the world and help all the poor needy X’s, and they feel themselves to have scored a great victory. Unfortunately (or fortunately), the problems never seem to dry up.

Now I’m not saying this is all entirely useless: I’d rather live in a class society that’s been adjusted to make it less obviously nasty, than in one that hasn’t. And it’s also not to suggest that this happens all separately from the ‘real action’, of people really fighting for themselves, solving their own problems, resisting their own oppression. Indeed, precisely what makes things confusing is that there isn’t a clear line between the two, because the pseudoleft is endlessly and insistently chasing after this ‘real left’ to line up beside them (until the end of term).

(...)

‘Real leftism’ (which I say tongue-in-cheek) is anti-state (e.g. Marxism). Because of course the state isn’t a great thing: it’s not nice to have people running around who are allowed to hit you but who you’re not allowed to hit back, it’s not nice to have people enforcing laws onto what you and your friends are trying to do privately. It’s certainly not nice being surveilled, bombed, locked up or sent to war.

This is something that ‘the right’ is quite happy to affirm, and a key part of their ideological strength. But the idea that the right-wing supports freedom or choice is rather undermined by the fact that pretty much every single other organ of repression in society gets their enthusiastic support (family authority, religious authority, educational authority, traditional authority, racial hierarchies, sexual discrimination, prejudice against the deviant, etc. etc.)

(...)

So the mainstream right, reflecting the mainstream left, is ‘anti-state’ in the sense of wanting the state to calm down, back off, and do as little as possible (but still wanting it to perform it’s core functions, of violently maintaining injustice, as vigorously and efficiently as possible). To their perception, everything is fine (because they don’t see or don’t mind the various dimensions of oppression that permeate class society), and so these ‘lefties’ who are introducing endless new government initiatives are doing so gratuitously.

(...)

The marginal right, on the other hand – the ‘far right’ or ‘extreme right’ – goes further: from seeing the state’s measures to counteract oppression as oppressive (in which there’s a grain of truth), they see the very process of counter-acting oppression, in any form, social, cultural, personal, as a threat. And against this they enthusiastically embrace the state. This is quite natural and even, in a way, logical: the state’s raison d’etre is to maintain and defend oppression, and so its natural vocation is to smash any resistance to oppression with massive violence.

(...)

We have an oppressive system, and we have an organ of force that functions to maintain it. We have a basic division between those who have twigged that there’s some oppressin’ goin’ on (‘the left’ in the broadest sense), and would like it to stop now, please, and those who don’t mind too much, actually, it makes things more interesting (‘the right’). Now, it would seem intuitively that the former should dislike and distrust the state, and the latter should be quite keen on it.

But no! Instead, there’s a hilarious reversal. Under non-revolutionary conditions (which is the great majority of the time), the great majority of the ‘lefties’ find themselves cosying up to the state, asking it to grant their wishes of freedom and equality, and having to forget or say only quietly that the state is the central organ of class society. And in reaction, the great majority of the ‘rightists’ occupy themselves by clamouring against the state and its octopus-like reach, demanding and defending an ‘individual freedom’ rendered largely meaningless through their support for every other form of hierarchy and control.

Only at the fringes, watching this comic inversion and muttering sullenly about ‘the coming revolution’ or ‘the coming race war’, are there people with the attitudes we predicted: lefties who want to get rid of the state and righties who want it to absorb everything and destroy everything else.

Wednesday, July 15, 2009

Incentivar o casamento?

No Reino Unido, os Conservadores estão a propor alterações ao sistema fiscal (parece-me) para favorecer o casamento. Em Portugal por vezes também se fala disso. Será que faz sentido?

When divorce is the wiser option, por Johan Hari:

At first glance, the sociological evidence shows that the kids of broken homes or single parents are more likely to drop out of school, slip into crime, and become drug addicts than children whose parents stay together. So the solution is, to Cameron, obvious: keep parents together using the tax code and these problems will slowly be reduced. Stop Jimmy's mum and dad splitting, and Jimmy will be more likely to stay in school, on the right side of the law, and off drugs.

A major study has just shown that this is based on a simple misunderstanding of the evidence. Professor Kelly Musick and Dr Ann Meier of Cornell University have carried out a study[1] of children whose parents stay together for the sake of the kids. We all know some: parents who can't stand each other, but have made a hard-headed decision to stay together nonetheless. They are exactly the kind of people who would be glued back together by Cameron's policies if they succeeded in their goal.

It turns out their children do worse than any other group – including those of divorcees or single mums. If you are raised by arguing parents who stayed together only for you, then you are 33 per cent more likely to become a binge-drinking teen than if you have a single parent, for example. Having parents locked in live-in combat damages children more than having separated parents, or just one single parent – and the damage lasts well into adulthood. The offspring are more likely to have bad marriages themselves, and more likely to have children at a very young age.

It makes sense. Would Jimmy rather have a happy mum and dad who live apart, or depressed, stressed, angry parents sharing a bed?

So Cameron's first glance at the figures turns out, then, to be wrong. He was comparing divorcees and single parents to happy two-parent families who want to stick together. But happy two-parent families who want to stick together are not what his policy would create. If he had an effect at all, he would be tying together miserable couples who would otherwise have split. To assume you would get the same sociological outcomes from them is an Enron-style accounting error.

In fact, this new study shows that Cameron's policy would actually unwittingly harm children. It's not his intention, but we would have more children in the worst-performing category of all, and so in the long term increase the very social dysfunctions – like drug addiction and crime – that the policy was designed to erode.

[1] Penso que o tal estudo seja este [pdf].

Soldados israelitas dizem ter usados civis como "escudo humano"

Palma Inácio



Comentários:

1 - Era quase meu conterrâneo (eu estava convencido que ele era de Tunes, mas afinal era de Ferragudo - ainda mais perto)

2 - Porque é que nenhum realizador de cinema português pensou em dramatizar a sua vida, ou alguma das suas acções?

Tuesday, July 14, 2009

A Revolução Francesa

Hás vezes, dá-me a ideia que muitos críticos da Revolução Francesa comentam como se a opção alternativa à revolução fosse, não a monarquia absoluta realmente existente, mas uma imaginária "revolução inglesa (ou americana) do outro lado do canal da Mancha".

Alias, mesmo a comparação que muitos "anglo-saxonofilos" costumam fazer com a "glorious revolution" de 1688 nem faz grande sentido: em termos cronológicos, a revolução francesa de 1789 é o equivalente à guerra civil inglesa de 1640-50, Napoleão a Cromwell e a revolução francesa de 1830 é que corresponde à "revolução inglesa".

Também sobre isto:

Sobre a Revolução Francesa e o Terror

Monday, July 13, 2009

O que o povo das Honduras pensa afinal


¿Considera usted que las acciones que tomó Mel Zelaya con respecto a la cuarta urna justificaban su destitución del puesto de Presidente de la República?

Sim 41%, Não 28%, NS/NR: 31%

¿Cuánto está usted de acuerdo con la acción que se tomó el pasado domingo que removió el Presidente Zelaya del país?

Sim 41%, Não 46%, NS/NR 13%

Basicamente, a primeira questão é se o Presidente Zelaya deveria ser destituido, e a segunda acaba por ser se concorda com a maneira como a destituição foi feita.

Assim, por um lado, temos mais pessoas a defenderem a deposição de Zelaya do que a sua continuação no poder; mas, por outro, temos mais pessoas contra do que a favor do golpe.

Se assumirmos que toda a gente que respondeu "sim" à segunda pergunta deve ter respondido "sim" à primeira, e que toda a gente que respondeu "não" à primeira deve ter respondido não à segunda, a divisão de opinião entre o povo hondurenho deve ser assim:

41% - Zelaya deve sair e o golpe foi correcto
13% - NS/NR
18% - contra o golpe, mas não NS/NR se Zelaya deve ser destituido
28% - Zelaya deveria ter ficado no poder

Vem aí o "dólar califoniano"?

Uma revolução social no Neolítico? (II)



The site from which I've excerpted the above quotes (stripping out the numerous references to the archaeological literature) interprets this stone age classless and stateless society as communism. (Thanks to the latest issue of International Socialism for the pointer.) This may be controversial, but the archaeology is entirely mainstream, and there is no disagreement that the neolithic societies of ancient Anatolia, whose best-preserved site is Çatalhöyük, were very remarkable indeed.

um leitor comenta que:

I'm not sure I would apply the category of "communism." It could just as well be interpreted as a conflict between two different versions of private property: In English terms, the monopoly-grants version and the version favored by the Levellers.It sounds as if the key to the rich people's power was that they held stocks of vital raw materials, and denied the poor people access to them except on ruinous terms; and eventually the poor people got sick of this and overthrew the rich people. But how did the rich people maintain that monopoly in the first place? All right, it was over imported goods. Was it impossible for a poor person to accumulate some resources, and travel to where the goods are cheap, and bring some back, and undersell the rich people, in the classic cartel-breaking move? Well, it may have been if the rich people prohibited such expeditions. But such a prohibition would have to be maintained by force . . . and so you're talking about a state-controlled economy. And the antithesis of a state-controlled economy is not so much a communist one as a decentralized one. So maybe the nonoligarchic society that followed was communist, or maybe it was based on competitive markets, or maybe it even mixed the two. I'm not sure if we could tell at this great a remove. Though maybe some archaeologist is subtler than I am!

Isto é capaz de ser um problema geral de qualquer tentativa de deduzir estruturas sociais a partir apenas de escavações arqueológicas - é possivel, mais ou menos, ver como a riqueza estava distribuida, mas já não será assim tão fácil (só atravéz da arqueologia) perceber os mecanismos pelo qual a riqueza era distribuida.

Neste caso, é possível observar a transição de uma sociedade fortemente hierarquizada para uma sociedade sem diferenças significativas de riqueza e status; mas será que a primeira era uma economia assente na propriedade privada e a segunda uma economia comunista? Ou será que a primeira era uma economia "estatista" controlada por uma aristocracia e a segunda uma economia "liberal"? Provavelmente será impossível saber.

Sunday, July 12, 2009

Direitos das crianças

Uma discussão interessante nos comentários a este post de Roderick T. Long. Sobretudo, gostaria de saber o que o Carlos Novais acha desta análise de Charles "Rad Geek" Johnson às posições de Murray Rothbard sobre o assunto.

O marxismo estará caduco?


Bem, ontem mesmo Chris Dillow postou Marxism and the Mainstream, argumentando que o marxismo acaba por ser muito parecido com a teoria económica convencional:
(...)

Of course, both Marxists and mainstream economists will reject all this, and come up with endless guff about “methodology” to explain why they really really hate each other, and would prefer to languish in their little intellectual ghettos.

But the fact is that they do converge upon many important points. And you know why? Because both see the truth.
[P.ex., eu sou da opinião que o conceito de "exército de reserva de desempregados" no marxismo, o conceito de "NAIRU" na macroeconomia convencional e o conceito de "salário de eficiência" na microeconomia mais ou menos convencional acabam por ir dar mais ou menos ao mesmo]

Economia neo-clássica

O Carlos Santos e o Luís Aguiar-Conraria andam a discutir a economia neo-clássica vs. as "heterodoxias".

Uma das criticas que o Carlos faz ao "neo-classicismo" é de que "a economia neoclássica não tem em si mesmo, no seu núcleo de princípios de base (no seu core se pensarmos na filosofia da ciência), os mecanismos que permitam explicar, por exemplo, o surgimento de bolhas especulativas. Os mais proeminentes economistas neoclássicos, como o nobelizado Gary Becker, admitiam expressamente há um ou dois meses que as bolhas especulativas ultrapassavam a capacidade de compreensão de um pressuposto central da economia neoclássica: a racionalidade perfeita dos agentes, e a sua tradução em expectativas racionais. Porque manifestamente o surgimento repetido de bolhas mostra que os agentes erram a prever, e a hipótese de expectativas racionais, assume a ausência de erros repetidos de previsão. Há agora alguns modelos pseudo-neoclássicos que tentam explicar as bolhas, mas o próprio Becker, que levou a racionalidade do homo economicus a limites impensáveis, declarou a sua falta de fé nesses esforços". O LA-C já respondeu a isso, mas queria deixar mais uma nota:

Uma das teorias para explicar a actual crise económica-financeira é a de que a estrutura de prémios e remunerações dos gestores das empresas financeiras os incentivou a fazerem investimentos de alto risco. Esta teoria pode estar certa ou errada; mas de qualquer forma, temos aqui uma teoria em que agentes racionais, procurando maximizar o seu lucro individual, criam uma bolha especulativa - ou seja, uma situação em que os pressupostos neo-clássicos são compatíveis com as bolhas.

Ver também estes meus posts de há uns tempos atrás: A economia neo-clássica e a esquerda e Re: A classe e o indivíduo representativo

Saturday, July 11, 2009

Afinal, o que é que o povo hondurenho pensa?

A CID-Gallup fez uma sondagem nas Honduras (entre 30 de Junho e 4 de Julho) sobre a destituição de Zelaya. Os resultados?

Bem, o problema é que parece que ninguém sabe quais foram os resultados da sondagem: segundo a imprensa hondurenha, a Reuters e o Wall Street Journal, 41% são a favor, 28% contra e 31% não têm opinião; segundo a Voz da América e a AP, 41% são a favor, 46% contra e 13% não têm opinião.

Os sites da Gallup e da CID-Gallup ainda não dizem nada sobre o assunto.

Adenda: parece que afinal ambos estarão correctos.

Friday, July 10, 2009

Penalizações a pais de alunos?


Em primeiro lugar, noto a referencia à "retirada de prestações sociais": se assim for, uma familia que receba prestações sociais será mais penalizada com a indisciplina escolar dos seus filhos do que uma familia de classe média ou alta que não receba essas prestações; ou seja, os meninos da burguesia podem ser indisciplinados à vontade (estou a ser demagógico, é verdade - a petição também fala em multas; mas se a classe média vai ter "multas" e os pobres "multas + retirada de prestações sociais", os custos da indisciplina vão ser maiores para os pobres). Porque é que os peticionários não sugerem também "retirada de beneficios fiscais"?

Em segundo lugar, noto o entusiasmo da direita parlamentar e dos grupos "pró-vida" por essas propostas - é que noutras questões (como a educação sexual ou o cheque-educação) costumam ser dos maiores defensores do "direito" das familias educarem os filhos como bem entenderem. Se estivessemos só a falar de indisciplina era uma coisa (já que a indisciplina escolar prejudica terceiros - os colegas, os professores, etc.); mas também se fala de "absentismo" - ora aí já não defendem o direito das famílias não se importarem que os seus filhos faltem a algumas aulas?

Uma revolução social no Neolítico?

Ken MacLeod, sobre os resutados de umas pesquisas arquelógicas na Anatólia:

We begin with 'a patriarchal society of bitter destructiveness: the gloomy temples dug into the mountain like caves served to maintain power in a society that was obviously rigidly organized through open terror: human sacrifices. In the temples of all building levels huge amounts of blood were shed which the excavators retrieved in thick crusts on daggers, altars or draining funnels which were designed specifically for that purpose. The analysis of the isolated blood pigment haemoglobin revealed that it was generally human blood. In the chambers of one of these temples there were the skulls of more than 70 people and parts of skeletons of more than 400 different individuals "neatly stacked up to the ceiling".'

So far, so familiar. We've all seen depictions of societies like that, in Conan movies if nothing else. However ...

'On a certain day 9200 years ago the manorial houses at the north side of the large square in Çayönü were burnt down, and this happened so fast that the owners were not able to save any of their treasures. The temple was torn down and burnt, and even the floor was ripped open, the stone pillars around the free space were taken down and the taller of them were broken up. The place itself - previously maintained and kept meticulously clean for more than 1000 years - was converted into a municipal waste dump. After a short chaotic transition all houses had been torn down. The slums in the west disappeared for good, but only a few steps away from the spot where the ruins of the manorial houses had burnt the new Çayönü was erected. The new houses were comparable in size to the old manors but there were no more houses or shacks built to an inferior standard. In all houses, work was done and all hints to social differences were erased.'

I can't help being thrilled at the thought of these stone age revolutionaries, burning the big houses of the masters and storming that terrifying temple, perhaps fearfully at first, then joyfully turning the gruesome house of the gods into a tip.

But we all know what happened next, don't we? The new society of equals was crushed by outside invasion, or a new caste or class of officials arose and things were soon worse than before ... something like that, yes?

Actually, no. The new type of society spread for thousands of miles and remained free, equal, happy and peaceful for three thousand years.

Ver também:


Thursday, July 09, 2009

Honduras: o argumento "golpista"

A sentença do Supremo Tribunal hondurenho destituindo Zelaya [pdf]. Uma análise critica da "sentença" e, sobretudo, do processo, aqui.

Wednesday, July 08, 2009

Sobre o Xinjiang e os Uigures


Uyghurs, Chinese Muslims, etc., por Razib Khan, um post de 2008 sobre, entre outras coisas, as origens étnicas e históricas dos "uigures" (diga-se que o autor falhou nas suas previsões sobre em que zona do Xinjiang poderiam ocorrer conflitos).

Tuesday, July 07, 2009

Entretanto, no Peru....

Mais um artigo sobre as Honduras


[De novo, relembro que eu linkar um artigo não indica necessariamente concordância]

Hondurans mount 'tele-coup' to counter one-sided media



http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5jQjwGcofkWmZiu_1umWf-TR--xyA

TEGUCIGALPA (AFP) — Using amateur videos and mobile phone pictures, young Hondurans opposed to the ousting of President Manuel Zelaya are uploading images to YouTube in what they have branded a 'tele-coup.'

With media controls in place, national channels offer biased political coverage and frequently cut off all cable channels to broadcast their messages.

Some repeatedly air speeches from the interim leaders who sent Zelaya away on a plane to Costa Rica on June 28, as well as pictures of days-old demos by their supporters.

To counter the one-sided coverage, Zelaya supporters are uploading videos of protests, speeches by union leaders and clashes with the army.

"We call it 'tele-coup' because on the national channels you can't see the reality of what's happening," said engineering student Cesar Silva.

"Obviously if they cut Internet broadband we're dead," Silva told AFP, adding that the supporters use several servers to try to avoid being cut off.

Preservação de casas antigas

McNamara

Início Viename: "So, an American military adviser walks into a South (-East) Asian country"...

McNamara: admitted failure to understand Viet was a civil war rather than a cosmic struggle between good and evil during the Cold War

Ho Chi Minh: foi desprezado em Versailles, virou-se para o marxismo mas - "It was patriotism, not communism, that inspired me"

Ho Chi Minh: Em Versailles 1919 (com educação francesa e viveu em NY e Londres) citou Decl. Independência USA pediu independência

McNamara: former Viet Foreign Min - Mr. McNamara...Don't you understand that we have been fighting the Chinese for 1000 years?

McNamara: Were those who issued the approval to use Agent Orange: criminals?

McNamara: (Vietname casus belli) events afterwards showed that our judgment that we'd been attacked that day was wrong. It didn't happen.

McNamara: General LeMay said, "If we'd lost the war, we'd all have been prosecuted as war criminals."

McNamara: Tokyo is roughly the size of New York. 51% percent of New York destroyed.

McNamara: 50 square miles of Tokyo were burned. Tokyo was a wooden city, and when we dropped these firebombs, it just burned it.

McNamara: "Castro - I did recommend to Khrushchev that they be used. " That's how close we were.

McNamara: It wasn't until 1992, in a meeting ...in Havana, Cuba, that I learned 162 nuclear warheads, including 90 tactical warhead

McNamara: General LeMay said, "...We should go in and wipe 'em out today."

McNamara: major lesson of the Cuba missile crisis - the indefinite combination of human fallibility and nuclear weapons will destroy nations

McNamara: It was luck that prevented nuclear war. We came that close to nuclear war at the end.

Moral da história: Virtuosos e bem intencionados são tanto (ou mais) capazes de genocídios e incinerar civis em massa como qualquer um

Wednesday, July 01, 2009

Noticias das Honduras

Congreso hondureño aprobó restringir garantías individuale:

El Congreso hondureño aprobó esta tarde un decreto para suspender cinco garantías individuales de los ciudadanos de ese país.

Dicho decreto fue remitido al Congreso poco después del mediodía por el poder Ejecutivo hondureño, liderado ahora por Roberto Micheletti.

Las derechos afectados son la inviolabilidad del domicilio, el derecho a protestar pacíficamente, derecho de asociación, extender por más de 24 horas el arresto de un particular sin presentársele cargos y la libertad de movimiento en el país.

Este decreto aprobado por el Congreso prácticamente dejó en estado de sitio al país.

La iniciativa parece estar encaminada a prevenir cualquier manifestación en las calles con motivo del regreso del depuesto presidente Manuel Zelaya a Honduras para este sábado
Honduras new government is censoring journalists

At the close of the one of this week's nightly news broadcasts, Channel 21 news anchor Indira Raudales made a plea: ``We have a right to information! This can't be happening in the 21st century!''

If Raudales offered more details, viewers did not hear them: the screen briefly went to static.

Her on-air appeal for freedom of the press came as the newly installed Honduran government kept several news outlets closed, detained international reporters, and periodically interrupted the signal of CNN en español.

Reporters for The Associated Press were taken away in military vehicles and Venezuela's Telesur network -- and any other station supportive of toppled president Manuel Zelaya -- are still off the air.

Presidencialismo versus parlamentarismo

A situação hondurenha evidencia a vantagem dos regimes parlamentaristas sobre os presidencialistas.

Num sistema parlamentar, uma crise politica normalmente resolve-se com a demissão do governo e eventualmente (quase sempre) com eleições antecipadas.

Num sistema presidencial, o parlamento não pode facilmente demitir o chefe do executivo (o presidente) - há o "impeachmeant", mas (ao contrário da moção de censura ao primeiro-ministro no parlamentarismo) tal só se aplica em casos especiais (quando o Presidente age fora da lei) e costuma ter um processo moroso, requerer maiorias qualificadas, etc.

Por outro lado, também não é possivel dissolver o parlamento e convocar novas eleições.

Ou seja, em presidencialismo uma "crise politica" degenera facilmente em "crise institucional".

Para quem costume trabalhar com computadores, podemos fazer uma analogia: quando um computador entra em crash, ou começa a trabalhar muito lentamente, ou coisa assim, há sempre a solução (quase) milagrosa - reiniciar o sistema ("Ctrl+Alt+Del" ou então botão "reset"). Num sistema parlamentar, as eleições antecipadas são a maneira de "reiniciar o sistema" quando há uma crise. Já o presidencialismo é como um computador sem a opção "reset".

Regressando às Honduras, é claro que, com Zelaya ou com Michelletti, o país vai estar em crise (pelo menos) até às eleições de Novembro: se o primeiro regressa, vamos ter um Presidente face a um parlamento esmagadoramente hostil; se o segundo se mantêm no poder, vamos ter a população "zelayaista" (que não faço a menor ideia se ele tem muitos ou poucos apoiantes, diga-se de passagem) e a comunidade internacional a não lhe reconhecer legitimidade.