Friday, April 30, 2010

Sugestões de leitura

The Bell Curve Flattened, na Slate (um artigo de 1997 sobre o livro The Bell Curve):

The debate on publication day was conducted in the mass media by people with no independent ability to assess the book. Over the next few months, intellectuals took some pretty good shots at it in smaller publications like the New Republic and the New York Review of Books. It wasn't until late 1995 that the most damaging criticism of The Bell Curve began to appear, in tiny academic journals. What follows is a brief summary of that last body of work. The Bell Curve, it turns out, is full of mistakes ranging from sloppy reasoning to mis-citations of sources to outright mathematical errors. Unsurprisingly, all the mistakes are in the direction of supporting the authors' thesis.
[vagamente a esse respeito, o meu post de 2008, Inteligência e rendimento]

 Common Versus Government Property, por Kevin Carson,em The Freeman:
Ostrom also denied that there was anything inherently unstable about commons and argued that they were actually well governed by traditional regulations that specified individual grazing rights. (Garrett Hardin himself later expressed regret that he had not titled his famous essay “The Tragedy of the Unmanaged Commons” and repudiated much of the use that had been made of it.)

(...)

But in fact–a fact ignored by those on both the left and right who equate “private property” to individual property and contrast “property” with the commons–the commons were a form of property rights. And the eviction of peasants from the commons was not simply an efficiency loss; it was a case of the State expropriating property rights.
Uma nota minha - um grande problema em toda essa conversa da "tragédia dos comuns" é que se mistura frequentemente dois assuntos distintos - o conceito de "tragédia dos comuns" tal como foi formalizado refere-se especificamente a situações de ausência de direitos de propriedade; mas não é raro falar-se em "tragédia dos comuns" acerca dos problemas que possam surgir na propriedade colectiva (propriedade colectiva e não-propriedade são coisas diferentes, talvez até bastante diferentes).

As sondagens de hoje

Será que ainda vai ser um governo PSD a nacionalizar a banca e a suspender o pagamento da dívida externa?

Thursday, April 29, 2010

Vestuário imodesto e terramotos - um estudo empírico

Há dias, o hojatoleslam Kazem Sedighi, um religioso iraniano, disse que as mulheres que se vestem "imodestamente" contribuem para os terramotos.

Jen McCreigh, uma estudante universitária norte-americana, decidiu realizar uma experiência para testar essa hipótese. As conclusões.

Default bancário - correcção

Este meu post de ontem era excessivamente catastrofista - o risco médio de default dos bancos portugueses é de cerca de 3% (em vez dos 30% que tinha escrito inicialmente).

Ainda sobre o risco de default dos bancos


[Via Bussiness Insider]

A saída do euro

A opinião dominante entre os economistas é de que é quase impossível um país abandonar o euro - a ideia é que, se um país anunciar que vai sair do euro, toda a gente (antes dos euros serem trocados por "novos escudos" ou "novos dracmas") vai transferir correr ao banco transferir o seu dinheiro para contas noutro país (e hoje em dia isso é relativamente simples) provocando o colapso do sistema bancário.

No entanto, Paul Krugman hoje levanta uma questão - e se a crise bancária acontecer antes?

But now I’m reconsidering, for a simple reason: the (...) argument is a reason not to plan on leaving the euro — but what if the bank runs and financial crisis happen anyway? In that case the marginal cost of leaving falls dramatically, and in fact the decision may effectively be taken out of policymakers’ hands.

Actually, Argentina’s departure from the convertibility law had some of that aspect. A deliberate decision to change the law would have triggered a banking crisis; but by 2001 a banking crisis was already in full swing, as were emergency restrictions on bank withdrawals. So the infeasible became feasible.

Think of it this way: the Greek government cannot announce a policy of leaving the euro — and I’m sure it has no intention of doing that. But at this point it’s all too easy to imagine a default on debt, triggering a crisis of confidence, which forces the government to impose a banking holiday — and at that point the logic of hanging on to the common currency come hell or high water becomes a lot less compelling.
Agora, uma autocrítica - eu fui um adepto entusiasta da adesão ao euro, e estava convencido que era o primeiro passo para a criação dos "Estados Unidos Socialistas de Europa" (eu era um trotskista entusiasta na altura). Hoje em dia, continuo a achar que uma confederação socialista europeia ou, pelo menos, uma união económica com um orçamento comum significativo seria a melhor solução; mas estou cada vez mais convencido que tal é politicamente impossível, logo a segundo melhor opção talvez seja mesmo o regresso às moedas nacionais (repare-se que a economia portuguesa paraticamente parou de crescer desde a adesão ao euro). Se for assim, talvez a crise orçamente e bancária que está à porta seja uma benção disfarçada.

[Publicado também no Vias de Facto; podem comentar lá, se quiserem]

A crise como profecia auto-cumprida?

O Miguel Botelho Moniz e o Rui L. Castro, de uma ou outra forma, perguntam-se se as pessoas que acham que a crise foi criada artificialmente pelos mercados especulativos vão aproveitar a oportunidade de negócio e comprar dívida do Estado português.

Não sei se esse argumento fará grande sentido - creio que o que muitas pessoas acreditam é que a crise é uma profecia auto-cumprida: que a expectativa de "default" da Grécia e de Portugal (e eventualmente de Espanha, Irlanda e Itália) está a fazer subir os juros da dívida grega e portuguesa (para compensar o risco percebido), e que é exactamente essa subida dos juros (motivada pelo risco de default) que está à beira de realmente provocar o default.

Ora, para uma pessoa que pense assim, não faz sentido investir em dívida pública portuguesa - esse racioinio diz que são as expectativas dos mercados que estão a causar os problemas financeiros, mas não nega que, a partir desse momento, os problemas financeiros e o risco de default existem realmente.

Uma analogia - imagine-se que eu tenho dinheiro num banco (numa sociedade sem garantia estatal de depósitos),e acho que os negócios do banco são fundamentalmente sólidos, mas toda a gente mete na cabeça que o banco está à beira da falência e vai levantar o seu dinheiro. Faria sentido neste caso eu manter o meu dinheiro no banco (oua até reforçar a conta)? Não; a partir do momento em que toda a gente vai levantar o seu dinheiro, o banco vai rebentar, por melhores que sejam  (ou fossem) as suas contas, logo tenho é que me apressar para levantar também o meu.

Wednesday, April 28, 2010

Felix Salmon sobre Roubini sobre a Grécia

Roubini on Greece:

One member of the audience, though, had a really good question: what happens to the European system of sovereign guarantees of interbank lending? When those sovereign guarantees aren’t worth much any more, Euribor is likely to spike, since suddenly there’s a lot more credit risk involved in interbank lending. And there are hundreds of trillions of euros of debt contracts linked to Euribor, which could suddenly get very expensive and take control of short-term interest rates out of the hands of the ECB.
O texto é muito maior do que isto, mas esta foi a parte (que não é da responsabilidade, nem do Felix Salmon, nem do Nouriel Roubini) que me despertou mais atenção.

Não é só o Estado que pode ficar sem dinheiro

Nos últimos meses, dias e horas têm-se falado muito do "rating" da República Portuguesa, da "consolidação orçamental", do PEC,  etc., etc.

Mas parece que há outro sector que os mercados internacionais também acham à beira da falência (talvez ainda mais do que o Estado):


[gráfico roubado ao Bussiness Insider]

Ou seja, os investidores acham que há 30% 3% de probabilidade dos bancos portugueses falirem (isto é uma média, claro - para alguns bancos, a probabilidade será maior que esta, para outros menor).

E, claro, se um banco português falir (ou andar lá perto), aí é que o Estado português vai também à falência (lembram-se do aval e garantias afins?).

Monday, April 26, 2010

Leituras

Do women today have more libertarian freedom than in 1880?, por Tyler Cowen:

I'd like to make a simple but neglected point: negative liberty and positive liberty are not separable.

Here is one simple scenario. Let's say the government tells me I have to buy and place a five-foot ceramic grizzly bear statue on my front lawn. How bad an act of coercion is that? If I have an upper-middle class income, it's an inconvenience and an aesthetic blight but no great tragedy. If I have a Haitian per capita income, it is a very bad act of coercion and it will impinge on my life prospects severely. I either give up some food or they send me to jail.
Chimpanzees Prefer Fair Play To Reaping An Unjust Reward, em The Primate Diaries (via Gene Expression):
However, chimpanzees in this study went beyond the basic tenets of the social contract and demonstrated what could be considered the foundation of social solidarity. In 95 trials chimpanzees that received a grape were significantly more likely to refuse the high-value reward when their group mate only received a carrot (p = 0.008). Even those who benefitted from inequality recognized that the situation was unfair and they refused to enjoy their own reward if it meant someone else had to suffer.
Tolerance and HIV (pdf), via Marginal Revolution:

We empirically investigate the effect of tolerance for gays on the spread of HIV in the United States. Using a state-level panel dataset spanning the mid-1970s to the mid-1990s, we find that tolerance is negatively associated with the HIV rate. We then investigate the causal mechanisms potentially underlying this relationship. We find evidence consistent with the theory that tolerance for homosexuals causes low-risk men to enter the pool of homosexual partners, as well as causes sexually active men to substitute away from underground, anonymous, and risky behaviors, both of which lower the HIV rate.
Tea Party: Pro-Torture, Pro-War, Pro-Freedom?, por James Bovard:

Many “tea party” activists staunchly oppose big government, except when it is warring, wiretapping, or waterboarding. A movement that started out denouncing government power apparently has no beef with some of the worst abuses of modern times.

Sunday, April 25, 2010

Sobre a clonagem

Uma discussão interessante no blogue Marginal Revolution sobre o desejo do economista Bryan Caplan (mais famoso pela sua crítica à escola económica austríaca) de ser clonado ("Yes, I wish to clone myself and raise the baby as my son.  Seriously.  I want to experience the sublime bond I'm sure we'd share.  I'm confident that he'd be delighted, too, because I would love to be raised by me")

Alguns comentários dos leitores:

 - Interesting that thus far, the two "arguments" against Bryan's position--"icky" and "kids should come from mom and dad"--are reminiscent of the arguments against gay marriage. Probably just a coincidence...

- Generally speaking, people who would like to clone themselves tend to be arrogant and lacking in common sense. Their children will tend to also be arrogant and lacking in common sense. The interpersonal dynamics between cloner and clonee would likely be disastrous.

- Would it be possible to clone yourself as a member of the opposite sex? This would only work for men, of course. You could substitute your Y chromosome for a copy of your X chromosome. Would sex with this female-you be illegal? Major ickyness ensues.

-  I think it'd be downright creepy after 20 years to see the 20-year-old near-version of your mate and life partner - consider all of the bizarre sexual feelings that would emerge. Good luck keeping your eyes off of your 22-year-old "daughter", who happens to be genetically identical and looks almost identical to your wife did when you met her. [a propósito da possibilidade de num casal tanto o marido como a mulher se clonarem]

- This cloning shtick sounds like a way for a guy to stick his wife with raising some illegitimate kid he fathered with a stripper -- assuming the wife is particularly dim-witted.

- Bryan is really a strange person. I hope he doesn't traumatize his other kids with this cloning story.


-  Bryan has a clone. Someone with Bryan's DNA kills someone. There is no other physical evidence. Neither has an alibi. The jury can't convict because there's only a 50% chance that the person charged did the crime, and that's not proof beyond a reasonable doubt. (Secretly the lab prepared another Bryan and trained him to be an assassin, you see.)
 A minha opinião sobre a clonagem humana - a minha objecção não é tanto à clonagem de humanos em sim, mas ao que seria necessário fazer para atingir: até ser possível desenvolver um processo de clonagem humana que funcionasse, seria necessário fazer experiências e ir gradualmente corrigindo as falhas do processo. Ora, isso significaria fazer experiências com seres (mais ou menos) humanos, a maioria dos quais iriam ser uma espécie de aberrações genéticas.

Friday, April 23, 2010

Ministério Público investiga autódromo do Algarve

Sol:

O Ministério Público e a Polícia Judiciária de Aveiro interceptaram conversas de Armando Vara com Laurentino Dias, em que o administrador do BCP tenta convencer o secretário de Estado do Desporto a pressionar Francisco Bandeira (vice-presidente da CGD), a financiar com urgência a Parkalgar, proprietária do Autódromo do Algarve.
[Via O Insurgente]

Tuesday, April 20, 2010

Sunday, April 18, 2010

"A Oitava Praga"


Um filme giro (é capaz de haver nalgum clube de vídeo) - quer para quem queira simplesmente distrair com um típico filme de terror de baixo orçamento (na clássica variante "Humanidade ameaçada por animais mutantes"), quer para quem queira um filme pró-agricultura biológica, anti-OGM, anti-ganância empresarial (embora - um ponto fraco do filme - não anti-capitalista) e vagamente anti-militarista.

Saturday, April 17, 2010

Privatizações e estagnação económica

Em The Portuguese Economy, Ricardo Reis aventa a hipótese das privatizações (ou, pelo menos, da forma como foram feitas) serem responsáveis pelo baixo crescimento económico da última década:

For maximizing efficiency and welfare, there is only one thing worse than a public monopoly: a government-protected private monopoly.
O autor esclarece logo ao principio que não está a defender uma economia planificada cheia de empresas públicas, e imagino que ser linkado por um blogue como o Vento Sueste deva ser das últimas coisas que ele quereria....

Já agora, a solução que propus há uns tempos para a questão dos "monopólios naturais".

Wednesday, April 14, 2010

Trabalho comunitário em troca do subsidio de desemprego?

Este comentário do João Miranda é brilhante (muito melhor que os meus no mesmo post, admito).

Tuesday, April 13, 2010

Outra forma de ver as eleições húngaras

Os liberais foram varridos do mapa.

Friday, April 09, 2010

Keynesianismo e "Austrianismo" (V)

O que eu me dá a ideia é que, nesta polémica, nem Krugman nem os "austríacos" percebem bem a posição do "adversário".

- Krugman parece-me achar que a "escola austríaca" é apenas a "escola de Chicago" sem equações e derivadas e, portanto, está à espera que os "austríacos" digam que o aumento da procura nuns sectores implica uma redução noutros (como os economistas com que ele está habituado a discutir acabam por dizer implicitamente); ao ver que os austríacos dizem que nos booms há simultaneamente aumento da procura de bens de consumo e de investimento, isso parece-lhe uma cedência escondida ao keynesianismo, em vez de um aspecto fundamental (acho eu) da teoria

- Já os austríacos parecem confundir o keynesianismo com uma doutrina que diz que aumentar a procura (nomeadamente através de deficits) gera sempre crescimento económico (em vez de só o originar em condições muito específicas); claro que o facto de por vezes alguns auto-proclamdos keynesianos parecerem defender na prática essa ideia também ajuda à confusão

Keynesianismo e "Austrianismo" (IV)

Nesse mesmo post, William Anderson escreve:

What Krugman fails to understand about booms is that they are not sustainable. The occur precisely because of malinvestments caused by government monetary (and sometimes fiscal) policies. Furthermore, government compounds the problem by trying to prop up the failed sectors, throwing good resources into a financial black hole, instead of permitting the failed sectors to be liquidated or transferred to other uses and to let the proper proportions of the economic fundamentals to get back into balance.

However, with Keynesians, because all factors of production are homogeneous, there is no need to get factors into balance, since they always are in balance, anyway. Thus, in the Keynesian view, we just need stimulus forever.

Now, there is one problem that Krugman has created for himself, and it is this: If factors of production behave the way he says they do, and if booms always can be sustained through government spending, then why are there financial bubbles?
Mas os keynesianos não acreditam que um boom induzido (pelas politicas monetárias ou fiscais) pode ser prolongado indefinidamente. Os keynesianos defendem que só é possivel estimular a economia até ela chegar ao "pleno emprego" (isso não significa necessariamente um desemprego de 0%; frequentemente é usado para designar uma taxa de desemprego que não origine um aumento da inflação), e que a partir daí qualquer redução do desemprego em breve desaparecerá, obtendo-se é um aumento da inflação (ver este post anterior).

Já agora, nem percebo o que é a questão da homogeneidade ou não homogeneidade dos factores interessa para aqui - a mim parece-me que, mesmo que os factores de produção fossem homogéneos, não seriam possível expandir uma economia até ao infinito apenas imprimindo notas.

Keynesianismo e "Austrianismo" (III)

Continuando a analisar o blogue Krugman-in-Wonderland:

Paul Krugman once again attacks Austrian Economics, using what I see as a series of non sequiturs, not to mention contradicting his own Keynesian beliefs. He declares:

My view is that the fatal flaw in Austrian economics is that it can’t explain unemployment — or, worse, that it thinks that it can explain unemployment, but is deluding itself. The Austrian view is that unemployment in a slump results from the difficulty of “adaptation of the structure of production” — workers are unemployed as resources are painfully transferred out of an overblown investment-goods sector back into production of consumption goods.

But this immediately raises the question, why isn’t there similar unemployment during the boom, as workers are transferred into investment goods production?
Krugman has wrongly attacked Austrian Economics before, using this same argument and then calling the Austrian Theory of the Business Cycle a "hangover theory." However, as Robert Murphy has explained, the ATBC is not a theory that claims that good times automatically must lead to bad times; instead, it is a theory that concentrates upon malinvestments that occur during and boom and must be liquidated.

Unfortunately, Krugman's claim that Austrians cannot explain why there should not be high unemployment during a boom (because assets are being pulled in a direction away from what consumers would prefer through their purchases) actually contradicts his own Keynesianism. Remember, under Keynesian theory, all factors, including labor, pretty much are homogeneous, so labor automatically would transfer into the booming sectors, and Krugman's so-called refutation is built upon an assumption that labor is fixed and cannot move elsewhere.
Não, William Anderson, essa passagem de Krugman não contradiz o seu keynesianismo (já agora, gostava de saber onde W.A foi buscar a ideia que o keynesianismo implica factores homogéneos), pelo simples facto que o que Krugman está a dizer é "se a economia funcionasse como os austríacos dizem [ou melhor, como Krugman julga que os austríacos dizem], isto deveria acontecer assim...", não está a dizer como as coisas deveriam acontecer de acordo com a teoria dele (Krugman).

Mas a parte mais relevante é esta:
Here is another Murphy quote regarding why there would not be unemployment in other sectors:

On the other hand, other sectors don't need to contract, because (unlike the scenario of genuine savings) nobody is cutting back on consumption. This is precisely why the Fed-induced boom is unsustainable — real resources have not been released from consumer sectors in order to fuel the expansion of the capital sectors.
Mas esse é que é realmente o busílis da questão - Bob Murphy está a dizer que nos "booms" não há aumento do desemprego porque o aumento do investimento não é compensado por uma diminuição do consumo; mas isso... mais não é que o Bê-Á-Bá do keynesianismo (que a expansão monetária gera um aumento da procura agregada - que está a entrar por uma porta qualquer - o que por sua vez gera uma expansão económica).

Ou seja, Bob Murphy está a dar razão a Krugman - que, pelo menos durante os "booms", os austríacos são keynesianos; afinal, a sua visão do que acontece durante um boom é praticamente idêntica à visão keynesiana (nesse aspecto, ambas as correntes acreditam que durante algum tempo é possível aumentar a procura agregada - isto é, aumentar a procura de uns sectores sem diminuir a procura dos outros - por oposição aquelas correntes que giram mais em torno da "Escola de Chicago" - monetarismo, expectativas racionais, ciclos económicos reais, etc. - que têm mais ou menos implicita que qualquer politica que leve ao aumento da procura num lado implicará, quase imediatamente, uma redução noutro).

Keynesianismo e "Austrianismo" (II)

 António Costa Amaral, a respeito de Krugman, os keynesianos e a "escola austríaca", recomenda esta blogue.

Há lá algumas coisas que gostaria de comentar, a começar por esta:

Krugman, on the other hand, believes that it is good for government to hold down the rates, but then apply regulation to stop potential bubbles. Here he is in his own words:

But did I call for low interest rates? Yes. In my view, that’s not what the Fed did wrong. We needed better regulation to curb the bubble — not a policy that sacrificed output and employment in order to limit irrational exuberance.
This is more telling -- and more contradictory to the Keynesian arguments than what Krugman will admit, for he is hinting that low interest rates can lead to a bubble, which is what Austrians would call malinvestments (or maybe malinvestments on steroids). However, he believes that government can head off such malinvestments through regulation.

This is very interesting, for on one hand, he claims that it is all aggregate demand, but on the other hand, he is saying that forcing down interest rates can have consequences if government does not try to regulate away the excesses. However, he cannot have it both ways. Indeed, he is accusing us of employing back-door Keynesianism, but then tries to do the same with Austrian theory.

Não existe nehuma contradição entre o keynesianismo (e a teoria da procura agregada) e a ideia que a baixa da taxa de juro pode provocar "bolhas". Vou explicar como surge uma expansão artificial num modelo keynesiano:

Porque dormimos e sonhamos?

Why Do We Sleep? e Why Do We Dream? (comentário - neste texto é referido que "children don't start reporting experiencing dreams until about the age of 5", mas acho que me lembro de sonhar aos 4 anos).

Thursday, April 08, 2010

Keynesianismo e "Austrianismo"

Paul Krugman escreve sobre a "escola económica austríaca":

The Austrian view is that unemployment in a slump results from the difficulty of “adaptation of the structure of production” — workers are unemployed as resources are painfully transferred out of an overblown investment-goods sector back into production of consumption goods.
But this immediately raises the question, why isn’t there similar unemployment during the boom, as workers are transferred into investment goods production?

(...)

In practice, Austrians seem to be Keynesians during booms without knowing it; they realize that high demand produces a boom, but don’t realize that this contradicts their own theory of slumps.
e
Why do periods when the economy is investing more correspond to booms, while periods when it’s investing less correspond to slumps? That’s easy to understand in Keynesian terms — but the whole Austrian claim is that they’re an alternative to Keynesianism. Yet I have never seen a clear explanation of this central point.

What happens, instead — or at least that’s how I read it — is that Austrians slip Keynesianism in through the back door. Implicitly, they associate booms and slumps with rising or falling aggregate demand — utterly unaware that their own theory doesn’t actually make room for such a thing as aggregate demand to exist, or at least to affect overall employment. So Austrians are basically Keynesians in denial — self-hating Keynesians? — pretending to themselves that they’re not using ideas that are in fact essential to their story.
Há muito que tenho a opinião que, no que diz respeito ao ciclos económicos, o "austrianismo" pode ser considerado nada mais do que o keynesianismo virado de cabeça para baixo (ou talvez seja o keynesianismo o austrianismo virado de cabeça para baixo, já que penso que a teoria austríaca dos ciclos económicos é anterior à keynesiana).

No fundo, austríacos e keynesianos concordam (parece-me) em dois pontos fundamentais:

1 - a nível micro, os preços não se ajustam instantaneamente de forma a equilibrar a oferta e a procura de cada produto; o equilíbrio vai sendo atingido aos poucos, por um processo de tentativa-e-erro dos agentes (enquanto "Chicago" tende a acreditar no equilíbrio instantâneo)

2 - a nível macro, a variação da quantidade de moeda origina, a curto e médio prazo, variações da actividade económica real (enquanto para "Chicago" origina apenas variações no nível de preços - no fundo, isto é uma consequência lógica do ponto anterior)

Um exemplo concreto - tanto keynesianos como austríacos concordarão que uma expansão da oferta monetária levará a um aumento temporário da actividade económica, enquanto para "Chicago" levará apenas a uma subida de preços (em principio, o keynesiano acha que essa expansão é boa e o austríaco que é má, mas o juízo de facto não muda muito).

Inclusive, há um dos "comentários dos leitoes" que suspeito ter sidoescrito para defender a posição austríaca mas que na essência pode perfeitamente ser subscrito por um keynesiano:
Why do periods when the economy is investing more correspond to booms, while periods when it’s investing less correspond to slumps?

With a fixed money supply, more investing means less consumption, not a slump. With a variable (Keynesian) money supply, more investing and more consumption can occur simultaneously (but not indefinitely). Eventually, reality sets in, in the form of a slump. See the past decade for evidence.
Uma nota final acerca do argumento (levantado também nessa discussão) de que o keynesianismo implicaria que o capital fosse homogéneo - isso é um perfeito disparate; p.ex., na minha cadeira de Politica Económica e Planeamento, o que eu aprendi foi, basicamente, um modelos keynesiano com capital heterógeneo; nos modelos mais "macro" o capital e o trabalho são assumidos como homogéneos apenas para simplificar a explicação, mas a lógica do modelo funciona à mesma com factores heterógeneos.

Wednesday, April 07, 2010

O jornalismo tradicional, a internet e os crimes de guerra no Iraque

A respeito simultaneamente disto e disto, este artigo - But How Could Wikileaks Break A Story Without Traditional Newspaper Backing?

And yet, we keep being told that if newspapers fail, no one will be left to do investigative journalism?

Sunday, April 04, 2010

Sugestões de leitura

Beware of Greeks Getting Gifts?, por Paul Krugman, sobre a possibilidade do default da dívida de um Estado poder ser uma "profecia auto-cumprida"
The Children of George Metesky, na Reason, por Jesse Walker, sobre os terroristas solitários não ligados a uma ortodoxia ideológica

E um tema mais leve: Increasing Number Of Parents Opting To Have Children School-Homed, na Onion (via Free Range Kids)

Saturday, April 03, 2010