Wednesday, December 31, 2014

Esquerda caviar?

Uma passagem de "Um Piano nas Barricadas: Autonomia operária (1973-1979)", de Marcello Tarì:

Em Milão os colectivos autónomos começam a mover-se num terreno mais ofensivo no que toca às auto-reduções e a levar a cabo expropriações nos supermercados.

A história dos exproprios milaneses – a partir do que ocorreu nos supermercados de Quarto Oggiaro e da Via Padova em 1974 – é magistralmente evocada em Insurrezione, o romance auto-biográfico de Paolo Pozzi, à época chefe de redacção de “Rosso”, que, para além da narrativa divertida, permite também apreciar os seus aspectos “técnicos”: enquanto a maioria dos expropriadores roubava as mercadorias, um grupo ocupava-se a cortar a linha telefónica da loja e outro permanecia do lado de fora, armado com cocktails molotov para o caso de se aproximarem viaturas da polícia e de ser necessário cobrir a saída dos companheiros (Paolo Pozzi, Insurrezione, DeriveApprodi, Roma, 2007). Mas a autonomia não roubava apenas massa, carne e azeite, como pretendiam os marxistas-leninistas, mas também whisky, caviar, salmão e todas as mercadorias de luxo que, segundo uma moral partilhada também pelos grupos, não faziam ou não deveriam fazer parte da vida proletária. Os exproprios, a “reapropriação” no sentido praticado pelos autónomos, não eram simplesmente acções de alto significado político-social, aludiam a uma riqueza finalmente partilhada, a uma necessidade que era destruída na satisfação de um desejo, a um tomar pela força parte daquela outra força que o capital te roubava cada dia; e à noite, depois da expropriação, fazia-se a festa partilhando o caviar e o champanhe francês: apropriavam-se as mercadorias para aniquilar o seu maléfico poder simbólico.

Tuesday, December 30, 2014

O que faria uma super-inteligência artificial?

Paul Krugman (em entrevista a Ezra Klein) sobre o alegado perigo de uma super-inteligência artificial vir a dominar os humanos:

"one thing we might find out if we produce something that is vastly analytically superior is it ends up going all solipsistic and spending all its time solving extremely difficult and pointless math problems"

As línguas mais estranhas do mundo

The weirdest languages (Idibom) [2017/02/19 - link provavelmente morto - cópia aqui, no site Hackerfall]

The World Atlas of Language Structures evaluates 2,676 different languages in terms of a bunch of different language features. These features include word order, types of sounds, ways of doing negation, and a lot of other things—192 different language features in total.

So rather than take an English-centric view of the world, WALS allows us take a worldwide view. That is, we evaluate each language in terms of how unusual it is for each feature. For example, English word order is subject-verb-object—there are 1,377 languages that are coded for word order in WALS and 35.5% of them have SVO word order. Meanwhile only 8.7% of languages start with a verb—like Welsh, Hawaiian and Majang—so cross-linguistically, starting with a verb is unusual. For what it’s worth, 41.0% of the world’s languages are actually SOV order. (Aside: I’ve done some work with Hawaiian and Majang and that’s how I learned that verbs are a big commitment for me. I’m just not ready for verbs when I open my mouth.)

The data in WALS is fairly sparse, so we restrict ourselves to the 165 features that have at least 100 languages in them (at this stage we also knock out languages that have fewer than 10 of these—dropping us down to 1,693 languages).

Now, one problem is that if you just stop there you have a huge amount of collinearity. Part of this is just the nature of the features listed in WALS—there’s one for overall subject/object/verb order and then separate ones for object/verb and subject/verb. Ideally, we’d like to judge weirdness based on unrelated features. We can focus in on features that aren’t strongly correlated with each other (between two correlated features, we pick the one that has more languages coded for it). We end up with 21 features in total.

For each value that a language has, we calculate the relative frequency of that value for all the other languages that are coded for it. So if we had included subject-object-verb order then English would’ve gotten a value of 0.355 (we actually normalized these values according to the overal entropy for each feature, so it wasn’t exactly 0.355, but you get the idea). The Weirdness Index is then an average across the 21 unique structural features. But because different features have different numbers of values and we want to reduce skewing, we actually take the harmonic mean (and because we want bigger numbers = more weird, we actually subtract the mean from one). In this blog post, I’ll only report languages that have a value filled in for at least two-thirds of features (239 languages).

The outlier (weirdest) languages

The language that is most different from the majority of all other languages in the world is a verb-initial tonal languages spoken by 6,000 people in Oaxaca, Mexico, known as Chalcatongo Mixtec (aka San Miguel el Grande Mixtec). Number two is spoken in Siberia by 22,000 people: Nenets (that’s where we get the word parka from). Number three is Choctaw, spoken by about 10,000 people, mostly in Oklahoma.

But here’s the rub—some of the weirdest languages in the world are ones you’ve heard of: German, Dutch, Norwegian, Czech, Spanish, and Mandarin. And actually English is #33 in the Language Weirdness Index.

The 25 weirdest languages of the world. In North America: Chalcatongo Mixtec, Choctaw, Mesa Grande Diegueño, Kutenai, and Zoque; in South America: Paumarí and Trumai; in Australia/Oceania: Pitjantjatjara and Lavukaleve; in Africa: Harar Oromo, Iraqw, Kongo, Mumuye, Ju|’hoan, and Khoekhoe; in Asia: Nenets, Eastern Armenian, Abkhaz, Ladakhi, and Mandarin; and in Europe: German, Dutch, Norwegian, Czech, and Spanish.

By the way, how awesome of a name is “Pitjantjatjara“? (Also: can you guess which one of the internal syllables is silent?)

(...)

This is odd. Is this odd? One of the features that distinguishes languages is how they ask yes/no questions.The vast majority of languages have a special question particle that they tack on somewhere (like the ka at the end of a Japanese question). Of 954 languages coded for this in WALS, 584 of them have question particles. The word order switching that we do in English only happens in 1.4% of the languages. That’s 13 languages total and most of them come from Europe: German, Czech, Dutch, Swedish, Norwegian, Frisian, English, Danish, and Spanish.

But there is an even more unusual way to deal with yes/no questions and that’s what Chalcatongo Mixtec does: which is to do nothing at all. It is the only language surveyed that does not have a particle, a change of word order, a change of intonation…There is absolutely no difference between an interrogative yes/no question and a simple statement. I have spent part of the day imagining a game show in this language.

The 5 least weird languages in the world

(...)

At the very very bottom of the Weirdness Index there are two languages you’ve heard of and three you may not have: Hungarian, normally renowned as a linguistic oddball comes out as totally typical on these dimensions. (I got to live in Budapest last summer and I swear that Hungarian does have weirdnesses, it just hides them other places.) Chamorro (a language of Guam spoken by 95,000 people), Ainu (just a handful of speakers left in Japan, it is nearly extinct), and Purépecha (55,000 speakers, mostly in Mexico) are all very normal. But the very most super-typical, non-deviant language of them all, with a Weirdness Index of only 0.087 is Hindi, which has only a single weird feature.

Part of this is to say that some of the languages you take for granted as being normal (like English, Spanish, or German) consistently do things differently than most of the other languages in the world. It reminds me of one of the basic questions in psychology: to what extent can we generalize from research studies based on university students who are, as Joseph Henrich and his colleagues argue, Western Educated Industrialized Rich and Democratic. In other words: sometimes the input is WEIRD and you need to ask yourself how that changes things.

Duas observações:

- é natural que tento em inglês como em frisão, holandês, alemão, dinamarquês, sueco e norueguês se troque a ordem das palavras quando se faz uma pergunta, já que essas linguas mais ou menos derivam umas das outras (o curioso aqui será também se usar isso em espanhol e checo, e já agora, pelos vistos, não se usar em islandês)

- dá-me a ideia que os autores avaliaram a estranheza de uma lingua vendo em quantas línguas no mundo apareciam as características da língua em questão; mas penso que faria sentido ponderar pelo número de falantes (no texto não se diz explicitamente se se fez isso ou não, mas dá-me a ideia que não) - afinal, se uma dada construção gramatical for usada em poucas línguas, mas essas línguas forem muito faladas, será que faz sentido dizer que essa contrução é rara ou "estranha"?

Monday, December 29, 2014

O que pode um governo SYRIZA fazer?

Como já se esperava, vai haver eleições na Grécia. Há fortes hipoteses de uma vitória do SYRIZA; a questão, agora, é o que poderá suceder com um governo da "esquerda radical".

É um dado assente que um governo do SYRIZA vai tentar renegociar a dívida - agora que caminhos tal pode seguir:

1) A hipotese mais otimista é que a UE aceite a renegociação; nesta situação o novo governo poderá sem grandes problemas aumentar os gastos sociais, eliminar alguns impostos extraordinários entretanto lançados, etc; não é claro que se nestas eleições o SYRIZA continua com o seu programa de renacionalizar as empresas privatizadas e de apoiar a re-abertura pelos trabalhadores de empresas entretanto encerradas, mas é possível que sim. A nivel europeu, provavelmente a renogociação da dívida grega abrangerá também a dos outros estados endividados (como Portugal), e poderá criar condições para a Europa sair definitivamente da crise económica, com o fim das políticas de austeridade.

2) A hipotese mais provável é que a UE não aceite renegociar a dívida; nesse caso, o governo grego poderá, ou "conformar-se com a realidade" e manter as políticas anteriores (à François Hollande?), ou responder com uma moratória unilateral aos pagamentos da dívida.

3) Caso o novo governo grego prossiga a mesma política, em breve perderá a sua base de apoio, e o descontentamento popular irá passar a ser representado, ou pelos anarquistas, ou pela Aurora Dourada (talvez seja pessimismo da minha parte, mas imagino mais facilmente que a Grécia vire para o lado dos segundos do que dos primeiros...). A nível europeu, isso representará um fim definitivo dos partidos de "esquerda alternativa", estilo BE, Die Linke, Podemos, etc., já que não conseguirão responder à pergunta "o que fariam diferente do que na Grécia?" (e, também a nível europeu, imagino que o descontantamente será mais capitalizado pela extrema-direita do que pela ideia de criar um novo sistema político em que não haja governantes e governados, e assim os primeiros já não poderão trair os segundos).

4) No caso de uma moratória ao pagamento da dívida (que lançará o caos no sistema financeiro internacional, não só pela Grécia, mas também pela possibilidade de outros países seguirem o caminho), a UE pode reagir de 3 maneiras: finalmente aceitar uma renogociação da dívida (e aí voltamos ao ponto 1); ou o BCE deixa de fornecer liquidez aos bancos gregos; ou a UE simplesmente não faz nada.

5) Não é muito claro se o BCE pode simplesmente decidir deixar de emprestar dinheiro aos bancos gregos (recorde-se que os tratados constituitivos da UE não prevêm a possibilidade de um país ser expulso do euro); poderão argumentar que, com o default, a dívida grega passa a valer zero e portanto os bancos gregos já não cumprem os rácios de capital, mas confesso que não sei se, neste momento, os bancos gregos detêm ainda muita dívida pública grega, ou se está já está quase toda nas mãos do UE e do FMI (além de que, se fosse por esse argumento, teriam que deixar de fornecer liquidez a todos os bancos muito expostos à dívida grega, e não apenas aos gregos); de qualquer forma, se o BCE deixar de fornecer liquidez à banca grega, o governo grego terá duas hipoteses: ficar mesmo assim no euro, ou preparar a saída e o lançamento de uma moeda própria.

6) Permanecer no euro mesmo sem o BCE dar suporte aos bancos gregos não é totalmente impossível: afinal, países que nem sequer é suposto fazerem parte da zona euro, como o Montenegro e o Kosovo, usam o euro como moeda oficial (tal como vários países - incuindo alguns supostamente "anti-EUA" como o Equador - usam o dólar); no entanto levantaria problemas os bancos locais funcionarem sem puderem recorrer ao BCE como prestamista de ultima instância, e no caso grego haveria também o problema adicional de a expetativa seria que talvez deixasse completamente o euro (ao contrário do Montenegro e do Kosovo, em que a expetativa é um dia virem a ser membros da UE e da zona euro) o que poderia desencadear uma corrida aos bancos para levantar os euros antes que fosse tarde demais (ou seja, provavelmente seria necessário, nem que temporariamente, impor limites ao levantamento de dinheiro, tal como foi feito em Chipre)

7) Sobre as consequências da saída do euro já se escreveu tanto que não há muito a dizer; politicamente, poria em grandes dificuldades o governo do SYRIZA, que se tem apresentado como pretendendo manter a Grécia no euro (suspeito que a saída do euro só seria possível com um referendo) - e se a moratória à dívida não dar origem ao caos previsto no ponto 4, a saída da Grécia do euro provocaria-o de certeza (também neste caso, sobretudo pelo efeito de "precedente" - a partir do momento em que se toma consciência real que um país pode sair do euro, a confiança neste seria bastante abalada). Finalmente, recorde-se que, de acordo com os tratados, uma saída do euro obrigaria a uma saída da UE.

8) Finalmente, no caso de a UE não reagir à moratória grega, talvez não houvesse grande problema - a Grécia tem um superavit primário, logo poderia dispensar os mercados financeiros e ainda afrouxar um pouco a austeridade.

Todos os cenários acima descritos foram feitos abstraindo de condicionantes internas à politica do hipotético governo SYRIZA, como coligações de governo (uma coligação com os social-democratas do Potami, com os comunistas eurocéticos do KKE ou com os Gregos Independentes da direita nacionalista com certeza não seria indiferente em termos de percursos a escolher), ameaças de golpes de estado, etc.

De qualquer forma, suspeito que 2015 será um ano decisivo para a Europa, em que vai acabar a fase do "empurrar com a barriga" e, ou se finalmente avança para uma politica coordenada de combate à crise (em vez de uma politica coordenada de deprimir a economia via austeridade), ou a UE se começa a desagregar.

[Esquema do post inspirado neste]

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Capitalismo e Rendimento Básico Incondicional

Basic income vs capitalism, por Chris Dillow:

On the one hand, the merits of a guaranteed income for all seem clear:

- It would be simple to administer, which should appeal to governments wanting to cut "wasteful" public spending.

- In giving an unconditional income to all, workers would be able to take on insecure jobs, training, internships or zero-hours jobs without fear of losing their benefits. In this sense, A BI underpins the flexible labour market.

- A BI could free people to do voluntary work, thus helping to promote the "Big Society."

- In replacing tax credits, A BI could well be associated with lower marginal withdrawal rates (pdf) than at present. This could increase work incentives.

The case for some kind of BI, then, seems strong. And herein lies my paradox. If the case is so strong, why has it for years not been considered by the main political parties, other than the Greens?

It's not obviously because it's unaffordable. I reckon a BI of around £130 per week - £20 more than the basic state pension and almost twice the JSA rate - could be paid for by scrapping current spending on social security and tax credits and by abolishing some of the many tax allowances (pdf), the most important being the £62.5bn cost of the personal allowance.

Instead, it's because A BI breaks with a fundamental principle of the welfare state. This, wrote Beveridge in 1942, is "to make and keep men fit for service.*" One function of the welfare state is to ensure that capital gets a big supply of labour, by making eligibity for unemployment benefit conditional upon seeking work. BI, however, breaks this principle.In its pure form, it allows folk to laze on the beach all day.

For many of us - including Philippe van Parijs who first alerted me to the merits of BI - this is not a bug but a feature. Jobs are scarce, so it's better for workers if some are subsidized not to seek them, leaving more opportunities for those who do want to work.

However, this is certainly not in the interests of capitalists, who want a large labour supply - a desire which is buttressed by the morality of reciprocal altruism and the work ethic. It is the fear that a BI would lead to mass skiving that keeps it off the political agenda.

Is such a fear justified? I don't know. Empirically, it's ambiguous, as a BI would - as I've said - in some ways improve work incentives. For capitalists, though, it is a risky prospect.

My suspicion is that a full BI is, for this reason, incompatible with capitalism. Yes, it might well be efficient in many ways. But capitalism is about maximizing profits, not utility.

Sunday, December 28, 2014

Henrique Raposo e os desenhos animados

Henrique Raposo critica os desenhos animados atuais, argumentando que fogem ao sofrimento, ao sacrifício, ao esforço, etc.

Confesso que não conheço o conteúdo dos desenhos animados atuais - os meus sobrinhos já estão todos nos dois dígitos e já vêm mais prgramas de imagem real do que desenhos animados; e o único habitante da minha casa só com um dígito na idade não liga muito a nenhum tipo de televisão (nem sequer a documentários sobre leões, tigres, leopardos ou chitas, que à partida até lhe poderiam interessar); já o Henrique Raposo creio que tem um filha com poucos anos, pelo que efetivamente seguirá mais os desenhos animados do que eu.

No entanto, não me parece fazer grande sentido esta passagem «Então façam o favor de comparar "Era uma vez a vida" com os filmes que RTP, SIC e TVI transmitem neste período das festas. A cruz faz falta».

Vamos lá ver os filmes infantis que a SIC passou nos dias 24 e 25 (aviso - múltiplos spoilers):

- Carros: a história de um carro de alta competição que após ficar empanado numa pequena cidade, descobre os valores da comunidade, amizade, família, etc., etc. É verdade que talvez não tenha grande sofrimento e tragédia propriamente ditos, mas também não é exatamente um filme "facilitista"

- Toy Story 3: provavelmente o mais trágico da série Toy Story, em que os brinquedos são (ou julgam ser abandonados) pelo dono e vão parar a um infantário onde, além de serem maltratados pelas crianças, estão submetidos a uma espécie de brinquedo-ditador

- À procura de Nemo: uma família de peixes-palhaços em que mãe e quase todos os ovos são comidos por alguém, só sobrando o pai e um filho; depois o filho é capturado e levado para um aquário (ficando à mercê de uma rapariga assassina de peixes), tendo o pai que atravessar o oceano para o libertar

- Brave - indomável: uma princesa que, para se livrar de um casamento combinado ou coisa parecida, evoca um feitiço que acidentalmente transforma a sua mãe num urso, que ela terá que salvar de ser morta pelo seu pai, que odeia ursos (aparentemente, um urso - que seria também um príncipe transformado - comeu-lhe uma perna); não tem grande drama, mas tem a ameaça disso (e uma mensagem implícita "cuidado com soluções fáceis")

- Força Ralph: o "mau" de um jogo de vídeo (de uma casa de jogos, não daqueles que se jogam em casa) farta-se do seu papel e tenta mudar para outro jogo, dando origem a uma série de acontecimentos que põem em perigo a existência dos jogos da casa de jogos (e a vida dos seus personagem, que desaparecerão se os jogos desaparecerem); e uma das personagem secundárias está traumatizada porque, no dia do seu casamento, o noivo foi morto por um bug informático

- Arthur Christmas: a distribuição de brinquedos pela família Natal foi transformada numa mega-operação tecnologicamente sofisticada, mas algo corre mal e uma criança não recebe o seu presente; agora é necessário, pelo método antigo (o trenó movido a renas) ir entregar o presente à criança, custe o que custar (e com muitas pressões para desistir)

- Alvin e os Esquilos 3 - naufragados: até vi um bocado, mas não percebi nada

- Toy Story - perdidos no tempo: a dona dos brinquedos vai brincar com uma amiga e leva-os; na casa da outra rapariga, têm que enfrentar brinquedos que se dedicam a algo parecido com lutas de gladiadores (a sério), não sendo destruídos por pouco

(mais uns quantos filmes que deram no principio da manhã, e que provavelmente ninguém viu)

Onde é que eu quero chegar - é que todos ou quase todos destes filmes me parecem ter o tal elemento de sofrimento/esforço/perigo/drama, não têm enredos "facilitistas"

Tuesday, December 23, 2014

Natal cancelado?

Christmas is cancelled’ warning as elves vote to strike (Flip Chart Fairy Tales):

Christmas toy deliveries could be severely disrupted this year after Santa’s elves voted to extend their strike. The elves at Santa’s ‘Wish Realisation Centres’, who have been on strike for a week over pay and conditions, have vowed to continue their struggle until their demands are met.

Elves have complained that working conditions at Santa’s manufacturing and distribution centres have become intolerable. They claim that workers are monitored with tracker devices which force a pace of work sustainable only by the very fittest. If performance is too slow, wages are docked. Toilet breaks are ruthlessly monitored and sickness punished with dismissal. The elves also complain of a 3-tier workforce. Older elves, who have worked for Santa of some years, have full pension and redundancy rights. Younger permanent staff have lower pay but some security. An increasing number, though, are employed on precarious zero-hours contracts with low pay and few benefits. (...)

The roots of this dispute go back to the 1980s when Santa, desperate for investment to upgrade his operation, sold a controlling interest in Santa Inc to a consortium of venture capitalists. Although Santa is still non-executive chairman, most of the decisions are taken by the new owners, who brought in a cadre of MBA-educated gnomes to run the operation.

The gnomes, rewarded with a bonus scheme linked to shareholder value, concentrated on taking cost out of the organisation. New processes were brought in, pay rates held down and the final salary pension scheme closed to new entrants.

As one senior gnome blurted out, after a liquid lunch with Lucy Kellaway:
We have to do the nicey-nicey stuff to keep up the good PR. We wheel out the old boy to do the odd kids’ charity thing but the real value of the company is in licensing the Santa name and image. The brand is worth billions and we intend to squeeze as much value from it as we can.

Not that the elves are likely to see much of that. Pay levels at Santa Inc have been slashed. According to a recent report by the Joseph Rowntree Foundation, the median elf wage has been falling in real-terms for the last ten years and the majority of elves under 30 are in receipt of housing benefit or working tax credits. One newspaper reported that some elves were having to resort to food banks. (...)

Santa Inc has reacted to the strike by threatening to move its operations to lower wage areas. It claims to have armies of dwarves and goblins willing to work harder and for lower pay than the elves. This provoked an angry reaction from union leaders. Elves’ union general secretary, Legolas Crow, condemned “management bully-boy” tactics and accused the company of “flagrant life-threatening health and safety breaches”. (...)

See also:

Daily Mail:
‘Legolas Crow: The vicious Marxist elf who wants to destroy Christmas!’

Society Guardian:
‘With the elves at the food bank.’

Telegraph Comment:
‘There can’t be any ‘poor elves’. I’ve never met one!’

Daily Express:
‘Elves helped MI5 to murder Diana.’

[Para quem não conheça a linha editorial dos jornais ingleses, o Daily Mail, o Daily Telegraph e o Daily Express são de direita e o Guardian é de esquerda]

"Direitos dos animais" ou "bem-estar animal"?

Animal Rights vs. Animal Welfare: Which Side Are You On?, por Abigail Geer.

O texto tem o problema de, a meu ver, tratar a posição dos defensores do "bem-estar animal" como uma versão moderada (ou talvez defeituosa?) da posição dos "direitos dos animais" (como se a oposição entre "bem-estar animal" e "direitos dos animais" fosse uma oposição entre pragmáticos e idealistas), em vez de as ver como duas posições filosóficas por direito próprio (ou seja, dois tipos diferentes de idealistas).

Monday, December 22, 2014

Direitos "negativos" e "positivos"

Qualquer "direito", chamemos-lhe "positivo" ou "negativo" implica sempre restringir a liberdade de fazer alguma coisa (p.ex., o direito de propriedade mais não é que a proibição de se utilizar algo - estilo, atravessar um caminho - sem autorização do proprietário).

Eu diria que, das duas uma - ou as ações que os vários individuos querem empreender não interferem umas com as outras, e aí não precisamos de leis, instituições ou direitos ("positivos" ou "negativos") para nada; ou interferem, e aí quaisquer direitos que sejam definidos (chamemos-lhes "positivos" ou "negativos") para regular esses potenciais conflitos implicam sempre (a ideia é essa) impor limites ao que alguém pode ou não fazer.

Friday, December 19, 2014

O programa do Syriza

What Syriza Says About Greece’s Economy, Its Debt and the Euro (Bloomberg)

Pegando neste artigo de há dois anos de Daniel Davies, parece-me que a estratégia do Syriza é algo como 1-32-41-6-[?], provavelmente mantendo 1-47-23-10 como plano B; mas neste momento a Grécia tem um saldo orçamental primário positivo (isto é, se não fosse os juros da dívida sobrava dinheiro), o que torna quer o ponto 6 (no primeiro caso) como o 10 (no segundo) mais fáceis de gerir.

Se não tens nada a esconder...

What Bad, Shameful, Dirty Behavior is U.S. Judge Richard Posner Hiding?, por Glenn Greenwald:

Richard Posner has been a federal appellate judge for 34 years,(...). At a conference last week in Washington, Posner said the NSA should have the unlimited ability to collect whatever communications and other information it wants (...)

His rationale? “I think privacy is actually overvalued,” the distinguished jurist pronounced. Privacy, he explained, is something people crave in order to prevent others from learning about the shameful and filthy things they do (...)

Unlike you and your need to hide your bad and dirty acts, Judge Posner has no need for privacy – or so he claims: “If someone drained my cell phone, they would find a picture of my cat, some phone numbers, some email addresses, some email text,” he said. “What’s the big deal?” He added: “Other people must have really exciting stuff. Do they narrate their adulteries, or something like that?” (...)

[I]f Judge Posner really believes what he’s saying about privacy, and if it’s really true that he personally has nothing to hide – he just has some cat videos and some pictures of his grandkids – then he should prove that with his actions. Every day, he should publicly post online all of the emails he sends and receives, along with transcripts of his telephone and in-person conversations. Or just put a recording device in his office and on his person, and upload the full audio every day. He should also put video cameras in all the rooms in his home and office, and stream it live on the internet 24 hours a day. If there’s a specific reason for excluding a particular conversation – say, something relating to attorney/client privilege – he can post a log identifying the metadata of the withheld communications. (...)

What possible objections could he have to any of this? After all, the Hon. Richard Posner has nothing to hide. He’s a good person. He does nothing shameful, corrupt, adulterous, or otherwise embarrassing – nothing constituting “the sorts of bad activities that would cause other people not to want to deal with [him].” Perish the thought. So why isn’t he doing this, or why wouldn’t he?

O artigo de Greenwald é escrito por referência a Richard Posner, mas aplica-se em geral ao argumento "se não tens nada a esconder, qual é o problema da vigilância?".

Sunday, December 14, 2014

Em defesa da disciplina voluntariamente aceite

A respeito disto e disto, a discussão parece ser sobretudo sobre se a disciplina de voto é boa ou má. Mas o que me parece o ponto principal é que os deputados do PSD/Madeira aceitaram ser deputados em representação de um partido que, nas suas regras internas, têm a disciplina de voto no que diz respeito ao Orçamento de Estado.

E, mais importante ainda, mesmo que o PSD decida suspendê-los ou demiti-los de deputados, ninguém os obriga a pedirem a suspensão ou a demissão do mandato; ou seja, se eles, na sequência de algum processo disciplinar, pedirem a demissão, é porque aceitaram, voluntariamente, cumprir a decisão do partido de os demitir (recorde-se que isto começou com um comunicado do LIVRE pedindo para a presidente da AR não aceitar pedidos de demissão de deputados apresentados na sequência de processos disciplinares). Assim, se os deputados do PSD Madeira decidirem, repito, voluntariamente, obedecer às decisões do partido, a que propósito é que a presidente da AR deveria impedir isso? Isso parece-me aquela velha ideia de querer obrigar as pessoas a serem livres...

Outro ponto - David Crisóstomo refere que no Parlamento Europeu não há disciplina de voto; bem, eu suponho que nem no Parlamento Europeu, nem na Assembleia da República, nem da Assembleia de Freguesia de Portimão há disciplina de voto; entre os eleitos de cada partido é que poderá haver ou não disciplina de voto, conforme as regras que cada partido decidir.

Friday, December 12, 2014

Liderança bicéfala?

Aliança israelita entre Trabalhistas e HaTnua propõe primeiro-ministro rotativo.

Saturday, December 06, 2014

Friday, December 05, 2014

9 anos de Vento Sueste

Hoje este blogue faz nove anos.

Como de costume, uma seleção de artigos publicados no último ano:

O "precedente do Kosovo", sobre a proclamação unilateral de independências

Keynes contra Hayek?

A opinião socialmente correta sobre os jogos de computador

Keynesianismo e Estatismo

Inteligência, personalidade e rendimentos

A saída do "Fórum Manifesto" do BE

Bens supérfluos, essenciais e indivisibilidadeRacionalidade, definições, etc., largamente sobre se certos comportamentos são "racionais" ou não (os comentários são talvez mais interessantes do que os posts propriamente ditos)

O IRS das pessoas sem filhos

Thursday, December 04, 2014

Vantagens de um doutoramento em Economia?

If you get a PhD, get an economics PhD, por Noah Smith:

People often ask me: "Noah, what career path can I take where I'm virtually guaranteed to get a well-paying job in my field of interest, which doesn't force me to work 80 hours a week, and which gives me both autonomy and intellectual excitement?" Well, actually, I lied, no one asks me that. But they should ask me that, because I do know of such a career path, and it's called the economics PhD. (...)

There are PhDs, and there are PhDs, and then there are econ PhDs.

Basically, I think of PhDs as mostly falling into one of three categories:

1. Lifestyle PhDs. These include math, literature and the humanities, theoretical physics, history, many social sciences, and the arts. These are PhDs you do because you really, really, really love just sitting and thinking about stuff. You work on you own interests, at your own pace. If you want to be a poor bohemian scholar who lives a pure "life of the mind," these PhDs are for you. I totally respect people who intentionally choose this lifestyle; I'd be pretty happy doing it myself, I think. Don't expect to get a job in your field when you graduate, though.

2. Lab science PhDs. These include biology, chemistry, neuroscience, electrical engineering, etc. These are PhDs you do because you're either a suicidal fool or an incomprehensible sociopath. They mainly involve utterly brutal hours slaving away in a laboratory on someone else's project for your entire late 20s, followed by years of postdoc hell for your early 30s, with a low percentage chance of a tenure-track faculty position. To find out what these PhD programs are like, read this blog post. If you are considering getting a lab science PhD, please immediately hit yourself in the face with a brick. Now you know what it's like.

(...)

3. PhDs that work. I'm not exactly sure which PhDs fall into this category, but my guess is that it includes marketing, applied math and statistics, finance, computer science, accounting, and management. It definitely, however, includes economics. Economics is the best PhD you can possibly get.

Why get a PhD in economics? Here's why:

Será que o que Smith escreve também se aplicará a Portugal? Dos doutoramentos não sei, mas parece que as licenciaturas em Economia são das com menos desemprego (eu por acaso levei 5 anos até arranjar algo comparável a um emprego, mas reconheço que não sou um caso representativo)

Wednesday, December 03, 2014

O "Rendimento Básico Incondicional" não é um exercício teórico

One State Already Has a Basic Income Plan, por Jesse Walker (no blog da Reason):

I made a brief reference yesterday to the idea of a negative income tax or universal basic income: a single, unconditional cash payment aimed at keeping people out of poverty. (...) One way to sort those ideas is to separate the proposals in which the payments would supplant the existing welfare state from the ones that would just add one more program to the mix. (That's why Milton Friedman ended up opposing Richard Nixon's Family Assistance Plan, even though it had been inspired by Friedman's negative-income-tax proposal: Nixon's version would have been an add-on to the existing welfare state rather than a replacement for it.) Another notable distinction is between the people who would means-test the program and the ones who would just send a check to everyone. (That second division isn't a right/left split, by the way -- Friedman was a means-tester, while Charles Murray is in the checks-for-all camp.)

(...)

But I don't want to get into the weeds of weighing the competing proposals right now. I just want to note a fact that's oddly missing from a lot of these discussions: One state of the union has something similar to a basic income program already. (...)

That seems relevant to the policy discussion about income grants, doesn't it? Yet while the full-time campaigners for a guaranteed income are well aware of Alaska's system, the people who write about the idea elsewhere tend to ignore it. The liberal site Remapping Debate, to give an especially egregious example, did a big story on the push for a basic income in the '60s and '70s that concluded that those old proposals faded because "market devotees drowned out those who continued to believe that government has a vital role to play....By Ronald Reagan's election in 1980, the country in which [a basic income] had seemed mainstream a decade earlier looked considerably different." All of which is hard to square with the fact that such a program was adopted during the Reagan years, in a state with a Republican governor, as part of a political moment that saw the same state eliminate its personal income tax, and with an important assist from the Libertarian Party, which was a substantial political force in Alaska at the time. (There were Libertarian legislators in Juneau in those days, and the party was capable of drawing 15 percent of the vote in a gubernatorial election. The party supported the dividends on the grounds that sending the money to individual citizens was preferable to letting elected officials spend it.)

Three decades later, several states have established sovereign wealth funds like Alaska's, and with the fracking boom their number may soon grow. As of yet, no state has followed Alaska in distributing dividends to its citizens. But you shouldn't be surprised if you see a strong push in some of those jurisdictions for a system like the one adopted in Juneau. And if that happens, you shouldn't be surprised if the conversation about income grants in Washington continues to treat the idea as an esoteric intellectual exercise